Capítulo 3

 Capítulo 3

 

Ante a pergunta do pai, Rose teve vontade de perguntar “O que você acha?”, mas se controlou. Começar uma conversa com perguntas retóricas e irônicas não era uma boa. De modo que ela se limitou a sorrir e a balançar a cabeça positivamente.

- Como você achou o meu colégio? – Rose perguntou com curiosidade.

- Digamos que a sua avó me deu uma ajudinha. – Vitor comentou.

- A minha avó? – Rose perguntou descrente – A minha avó? Jean Granger? Estamos falando da mesma avó aqui?

Vitor riu e passou a mão pelos cabelos da filha, bagunçando-os.

- Sim, a sua avó, Jean Granger, mãe da sua mãe... Preciso ser mais claro?

- Não. – ela sorriu – Mas isso significa que a minha mãe não sabe que está aqui, certo?

- Certo. – ele respondeu. – Hermione não faz a mínima ideia.

Rose encarou o pai e não conseguiu conter uma risada. Sua mãe entraria em crise existencial quando Vitor aparecesse com a maior cara lavada, dizendo que havia vindo para ficar uns dias. Isso seria tão engraçado, que Rose mal podia esperar para ver acontecer.

- E então, Draco, o que achou da minha filha? – Vitor perguntou.

- Graças a Deus puxou a mãe. – Draco brincou – Prazer, sou Draco Malfoy.

- Draco Malfoy? Pai do Scorpius? – Rose esqueceu as boas maneiras por um instante.

- Sim, e suponho que você seja uma de suas amigas.

- Não exatamente. – ela respondeu com uma sinceridade extrema – Quero dizer, ele chegou há pouco tempo e ainda não tivemos tempo de nos conhecer melhor. – mentiu, achando que assim a sua falta de educação inicial fosse ser esquecida.

- Claro, claro. – Draco sorriu para Rose.

- Podem me dar licença um instante? Fiquei de ir embora com o James, e...

- Quem é James? – Vitor perguntou com curiosidade.

- Meu amigo. – Rose respondeu – Ele mora perto da minha casa, e ia me dar uma carona. Na verdade, ele ia levar os irmãos e eu. Enfim, como suponho que você tenha vindo aqui me buscar, não vou precisar da carona hoje.

Rose sorriu e saiu em direção aos amigos, deixando Draco e Vitor a sós.

- Ela tem um James? – Vitor perguntou.

- E, aparente, um James motorizado. – Draco respondeu.

Quando Rose se aproximou dos amigos, mal teve tempo de dizer uma palavra, porque Lilian a bombardeou com tantas perguntas que ela nem conseguia raciocinar direito.

- Ok, Lily, prometo que vou responder todas as suas perguntas mais tarde. É só me ligar ou ir lá em casa, certo? Daí podemos conversar com mais calma. – Rose garantiu – E James, eu acho que não vou precisar da sua carona. Quer dizer, não hoje, mas posso precisar outro dia e... É melhor eu ir embora, porque comecei a falar rápido demais de novo. Alvo, me liga depois para combinarmos o projeto de Biologia.

- Pode deixar, Rose, agora vai logo antes que eu faça um favor a você e te chute para fora daqui.

Rose entendeu aquilo como um “Vai logo porque já está dando muita bandeira e todo mundo já notou que está apaixonada pelo meu irmão” e correu dali de volta ao encontro do pai.

A essa altura, Scorpius já estava ao lado de Draco, comentando algo sobre a escola. Quando ele a viu, sua expressão mudou de “estou entediado” para “vou me matar”.

- Acho que agora podemos ir. – Rose disse para o pai, ignorando o olhar se Scorpius sobre si. – Podemos almoçar no Hotel em que a mamãe trabalha ou irmos para o Rony.

- Rony? – Vitor repetiu.

- É, o restaurante do Rony. – Rose explicou – É lá que a mamãe e eu fazemos a maioria das refeições quando não estamos pedindo pizza ou comendo comida congelada.

Vitor piscou, sem acreditar muito que Hermione mantinha os velhos hábitos, e então se virou para encarar seu amigo.

- Que tal almoçarmos os quatro?

- Espera, pai, quando você diz nós quatro, você quer dizer... Nós quatro? – Rose perguntou – Isso inclui ele e eu? – ela apontou para Scorpius e depois para si.

- Sim, Rose, por quê?

Rose abriu um sorriso falso para Scorpius, que agora sustentava uma expressão irônica, e então disse:

- Por nada, pai, eu só estava querendo conferir... E então, onde iremos almoçar?

