O Dom de Zara
Durante toda aquela conversa, alguém escutava tudo debaixo de uma das mesas da enfermaria. Terminara de escutar cada parte da história de Kevin. Quando percebeu que aquilo já tinha acabado, saiu debaixo da cama, e olhou fixamente para Kevin e Nathan.
- Mas que lindo. - disse a garota, em um leve tom irônico. - Os filhos de Alceu.
Os dois logo se soltaram, e olharam para a garota assustados.
- Você estava debaixo da cama por toda a conversa...? - indagou Nathan.
- Sim, sim. - respondeu ela - Você tá ferrado, hein? Vai morrer fácil. - ela olhou para Kevin.
- Você não tem que se intrometer em nossa vida! - disse Kevin.
- Você é o... Kevin, e você é o Nathan, certo? Sou Zara Ponkey. Sonserina. - disse Zara, cumprimentando os dois.
Zara era uma garota que devia ter 14 ou 15 anos, cabelos escuros e curtinhos, alta, com o rosto carregado de maquiagem escura, roupas pretas, pálida, com um ar de ironia e um perfume que lembrava a noite. Zara era uma menina do tipo que Nathan nunca se sentava no intervalo das aulas, e que ele nunca sequer puxava assunto. Mas Nathan havia se encantado pelos olhos dela: olhos amendoados da cor azul. Um azul lindo e arrebatador.
- Você costuma ser assim, tão xereta na vida dos outros? - perguntou Kevin, sem esperar uma resposta.
Zara riu sem achar graça e depois fez uma careta.
- Não, mas até que é bem interessante a história de um Menino - Horcrux. - respondeu ela, balançando a cabeça.
Kevin engoliu seco.
- Você pode sair daqui? - perguntou Nathan. - Já irritou o bastante.
- Minha ideia era irritar mais... Mas tudo bem, vou saindo. - disse ela, em um tom sarcástico, e saltitando para fora da enfermaria.
- Foi bom conhecer vocês! - gritou ela, de fora da enfermaria.
Kevin grunhiu.
______________________________________________________________________________________________
Zara saltitava pelos corredores de Hogwarts, erguendo sua varinha no ar, como uma criança trouxa com um simples graveto de madeira.
Subiu as escadas, e foi para o seu dormitório tão aconchegante no salão comunal da Sonserina. Pulou em sua cama e se escondeu debaixo das cobertas. Naquela hora, pensava no que havia ocorrido. Ela queria apenas dar um susto em sua madrasta Pam, e acabou ouvindo uma grande revelação sobre o filho do poderoso Alceu. Alceu: o bruxo que matara seus pais.
O ódio enorme que ela sentia por Alceu era algo que não tinha como se descrever. Quando seus pais morreram, ela prometeu e a si mesma que o mataria, não importasse como. E agora a chave para sua morte estava em suas mãos: a horcrux de Alceu estava em Hogwarts. Era a grande chance dela, para vingar a morte dos pais. Depois da morte dos pais, Zara guardava dentro de si dor e sofrimento, e sempre arrumava um jeito de guardar isso só pra ela. “Rir para não chorar " era o seu lema predileto. Sempre estava rindo e brincando, para esconder tudo de ruim que sentia. Nada que ela demonstrava para todos era verdadeiro.
Ela gostava de sua madrasta Pam, mas não era o mesmo amor que sentia pelos pais. Pam era legal, mas não totalmente... Não era culpa dela, Pam sempre fazia seu melhor para agradar Zara.
Zara se deixou molhar o lençol com suas lágrimas. Se encolheu na cama, e chorou mais ainda.
Hogwarts era um ótimo lugar, um lugar em que ela se sentia 45% bem. Sem Hogwarts, ela seria mais infeliz ainda. Ela estava em seu quarto ano, e ainda não tinha amigo algum. A única coisa que diziam para ela era "Obrigado", "Por favor" e "Com licença". E se diziam outras coisas, eram xingamentos. Mas ela era boa de briga. Não deixava passar cada xingamento: ela sempre dava o troco por meio de socos. Ela era boa de briga.
Ela tinha um dom. Os sonhos sempre lhe avisavam algo. Na noite passada, sonhara que alguém lhe avisara que Alceu estava perto de sua morte.
Seus sonhos quase sempre se tornavam realidade, e as vezes eram sonhos bons e as vezes ruins. Semana passada, ela havia sonhado que debaixo de Hogwarts, havia um grande tesouro, e ela havia ficado tão empolgada com isso, que pediu para Pam lhe levar a Hogwarts antes do primeiro dia de aula. Não demoraria muito para ela começar sua procura ao tesouro.
