Colocando os Pingos nos Is

03 - Colocando os pingos nos Is

Havia alguns dias que estava de volta à Hogwarts, mas a verdade era que queria estar em casa com sua mãe ajudando no que pudesse e lhe auxiliando nesse momento de dificuldade. Respirou fundo e sentiu aquela dor incomodar novamente. Não era uma dor física. Era uma dor na alma e ela se intensificava a cada novo dia de solidão.

Estava vivendo o primeiro final de semana da escola e optou por ficar nos arredores da Floresta Proibida. Se lembrou da primeira vez que esteve ali, depois de denunciar Harry Potter e seus amigos, ganhando por isso uma grande punição também.

Amigos. Agora tinha certeza que nunca os teve.

Foi obrigado a fazer coisas que não quis, mas quando teve oportunidade, escolheu errado. Blasio e Goyle até perguntaram durante a semana o que ele tinha, por que estava estava tão distante, mas resolveram ignorar depois da constante falta de respostas. Também andava fugindo como “gato foge da água” da Pansy, mas sabia que aquilo não iria durar muito tempo e logo seria emboscado pela garota.

A única pessoa da qual não se dava o trabalho de fugir era Astoria Greengrass. Que garota esperta, genial. Não iria confessar, mas gostou demais de conversar com ela, mesmo ela sendo tão afiada na maioria das vezes, mas mesmo estando no mesmo salão, em quase todas as aulas e em quase todos os ambientes do castelo juntos, ela não parecia querer permanecer no mesmo local que ele por mais tempo que o necessário. Ela era tão sincera que doía. Sincera como só conhecia sua mãe e ele sentiu a sua ausência durante a semana. Não admitiria, mas sentiu.

Observou os arredores de relance, de cima da pedra alta e roliça que ele sentou em cima e a encontrou. Era como se ela ouvisse seus pensamentos porque no instante em que a encontrou, os olhos negros e tão brilhantes que ela possuía o encontraram também, sendo abaixados em seguida e novamente fixados naquele livro.

Como odiava os livros dela. Não era mais o que ela lia no Expresso. Por mais que estivessem distante dela, poderia observar que a capa era diferente. Essa era escura, roxo talvez, e ela o sorvia como quem tem desespero pelo oxigênio. Queria que ela tivesse esse desespero para estar ao lado dele. Queria conversar com ela novamente. Queria se aproximar, mas não sabia como, e como se sentia mal por não saber como fazer algo tão simples e fácil para o Draco Malfoy de anos atrás. Não era mais o mesmo, nunca poderia negar.

Continuou ali, sentado, observando a floresta, o lago, e ela. Pegou muitas vezes seus olhos fixos nele e rapidamente desviados após ele os encontrar e ela era linda até mesmo naquele repudiar do olhar.

Naquela situação, estava sem suas vestes da escola. Usava uma camisa preta de uma banda trouxa, ele conseguia ler algo do tipo Nirvana, e abaixo uma espécie de cabeça com uma língua de fora e dois x que pareciam ser os olhos. A calça era igualmente trouxa. Azul, de jeans, daquelas que ele costumava ver algumas garotas mestiças e nascidas trouxas usando. Ficava curioso por ela gostar tanto de coisas trouxas sendo tão puramente bruxa. Era uma particularidade que lhe afetava, de certa forma.

Os cabelos, negros como os seus olhos, estavam amarrados numa trança que vinha para a lateral de seu rosto e caia sobre o ombro e tinha um brilho particular. Tudo nela parecia ser particular. Irreal, ou simplesmente, apenas dela.

Não conseguiu controlar o coração quando viu que ela se levantou, no que poderia ter sido a quinta ou sexta vez que seus olhos se encontraram, e ela caminha em direção a ele, havia, inclusive, fechado o livro e marcava as páginas com o dedo indicador. Ele sorriu quando a viu limpar as roupas destraidamente enquanto se aproximava, o vento em seus cabelos, os bagunçando respeitosamente, porque ela continuava linda. Balançou a cabeça em negação: Que droga é essa, Malfoy? Sorriu quando a viu a poucos metros de distância e sentiu os olhos escurecerem.

- Oi Draco.

Reconheceu aquela voz arrastada e melosa assim que a ouviu e chegou a ter náuseas ao perceber que era ela quem tapava os seus olhos há alguns segundos. Pensou que nunca tinha se sentido assim antes com a garota, mas não fazia mais tanta questão de sua presença perto dele.

- Oi - respondeu sem tanta animação. Ela soltou seus olhos e ele pode ver, antes que ela se prostrasse a sua frente, Astoria voltando para o tronco de árvore onde lia antes.

- Como está? - perguntou beijando seus lábios e sentando ao seu lado em seguida, sorrindo bobamente.

- Indo - foi evasivo.

- O Blasio disse que você não está muito legal… Posso te ajudar com alguma coisa? - ela perguntou enquanto acariciava seu braço. Ele se afastou.

- Só preciso ficar só, Pansy.

- Por que?

