Desejo
Os dois riam e discutiam a briga que a garota tivera mais cedo com Lilá Brown.
_Ela é uma completa idiota. – ela olhava a lua animada.
Na última aula da tarde, de Transfiguração com Grifinória e Sonserina, Lilá não estava conseguindo transfigurar um galho simples em um buquê.
Hermione, que estava em uma mesa ao seu lado, soltava risos maldosos em sua direção.
Lilá se sentiu mal com a pressão que estava sofrendo, tanto por ser a única na sala que não conseguia transfigurar o galho, como pelos presentes serem alunos da Sonserina.
As piadas maldosas sobre a dificuldade de um grifinório em fazer um simples feitiço – piadas que viam dos Sonserinos, principalmente de Draco Malfoy – a perturbaram de mais. E então, quem ela menos podia esperar que fosse lhe provocar, o fazia.
Lilá sabia que Hermione não gostava dela, mas a garota chegar ao ponto de chamá-la de “incapacitada” para um colega que estava ao seu lado e soltar risos irônicos para ela por toda a aula? Não pode se conter.
Levantou de sua cadeira e pulou na direção de Hermione. Mas esta foi mais rápida e se afastou da mesa a tempo, vendo os olhos de Lilá transbordarem em lágrimas, enquanto essa caia de mal jeito sobre a mesa.
O professor perguntou o que estava acontecendo, mas não pode impedir que Lilá novamente pulasse na direção de Hermione. Não que ela estivesse com medo. Sem pestanejar, Hermione estuporou a garota.
O professor tirou alguns pontos da Grifinória, mas nada que a fizesse se sentir culpada. Ela alegou pura defesa e se livrou de uma detenção.
_O que deu em você pra fazer aquilo? – Blásio perguntou alisando a própria varinha.
_Ela estava caindo em cima de mim! O que você queria que eu fizesse? – Hermione o olhou confusa.
_Não. Estou falando do fato de você provocá-la a aula inteira. É, eu e toda a sala vimos os comentários que você estava fazendo da Brown. – ele disse sobre o olhar surpreso da garota.
_Ah, isso.
_Você não parece arrependida. – ele comentou.
_E não estou. – ela mexeu os ombros.
_Por quê?
_ Não foi algo premeditado, entende? Foi só que desde que voltamos para Hogwarts, ela não para de dar em cima do Rony. Ah, você que perguntou a razão. – ela disse quando ele fez cara de tédio.
_Certo, continue.
_Sim, mas ontem a garota teve coragem de dizer a Rony que ele precisava arrumar uma namorada melhor. – ela disse isso como se estivesse achando um absurdo.
_E ele te falou isso? – Blásio perguntou surpreso.
_Claro que não. – ela o olhou como se fosse óbvio. – Algumas pessoas que me contaram. Aí quando teve aquela aula, eu simplesmente vi a oportunidade de perturbá-la um pouco.
_Um pouco? Garota, me impressiono por te ouvir dizer que é uma grifinória. Você ta mais pra uma alma perdida da Sonserina.
Ela o olhou surpresa. Ela sabia que não tinha entendido errado: o garoto tentara fazer um elogio. Da forma dele, mas ainda assim era um elogio.
Não que ela estivesse gostando de ser comparada a um sonserino, mas não disse nada.
_Hum…
Os dois ficaram em silêncio algum tempo. A garota tremia um pouco às vezes por causa do frio. Blásio observou isso e resolveu se aproximar. Passou os braços sobre os ombros da garota, que quase pulou com esse gesto.
_O que…?
_Relaxa, é só que você está tremendo. – ele disse levantando as mãos.
Hermione o olhou desconfiada.
_Estou bem assim. – disse voltando a se sentar um pouco mais afastada.
O garoto abaixou a cabeça pensando no que acabara de fazer. Perguntava a si mesmo a razão de estar com aquela grifinória todas as noites apenas para conversar.
Não que ele fosse o tipo galinha, mas não era normal pra ele ficar tanto tempo ao lado de uma garota, sem ter segundas intenções.
Ele mexeu o pescoço incomodado.
O pior é que ele tinha segundas intenções com ela. Cada vez que olhava a garota, parecia que ela o provocava mordendo os lábios ao falar, ou mexendo o cabelo de um lado para o outro, deixando-o maravilhado com seu perfume. Cada movimento delicado o deixava mais atento.
Será que ela fazia aquilo de propósito ou ele que estava exagerando nos pensamentos? O que aquela garota estava fazendo com ele?
Limpou a garganta antes de falar.
_Vai a Hogsmead? – ele perguntou ainda de cabeça baixa.
Hermione olhou em sua direção suspeita.
_Por que o interesse?
_Nada. É só que… bem, a gente podia se ver, né? – virou o rosto para a garota.
_É? – ela soltou surpresa.
_Humpf… deixa pra lá. – ele resmungou voltando a encarar o chão.
