De Volta à Hogwarts
2 - De Volta à Hogwarts
Ele realmente não achava necessário tudo aquilo. Não tinha o menor desejo de voltar à Hogwarts, mas pelo pedido especial de sua mãe, resolveu por terminar o curso. Todos os alunos, sem exceções, iriam repetir o ano evitando assim maiores prejuízos, tendo em vista que mal haviam estudado no ano anterior devido a guerra.
Chegou a Estação King Cross acompanhado da mãe, o que também achou um exagero. Se sentia triste por todo o mal que havia acontecido em suas vidas e por não poder fazer muita coisa.
Depois que seu pai foi preso, sua mãe tentava se mostrar mais forte do que realmente já era, e mesmo que se orgulhasse demais dela, sabia que ela estava mal. Felizmente, seu pai havia levado à frente a ideia de colaborar com o Ministério e isso reduziu sobremaneira o seu tempo de reclusão em Askaban. Estaria livre em sua formatura e até lá, sua mãe controlaria e estaria à frente de tudo na casa e nos negócios da família.
Seus olhos percorreram o lugar com astúcia e ele visualizou um amontoado de cabelos vermelhos mais adiante. Reconheceu também Harry Potter e Hermione Granger. Eles pareciam bem mesmo diante de todas as perdas. Não sabia mais o que sentia em relação aos três. Tinham salvado a sua vida depois de tudo o que ele havia feito contra o trio e ter a consciência de que não faria o mesmo caso a situação fosse inversa lhe deixava enjoado.
Desviou o olhar quando viu o abraço apertado e o beijo de despedida dos dois casais e constatou que os dois rapazes não voltariam para a Escola. Beijou e abraçou a mãe antes de entrar no Expresso, que já começava a se movimentar quando o recebeu. Não poderia confessar, mas tinha medo do que viria a seguir.
Dentro do Expresso nada parecia diferente além da quantidade de pessoas, que era bem maior esse ano. Primeiranistas tinham expressões assustadas enquanto os veteranos conversavam entre si e se divertiam em busca de uma cabine com colegas e amigos.
Enquanto caminhava não pode deixar de observar alguns rostos conhecidos dos anos passados, alguns desafetos, outros um pouco mais chegados.
Seus pés lhe levaram automaticamente para a cabine que dividia com Crabbe, Goyle, Blasio e Pansy. Olhou de relance através do vidro da porta e sentiu um incômodo ao lhes ver. Faltava um dos garotos, Crabbe havia morrido na batalha, mas eles pareciam os mesmos, como se nada houvesse acontecido, de fato.
Desviou antes que pudesse ser visto por algum deles e andou em busca de um outro lugar, um lugar vago, mas não encontrou. Todas as cabines estavam cheias e ele pensou que viajaria no corredor até encontrar uma onde havia apenas uma garota. Estava de costas e parecia ler. Tinha cabelos muito negros amarrados em um rabo de cavalo.
- Tem alguém aqui?
- Não. Só eu - ela respondeu sem desviar o olhar do livro.
Draco entrou e acomodou o seu malão. Se sentou no banco de frente ao dela, já que ela estava sentada com as pernas estendidas despojadamente sobre o banco que ocupava. Era uma garota bonita e ele ponderou que a reconhecia de algum lugar. Usava uma calça jeans e uma camisa roxa muito escura com alguns desenhos de chapéu de bruxa brilhantes. Calçava um tênis azul e usava um batom rosado nos lábios. Seu cabelo amarrado no alto da cabeça deixava seu pescoço à mostra, e ela tinha um pescoço esguio e com alguns delicados sinais. Sua pele era clara como o leite e seus olhos escuros permaneciam fixos nas folhas do livro enquanto ele a observava discreto.
- Quer uma foto minha? Prefere que ela venha com um autógrafo e dedicatória especial? - a garota falou sem levantar os olhos das páginas, deixando Draco estranhamente desconcertado.
