Convite



A garota estava sentada em uma mesa do Salão Comunal da Grifinória com Harry e Rony. Ela lia um livro de Runas, enquanto os outros dois conversavam. Quando eles não falavam de Quadribol – algo raro naquele dia – ela interagia e dava suas opiniões. Mas na maior parte da noite permaneceu calada.


_Não acha, Mione? – ela levantou a cabeça ao ouvir seu nome.


_Han? – pediu confusa e os dois se olharam rindo.


_Eu tava dizendo pro Harry, - o garoto ruivo começou, colocando a mão sobre a coxa de Hermione por baixo da mesa. – Que vou te deixar escolher o presente esse ano. – ele disse olhando significativamente para o livro que a garota segurava.


Hermione corou tanto pelo que o garoto acabara de dizer, como por sua mão ter acabado de apertar sua coxa.


_Ah… - ela começou um pouco tonta. – Não precisa exagerar. – ela riu.


Colocou a mão debaixo da mesa e segurou a do garoto, sem olhar pra ele.


O que ele queria com aquilo? A forma que o garoto apertara sua coxa, não havia sido de uma forma casual. Foi lento, como se estivesse provocando-a.


_Mas ele está certo. – Harry comentou apontando para o livro da garota.


Rony segurava a mão da garota e fazia círculos onde seu polegar se encontrava sobre a pele dela.


Hermione balançou a cabeça e riu para os dois. Olhou por mais tempo para Rony, que lhe deu um sorriso sapeca.


_Hum… eu tenho que ir. – a garota disse nervosa se levantando.


_Eu vou com você. – Rony soltou ansioso seguindo a menina.


Ela estava com medo dos planos do garoto naquele dia. Rony nunca a tocara com segundas intenções como fizera há instantes e agora ele a seguia, coisa que nunca fazia.


O garoto sempre preferia ficar no Salão Principal com Harry, jogando Snape Explosivo ou qualquer outra coisa divertida.


Ela pensou em usar uma desculpa qualquer pra que ele não fosse junto, mas não tinha nenhuma. A única coisa que veio em sua mente foi dizer a ele que a ronda iria começar, mas não podia dizer isso, já que faltava quase uma hora para ela.


_Vamos ali. – Rony disse baixo no ouvido da garota, que se arrepiou.


Eles estavam no segundo andar.


Ela olhou o garoto e ele sorria. Tinha o mesmo olhar sapeca de alguns minutos antes.


Ela sorriu divertida.


_Onde? – pediu segurando a mão do garoto que estava em seu ombro.


_Em algum lugar mais quieto. Sabe, um lugar em que possamos ficas a sós. – ele completou dando um leve beijo no pescoço da garota.


Hermione fechou os olhos alguns segundos e o rosto de Blásio veio em sua cabeça. Ela olhou Rony assustada. O ruivo estava colocando a mão em sua cintura e vinha em sua direção para beijá-la.


Ela enrijeceu. Tanto por Rony estar fazendo o que estava, como pelo rosto de Blásio estar em sua mente. Aquele olhar de desejo que a consumia tanto por dentro, como por fora.


_Relaxa. – Rony disse baixo ao ver a reação da garota. – Vem cá. – ele disse apontando para uma porta distante dois metros deles.


A garota sorriu insegura, enquanto o garoto a conduzia.


Entraram na sala, Hermione com mais lentidão que o necessário.


_Rony! – disse em advertência.


_O quê? – o garoto perguntou baixo enquanto fechava a porta.


Hermione apertou sua mão com força e ele puxou a garota em sua direção agilmente. Levou a mão do braço da garota, para suas costas, quase tocando o quadril. Hermione cruzou os braços parecendo casual sobre o peito do garoto, mas na verdade foi uma forma de defesa que encontrou.


Defesa?, pensou a garota, Desde quando preciso me defender do meu próprio namorado?


Hermione beijou o garoto lentamente.


Rony desceu os beijos para o pescoço da garota e o mordiscou. A garota deu um suspiro baixo.


O garoto começou a avançar nos carinhos e Hermione ficou preocupada. Não que não estivesse bom, mas ela não estava a vontade com a imagem de Blásio, da última vez que a beijara, em sua mente. Parecia a ela que alguém havia passado cola em algum lugar de sua cabeça e grudado o rosto do garoto lá.


_Bl… - ela se ouviu sussurrar. Parou antes que fizesse alguma besteira.


Na verdade, uma besteira maior do que a que estava fazendo ao quase sussurar o nome de Blásio. Não Zabini, como o costume, mas Blásio.


_Quê? – Rony parou um segundo sem entender.


