Capítulo Nove
E faria com outra. James, Dorcas e Lily haviam chegado à balada há alguns minutos e passado por todos os amigos. O único surpreso era James, e ele se perguntou por que. Aquele lugar era muito comentado, era óbvio que mais pessoas estivessem ali. Percebeu que Dorcas e Emmeline não se cumprimentaram, sequer se olharam; era verdade que se odiavam, então? Quando as coisas ficaram daquele jeito? E desde quando aquelas pessoas pareciam tão legais? Sentia muita falta deles.
- James! – Marlene gritou no meio da multidão – Não acredito no que vejo! – riu.
Tinha um copo de whisky na mão e isso talvez explicasse a simpatia.
- Lene – sorriu ao falar o apelido da prima – Já bêbada?
- Não! Como se três doses de tequila, duas de whisky e um barman muito gostoso me deixassem bêbada – piscou pra ele, rindo novamente em seguida.
Tudo bem, bêbada não, alegre talvez.
- Mas de qualquer forma – falou antes que James conseguisse abrir a boca – Quero falar com você, posso? Sei que a Lily vai te roubar daqui a pouco, ela me avisou pra não demorar.
- Tudo bem, mas acho que não vamos conseguir conversar aqui – apontou pro lugar onde estavam: no meio da boate.
- Logicamente – ela o puxou pela mão até a área reservada (a qual ela havia, tadã, reservado para todos àquela noite) – Mas aqui conseguiremos. Espero.
Pediu a um barman que atendia as áreas VIP – as áreas reservadas são VIP, obviamente – um copo de whisky para o primo. Ele aceitou de bom grado.
- Então, qual o motivo da nossa conversa?
- Por que você abandonou todo mundo, James? – ela já havia se sentado no sofá preto de couro e ele se jogou rapidamente ao seu lado – Por que você me abandonou? Eu precisava de você, você não podia ter feito isso comigo!
- Eu...
- Você nos abandonou sim! E me deixou sozinha com o Black, mesmo sabendo de tudo. Fora os outros problemas que eu vivia, que só você poderia tomar conhecimento. Você pelo menos já visitou meu irmão?
- Marlene, eu nunca faria isso. Já o visitei várias vezes. Você precisa me perdoar, eu não fiz de propósito. Eu não consigo ficar perto da Lily, não é justo.
- Não é justo? Pois eu te digo que não é justo o que você fez comigo! E com todas aquelas pessoas idiotas que te amam. Você mudou pro lado da Mirella, James. Você me trocou pelo inimigo, sabia?
- Lene, não... Eu nunca te trocaria pela Mirella. Você é quase uma irmã pra mim, ela não é nada. Por favor, tenta me entender...
- Tento. Comece dizendo por que é tão injusto assim você ficar perto da Lily.
- Eu não sei se consigo dizer, Lene. Não é tão fácil.
- É sim. Eu te contei coisas que eu não gostaria que ninguém soubesse. E além do mais...
Outra voz terminou a frase: - Eu estou aqui pra te escutar – Lily se sentou do lado de James e segurou-lhe as mãos.
Antes que ele pudesse perguntar pra Marlene se ela havia planejado aquilo e feito um grande teatro de bêbada deprimida que sentiu falta dele, percebeu sua falta: ela já havia saído dali, deixando os dois a sós.
- Ela fingiu aquilo tudo?
- Lógico que não – a ruiva sorriu. – Ela realmente sentiu sua falta, James. Você não faz idéia do quanto – se lembrou da determinação de Marlene de trazer o primo de volta: - Ela te ama. Vive dizendo isso com os olhos.
Ele abriu um sorriso, inconscientemente. Lily apertou mais sua mão na dele e se aproximou um pouco:
- Por que você não pode ficar perto de mim?
- Não acho que isso é um bom lugar pra se falar disso.
- Quer ir pra outro lugar? Vou aonde você for.
- Na verdade, é realmente uma boa. Você se importaria de ir pra minha casa? Posso te trazer aqui depois, ou te levar pra casa.
- Ou me abrigar por lá – ela riu – Tudo bem. Espera só eu avisar a Lene, tá bem?
E ela o foi fazer. Encontrou a amiga virando mais uma tequila, dessa vez com Dorcas, não com Emmeline. Percebeu que Sirius a assistia de longe, preparado para protegê-la assim que necessário. Achou mais confiável falar com ele que ia embora, Marlene não estava completamente em sã consciência.
- Sirius – o chamou – Eu vou com James pra casa dele, tá? Precisamos conversar sobre tudo que esteve entalando as coisas. Você toma conta da Lene, por favor?
- Com certeza. Boa sorte, ruivinha.
