Segundo Capítulo

Segundo Capítulo

 

Então era assim. Depois de longos seis anos evitando o máximo o nome, o endereço ou qualquer outra coisa relacionada a ele, ele aparece ali. Logo ali. Dê uns dez passos e você já conseguirá encostá-lo. E quando encostar aproveite para jogá-lo daquele avião. Com bastante força! Não tenha dó, porque ELE não teve. Eles nunca têm.

Ó, meu Merlin! Por quê? Não poderia ser simplesmente o Austin, ou até o Christopher, ali, naquele avião? Mas tinha que ser o pior. O pior dos ex-namorados. O que ela tinha mais histórias, mais lembranças, mais saudades... O que tinha mais defeitos! Começando pelo nome, é claro. Ah, fala sério, que nome é aquele? O que sua família queria com esse nome, afinal? É a mesma coisa de uma pessoa chegar pra você e falar: “Prazer, meu nome é Serpentes.” Sem contar com o sobrenome, que nem preciso comentar.

Ela respirou fundo. É um avião bem grande, com várias e várias poltronas, talvez ele nem a veja. Ou melhor, talvez nem seja ele. Deu uma rápida olhadela para trás, para confirmar que era tudo uma confusão de sua cabeça. Maldição! É ele mesmo, com aquele cabelo ridículo levemente puxado pra trás e aquelas roupas... Pelo amor de Merlin, quem viaja com um sobretudo? Com uma leve pontada de inveja, olhou para sua calça jeans um tanto desgastada. Rose Weasley, sua desleixada!

Lembrou-se da véspera, quando anunciou para sua família que voaria até Roma. Lembrou-se de seu pai, que a aconselhou a desistir da passagem e viajar ao modo bruxo, aparatando. Lembrou-se que isso gerou uma discussão — muito engraçada — de seus pais, e ainda por cima riu na situação, pensando que seu pai realmente não entendia nada das aeronaves e que voar, além de ser seguro, era até um pouco confortável. Lembrou-se de como estava convencida que passar apenas duas horas naquele avião, por mais que houvesse demorado na sala de espera, era a melhor escolha para uma bruxa que detestava aparatar, e que não havia muitos defeitos esse transporte trouxa. Mas, já sentada em sua poltrona, acabava de descobrir um enorme defeito das aeronaves: você encontrava seus ex-namorados estúpidos e idiotas, que faziam você ficar com cara de quem não sabe se vestir adequadamente para uma viagem a capital italiana!

— Senhorita, poderia retirar sua bagagem de mão desta poltrona e colocar em baixo do banco da frente? O passageiro que irá se sentar nesta poltrona acaba de chegar.

Com um susto, Rose olha para a aeromoça que acabava de dirigir-se a ela. Então, teve uma brilhante ideia.

— Na verdade, tenho uma ideia melhor. Não estou me sentindo muito bem e gostaria muito de me sentar em uma poltrona perto do banheiro. Será que é possível? — pediu docemente.

— Lamento desapontá-la, senhorita, mas infelizmente estamos lotados. Se o passageiro sentado ao lado do sanitário se solidarizar e aceitar trocar de poltrona com você, tudo bem.

Com uma sensação de alívio, olhou para a poltrona ao lado do banheiro. Uma velha senhora, de cabelos grisalhos e um rosto bondoso, ocupava o lugar. Ela trocaria de poltrona, com certeza. Estava quase pedindo para a aeromoça fazer a troca quando se lembra de notar a pessoa que teria como acompanhante de poltrona. Era um homem, beirando os quarenta anos e os cem quilos, comendo uma grande rosquinha de chocolate. Então, seria essa pessoa que teria que aguentar nas duas horas de viagem até Roma.

Respirou fundo. Era ou aquele homem, ou seu ex-namorado. Ou você passa duas horas ao lado de um homem que não liga para a saúde, o ouvindo mastigar aquela rosquinha que parecia inacabável, ou você reencontra o cara que tanto evitou nos últimos anos, e que você odiaria encontrar. Olhou mais uma vez para o gordo da rosquinha. Olá, acompanhante de viagem!

— Seria ótimo se você fizesse isso por mim, muito obrigada! — respondeu tentando parecer satisfeita.

Enquanto a aeromoça conversava com a velha senhora, Rose aproveitou para conferir se ele ainda estava lá. Deu uma leve espiada por cima dos ombros, notando que aquele sobretudo continuava no mesmo local, junto com seu dono. Ele não havia mudado muito. Parecia mais musculoso e um pouco mais alto, mas dava para perceber claramente a semelhança de seis anos atrás, quando ainda era um adolescente. Sim, aquele rosto de que estava aprontando algo havia sumido, junto com a irritante mania de sempre colocar as mãos nos bolsos. Observando melhor, percebeu que aquele sorriso de canto de boca continuava ali. Quase imperceptível. Mas ela sempre percebia.

Observando-o ali, com aquele sobretudo cinza, aquele cabelo platinado e aquela pose que só ele possuía, ela percebeu como o tempo havia passado. Afinal, naquele ano se completaria seis anos que não se encontravam. Seis anos que a fase mais maluca, divertida e, ao mesmo tempo, dramática, de sua vida havia acabado, dando início a uma fase com várias responsabilidades e compromissos: a vida adulta. Mas não era só o fato de que havia seis anos que os anos escolares acabaram. Querendo ou não, ela tinha que admitir que o final daquela fase a tinha deixado menos ingênua e boba. Então, aquele término de namoro tão repentino e doloroso tinha trago pelo o menos uma coisa boa: o amadurecimento dos dois.

Imaginou qual seria sua carreira, se ele teria seguido seu sonho de ser um inominável e trabalhar no Departamento de Mistérios do Ministério de Magia, como sempre falava quando eram adolescentes. Imaginou a onde estaria morando. Teria mudado para outra cidade ou continuado em Londres? Imaginou se ele fez tudo que ele desejava quando eram mais novos. Com um sorriso, ela se lembrou de que ele sempre falava que gostaria de ter hipogrifo de estimação, mas sua família nunca havia aprovado a ideia, alegando que eram perigosos e que poderiam destruir uma das muitas estátuas do quintal de sua mansão. Imaginou também se estaria casado e com filhos, diferente dela, que não namorava há oito meses.  

Pensou em si mesma. Será que também havia mudado desde seus dezessete anos? Bem provável que sim, todo mundo muda. Mas será que se ele a visse naquele avião, a reconheceria? Se lembraria de que ela era Rose Weasley, sua antiga namorada de Hogwarts? E será que perceberia alguma semelhança como ela percebeu do sorriso no canto da boca? Será que a acharia bonita e atraente, como ele mesmo dizia nos tempos de escola? Sacudiu a cabeça rapidamente para tentar, sem êxito, apagar essa última pergunta de sua mente. Olhou para frente, vendo se a aeromoça continuava falando com a senhora. Deu um pequeno suspiro de impaciência vendo que as duas conversavam animadamente sobre algum assunto banal.

Virou-se novamente para trás, a fim de continuar olhando seu ex-namorado. Com uma surpresa, Rose percebe que ele está olhando para um canto fixo. E cora instintivamente ao descobrir a onde é esse canto. Na poltrona 23-B. Exatamente para ela.

 

 

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Segundo capítulo postado e um pouco maior que o primeiro! Beijos e obrigada a Luhna por comentar!

 

 

 

 

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