Seis

Remus, em sua casa com Sirius, comia salgadinhos, observando o mau humor do amigo. James não falava mais direito com eles, apenas rapidamente, porque a garota sempre fazia algo errado, como deixar a comida cair no chão sem querer, ou escorregar e cair, na hora que estavam se falando. O espelho de James ficou abandonado em seu quarto, enquanto ele ia de um lado para o outro com a ruivinha, até que Sirius brigasse com o amigo e dissesse para aquele espelho ficar na sala, por precaução – felizmente, ninguém além deles sabia como usar. A ideia de Sirius teve bastante efeito, o que o deixou tranquilo por mais algumas semanas, a ponto de se sentir bem o suficiente para voltar para a casa do moreno.

Black voltou a se irritar quando viu que Potter não mais ficaria fazendo aquele tipo de brincadeiras barulhentas e sujas que fazia antes, já que tinha que cuidar da garota, que, pesar de não se assustar facilmente, era bastante influenciável. Mas viu com satisfação ela imitá-lo quando pegou uma bexiga de plástico e encheu de água, mirando-a em James, que punha os pratos na pia – hábito que a mãe tinha introduzido como de educação, para que fizesse na casa de qualquer um que não tivesse elfo doméstico.

Sorriu para a ruiva, que sorriu para ele também, um sorriso travesso e doce, de criança que vai aprontar algo muito divertido. Seu sorriso esmaeceu ante ao dela, e os grandes olhos verdes se tornaram indagativos. Ela podia não se expressar muito bem com palavras, mas era muito expressiva.

Sirius afastou aquela sensação de atração que sentira por um instante e voltou a sorrir, apontando para James. Ela não entendeu bem e questionou-o com os olhos.

- Vamos jogar isso nele. – Sussurrou, escondido no corredor com ela, que vestia novamente o vestido branco com o qual viera, apenas que agora estava limpo. – Não irá fazer mal a ele, é apenas uma brincadeira. Ele acabará rindo, depois de ficar zangado – Explica como se explicasse a uma criança. Ela pensa um pouco, entende e assente com a cabeça. Sirius achou-a adorável.

- Quando eu contar três. – Sussurra e prepara o próprio balão, mirando-o em James. Ela faz o mesmo. – Depois que jogar, corra. Um, dois, três! – Joga o balão e ela joga também, ambos acertando James nas costas, em cheio. O rapaz fica um pouco parado, virado de costas, como se estivesse processando a sensação molhada em seu dorso.

Sirius começou a rir ao mesmo tempo que a ruiva o fez, que tinha uma risada infantil, gostosa. Percebeu naquele momento por que James dava tanta atenção para a garota. Era como um grande ímã que fazia todos orbitarem em volta dela, naturalmente chamava toda atenção e cuidado para si mesma. Queria estar perto dela, abraçá-la, cuidar dela, fazê-la rir. Era uma sensação absolutamente perturbadora.

James virou-se para os dois com cara de zangado e o sorriso de Sirius esmaeceu devagar. Pensando rápido, pega o pulso da garota e a puxa, surpreendendo-se com a rapidez que ela se levanta e o segue para onde quer que ele corra. Enquanto corriam, ela olhava para trás e dava algumas risadas, gostando muito da brincadeira. Eles se separam do hall de entrada, quando ela corre para a sala e Sirius vai para o escritório. Para o azar do moreno, James o segue.

Ele se aproxima da escrivaninha, atrás da qual Sirius está protegido. Eles se encaram, ambos terrivelmente astutos, tentando prever o que o outro fará.

- Ela é linda, não é? – James pergunta e Sirius imagina que o amigo não está apenas tentando distraí-lo. Assente com a cabeça, tentando pensar em um jeito de chegar até a porta.

- Não consigo evitar ficar olhando para ela a todo o momento. Ela me atrai como a gravidade atrai meu corpo – Sirius hesita ao ouvir a declaração baixa, quase hesitante. Deixa o olhar vagar pelas estantes de livros, pensando em como se sentira ao lado dela há pouco. A pele de seu pulso era tão clara e macia... Sacode a cabeça ao surpreender-se imaginando sentir aquela pele com seus lábios.

- Entendo como se sente. – Diz a contragosto, o processo de perdão a James começando em seu peito. Sentia um nó se desfazendo, tripas torcidas relaxando devagar. Realmente entendia. A atração que ela influía em todos a sua volta era quase como… mágica.

James se joga sobre a mesa de carvalho, alcançando Sirius. Este corre, mesmo com a mão do amigo segurando-o pelas vestes, e cai no chão perto da porta, o corpo de James fora puxado e escorregara sobre o seu.

Após alguma luta corporal, James deu uma chave de braço no amigo, ficando de pé com a parte interna do braço sobre seu pescoço. Fecha uma mão e começa a esfregar os nós dos dedos em seu couro cabeludo, fazendo uma espécie de “cafuné” dolorido, do qual Sirius tentava escapar.

Os dois, porém, pararam o que faziam quando ouviram uma risada aguda bem perto. Os olhares de ambos foram atraídos para a porta, onde aparecia uma cabeça ruiva risonha. Sorriram ao mesmo tempo, James soltando o aperto do pescoço do amigo.

Eles se entreolharam e olharam para ela, que olhou de um para o outro sem entender muito bem o que planejavam. Quando ambos se levantam, porém, ela entende, os olhos cor de esmeralda se arregalam ante aos sorrisos marotos dos dois garotos.

Cada um toma um corredor, James diretamente atrás dela, Sirius valendo-se de atalhos na mansão para interpelá-los no caminho. E encurralaram no hall de entrada, mas ela volta a correr para a sala de estar, e sai pela porta que dá no jardim.

Correm pelo jardim dos Potter, ela correndo e os dois tentando pegá-la, até que a garota cansasse e se deixasse cair deitada na grama embaixo de uma árvore, rindo e ofegando na mesma proporção. Sirius se deitou ao lado dela, um corpo afastado, e James se sentou apoiado com as costas na árvore, também um corpo afastado. Ela abre os braços, tocando o antebraço de Sirius e o joelho de James, olhando de um para o outro.

- Obrigada – Disse devagar, hesitante, como se temesse errar a palavra. Quando os dois assentiram, também sorrindo, ela solta uma baixa exclamação satisfeita e fecha os olhos para descansar.

O rapaz de olhos cinzas captura os olhos castanhos do outro por trás de seus óculos e percebe com aflição que a mesma coisa se passava com ele também. Aquela sensação de descer de uma montanha russa, aquela vontade de beijá-la, amá-la e protegê-la o quanto pudesse. Sentiu-se idiota por ter se apaixonado tão rápido, mas era definitivamente fácil gostar dela. Fácil demais.

Afasta o olhar, tentando não pensar em socar o amigo, e sim em resolver aquilo de forma a machucar minimamente a ambos.

James sentiu falta dela em sua cama naquela noite, mas resignou-se a atribuir aquela falta ao quão cansada ela estaria depois da brincadeira daquele final de tarde.

Mas mesmo com todas as tentativas dos dois rapazes, o veneno já fora lançado, e começava a apodrecer os laços daquela amizade tão forte, bem devagar.

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.