Capítulo 10



Graças ao esforço de Simas em chacoalha-lo na cama, Dino foi acordado desnorteado naquela manhã que, como exibiam as janelas da tenda, estava quente e ensolarada. Ele não fazia idéia da hora e ainda parecia se tocar do que fizera na noite anterior. Pegou o relógio jogado no chão e viu que eram 10 horas.

- Acorda, Dino! A gente precisa conversar.

E a culpa veio. Sim, só agora lhe ficou clara a burrice que cometera algumas horas antes perto das árvores. Ainda que ninguém o tivesse visto com Padma, aquela atitude parecia-lhe agora absurdamente criminosa.

- Quê? – perguntou enquanto cobria-se até o último fio do cabelo com o lençol.

- Eu sei que não devia te acordar, mas tem uma coisa que eu preciso te contar – disse Simas ainda de pé.

- Fala – respondeu Dino, numa voz abafada pelo pano.

Simas puxou o lençol que cobria o rosto do amigo e disse:

- Pô, é sério... Levanta aí!

- Qual foi, Simas! Que pressa é essa? Deixa eu dormir mais – Dino agora começava a se abusar.

- Não, Dino! É sobre o que você fez ontem. Eu vi – dizia calmamente, como quem carrega um trunfo e esperava ver a reação do amigo.

- O quê?? – alertou-se Dino de vez, finalmente. – Q-que... o que ce viu?

- Ce sabe muito bem...

Dino então levantou-se de um salto de modo que ficasse sentado na cama e começou a encarar o amigo com ar de dúvida. “Será que ele viu?”, ele se indagava.

Simas sentou-se em sua própria cama, ficando de frente para o amigo. Apoiando os cotovelos no joelho, balançou a cabeça negativamente, como que para repreende-lo.

- Diz logo o que você viu! – Dino não conseguia conter o misto de ansiedade e arrependimento.

- A Gina não merece isso, Dino...

Não foram precisas mais palavras para que Dino compreendesse do que Simas estava falando. Cerrando o punho bateu-o com força sobre a cama enquanto imagina o rostinho de Gina recebendo aquela notícia. Não, ela não merecia aquilo...

- Por que, Dino? – Simas agora demonstrava uma espécie de nojo em seu olhar.

Ele próprio não sabia o por quê. Tinha sido movido pelo impulso do momento e na hora aquilo parecia o mais correto a se fazer. Mas é claro que não pensara nas conseqüências da maneira que devia ter pensado. Talvez então o melhor a fazer era não contar a ela e agir como se nada tivesse acontecido. Sim, ele errara, mas amava muito a namorada e não lhe passava ainda a idéia pela cabeça de perde-la de vez.

- Você precisa contar – continuou Simas olhando por cima do ombro de Dino, vendo que o amigo não responderia à sua pergunta.

- Quê? – Dino pareceu se acordar de devaneios. – Ce ta maluco? Não, eu não vou contar... Ela se sentiria mal, eu não quero faze-la se sentir mal!

- Como você é egoísta! Olha... Eu sei que sou seu amigo, mas é meu dever também lhe apontar os erros. – Simas fazia gestos com as mãos gigantescas de modo que apontasse literalmente o indicador para a face do amigo. – E graças ao seu namoro com a Gina, acabei pegando uma certa feição por ela. E não, eu também não queria vê-la mal por sua causa, mas acho que ela não merece continuar sendo enganada.

Dino agora balançava a cabeça compulsivamente. Aquilo tudo que seu amigo lhe dizia soava como uma bronca e por mais que fosse correta, ele não podia aceita-la.

- E sem falar – continuou Simas agora levantando a voz. – que eu não quero sair como cúmplice nessa história. Não me sentiria bem sendo responsável pela...

- Ta bom, Simas! Já chega! – explodiu Dino ficando em pé. – Não quero mais ouvir esse seu sermão, não! Eu decido muito bem o que fazer com relação ao meu namoro. Aliás, quem você pensa que é pra ta aqui me mandando fazer isso ou aquilo se você mesmo nunca namorou?

Simas não acreditava no que ouvia.

- E o que bosta isso tem a ver? – perguntou indignado, levantando o tom de voz.