- No hotel em que sua mãe trabalha. Sinto que Hermione vai adorar a surpresa. – Vitor respondeu – Vocês topam?

- Por mim tudo bem. Ligo para Astoria no caminho e peço para ela nos encontrar lá. – Draco respondeu.

Logo depois, cada dupla de pais e filhos entrou em seu respectivo carro, e saiu do estacionamento do colégio.

No primeiro momento, Rose permaneceu calada, apenas olhando a paisagem pela janela do carro. Era estranho ficar tanto tempo sem ver seu pai e, de repente, ele aparecer na porta da sua escola dizendo que estava ali para levá-la para almoçar. Não que ela não tivesse gostado da surpresa. Pelo contrário, sempre imaginou como seria interessante ter Vitor bancando o bom pai e indo buscá-la, mas entre a realidade e a imaginação havia uma grande diferença.

- E então, qual é a sua com o filho do Draco?  - Vitor tentou puxar assunto.

- Eu detesto aquele moleque. – Rose respondeu sem rodeios – Ele é metido, mimado, irritante, ‘tá sempre de mau humor e se acha o dono da razão. Ele está há pouco tempo na escola, mas sinto como se o conhecesse a vida inteira e, o pior, o odiasse mortalmente desde então.

Vitor gargalhou ao volante e deu uma rápida olhada para sua filha, que parecia emburrada.

- Conheço Scorpius e posso lhe garantir que não é um mau garoto. Só está irritado com a mudança e, provavelmente, sentindo falta dos melhores amigos. No fundo ele é legal.

Rose processou aquela informação por um segundo.

- Desde quando conhece o Scorpius?

- Há um bom tempo. Eles foram meus vizinhos durante anos enquanto morávamos na França. O Scorpius vivia no meu quintal enchendo o saco. Passávamos bastante tempo juntos.

Mais uma vez, Rose ficou em silêncio para processar aquela informação.

- Legal. – ela disse.

- O que foi?

- Nada!

- Pela sua cara emburrada me parece alguma coisa. – Vitor observou. Eles haviam acabado de chegar ao Independence Inn, e agora estacionava o carro.

- É sério, pai, não é nada.

- Qual é, Rose, não minta para mim. – Vitor desligou o carro e encarou a filha.

- Nem todos gostam de saber que o próprio pai conhece melhor o filho do vizinho, do que ele mesmo. – Rose disse emburrada e desceu do carro – Mas, sinceramente, é bobagem minha ficar chateada. Eu deveria mesmo estar acostumada com isso.

E então ela seguiu para dentro do Hotel, ignorando os chamados do pai e o fato de que, nesse momento, Scorpius deveria estar rindo da sua cara.

 

 

~*~

 

- Meu pai está aí, caso queira saber. E ele teve a ajuda da vovó para achar o meu colégio. – Rose disse, irritada, e caminhou direto para a cozinha, jogando seu material em cima da recepção.

Hermione piscou, confusa, e encarou Simas. Para variar, ele não tinha nenhum conselho digno para lhe dar, então ela limitou-se a considerar o seu silêncio como uma resposta do tipo “Vá resolver seus problemas, eu cuido de tudo.”

Ela ficou na dúvida se deveria ir atrás de Rose ou ir falar com Vitor, mas optou pela segunda. Se Vitor teve a cara de pau de aparecer, era melhor começar a agir como um pai decente, ao invés de um pai mais falso que boneco de feira.

- Ok, eu tenho uma adolescente em crise dentro da cozinha do hotel, provavelmente se entupindo de biscoito de chocolate e café, o que não é uma boa ideia, porque chocolate dá espinha. – Hermione disse tudo rápido demais – E é bom que você comece a me explicar o motivo disso, antes que eu decida lhe colocar de vez na minha lista negra. Aliás, você já deveria estar nela só por ter mantido contato com a minha mãe e não ter me falado nada. Isso é traição. Mas, tudo bem, vou te dar a chance de corrigir isso, se me explicar exatamente o que aconteceu, para que, só então, eu possa resolver a crise da minha filha.

- Certo, você tem noção de que falou rápido demais?

- Heeeeellooo, mãe em crise – Hermione apontou para si – O que você disse para ela, Vitor?

- Eu sempre imaginei que nosso reencontro fosse ser um pouco mais romântico e interessante.