- Pra que iria querer uma foto sua? - perguntou com desdém.
- Pra poder ficar olhando pra mim quando não estiver em minha companhia.
- E por qual motivo eu haveria de querer ficar olhando você?
- Acho que deve ter encontrado algo de muito interessante em mim já que não para de me olhar desde que entrou neste vagão.
- Não acha que você é muito convencida?
- Ah não… Ainda falta muito até chegar ao seu nível, Draco Malfoy.
- Como ousa me insultar? - o garoto começou a se irritar.
- Não estou insultando, mas infelizmente, as palavras verdadeiras tem esse poder. Elas nos deixam constrangidos e nos fazem pensar em tudo o que fizemos mesmo que não sejam verdadeiramente direcionadas a nós. A sensação de culpa é o que mais afeta, no geral.
- O que quer dizer?
- Quero dizer que a verdade doí, Malfoy.
Ele parou um tanto que estático diante da garota que não se deu ao trabalho de ao menos fitá-lo enquanto falava. Percorreu os olhos pela cabine do trem e encontrou algumas peculiaridades. Ela estava vestida como trouxa, lia um livro que aparentemente era trouxa. Ponderou que ela era trouxa, por isso o irritava daquela forma, mas uma visão melhor lhe mostrou que ela era da Sonserina. Ela era familiar, será que poderia haver uma nascida trouxa naquela casa? Não sabia responder, mas decidiu afrontar.
- Você é sempre assim, tão mal educada?
- Na verdade, não. Sou assim apenas quando preciso dividir uma cabine do Expresso com você.
- O que foi que eu te fiz?
- Na realidade, você esta atrapalhando a minha leitura desde que entrou aqui.
- Eu mal falei com você. Você que começou todo o assunto.
- É… Aparentemente, você está certo, mas isso não te faz menos irritante.
- De onde me conhece para falar tão mal de mim?
- Olha só - ela o olhou pela primeira vez e ela tinha lindos olhos negros - Conheço o suficiente para saber que você é um filhinho de papai mimado e sem sal que gosta de passar o seu tempo irritando as pessoas pelo simples fato de ser rico e ter nascido em berço de ouro?
- Eu te fiz mal em algum momento? - ele estava realmente constrangido e ela voltou ao livro.
- Não. Não a mim, mas a pessoas que estimo.
- Quem?
- Não vem ao caso.
- Eu te conheço de algum lugar?
- Do salão comunal, talvez.
- Você é da Sonserina?
- Sim, toda a minha família foi.
- Como é o seu nome?
- Pra que quer saber?
- Só por curiosidade.
- Astoria Greengrass.
- Greengrass… Greengrass… - ele puxava as informações em sua mente - Sim. Eu lembro de Dafne Greengrass. Ela estudou comigo desde o primeiro ano.
- Sim. É minha irmã.
- E em qual ano você está agora?
- Farei o sétimo. Terei o desprazer de pertencer a mesma turma que você.
- Por que me detesta se mal me conhece?
- Não sei, apenas detesto - ele respirou fundo.
- E por que sua irmã não está aqui com você?
- Ela é monitora chefe. Está lá na frente.
- Então o…
- Vai ficar mesmo me interrompendo?
- Você é chata, eim?
- Só diante de sua companhia - ela sorriu sarcástica para ele - O que ia perguntar?
- Sobre o que está lendo?
- Hum… Finalmente um assunto interessante, Malfoy.
- É mesmo?
- Sim. Estou lendo O Exorcista.
- O Exorcista? Que livro é esse?
- É um livro trouxa. O autor é William Peter Blatty - ela levantou a capa para que ele visse uma garota com olhos negros e ensanguentados desenhada no papel.
- Do que fala?
- De uma garota que foi possuída por um demônio. É bem interessante.
- Parece que está gostando.
- Sim. Eles tratam a possessão de forma diferente dos bruxos.
