Confusão



A garota de cabelos cheios sorriu ao sair do Salão Principal.


Um garoto acompanhou sua saída com os olhos faiscando.


Do outro lado do grande Salão, um garoto com uma cicatriz em forma de raio na testa, observava os dois.


Em sua opinião, o sonserino estava demonstrando mais raiva que o normal por sua amiga. Ela, por sua vez, parecia estar gostando daquela demonstração de ódio do garoto.


Harry tentava não pensar no que havia acontecido no dia anterior, mas não era uma tarefa fácil. Sempre que olhava pra seu amigo Ronald Weasley, começava a se remoar pelo que vira. Achava que estava cometendo uma traição não contando suas dúvidas a ele, mas depois achava que seria uma traição com Hermione contar, já que a amiga deixara claro que não havia nada entre ela e Zabini.


E depois da saída dela e do olhar do garoto, ele teve certeza de que alguma coisa estava errada. Mas de uma coisa ele sabia: não havia nada acontecendo entre Hermione e Blásio. Sua amiga não era esse tipo de garota. E Blásio não era o tipo que ficaria com, ele se remoeu pela forma de pensamento, uma Sangue-Ruim.


_Você ta estranho. – Rony disse ao seu lado. – Desde ontem.


Harry olhou Gina alguns lugares a sua frente, conversando animadamente com os colegas. Voltou o olhar ao amigo e bateu em seu ombro.


_Vamos logo. – ele respondeu se referindo ao jogo que teria naquela manhã entre Sonserina e Corvinal.


A mesa das duas Casas estavam quase vazias. Os jogadores da Corvinal estavam ótimos naquele ano e Harry torcia para que a Sonserina perdesse feio.


_Queria que Hermione fosse junto. – Rony comentou enquanto saiam do Salão.


_Até parece que ela trocaria livros, por quadribol. – os dois riram disso.


_As vezes acho que ela me trocaria por livros.


_Não precisa exagerar. – Harry aumentou as passadas com pressa para chegar ao campo.


Alguns metros atrás dele, Blásio escutava tudo achando divertido.


Iria visitar a Biblioteca naquela manhã de sábado.


 


Hermione desceu a escadaria que dava no Salão Comunal da Grifinória pulando dois degraus de cada vez.


A maioria dos alunos estavam no jogo daquela manhã, mas ela sabia que quando terminasse, o Salão viraria uma bagunça. Achou melhor estar na Biblioteca fazendo o que tinha para a semana, do que ficar lá e não conseguir mais se concentrar quando todos voltassem.


Colocou todo o material em uma mesa e começou a procurar os livros necessários em outras estantes.


Quando voltou para a mesa onde colocara suas coisas, viu que não estava sozinha.


Blásio segurava um de seus pergaminhos e tinha um sorriso de quem estava aprontando algo.


_O que foi? – a feição de seriedade voltou ao rosto da garota. Ela olhou para os lados querendo conferir se não tinha mesmo ninguém por perto.


_Só tem a gente aqui. – ela levantou a sobrancelha. – Quer dizer, tem dois meninos, mas eles estão lá na frente.


Ela suspirou indo pegar o pergaminho de sua mão, mas ele desviou e colocou a mão nas costas.


_O que está fazendo? – ela pediu confusa vendo que ele se divertia com suas tentativas falhas de recuperar o pergaminho.


_Nada. – ele respondeu ainda sem devolvê-lo.


Ela resmungou algo inaldível e se sentou. Ele continuou encostado à mesa.


_E então?


_E então, o quê? – ela perguntou abrindo os livros.


Ela não entendia o que ele queria ali.


Na noite anterior, ela não tinha ido ao seu local preferido. Isso significava que não tinha ido ver Blásio, como ele tinha pedido.


Na verdade, como ele tinha ordenado. E essa foi exatamente a razão dela não ter comparecido. Odiava que mandassem nela daquela forma.


Se teve uma coisa que alegrou o seu dia foi vê-lo no Salão Principal, com aquele ódio nos olhos. Ela achou que com isso, ele nunca mais iria olhar em sua cara. Mas lá estava ele, pertubando sua paciência. E em um lugar tão exposto como a Biblioteca.


_Você não foi ontem. – ele disse baixo apoiando os cotovelos na mesa de frente para a garota.


_É. – ela respondeu não dando ligância enquanto procurava as páginas certas.


_É. – ele colocou com força a mão em cima do livro que a garota segurava. Ela o olhou sorrateira. – Eu odeio quando me deixam esperando.


_Em algum momento eu disse que iria? – ela puxou o livro com força.


_Eu disse pra você ir. – ele inclinou o corpo perigosamente na direção da garota. Ela não se afastou. Não daria esse gostinho ao garoto a sua frente.


_Você não manda em mim. – ela cuspiu cada palavra.


Ele não respondeu, surpreso com a próxima atitude da garota.


Hermione puxou Blásio pela gravata e o deixou a centímetros de seu rosto.


_O que exatamente você quer?