- Ora, você sabe muito bem! – dito isso, Dino soltou uma gargalhada sarcástica. – E pelo visto nunca arranjou namorada porque é um Zé mané mole e...

E foi interrompido pelos punhos de Simas que seguravam-lhe a gola do pijama.

- Não imaginava que você fosse se sentir tão ofendido por causa de uma observaçãozinha dessa – Dino continuava sarcástico.

Simas refletia se deveria mesmo se rebaixar a tal ponto. Afinal de contas, como disse Dino, havia sido apenas um comentário. Maldoso, mas ainda assim um comentário. Entretanto, deveria possuir um fundo de verdade, talvez fosse isso realmente o que seu amigo pensava.

Soltou a mão de lábios crispados e como que para colocar um fim à conversa disse:

- Se você não contar para Gina, eu mesmo conto.

E agora quem fez menção de ataca-lo foi Dino, o qual por fim acabou hesitando.

***


Rony se acordou assustado. Sonhara com Mione se exibindo ao lado de um McPhee vitorioso. Rony, por sua vez, implorava pela atenção de Mione enquanto tudo o que ela fazia era desprezá-lo exageradamente. Porém, parecera-lhe muito real a sensação de abandono, de tristeza e a impressão de que nada, nem ninguém o queria por perto.

Seu coração palpitava acelerado como um relógio descontrolado. Não agüentaria mais encontrar a amiga sendo abraçada, beijada e usada por aquele brutamontes. Tinha que tomar alguma providência e toma-la para si. Mas isso tudo parecia absurdamente errado, não conseguia ainda admitir para si que a desejava incontrolavelmente. Sim, estava claro o seu ciúme, mas quando imaginava-se enlaçando-a com os braços tudo aquilo parecia proibido, como uma criança que almeja para si um brinquedo do amigo.

Passou as mãos sobre o rosto, depois uma delas pelos cabelos ruivos e sentou-se na cama. Olhou ao redor e encontrou a cama de Harry vazia. Segundos depois, o amigo aparecia com uma toalha nos ombros e os cabelos negros molhados e bagunçados.

- E aí! – disse Harry sem nem olhar o amigo, enquanto sentava-se na cama ficando de frente para mala aberta.

Estendeu a toalha na cabeça da cama e catou os óculos entre os lençóis.

- Que ce acha de a gente dá um rolé na vila de Hogsmeade? – perguntou em seguida.

- Pode ser – respondeu Rony distraído, ainda pensava no sonho que tivera.

- É que tipo... – Harry queria introduzir uma conversa.

Precisava saber se era estranho ele não querer encontrar Parvati todo dia durante 24 horas. Talvez Rony também pensasse assim com relação a Lilá, mas se não o pensasse poderia repreende-lo.

- Rony! – exclamou vendo que o amigo parecia estar em transe. – Ei, planeta Terra chamando Rony Weasley! – disse acenando com a mão.

- Ah, fala, Harry – respondeu Rony finalmente encarando o amigo nos olhos.

- Você ta pensando em encontrar Lilá agora de manhã?

- A Lilá? Não... Por quê?

No caminho para o café da manhã, tudo o que Rony temia era encontrar Mione e McPhee juntos logo cedo. Não queria também encontrar Lilá, pois a idéia de ter alguém a tira colo o tempo todo começava a incomodá-lo impressionantemente.

Sentou-se com Harry a uma mesa sozinhos, vendo que nenhum outro amigo se encontrava por lá.

Mal conversavam e quando levava um garfo à boca, sentiu mãos que cobriam-lhe os olhos impedindo-o de enxergar.

- Advinha quem é! – dizia a voz doce de Lilá.

- Lilá... – disse ele sem muito entusiasmo tentando tirar as mãos da garota do lugar.

Ela, por sua vez, estava sorridente e sentava-se ao seu lado. À sua frente, uma tímida Parvati cumprimentava Harry, ambos sem saber ao certo se encostavam-se os lábios.

- Vão fazer o que agora de manhã? – perguntou Lilá.

Rony queria mentir, mas se o fizesse sentiria-se um criminoso.

- Ééé... – ele olhava para Harry, como que buscando ajuda.

- A gente vai andar por aí – completou Harry.

- Ah, é? Pelo acampamento mesmo? – insistiu Lilá.