- Entendo. - um breve silêncio - Posso te fazer outra pergunta?
- Hum… - ela o olhou por um tempo, os olhos semicerrados ponderando a sua pergunta - Pode. Pode se prometer me responder uma pergunta também.
- Claro. - ele estava mais tranquilo com ela.
- Então pergunte.
- Você disse que toda a sua família foi da Sonserina, mas por que você lembra tanto uma trouxa?
- Gosto de me vestir assim, é mais confortável. Quanto aos livros, tenho alguns amigos trouxas em Hogwarts. Como pode ver, não passo o meu tempo falando mal ou procurando defeitos… Tenho vários amigos da Lufa-Lufa, da Corvinal e… tam tam tam tam… Também tenho amigos da Grifinória.
- Bem estranha, você…
- Sim, sou estranha para o padrão de vida que você é acostumado a levar, mas ao contrário de sua família, meus pais me deram a liberdade de ter minha própria personalidade, de ser quem eu sempre quis ser. Nunca precisei agradar ninguém para que gostassem de mim. Quem gosta de mim, é pela pessoa que sou, não por aparências.
- Difícil gostar de você desse jeito - resmungou.
- Como é? - ela o olhou bravia - Olha só, Malfoy, não estou aqui para ser insultada por alguém como você.
- Alguém como eu? Você tem uma concepção bem formada sobre mim… Ou melhor, mal formada.
- Apenas sei o que você é pelo que sempre mostrou ser.
- Parece que tem me observado bastante… - ela corou furiosamente.
- Não havia como não ver as loucuras e a quantidade de coisas erradas que fez, Malfoy.
- Não tive muitas escolhas… - falou entristecido e ela sentiu o peso das palavras. Parecia sincero, afinal.
- Talvez… - respondeu mais amena - Mas posso te fazer uma pergunta agora? - ela o olhava profundamente. Seus olhos brilhavam como duas pedras de ônix.
- Claro.
- Por que não está na cabine de seus amigos?
- Talvez - falou sério, a encarando - Apenas talvez, Astoria, as pessoas um dia se arrependam de suas más escolhas e talvez, apenas talvez, percebam que precisam mudá-las.
Ela o olhou profundamente ponderando aquelas palavras tão profundas. Talvez ele realmente não tenha tido escolhas assim como foi com o antigo diretor, professor Snape. Talvez ele tenha sido apenas mais uma vítima da infinita maldade e opressão que Voldemort lançou sobre todos os bruxos. Talvez ele não tenha tido a sorte de viver em uma família que optou, mesmo que sob os panos, ficar do lado certo.
- É… - ela concordou - Talvez… Apenas talvez as pessoas apenas precisem de boas palavras e um apoio verdadeiro para serem quem realmente gostariam de ser.
- É… Talvez - ele sorriu levemente de lado e ela achou bonito. Ele parecia mais leve, mais tranquilo que em todos os anos que ela o havia observado.
- Empolgado para voltar às aulas? - ela finalmente marcou a página com um pedaço de papel e fechou o livro, lhe dando total atenção.
- Não muito. Não queria voltar. Vim porque minha mãe insistiu muito.
- As mães sempre sabem o que é melhor para nós…
- Sim. Minha mãe é muito sábia e forte…
- Não duvido. Fiquei sabendo como ela enganou o Voldemort quando soube por Potter que você estava bem, e vivo.
- Sim. E eu agradeço a ela por tanta dedicação.
- É amor, Draco - ele se surpreendeu a lhe ouvir chamar assim - As mães amam sem medidas e contensões.
- Sim. Concordo.
- Também fiquei sabendo de seu pai pelo O Pasquim. Sinto muito por tudo.
- Ele conseguiu a redução da pena. Vai ficar pouco tempo. O que ele fez permitiu que minha mãe e eu não fôssemos julgados… Ele está bem, o Ministério o tem tratado bem, afinal.