_Basta. – foi a única coisa que veio a mente da garota começando com B.


_Hermione. – ele pediu ansioso.


_Tenho que ir. – a garota disse rápida.


O garoto não insistiu. Apenas acompanhou com os olhos, a garota praticamente correr até a porta e sair, batendo-a com força.


Pensou que talvez tivesse exagerado. Talvez tenha sido isso…


Talvez.


 


A garota subiu afobada as escadas para seu local secreto desejando ficar um pouco só. Se sentou no local de sempre, conjurando uma coberta para não entrar muito em contato com o chão frio. Não nevava aquela noite, mas o frio permanecia.


Raciocinou um pouco. Por quê Blásio não saia de sua mente? A relação dos dois já estava acertada. Blásio nunca mais se aproximara dela, os olhos do garoto eram estáveis ao seu lado – nada do desejo que demonstrava sua mente –, então por quê não se sentira bem na situação agradável em que estava com Rony, alguns minutos antes? E, principalmente, por quê Blásio estava ocupando seus pensamentos?


_Uuh, a Granger parece angustiada hoje. – Hermione ouviu a voz do garoto com um profundo desdém no final.


_O que você quer? – ela pediu grosseira.


_E está arrogante hoje também. – ele comentou.


Blásio sentou-se ao seu lado como sempre fazia. A garota se afastou alguns centímetros ansiosa.


Estava confusa. Quando o garoto ficava tão próximo, apenas com as vestes tocando na sua, ela sentia vontade de puxá-lo e beijá-lo, mas não sabia exatamente a razão.


Blásio, mesmo sendo menos sonserino, não era exatamente o tipo de pessoa que uma grifinória com a cabeça no lugar como Hermione, fosse se apaixonar.


Opa! Correção: se sentir atraída. Paixão era algo profundo o bastante para ser dedicado ao garoto.


Blásio olhava em silêncio a garota fazer caretas. Estava estremamente curioso para saber o que passava na mente da grifinória, mas não poderia saber se não fosse ela a dizer. Mordeu o lábio inferior ansioso.


_Granger? Fala aí. – ele disse firme.


A garota o olhou como se estivesse louco.


_Quê? Eu não vou falar nada pra você. Meus problemas são meus problemas. Não lhe interessam em nada porque você não tem nada a ver com eles.


_Me impressionaria se tivesse. – Blásio disse observando o nervosismo da garota. – Mas sério, fala aí. Eu sempre “desabafo” com você. Então pode falar sossegada.


O garoto era sincero ao dizer aquilo. Não que estivesse interessado no bem estar da garota, mas sim pela curiosidade sonserina.


Se não estivesse tão curioso, perceberia que a garota lhe dera explicações demais, sendo que ele, segundo ela, não tinha nada a ver com a história.


_Não enche. – ela resmungou.


Permanecerem em silêncio por quase dez minutos. Hermione pensativa sobre a situação em que estava. Não queria encarar Rony quando ele tentasse alguma coisa com ela se sua mente estivesse vagando pela população sonserina.


_Zabini? – ela chamou baixo.


O garoto que não desviara os olhos dela, apenas resmungou para que ela soubesse que ele ouvia.


_Onde vai passar o Natal?


_Pa… passar o Natal? – o garoto ficou surpreso e desconfiado com a pergunta. Afinal, o que isso importaria á grifinória?


_É, Natal. – ela repetiu baixo.


Estava propondo um teste a si mesma naquela instante.


Mas para obter sucesso na primeira parte dele, precisava da resposta do garoto.


_Por que o interesse?


_Pode responder sem ser chato pelo menos uma vez? Pretende passar aqui no castelo? – ela disse grosseira.


_Não. – ele respondeu duvidoso das intenções da garota. – Não sei. Agora pode me responder a razão da pergunta?


Hermione balançou a cabeça confirmando.


_Queria saber se… bem, se você não iria querer passar o Natal comigo. No mundo trouxa.


Blásio fez uma cara de dor. Mas mesmo assim se sentia estranho. O que Hermione poderia querer com ele em sua casa?


A mente do garoto foi povoada por ideias pervertidas, mas ele sabia que a garota não era dessas coisas, além de ter deixado claro que não queria nada com ele além das conversas. Talvez ela tivesse mudado de ideia, mas isso parecia improvável.


A segunda coisa que imaginou foi que talvez a garota estivesse armando alguma pra ele. Mas não conseguia pensar em nenhuma razão para isso. Os dois estavam se dando muito bem nas últimas semanas, – ele se aguentando para não pegar a garota de jeito – apenas conversavam. O garoto não conseguia ver nada sombrio naquilo.