- Hum... Não... Na verdade a gente vai pra cidade. – acabou respondendo Rony.

- Ah, que bom! Eu e Parvati estávamos com a mesma idéia!

Rony abriu um sorrisinho amarelo.

As meninas acabaram tomando o café junto a eles e assim que terminaram, foram os quatro à entrada do acampamento se reunir ao grupo que se formava para a “excursão” das 11h30.

Andavam em casais e embora Lilá estivesse ao seu lado, não era nela que Rony pensava. Sim, era em Hermione. Parecia que quanto mais tempo ficava longe dela, mas ele a desejava. O ano inteiro era obrigado a segurar aquela vontade de toma-la pela cintura e calar-lhe a boca com um beijo devastador e ansiado.

Mas quando pensava nos problemas que esse ato acarretaria à sua amizade, seus pensamentos despencavam como uma avalanche e eram substituídos por um sentimento de solidão inexplicável.

- ...Não é, Rony?

Ele ouviu Lilá perguntar. Porém, não fazia idéia do que a garota estivera falando.

- Ã? Ah, é...

- O que que é, Rony? – a garota colocava os braços na cintura demonstrando contrariedade.

- Erh... Isso aí que você falou – dizia Rony fazendo a maior cara cínica possível.

Harry e Padma estavam às gargalhadas, mas Lilá parecia realmente indignada. A garota então colocou duas mexas dos cabelos loiros atrás das orelhas nervosamente e cruzando os braços disse:

- Eu desisto. Você ta sempre pensando em outra coisa quando ta comigo, Rony! – Harry e Padma, se tocando de que era grave, resolveram se retirar.

- Mas, Lilá...

- Tudo bem, Rony, que a gente não ta namorando nem tendo nada sério. Mas se você não quer estar comigo, ao menos me diga isso na cara! – Lilá fazia gestos com a mão.

- Não... não é isso, é que... – ele se sentia culpado agora.

- Então é o que, Rony?

Mas Rony não conseguiu continuar a frase. Não havia desculpa que o livrasse disso. A verdade era que ele preferia realmente não estar com ela, mas não queria magoá-la.

Infelizmente, o seu silêncio conseguiu causar quase o mesmo efeito que causaria se ele tivesse dito a verdade, pois os olhos de Lilá começaram a lacrimejar e antes de sair correndo disse:

- Então não precisa se preocupar, Rony! A gente não precisa ter mais nada! Ouviu? Você ta livre de mim!

Rony ficou sem reação, estagnado no local onde estava. A única sensação que tinha era a de que era a pior criatura da face da terra. Estava apaixonado pela melhor amiga e ainda magoava pessoas inocentes.

Começou então a andar sozinho pelas ruazinhas da vila com as mãos dentro dos bolsos. Vez ou outra passava uma delas pelos cabelos que insistiam em cair-lhe sobre a face.

Foi quando viu McPhee supostamente conversando com alguém que se encontrava por trás de uma pilastra. Seria Hermione? Não dava para saber. Aproximou-se um pouco mais e sentiu-se aliviado ao ver que era apenas Cho Chang.

Mas os dois pareciam bem alegres e de vez em quando McPhee passava as mãos pelos cabelos de Cho. Mas como assim? Ele não estava com Mione? Rony começava a ficar confuso. Sim, ele os vira juntos na noite anterior e, por mais que isso o irritasse, Mione parecia bem feliz. Então o que McPhee estava fazendo ali com Cho?

Provavelmente Mione não devia saber, pois caso contrário McPhee poderia ter escolhido um lugar menos escondido para tentar beijar a amiga da Corvinal.

E agora eles se beijavam! Se Mione soubesse disso poderia sentir-se profundamente magoada. Mais magoada ainda do que ele deixara Lilá. A idéia de ver Mione chorando por causa de um idiota daqueles o irritava profundamente. Começava a sentir um ódio absurdamente perigoso. Tudo o que queria era pular em cima McPhee.

Tentou se controlar. Mas não poderia permitir que Hermione fosse enganada, usada... Ele não agüentaria vê-la chorando sem ao menos tido feito algo a respeito.

Fechou os punhos com muita força e avançou na direção do casal. Seu olhar cada vez mais fulminante e seus lábios crispados.