Um sonho em que ela sonhara um mês atrás era a morte de Pam. Depois daquele sonho, Zara havia ficado pensativa, e com medo do sonho se tornar realidade.
Sua pior lembrança de todas era o dia da morte dos pais. Era uma tarde chuvosa, e ela e o pai preparavam um "jantar especial" para quando a mãe chegasse do emprego novo em um escritório. O pai dela já era casado com Pam, mas ainda era amigo da mãe de Zara. A mãe de Zara havia chegado no horário de sempre, e gostou muita da surpresa. Todos jantaram juntos ao macarrão com molho vermelho com porpetas ( o prato predileto de Zara). No fim da noite, Alceu chegou na casa e destruiu tudo, até ficar frente a frente com os pais de Zara. Alceu havia gritado "Avada Kedavra" e então matou os dois. Zara assistia tudo escondida nos destroços da casa, assustada e confusa. Nunca conseguiu descobrir o porque que Alceu matara seus pais. Ele estava se divertindo? Ou será que ele estava se vingando?
Zara decidiu se levantar da cama, e dar mais uma volta por Hogwarts. Quem sabe não arrumava algo interessante para fazer. Seus sapatos estavam apertados demais, então ela os tirou e saiu do salão comunal da Sonseria, andando com suas meias.
Ao sair dali, desceu as escadas até avistar Perg.
- Santas jujubas! A enfermeira Pam me disse que você estava aqui em Hogwarts e eu estava te procurando!
- Olá Perg. – ela abriu um largo sorriso.
- Você tem jujubas aí?
- Ah... – ela enfiou a mão no bolso. – Não... Mas tenho esse pacote de balinhas bem apimentadas semi-aberto. – ela tirou do bolso o pacote vermelho brilhante.
- Acho que vai servir. – disse, pegando o pacote. – São muito apimentadas?
- Sim. Mas você se acostuma.
- Acho que sim. – e ele enfiou cinco balinhas de uma vez na boca.
Perg guinchou, e começou a fazer caretas de vários tipos e a cambalear no ar.
-Água! Água! Isso queima! – berrava ele.
Ela sacou a varinha, e murmurou “Aguamenti” e saiu um jato de água da ponta de sua varinha, indo direto para Perg.
A água se espalhou pelo corpo de Perg, mas ela pareceu aliviado.
-Ufa. – disse – Obrigado, Zara.
Perg saiu voando pelos corredores, cambaleando pelo ar e cantando canções de natal.
Zara adorava Perg. Ele sempre lhe fazia rir... E isso era algo bem incomum para ela.
Enquanto admirava os quadros que se movimentavam, Zara pensou que destruir Alceu não era uma tarefa fácil, mesmo pelo motivo de Kevin estar em Hogwarts. Kevin estava cercado de protetores. Zara sabia que cada movimento seu, precisava de bastante cuidado.
- Bom dia, Zara... – disse Buddy, passando pelo corredor.
- Bom dia, Buddy.
Ele se aproximou.
- Zara, você estava chorando? Seu rosto está parecendo molhado...
Ela limpou as lágrimas.
-Ahn, eu estou bem. Valeu.
- Bem, tenho que procurar Perg... Tchau. – e ele se despediu.
Ela acenou. E voltou aos quadros.
Zara formava um plano em sua mente, até chegar a conclusão de que, para destruir Alceu, precisava se aproximar dos filhos deles. Ser uma amiga. E era isso que estava prestes a fazer.
Guardou sua varinha e soltou um suspiro.
Eles nem fazem idéia do que se aproxima. – pensou ela, caminhando para a enfermaria.
Comentários (1)
Apesar da Zara mostrar que possui uma personalidade um tanto "malígna", eu a adorei. Adoro os personagens rebeldes, principalmente aqueles rebeldes por causa do passado, e sinceramente, ela tem todo o direito de querer vingança. Afinal, Alceu matou os pais dela. Mas eu acho que ela é uma pessoa boa e, por mais que se torne uma pedra no sapato do Kevin, no final ela vai acabar sendo amiga de verdade dele. E quanto ao Nathan, hm? Não sei não, mas acho que essa história dele se encantar pelos olhos dela ainda vai render bastante... E eu vou estar acompanhando tudo! Nem preciso dizer que foi mais um capítulo incrível, né? Dani.
2013-07-12