Perguntou a si mesmo o porquê de querer saber o que a garota faria no fim de semana. Sentiu-se mais estranho ao pensar que talvez pudessem passar o dia juntos, enquanto os outros estivessem em Hogsmead.
Fez uma cara de espanto com o pensamento.
Uma coisa era se sentir tentado com a garota. Outra, totalmente diferente, era querer passar o dia com ela.
_O que foi? - a garota pediu observando o rosto de Blásio.
_O que foi de quê? - pediu grosseiro.
Ele odiava que interrompessem seus pensamentos e Hermione tinha o dom de fazer isso.
_Melhore o tom comigo, viu garoto. – ela resmungou, sem poder levantar e sair como desejava fazer quando ele falava mais alto com ela.
Por que Blásio a ameaçava todo o tempo? Por que ele a queria perto, mesmo que por pouco tempo, como queria? O que ela tinha a mais, que fizera o garoto a ameaçar como estava fazendo?
As perguntas giravam em sua cabeça.
Lembrou da primeira conversa que os dois haviam tido tinha algum tempo. O garoto tinha gostado de conversar, desabafar. E fazia isso todas as noites.
Hermione se tornara praticamente, em sua visão, uma amiga do garoto.
O que ele havia criado com ela era uma relação de dependência. Ele precisava da garota com ele. Ela se tornara seu freio. Ela quem ditava o que estava certo e errado em sua vida. O que ele devia ou não fazer. Como devia fazê-lo. Ela o coordenava. Mas isso não significava que ele obedecesse.
Ela gostava da situação de superior em que se encontrava.
Ele gostava de ver a garota falando. Isso que o prendia todas as noites.
_Por que faria isso, Granger? – ele pediu vendo a garota tirar a varinha do bolso da veste.
_Porque eu já tenho que te aguentar todas as noites. Não preciso de mais nenhuma demonstração de afeto.
_Entendo. – ele disse baixo.
Viu a garota morder o lábio inferior e sentiu alguma coisa estranha dentro de si.
Sem pensar muito, inclinou o corpo na direção de Hermione. A garota, percebendo a aproximação, tentou se afastar, mas ao apoiar a mão fora da colcha em que estavam, escorregou e seu corpo se colou ao chão. Sentiu a varinha escapar de sua mão.
Tentou medir a distância entre ela e a varinha, mas esqueceu disso quando Blásio colocou o corpo sobre o seu. O rosto dos dois distantes apenas alguns centímetros.
Blásio olhava os olhos castanhos da garota ansiosos. Os batimentos dela estavam acelerados, tanto quanto os seus.
Desviou a atenção dos olhos da garota para os lábios que estavam entreabertos, como um chamado.
Diminuiu a distância entre os dois, mas Hermione virou o rosto novamente. Ele sorriu ao perceber que não foi para o lado em que a varinha dela estava, mostrando que a garota nem se lembrava dela.
O garoto puxou seu rosto com força e a encarou.
_Não seja idiota, Granger. – e a beijou.
Como nas outras vezes que o garoto fizera aquilo, ela retribuiu. Blásio segurava sua cintura com força e a apertava de vez em quando. Hermione explorava o corpo do garoto por cima de suas vestes.
Onde estava Rony em sua cabeça? Em algum lugar longínquo o bastante para que ela nem se lembrasse dele.
A garota não tinha pretensão alguma de trair, mas com aquele garoto por perto, ela ficava diferente. Não era a mesma. As ideias mudavam. As atitudes mudavam. Por algum motivo desconhecido ela não se sentia mal ao encarar Rony e ficar com ele, sendo que havia acabado de se encontrar com Blásio.
Não que os dois andassem se agarrando por aí.
Hermione tinha noção de que o que fazia era errado. Mas o que podia fazer, se ver Blásio a acendia? O que fazer se ele mexia com ela de um jeito agradável? Como negar o que a chamava?
E Blásio a chamava em tudo. Desde o olhar de desejo que ele lançava a ela quando se aproximava, como a forma que o garoto a beijava.
Os dois não tinham sido feitos um para o outro, nem faziam o tipo “casal perfeito”. Isso não importava para Blásio, que não queria uma relação séria e nem para Hermione, que estava muito bem em seu namoro com Rony.
Depois de algum tempo a garota o empurrou. Blásio continuou com seu corpo sobre o dela, se afastou o suficiente apenas para ver seu rosto em um bom ângulo.
_O que foi? – ele perguntou rápido.
_O que foi? – ela pediu como se ele fosse um retardado. – Você agora deu pra ficar me beijando e ainda pergunta o que foi? Tenho que lembrar que tenho namorado? Que você não pode fazer isso sem saber se as pessoas quer…? – o garoto a interrompeu com mais um beijo.
Ele sorriu quando a garota retribuiu. Se afastou com sorriso triunfante no rosto.
_Está claro que você quer. – ele disse próximo a seu ouvido.
A garota tremeu com aquilo e ele beijou seu pescoço.
_Você quer isso tanto quanto eu.
Hermione suspirou.