Ele poderia dizer muitas coisas, perguntar se ela é louca e não lembrava de tudo o que ocorreu a tão pouco tempo. Que seu pai estava preso, que sua mãe só e ele estava enfurnado naquela escola sem poder fazer nada. Que quase morreu, sua família quase foi morta… Poderia fazer um verdadeiro monólogo, mas preferiu se calar. Não valia a pena. Na verdade, a única coisa que Pansy queria era o seu caso de volta. Não se preocupava com ele ou como ele se sentia, mas única e exclusivamente com seus próprios interesses.

- Só quero um tempo. Tem acontecido muita coisa e eu quero ficar só.

- Mas Draco… Não sente saudades de mim? - falou manhosa.

- Na verdade, não - foi certeiro e viu a garota fazer uma careta de desgosto. Talvez raiva - Quero pensar na minha vida, nas escolhas que fiz e no que ainda posso fazer, como mudar. Não quero voltar aos erros do passado. Isso já não é pra mim.

- Está dizendo que sou um erro? - falou irritada.

- Não. Estou dizendo que preciso pensar na minha vida e ver como posso modificar o que fiz. Não quero voltar ao passado, só isso.

- E por que não posso fazer parte desse novo momento?

- Pansy… Eu preciso de tempo. De ar. Eu não quero mais ficar com você, e por favor, pare de me beijar.

Por um momento ele achou que seria azarado. Os olhos de Pansy atingiram um verde assustador e ele pensou que não deveria ter sido tão franco, tão sincero com a garota, mas se continuasse prolongando aquela situação, nunca sairia daquela bola de neve, e a última coisa que Draco Malfoy queria era se envolver novamente com aquela garota.

Ele olhou em volta, talvez observando possíveis rotas de fuga ou possíveis pedidos de ajuda. Ela era uma garota legal, mas egoísta e egocêntrica, como ele mesmo era, e essa dualidade não lhe fazia bem. Viu quando ela levantou e olhou em volta, parando sua visão ameaçadoramente em direção à Astoria, antes de abaixar os olhos para ele e o fitar profundamente.

- Tudo bem. Fiquei só. Faça como quiser.

Então ele suspirou ao lhe ver virar e sair. Podia não ter certeza de nada, mas sabia que nada estava bem, muito menos agora. Ela não iria deixar um fora tão fácil assim e ele sabia que deveria esperar algo para um futuro próximo. Ela iria se vingar.

Olhou em volta e a encontrou novamente, mas desta vez, Astoria não manteve o olhar. Os olhos se desviaram rapidamente e ela se levantou. O peito dele arfou novamente, o livro estava marcado com o dedo indicador. Ainda limpava as calças, ela vinha novamente em sua direção.

Havia se livrado das folhas de outono que começavam a cair. Se aproximava cada vez mais e ele prendeu a respiração. Se sentia um bobo. Então, ela o olhou, mas não parou. Continuou seu caminho e ele a acompanhou com os olhos até que ela desapareceu por trás das portas de entrada do Salão Principal de Hogwarts.


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Depois de duas semanas, eis que temos um capítulo - espero postar um POV da Tory a respeito desse momento ainda esta semana - e preciso me retratar.  A verdade é que estou com uma crise brava de bronquite e em alguns dias não tenho coragem nem de melevantar, quisá ficar no PC. Isso me atrasou, mas estou tentando manter o rítmo e vou conseguir. 
Obrigada a todos que estão por aqui. Beijocas.

Dos comentários:

Tati Hufflepuff: Fico empolgada com a sua delicadeza dedicada aos seus personagens menos preferidos. Acredito que a Pansy ainda será uma pedra no sapato, mas não sei bem o que poderá acontecer. Astoria é muito centrada, muito pé no chão. Não sei se ela se deixará enganar tão facilmente. Acho que seria normal ficar um pouco defensiva depois de tudo o que ocorreu, afinal, faz tão pouco tempo que tudo ocorreu, seria mais que normal ter receio de compartilhar o mesmo espaço com o odiável Malfoy, mas acho sim que ela viu que ele não é tão mãl assim, mas acho que ver a tal da Pansy ali, beijando o garoto e conversando tão delicadamente não ajudou na ideia de "estou melhorando" dele. Acho que essa semana sai o POV da Astoria em relação a isso. :)

Luiza Snape: Está ai, Luiza. A continuação. Espero ler mais de seus comentários. Não se acanhe em dizer o que está gostando e desgostando, e juntas, vamos fazendo a fic da melhor forma possível especialmente para nós mesmas. Valeu pela passadinha e pelo comentário. Beijocas :*

Dani_Ela: Ahhhh Dani, que bom que gostou. Adoro quando a personalidade de minhas personagens afeta alguém assim. Gosto muito de manter a personalidade que a JK nos deixou para cada personagem nos livros, mas sobre a Astoria, não há muita coisa, nem mesmo sabemos ao certo a sua casa em Hogwarts, e isso nos dá uma liberdade maravilhosa na criação de suas características. Confesso que ela também tem um pouquinho de mim - para não dizer bastante - e estou adorando criá-la. Não se preocupe quanto a demora de comentar, o importante é que esteja por aqui, isto é o mais válido. Obrigada por acompanhar e até a próxima :D 

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