Apenas continuava achando o pedido de Hermione estranho.


Estranho ao extremo.


_Quê? Por quê?


_Ah, porque sim.


O garoto lhe lançou um olhar desconfiado.


Hermione suspirou. Teria que ceder alguma coisa ao garoto. Sabia que ele simplesmente não apareceria em sua casa por livre e espontânea pressão.


_É que eu não quero ir á casa dos Weasley esse ano.


_Isso eu já entendi. Não que compreenda, já que você agora namora um Weasley… - o garoto parou pensativo de repente. – Isso tem alguma coisa a ver com seu namorado, não é? – ele disse rindo.


Hermione não entendera.


_Quê?


_Vai, fala aí. Vocês brigaram, foi?


Uma luz se acendeu na mente da garota. Blásio achava que ela estava evitando a casa dos Weasley por causa de alguma discussão. Ela daria a ele algo mais profundo e, de certa forma, verdadeiro.


_É que… o Ron, sabe… bem, ele está espertinho nos últimos dias. – o rosto da garota corou.


Nunca fora boa para mentir.


_Espertinho?... – o garoto repetiu baixo tentando entender.


_É, tipo, mais liberto. – a garota fez alguns gestos com a mão, como que para incentivá-lo.


_Ah. – Blásio soltou rindo. Pensou que talvez tivesse entendido. – Ele ta querendo te pegar de jeito. – se sentiu estranho ao dizer aquilo e sorriu quando a garota corou. – É isso mesmo, não é? E o que acontece com você? Não quer?


_Não é questão de querer… é que… bem, não sei se estou pronta pra qualquer coisa a mais. – ela disse, o rosto pegando fogo agora. Nunca se imaginara em uma cena como a que se desenrolava.


_Vocês garotas, cheias de coisa. – o garoto disse depois de dar boas gargalhadas. – E o que eu tenho a ver com isso?


_Eu não gosto de ficar sozinha em minha casa. – ela disse rapidamente. – E você é a única pessoa próxima a mim, que não é próxima ao Ron. E se você não pretende passar o Natal com seus pais sei-lá-onde, ao invés de ficar mofando uma semana nas masmorras…


_Poderia ficar mofando no mundo trouxa. – ele disse entediado e com uma careta. – Onde seus pais estão enfiados nessa história? Não to afim de ser apresentado como…


_Eles vão viajar, imbecil. Prestou atenção na parte que eu disse que não queria ficar sozinha? – a garota disse sarcástica.


Blásio lhe deu um olhar assassino.


_Não tenho obrigação nenhuma de fazer isso. Imagine com você me chamando de imbecil.


_Certo, desculpa. – Hermione disse inclinando o corpo na direção dele.


Blásio ficou ansioso com aquela aproximação. Ele não era o tipo de garoto que ficava nesse tipo de situação: querendo uma garota e não a tendo. Já estava difícil se segurar com ela mantendo distância, imagine naquele momento em que a garota estava com os lábios mais rosados que o normal e com as mãos pouco abaixo do queixo, como se estivesse implorando.


Coisa que ela realmente fazia.


_Zabini, por favor, por favor, por favor… - o garoto colocou a mão na boca dela, impedindo-a de falar, apenas ouvindo seus murmúrios abafados de “por favor”.


_Eu vou, garota chata. Não tenho nada pra fazer aqui mesmo. – ele se justificou quando a garota praticamente pulou em cima dele.


O cheiro que emanava da garota o desestabilizou alguns segundos. Que cheiro maravilhoso era aquele?


_Que bom. – foram as únicas palavras de Hermione.


Os pais de Hermione estavam indo passar a semana do Natal em um Congresso – eles haviam pedido sua companhia para que fosse junto, mas ela não se dispôs a isso. Eles não se preocuparam em deixá-la sozinha, porque combinaram que Hermione passaria o Natal com a família Weasley, como acontecera outras tantas vezes.


Mas a garota estando naquela situação de dúvida em que se encontrava, pensou que talvez uma semana sob o mesmo teto que Blásio, seria de grande serventia a ela. Provavelmente o garoto se mostraria arrogante, como fazia normalmente e se comportaria como um garoto de dezoito anos normal, sendo porco e chato. Aquilo, com toda a certeza, ajudariam a saída do garoto de sua cabeça.


O que ela queria apenas eram alguns dias com ele. Alguns dias que ela esperava serem suficientes para odiar o garoto.


Mas Hermione tinha que se lembrar que Blásio já a surpreendera uma vez. Fazer isso novamente não seria difícil.

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