- Que bom - ela sorriu verdadeiramente animada.
- Sim… Estará livre para a Formatura e vai vir participar.
- Fico muito feliz, de verdade.
Ela sorriu tão empolgada que seus olhos fecharam e restaram apenas dois riscos vermelhos. As bochechas estavam graciosamente coradas e ele se perdeu por um breve momento naquele sorriso tão sincero que não se controlou: sorriu amistoso junto com ela antes de continuar.
- Não sei porque estou conversando tão abertamente com você. Te conheço há apenas algumas horas…
- Talvez, Draco - ela falou séria - Apenas talvez, tudo o que precisamos é de uma amizade sincera e verdadeira para nos sentir mais confiantes.
- Pode ser - ele sorriu e ela sorriu de volta, e assim permaneceram toda a viagem à caminho de Hogwarts.
Era uma conversa tranquila, amena e leve, como Draco nunca havia participado. Não podia negar que a garota tinha uma língua afiada e boas e duras respostas quando confrontada, mas a maneira que ela o tratava e o fez sentir naquele simples percurso foi mais que suficiente para ele percebesse o quanto ela era diferente e especial. Uma verdadeira amiga, afinal.
Estavam tão empolgados que não viram dois olhos verdes os observando pela janela do vagão. Pansy Parkinson lhes observou por breves instantes, instantes suficientes para se encher de raiva e despeito. A irritação de ter sido trocada naquela viagem falando mais alto que qualquer outro sentimento.
Voltou a duros passos para a cabine que dividia com os outros dois e não conteve a irritação. Precisava dar um jeito naqueles dois antes que a garota songa que ela sempre detestou atrapalhasse seus planos futuros. Draco era seu e ninguém poderia tê-lo além dela.
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Ahh Gente, eu quero MUITO agradecer a vocês que já estão passando por aqui. Quem me acompanha, sabe o quanto eu amo Romione, mas não posso fechar meus olhos para esse casal. Drastoria tem tomado meu peito e eu estou cheia de amor por eles, e agradeço a vocês que já estão por aqui acompanhando essas postagens. Será pequenininha, mas eu estou amando escrever mais essa.
Espero que gostem do capítulo e não esqueçam de opinar. A partir de agora é mais o relacionamento dos dois e vou tentar ao máximo manter a personalidade original do Draco, ficando mais móvel com a Astoria, já que tia Jo nos deixou livres para imagina-la como quisermos. Eu a achei meio recuada nesse capítulo, na defensiva, mas não dava para ser diferente. O que acharam?
Também estou fazendo umas capas pra vocês escolherem depois, mas sou péssima com essas coisas, então, se alguém quiser tentar também, fique à vontade :))
Dani e Tati, obrigada por aparecerem por aqui tambem. Isso é muito importante mesmo para mim.
PS: Lana e Anne, quero os comentários de vocês.
Comentários (4)
Amei, sério adorei a Astória.
2016-05-29Posso dizer que amei sua Astoria? Até me vi um pouco nela, sério. O capítulo me encantou e, ao mesmo tempo, me deixou com gostinho de quero mais. E já estou vendo intrigas por aí, depois que nossa "querida" Pansy viu Draco e Astoria na cabine. Amando, como sempre! E desculpe por demorar taaaanto a comentar! Não tinha visto que você postou. Beijos,Dani
2013-12-12Q fic legal! :DContinua
2013-12-02Astoria totalmente na defensiva mesmo! Mas eu acho que é normal devido a reputação da família Malfoy e tudo mais... Acho que depois dessa conversa ela viu que Draco foi realmente uma vítima das escolhas erradas do pai e que não éuma pessoa ruim... E lá vem Pansy aprontar... Quebro a cara de buldogue dela todinha ser ela se meter com o casal! Adorei o capítulo e a conversa entre Draco e Astoria! Até o próximo Andye! ;**
2013-12-02