- Quer romance? Assista as séries da CW¹. – Hermione respondeu – Agora, por favor, comece a falar antes que eu perca a minha paciência, Vitor.

Vitor agradeceu mentalmente por Draco e Scorpius terem feito um desvio para buscar Astoria, e não estarem ali naquele momento. Seria constrangedor se eles o vissem discutir com a gerente do hotel que, por sinal, era mãe da sua filha, sobre algo ridículo.

- Ela ficou assim só porque comentei que conheço o filho dos Malfoy.

- Malfoy? O cara famoso?

- Sim, ele mesmo. – Vitor respondeu – Fomos vizinhos durante anos, enquanto ele e a família moravam na França. Rose estava comentando o quanto o filho dos Malfoy é insuportável e eu tentei aliviar a barra do menino, falando que era um bom rapaz e blá blá blá. Aparentemente, o fato de dizer a Rose que passei um tempo com o garoto, causou toda essa crise.

Hermione revirou os olhos. Vitor não tinha mudado mesmo. Continuava a ser o mesmo cara insensível e irresponsável, que não media as consequências das coisas que falava.

- Em primeiro lugar, não é nada legal aparecer na escola da Rose, sem me avisar antes. – Hermione disse, séria – Em segundo lugar, nenhum filho gosta de saber que o pai que, supostamente, não tem tempo para ele, teve tempo para conhecer o filho do vizinho. Rose passou dezesseis anos da vida esperando que você fosse ser um cara mais presente. E, de repente, você surge do nada e diz que praticamente viu o filho dos Malfoy crescer. O que você espera que ela faça, Vitor? Solte fogos?

Ante a explicação rápida de Hermione, Vitor se sentiu um completo idiota. Realmente, sua atitude com relação a sua filha não foi a das mais legais.

- Vou falar com ela.

- Não, você vai embora. – Hermione disse – Rose precisa de um tempo.

- Mas vim aqui almoçar com vocês. Aliás, o Draco e a família também estão vindo para cá.

- Ligue para eles e invente uma desculpa. – Hermione falou impaciente – A última coisa que você vai fazer agora é colocar a minha filha e o filho dos Malfoy na mesma mesa. Não quero que ela se sinta pior do que já está.

- Mas...

- Sem “mas”, Vitor.

Hermione nem esperou Vitor dizer alguma coisa. Simplesmente deu as costas e voltou para dentro do hotel, deixando-o sozinho do lado de fora.

 

~*~

 

 Scorpius sentiu-se imensamente feliz por Vitor ter desmarcado aquele almoço no último segundo. Não gostava nada da ideia de ter que passar mais tempo do que o necessário na companhia de Rose e, por mais que fosse legal importuná-la, a verdade era que não estava animado.

Desde que chegara da França vinha sentindo falta dos seus melhores amigos: Vincent, Sophie, Kyle e Ann. Os dois últimos eram gêmeos e seus primos, filhos de sua tia Daphne; já os dois primeiros, além de namorados, eram filhos dos sócios do seu pai, que haviam ficado na França para administrar os negócios por lá. De forma que ele fora praticamente obrigado a voltar para Inglaterra – Astoria era muito boa com chantagens emocionais – e agora estava completamente sozinho.

- Podemos almoçar em outro lugar, pai? – Scorpius sugeriu, assim que chegaram em casa.

Draco nem estava prestando atenção. Ele estava conferindo os e-mails pelo celular, ignorando completamente a existência do filho.

Scorpius suspirou e seguiu para dentro da mansão. Não adiantava mesmo competir atenção quando seu adversário era uma das coisas que mais importava a Draco: o trabalho.

 

 

~*~

 

- Ok, largue o biscoito e eu prometo que todos sairemos vivos daqui. – Hermione disse, entrando na cozinha do Hotel com as mãos para o alto como se estivesse se rendendo – Você não precisa fazer isso, querida, largue o biscoito agora.

Rose sentiu vontade de rir, mas estava decepcionada demais para demonstrar felicidade. De forma que ela deu mais uma dentada em seu biscoito.

- Vou ter que usar armas mais pesadas do que apenas a conversa. – Hermione disse – Vou ter que te oferecer um cupcake².

- Qual é a diferença de me entupir de biscoito de chocolate ou de cupcake de chocolate? – Rose perguntou.

- Nenhuma, mas a Luna fez esse cupcake agorinha e eu quero uma desculpa para devorá-lo. – Hermione confessou.

Rose não conseguiu conter uma risada e estendeu a mão para pegar o cupcake.