Hermione tinha que entender que Blásio era um sonserino como qualquer outro e, suas atitudes na maioria das vezes, não tinham uma razão exata. Ele apenas gostava que as coisas fossem feitas como ele queria.


E o que ele desejava era ter Hermione, por trinta minutos, todas as noites em que estivessem em Hogwarts. Pouco se importava se tinha algum sentido em seus desejos, ou o que pensariam dele se descobrissem. Ele a queria por um tempo, todas as noites e, era isso que importava.


Mesmo que não estivesse muito segura do que fazia e sem entender o porquê de precisar aproximá-lo daquela forma, Hermione continuou firme.


_Eu acho que você ta querendo me beijar. – ele disso rindo. Hermione o afastou empurrando-o no peito. – De novo.


_Você quem me beijou. E até agora eu não entendi a razão. – o garoto continuou próximo.


_Ah, claro. Que loucura a minha, só eu quem te beijei. Claro.


A garota continuou com os olhos pregados no livro. As palavras dele a incomodaram, porque a lembrança do beijo deles a pertubou por algum tempo. Não só o fato de um sonserino tê-la beijado, mas o fato dela ter retribuído ao beijo.


Ela se mexeu incomodada na cadeira e ele percebeu.


Sorriu satisfeito.


_Sabe Granger, tenho certeza que seu namorado não gostaria de saber que você anda beijando outros por aí.


Os olhos da garota se tornaram fendas enquanto ela levantava a cabeça na direção dele.


_O que está insinuando?


_Eu? – ele pediu com ar de desentendido.


_É, você, seu cretino.


Blásio colocou a mão sobre o peito como se estivesse se sentindo ofendido.


_Cretino? Por quê me elogia dessa forma? – ele deu uma risada.


Hermione se manteve quieta esperando uma resposta.


Blásio sorriu e aproximou o rosto da garota.


_Você gostou do peso de minha mão, não Zabini? – ela disse mostrando seriedade no sarcasmo.


Ele parou com os lábios próximos aos da garota. Vendo que ela não iria se afastar e lembrando que seu queixo doera por algum tempo, ele mesmo se afastou.


Hermione ficou aliviada. Não estava pretendendo se afastar, mas teve medo que o garoto a beijasse. Isso seria um problema.


Um grande problema.


_Por quê não me deixa em paz? – Hermione pediu ansiosa quando tentou voltar a atenção para os livros e Blásio a tirava puxando-os de sua mão.


_Ninguém mandou você se intrometer em minha vida, Granger. – ele respondeu simples encarando-a.


_Ah, por favor, eu tentei ajudar.


_Então continue tentando. Não estava divertido?


_Divertido? Como assim divertido? Que diversão há em conversar comigo? Você tem seus amigos, lide com eles. – ela abaixou o tom de voz quando Madame Pince apareceu no corredor de prateleiras em que ela estava.


_Por favor, meu caro. Poderia sair de cima da mesa? – Madame Pince se dirigiu a Blásio, que deu a ela um sorriso simpático e se sentou ao lado de Hermione.


A garota deu um muxoxo de desagrado e Madame Pince se afastou.


_Olha só, - ela disse se virando pra ele. – Eu falei sério quando disse que você poderia lançar um feitiço em mim, certo?


_Ah, você não disse que tinha seus métodos pra que eu não lançasse nada em você?


_Bem, era só proteção. – ela resmungou aproveitando para pegar seu pergaminho das mãos dele.


_Eu posso pegar novamente. Com muita facilidade, na verdade. – ele comentou e Hermione o ignorou.


_Presta atenção. Se eu esquecer de tudo que sei de você, será ótimo. Nós não vamos nos ver mais. Não será maravilhoso?


_Quem disse que eu quero parar de te ver? – ele perguntou sem prestar atenção.


Quando viu o silêncio da garota, levantou os olhos para ela e viu seu rosto corado.


_Que foi? – ele pediu confuso.


_Você… você não quer parar de me ver? – ela perguntou surpresa.


Tudo bem que ela tivesse imaginado que talvez ele quisesse vê-la sempre, a insistência dele pra que se vissem era impressionante, mas quando não achou uma justificativa para isso, tentou esquecer. E agora Blásio praticamente confirmava suas dúvidas.


_Eu disse isso por um acaso? – ele perguntou grosseiro.


Percebera que falara de mais. Mas isso se tornara normal quando ele estava com Hermione. Ela conseguia, de alguma forma, envolvê-lo em qualquer tipo de conversa, em qualquer assunto – mesmo que em discussões. E quando ele dava por si, já tinha falado coisas que, normalmente, ninguém saberia.


Primeiro ele se chateava. Depois, ele gostava da sensação de confiança que ela tinha dentro dele.


_Bem, quase. – ela disse com o rosto em chamas.


Ele observou aquilo e riu.


_Bem, como eu vou poder te ameaçar se você não lembrar de nada do que já aconteceu? – ele disse sarcástico.


Hermione mudou sua feição de surpresa, para raiva.


_Então você só fez aquilo pra ter alguma coisa contra mim? – sua voz tremia e Blásio não deixou isso passar em branco. – Não é a toa que ninguém quer lidar com vocês. – ela se referiu aos Sonserinos enquanto se levantava com um livro na mão. – Não valem o prato que comem.


