O Filho de Alceu

Nathan sentou na cama. Aquele era o momento da verdade. O momento em que ele iria revelar tudo o que escondeu por antos anos... Ele poderia finalmente se desfazer daquilo que pesava em suas costas. Sabia que o irmão poderia não suportar tudo aquilo, e que podia culpá-lo por toda a tragédia. Engoliu seco, e tentou escolher por onde iria começar. Pensou em começar pela verdade menos dolorida, mas não tinha. Tudo era dolorido, tudo era algo horrível e chocante. Nathan sempre sube que aquele dia chegaria... Sempre soube da triste tarefa de revelar tudo a seu irmão. Por que tinha que ser daquele jeito?

- Nosso pai... - Nathan mordeu a língua - Nosso pai não morreu.

Kevin fechou os olhos para as lágrimas não caírem. Mas não deu certo. Ele estava chorando. Seu pai estava vivo. Por todo aquele tempo ele ainda estava vivo. Ele não tinha morrido em um incêndio. 

- Ele... Ele era um bruxo. Sempre foi... Mas nunca quis contar para mamãe, nem pra ninguém. Por isso, fingia ser bombeiro. - disse Nathan, com a voz trêmula. Dizendo cada palavra cautelosamente. 

- Mas... Ele... Eu... 

- Quando nossa mãe ficou doente, ele fugiu. Pois não queria cuidar dela. Não aguentava mais aquela vida. 

- É MENTIRA! ELE NOS AMAVA! ELE NUNCA FARIA ISSO! NATHAN, É NOSSO PAI! - Kevin berrava e soluçava de tanto chorar. 

- Ele nos abandonou. Ele fugiu... Voando em uma vassoura. - Nathan dizia tudo friamente, pois não sentia mais nenhuma emoção pensano na cena. Foram tantos anos chorando, que ele já havia conseguido se controlar. - No meu aniversário de 11 anos... Era o seu primeiro dia de aula. Enquanto você estava na escola... Eu recebi minha carta de Hogwarts. 

Kevin se surpreendeu. Além de descobrir que seu pai estava vivo, e sempre escondeu que era um bruxo, seu irmão também escondera que era um bruxo?

- Naquela época, eu já sabia da existência de bruxos... E não queria me tornar um. Eu havia prometido para mim mesmo que iria sempre cuidar de você e da mamãe. Ignorei a carta... E não demorou muito para continuar recebendo as cartas. Ignorei todas. Até que foi tarde demais. Eu me tornei um aborto. 

- ... Aborto...?  - indagou Kevin, limpando as lágrimas com a manga do pijama. 

- Um aborto é quem não consegue fazer feitiços, mesmo sendo filho de bruxos... Mas eu não quis fazer feitiço mesmo. Eu ão quis ser bruxo... E continuo não querendo. 

- Por que escondeu tudo isso de mim? 

- Não queria ver você sofrer como eu sofri. Alceu, nosso pai, não se importou nessa questão. Mas eu me importei. Ver você sofrer é a última coisa que quero. Quando você recebeu aquela carta... Sabia que você iria querer saber de tudo. E... Até pensei que você me abandonaria... Como fez nosso pai. 

- Isso não é motivo! Eu tinha o direito de saber! Eu... - Kevin arregalou os olhos. - Nathan... Se eu não tivesse visto minha carta de Hogwarts... Você a esconderia de mim? 

- Claro que não, Kevin! 

- É claro que faria! Pare de mentir! Será que você não aprendeu nada mentindo? Escondendo tantas verdades? 

- Kevin! Me escute! Eu não esconderia sua carta! 

- Pois eu dúvido! Você seria egoísta o suficiente para esconder todo o mundo bruxo de mim! Você acharia melhor eu nunca ter descoberto tudo! 

- ... E você não acha que assim, você sofreria menos? - indagou Nathan. - Olhe só pra você! 

- Esse seu egoísmo nojento me dá nojo! Agora caiu sua máscara! Por todo esse tempo, achei que você fosse aquele irmão que não escondia nada de mim! Mas eu estava errado! 

- Kevin... Você acha que... Que eu... Sou tão ruim? 

- Você acha mesmo que preciso responder? 

Kevin olhou para os olhos do irmão. Pela primeira vez naquela conversa, seus olhos estavam cheios de lágrimas. 

George apareceu na entrada da enfermaria. 

- Nathan... Já terminou de contar...? 

Nathan assentiu, e limpou as lágrimas com as mãos. 

- Bom, agora direi algo que vocês dois não sabem. - disse o diretor. - É sobre Alceu, o pai de vocês. 

"Mais alguma coisa pra piorar tudo mais ainda." - pensou Nathan, cerrando os punhos.

- O pai de vocês é um bruxo bastante forte. Um poder indiferente... Um poder muito mais forte que vocês pensam. - George suspirou, como se estivesse se preparando para algo. - Ele não possui seguidor algum... Uma vez ou outra, arruma um aliado e depois já se desfaz dele. Ele gosta de fazer tudo sozinho, só se junta a alguém quando realmente precisa. Bem, o fato é que... Ele possui mutos inimigos. Ninguém... Gosta dele. 

- Nem mesmo você? - indagou Kevin. 

- ... Não. Nem mesmo eu. Ele já matou bastante pessoas... E só faz isso por puro divertimento. - disse o diretor. 

- Como mamãe foi gostar dele? - murmurou Kevin. 

- ... Ele ficou ruim depois de se separar da família de vocês. - respondeu George. - E ele fez um feitiço forte... Fez uma Horcrux. 

- Não poder ser... - disse Nathan. - Ele fez uma Horcrux... 

- Uma horcrux é quando colocamos uma parte da alma em algo ou alguém, Kevin. E para isso, precisa matar uma pessoa. - contou George. - Ele fez isso para não morrer tão fácil. E como ele está convencido de que ninguém conseguirá destruir sua horcrux... Ele contou o que é sua horcrux para todos seus inimigos. 

- E o que é? - perguntou Nathan. 

- A horcrux de Alceu... É o Kevin. 

De repente, tudo fazia sentido para Kevin. O porque que os Grepels modificados o queria. Todos querem matá-lo.

- Os Grepels modificados são invenções dos inimigos do meu pai. - adivinhou Kevin.

- Sim. E os Grepels não são os únicos modificados. Os inimigos de Alceu estão modificando outras criaturas mágicas, com o objetivo de te matarem, Kevin.

- É o começo de uma guerra. - bradou Nathan.

- Sim. Kevin, eu te disse isso pois sei que você tem todo o direito de saber. Mas quero que saiba que Hogwarts sempre te protejerá. Fique aqui e estará seguro. - disse o diretor. 

George caminhou para a fora da enfermaria, e Nathan e Kevin se entreolharam.

- Kevin - disse o irmão. - Eu tô aqui para o que der e vier.

E os dois se abraçaram, chorando, em meio aquele triste cenário de medo e desespero.  



 

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.