_Ok. – ele mordeu seu queixo e ela deu uma pausa para que a voz saísse normalmente. – Mas isso não significa… que… da pra parar? – ela pediu quando as mãos do garoto foram para sua perna.
Ele sorriu satisfeito e voltou a beijá-la.
_Za…bi…ni… - ela tentava falar normalmente, mas não era uma tarefa fácil com o garoto provocando-a como ele estava fazendo.
_Granger. – ele sussurrou no ouvido da garota.
Ela suspirou quando ele se afastou o suficiente para não voltar a beijá-la com tanta facilidade. A mão do garoto continuava passeando em sua cintura, apertando-a e ele a olhava como se estivesse interessado no que ela tinha a dizer.
_Certo. – ela disse reconhecendo aquela expressão. – Você não pode mais fazer isso.
_Por quê? – ele pediu baixo, os olhos queimando quando se desviaram para a boca da garota.
Ela corou com aquilo, mas tentou continuar.
_Porque tenho namorado. E estou muito feliz com ele.
_Eu não estou te pedindo em namoro. – ele disse apertando os lábios. A vontade que deu na garota foi de puxá-lo pela gravata solta, mas se controlou.
_Não é essa a questão. Eu não vou ficar traindo o Ron.
_Ron. – ele disse rindo. – Eu pouco me importo com ele. – disse umedecendo os lábios.
Hermione por um momento praguejou por ter um namorado. E no momento seguinte estava empurrando Blásio com força de cima de si e se jogou em direção a varinha pegando-a.
Sentou-se com as pernas esticadas e olhou o garoto que a deixava confusa a sua frente.
Blásio se manteve quieto vendo que a varinha em sua direção estava pronta pra ser usada.
_O que pensa que vai fazer? – ele pediu se referindo a varinha.
_Olha só… - ela começou.
Blásio levou a mão ao calcanhar da garota e o alisou. Hermione observou aquilo quieta.
_Olha só… - ele começou aproximando mais o corpo do da garota, ignorando a varinha apontada para seu peito. – Não há problema algum nisso.
_Há todo tipo de problema. – ela disse colocando a varinha no peito do garoto, que parou com a mão em sua coxa. – Você é um Sonserino, eu estou namorando…
_E essas são as únicas desculpas que você tem. – ele disse afastando a varinha dele.
Hermione continuou quieta.
Não conseguiu lembrar nenhuma outra desculpa. Os olhos castanho-escuros do garoto fizeram-na perder o foco do que dizia.
_Então… - ele passou a língua sobre os lábios da garota, que fechou os olhos tentando se controlar. – É melhor arrumar algo melhor que isso. Porque esses não são motivos suficientes pra me impedir de fazer o que eu quero.
E dizendo isso, puxou pelo pescoço a garota em sua direção e lhe deu um beijo que a fez esquecer tudo por algum tempo.
A chuva que estivera mostrando que iria cair durante todo o dia se libertou. As gotas molhavam os dois, que ignoravam qualquer coisa que não fossem eles mesmos. Em alguns segundos, Hermione estava encharcada.
Novamente afastou o garoto de si. Se levantou e foi na direção da saída.
Blásio a seguiu chateado. Por que a garota não podia deixar as coisas acontecerem? Seria tão mais divertido e fácil...
Ele parou vendo que Hermione estava no início da escada lançando alguns feitiços em si mesma para que se secasse. Blásio observou a roupa colada ao corpo da garota e desviou ansioso. Não costumava olhar o que não ia ter. Era frustrante no final.
Ele fez o mesmo que ela, terminando mais rapidamente que a garota, que ainda tinha que se preocupar com o cabelo.
Quando terminou, a garota se virou para descer os últimos degraus, mas Blásio deu-lhe um puxão que a fez subir alguns degraus e a encostou a parede.
_Para. – ela disse séria.
O garoto a olhou surpreso pela firmeza contida na voz.
_A condição para que eu continue vindo te ver é essa: você não vai se aproximar de mim. Nada de me fazer carinho, de me beijar, nada. Você não vai encostar um dedo, certo? E eu não me importo se você vai contar a ele ou não. – ela interrompeu o garoto que ficou chocado. – Não vai ser tão ruim eu contar a ele o que já fiz. Pior seria se eu continuasse fazendo.
E sem esperar qualquer tipo de comentário do garoto, Hermione saiu daquele corredor de escada.
Blásio ficou olhando sério para o lugar onde a garota estivera alguns segundos atrás. Por que tudo tinha que ser tão complicado pra ele? Por que ele não podia querer qualquer outra garota? Por que ele tinha de querer logo a Granger?
Socou a parede com força de mais e sentiu a dor da pancada. Se arrependeu prontamente.
Com certeza tinha quebrado alguma coisa.
Precisava de Draco. Ele poderia ajudá-lo com o problema da mão. Mas ele queria uma solução também pra outro problema em sua vida.
Comentários (1)
aiii que capítulo tensoooofaz logo a Hermione dar um pé na bunda do Rony, coitado!
2012-05-20