Chegando perto, tocou com as pontas do dedo, nem um pouco delicadamente, no ombro direito de McPhee e quando este último se virou foi surpreendido por um soco no lado esquerdo da face.

Cho soltava gritinhos de desespero e McPhee, recuperando-se rápido do murro, agarrou as golas de Rony encostando-o na vitrine da loja mais próxima.

- Ce ta maluco, meu? – indagou furioso. – Ta me confundindo com alguém?

McPhee se segurava para não esmurrar o garoto naquele momento.

- Não, mesmo! Antes fosse – respondeu Rony, ainda com um olhar de ódio. Cuspiu no chão perto dos pés de McPhee e logo em seguida conseguiu tirar as mãos do garoto que agarravam-lhe a gola da roupa.

Os dois agora se encaravam com os punhos cerrados. Cho já não estava mais lá, tinha corrido pedir ajuda alguém.

- Se você pensa que pode enganar a Mione... – dizia Rony, uma voz irreconhecível e um dedo apontado para o adversário.

- Como é? Eu só queria saber onde é que você entra nessa história! – agora com um risinho sarcástico. – Porque você não é nada além de “amiguinho” dela! Ah, e outra coisa: eu não sou o namorado dela! A gente ta só se conhecendo ainda, eu posso sair com quem eu bem entender!

Rony não se conteve. Saltou em cima de McPhee mais uma vez, com um outro soco no rosto. Mas não pôde ir muito além, pois dois rapazes que antes assistiam à discussão agarraram-lhe os braços. O garoto se contorcia vendo McPhee passando a mão, furioso, no nariz que agora sangrava. Por sorte, outro rapaz impediu McPhee de avançar em Rony, mas ele dizia:

- Isso não vai ficar assim, Weasley! Isso não vai ficar assim!!

Cho chegava ofegante ao lado de Harry.

- O que houve, Rony? – perguntava Harry olhando do amigo, que ainda tentava se desvencilhar dos rapazes que o seguravam com muita força, para McPhee.

- Pode me largar! Eu não vou fazer mais nada! – Rony dizia tentando se acalmar.

- É, podem soltar – completou Harry. – Eu olho ele.

Cho passava as mãos no rosto de McPhee pedindo que ele se acalmasse e não atacasse Rony.

Harry conduziu o amigo para um lugar distante dali de modo que evitasse mais uma briga. Quando chegaram ao Três Vassouras, Harry pediu duas cervejas amanteigadas e perguntou como quem dá uma bronca:

- O que foi aquilo, Rony?

Rony abaixou a cabeça, passou uma das mãos sobre os cabelos colocando-os com força para trás, tomou ar e respondeu:

- Aquele otário tava traindo a Mione! E com a sua Cho.

- Quê? – Harry parecia realmente surpreso. – Mas... a Cho?

- É, Harry! A Cho! Mas o que importa não é isso. O que importa é que se a Mione soubesse disso ela iria... – calou-se. Achou que dizer “ficar magoada” soaria um tanto quanto piegas.

- Ficar muito puta, eu sei.

“Não era bem isso que eu queria dizer...”, pensava Rony. E Harry continuou:

- E o que você pretende fazer? Contar pra ela?

- Erh... Eu não sei se ela vai me dar ouvidos, sabe...

- E você quer que eu conte? – Rony balançava a cabeça positivamente. – Não, Rony. Nem pensar! Acho melhor a gente não contar nada... Ela poderia pensar que a gente ta querendo acabar com a felicidade dela ou coisa do tipo e...

- Mas, Harry! Ela precisa saber quem ele é de verdade!

- Eu sei, Rony! Mas não é a gente quem vai mostrar isso a ela!

- E quem vai então?

- Ela vai perceber sozinha. Pode ter certeza que vai... E se você contar, já sabe que só pode ser pior...

Rony demorava para processar aquela idéia, de início maluca, que Harry possuía. Então se imaginou contando tudo o que vira a Hermione e, levando-se em conta a maneira como os dois vinham se tratando ultimamente, talvez ela levaria tudo aquilo como uma afronta. O melhor seria realmente deixa-la perceber o verdadeiro McPhee. Mione era esperta, não seria diferente agora.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.