- Eu sou uma idiota. – Rose disse – Meu pai aparece depois de anos, vem me buscar e o que eu faço? Tenho uma crise.

- O seu pai que é um idiota. – Hermione a corrigiu – Ele aparece depois de anos, vai te buscar e diz que o filho do vizinho é legal? Qual é? Nem eu gosto do novato da sua escola e ele vem defender? O Vitor perdeu mesmo a noção do perigo.

Rose riu mais uma vez e encarou a mãe com gratidão.

- Obrigada!

- Nada. – Hermione beijou a testa da filha – Vamos pegar as suas coisas e ir almoçar no Rony.

- Você não tem que trabalhar? – Rose franziu o cenho.

- Vou te contar um segredo – Hermione murmurou – Sou a gerente daqui. Tenho regalias. – ela riu e puxou sua filha pela mão – E além do mais, as coisas estão sob controle. Qualquer coisa o Simas grita e eu volto correndo.

 

 

~*~

 

O restaurante de Rony era o mais movimentado de Godric’s Hollow e não era por falta de concorrência. As pessoas preferiam ir para lá graças ao ambiente familiar e a informalidade do local. Não era em todos os restaurantes que você podia ver o dono servindo os clientes e os amigos – leia-se: Hermione – atravessando o balcão para pegar uma xícara de café.

Quando Rose e Hermione chegaram, Rony já foi logo dizendo:

- O café acabou.

- Mas viemos almoçar. – Rose contestou.

- O x-burguer também acabou.

- Se você disser que o mundo acabou, eu vou acabar acreditando. – Hermione fingiu espanto – Não seja malvado, Rony, estamos em crise.

Rony ergueu a sobrancelha.

- Que tipo de crise?

- O pai malvado da Rose voltou e disse que o novato da escola dela é legal. – Hermione explicou da maneira mais trágica – A pobrezinha está inconsolável. – ela puxou Rose e a colocou de frente para Rony. – Veja só, logo os olhos dela começarão a lacrimejar e ela vai se trancar no quarto para chorar, chorar, chorar e depois sairá de lá com a cabeça raspada, dizendo que copiou a Britney Spears.

- Se eu servir qualquer coisa gordurosa para vocês, a sua mãe cala a boca?

- É melhor fazer isso rápido. Algo me diz que ela tem um discurso preparado sobre a Lady Gaga. – Rose respondeu. – Da última vez ela disse que não era legal eu ver seus videoclipes ou eu acabaria hibernando em um ovo gigante.

- Ok, dois hambúrgueres gordurosos saindo. – Rony sumiu da vista das meninas Granger, elas caíram na risada.

De uma forma ou de outra, elas sempre encontravam uma forma de transformar os problemas em algo divertido.

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¹ CW é o canal que transmite/produz séries famosas como Gossip Girl, One Tree Hill, The Vampire Diaries, etc.

² Cupcake é um bolinho pequeno e confeitado, que sempre que eu vejo tenho vontade de devorar hauhauhaua

 

 

 

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N/A: Hey amores!

Antes de mais nada, preciso dizer que estou absurdamente feliz por saber que essa fic está sendo tão bem recebida. Quando tive a ideia de fazer a fic inspirada em uma das minhas séries favoritas, jamais pensei que ela fosse repercutir tão positivamente. Então, muito obrigada a todos que comentaram e votaram. Isso significou muito para mim <3

Bom, agora sobre o capítulo, já deu para notar que o Scorpius tem um probleminha familiar, não é? A Rose também não fica muito atrás, já que o Vitor adora dar mancada. Eles dois não são tão diferentes como imaginam, afinal.

No próximo capítulo o Rony e o Hugo devem aparecer mais, e, definitivamente, vocês vão conhecer o James um pouquinho melhor. A Rose precisa mesmo aprender a falar devagar quando está perto dele ou logo vão precisar de um tradutor hauhauhauah

Ah, antes que eu me esqueça e alguém fique chateado, já deixo claro que não tenho ABSOLUTAMENTE NADA CONTRA a Lady Gaga ou a Britney Spears. Muito pelo contrário, ok?! Acho as duas mto talentosas e a referêcia foi apenas uma brincadeira =D

Enfim, vou ficar por aqui. Espero que tenham gostado e, por favor, comentem ok?! [chantagista mode on] Assim eu serei legal e não vou demorar a postar [/chantagista mode off] HUAHUHAUHA

Até a próxima, meus amores!

Xoxo,

Mily.

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