E, sem pensar, bateu com o livro no braço do garoto.


Ele, por sua vez, não pensou duas vezes.


Admitia que ela o xingasse – já estava acostumado com isso –, mas bater nele daquela forma? Não. De jeito nenhum ele deixaria barato.


Se levantou, puxou o livro das mãos da garota e a beijou violentamente.


Ele sabia que aquilo a deixaria mais irritada que qualquer outra coisa e esperou por tapas, chutes e xingamentos, mas a única coisa que a garota fez foi retribuir.


Os dois sentiram confusão com aquilo.


Hermione o afastou, não com tanta força e firmeza como fizera no dia anterior e o encarou.


_Hum. – ele soltou com prazer.


_Nunca mais faça isso, entendeu? – ela disse como um aviso.


O que estava acontecendo com ela? Por que não surrava aquele garoto de uma vez?


Blásio percebeu que sua mão estava nas costas da garota, mas não teve vontade alguma de tirá-la de lá e Hermione parecia nem ter reparado.


_Por quê? – ele pediu com um sorriso.


Ela o olhou como se fosse louco.


Tirou a mão do garoto, que estava em suas costas. Ele a observou pegar os livros que estavam na mesa e esperou que ela voltasse depois de colocá-los no lugar.


Antes que pudesse impedi-lo, Blásio pegou o mesmo pergaminho de antes e segurou, deixando claro que não devolveria.


Hermione poderia deixar o pergaminho pra lá, tinha muitos no malão, mas naquele estava um trabalho que já estava quase no fim. Se deixasse com ele, teria de fazer tudo novamente.


Ela arrumou o pouco de coisa que tinha vindo consigo do dormitório. Cruzou os braços sobre o peito e encarou Blásio.


_O que foi? – ele pediu cínico.


_Você sabe muito bem o que foi. Zabini, por favor, pode parar de me encher o saco e me devolver o pergaminho? Agora!


Ele riu.


_Vamos entrar naquela discussão sobre você mandar em mim?


A garota suspirou.


Estava começando a perder a paciência.


Na verdade, já tinha perdido havia um tempo. Isso só estava ficando mais claro.


_Merlin! O que você quer? Poxa vida, cadê seu amigo? O Malfoy?


_Deve estar jogando. Por quê?


_Ah que bom que você está animado para fazer piada. – ela resmungou vendo o sorriso dele. – É sério, Zabini. Me devolve meu pergaminho e para de me encher.


_Granger, Granger. Por que toda essa relutância em ficar ao meu lado? Não vou fazer nada que não queira. – ele disse malicioso. – Caso não tenha entendido, eu só quero sua companhia por alguns minutos. Apenas isso. Não que eu esteja pedindo. Você sabe, posso contar ao seu namorado.


Com agilidade, Hermione tirou a varinha do bolso e apontou para o pescoço do garoto.


Ele sentiu medo, mas sorriu em escárnio, como se duvidasse que ela fosse ter coragem.


_O que pretende fazer? – ele pediu e ela apertou mais a varinha no garoto. – Sabe Granger, eu tenho o Draco e o Potter para provar ao seu namorado que você andou me beijando.


_Se eu apagar sua memória…


_Ouviu a parte que eu tenho o Draco? O que você acha que ele pensaria se eu aparecesse sem memória assim, do nada?


A garota diminuiu o aperto surpresa. Então Malfoy sabia dos dois?


_Você contou a ele que…?


_Sobre nosso beijo? – Hermione fez cara de dor, fazendo Blásio rir. – Ele também viu. Eu só contei que você era legal. Que a gente conversava um pouco.


Hermione desistiu de fazer qualquer coisa. Se Draco sabia que eles conversavam e ela não queria que Rony soubesse do que ela tinha feito, teria que fazer o que Blásio queria.


Ela estava começando a se assustar por causa desses beijos. A pouco o garoto a beijara novamente em um local totalmente público e ela deixara. E o que é pior: retribuíra com vontade.


_E o que ele disse? – ela se referiu a Draco.


_Que eu era doente.


_É, parece que alguém tem sanidade nessa Escola. – ela disse baixo, mas Blásio ouviu e permaneceu quieto. – Me dá meu pergaminho.


_Eu já disse…


_Que inferno garoto. – ela disse alto, mas rapidamente concertou o tom de voz. – Eu vou naquela porcaria mais tarde. Agora para de me encher e me devolve logo meu pergaminho.


Blásio deu um sorriso vitorioso e entregou o pergaminho a Hemione.


_Até a noite, querida. – ele disse sacaneando com ela, que ficou com vontade de arrancar sua língua.


Ela olhou a mesa revoltada. Depois de quantos minutos que ela tentou ficar sozinha, Blásio a deixava em paz? Pensou em pegar os livros novamente, mas estava chateada de mais para conseguir se concentrar naquele momento.


Chateada e preocupada. O que exatamente ela estava querendo ao beijar Blásio por aí?

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