- Pra você também. E caso ajude: o que você fez de errado foi há meses, pouco antes de o James nos deixar; no quarto da Lene, com alguém que ela realmente detesta. E ela te ama, mas isso eu repito pra você há meses.
Piscou pro amigo e saiu, encontrando James na porta. Finalmente resolveriam tudo o que tinham pra resolver. Lá dentro, Sirius refletia sobre as palavras de Lily. Era exatamente o que ele estava pensando, mas de um jeito diferente; talvez Mirella não tivesse aberto a boca – a não ser pra contar alguma vantagem -, talvez a própria Marlene tivesse visto a cena toda.
Em seu quarto! Como ele havia sido tão estúpido?
- Lene – falou perto de seu ouvido.
Ela pareceu se assustar: - Sirius! Não faça isso comigo de novo, está bem? – riu.
- Vamos conversar – a puxou pela mão até o mesmo sofá de couro que antes ela ocupava com James.
Dorcas apenas deu de ombros; aqueles dois sempre foram tão enrolados mesmo. E foi para a pista de dança. Emmeline e Remus, diga-se de passagem, estavam sentados no bar conversando e bebendo; riam que nem dois malucos. Lene também ria como uma maluca, devido à grande quantidade de etílico em seu sangue, mas Sirius estava sério. Absurdamente sério.
- Aconteceu alguma coisa? – ela decidiu perguntar – Você me parece muito sério – passou a mão em seu rosto e riu de novo.
Parou imediatamente quando Sirius segurou sua mão e a olhou com os olhos marejados.
- Aconteceram milhões de coisas. Eu fui um idiota por ter falado as coisas que eu falei pra Mirella, ainda mais na sua casa e no seu quarto, sabendo que você podia escutar e acreditar em todas elas. Eu fui um idiota de não ter ficado com você no exato instante em que eu te conheci. Eu fui um idiota por não ter percebido isso antes. E eu sou um idiota por te deixar mentir pra mim e se esconder de todo mundo, inclusive de mim – puxou sua mão e a abraçou.
Marlene tinha os olhos assustados, sem acreditar em tudo que havia escutado. Ele sabia? Como? Lily? Ou ele mesmo teria descoberto?
- Como você...
- Descobri? O que? O seu irmão? Decidi te seguir um dia pra saber quem era o grande com quem você teria um futuro brilhante. Queria socá-lo, ou implorar pra te largar, não sei.
- Você me seguiu? Só pra pedir pro meu suposto namorado me largar? – ela riu.
- Sim. Qual a graça nisso?
- Eu nunca imaginei você seguindo mulher nenhuma. É o tipo de coisa que elas fazem com você!
Ele abriu um sorriso: - Verdade. Mas você é diferente, Lene. Eu já te disse: eu te amo. Faço o que for preciso pra te provar isso.
- More than words to show you feel that your love for me is real – ela cantou baixinho encostando sua testa na dele. – Close your eyes and just reach out your hands and touch me, hold me close, don’t ever let me go – sorriu.
Sirius percebeu então que naquele momento não havia nada que ele pudesse dizer; nem em todos os outros momentos. Marlene não esperava que ele lhe dissesse “eu te amo” o tempo todo, apenas que lhe provasse. Segurou em seu rosto, olhando em seus olhos castanhos. A beijou. Primeiro, os lábios apenas colados. Depois, ambos foram abertos e suas línguas se encontraram com toda a calma do mundo, apesar de toda a saudade que já sentiam.
Ele passou sua outra mão pelas costas de Marlene a segurando firme, como se a impedisse de sair dali. Sussurrou em seu ouvido:
- Pode ter certeza que eu nunca mais vou deixar você fazer isso – e voltou a beijá-la.
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James abriu a porta de sua casa, esperou Lily entrar e a fechou rapidamente. A chamou pra que fossem ao seu quarto - e aquilo teria milhões de conotações pervertidas, não fosse o olhar de James: triste e medroso. Ela esperou tanto pelo momento que ouviria de sua boca um “eu te amo”, mas aquilo não era nada como o roteiro. Normalmente, ele a beijaria e eles estariam planejando um casamento ou praticando o ato de fazer filhos, não sei. Mas ela tinha certeza que definitivamente não andariam pro quarto dele como se estivessem indo pra guerra.
- Ok – disse vencida, se jogando na cama dele – Estou assustada.
- Que bom – ele sentou na cadeira do computador, arrastando ela até que pudesse ficar de frente para Lily.
- O que aconteceu, James? O que tem de tão ruim em me amar?
- Acho que eu nunca te contei, mas eu e sua mãe costumávamos sair às vezes. Só nós dois. Ela vivia me falando de você, e eu também. Nós meio que competíamos por quem era mais apaixonado pelo seu jeito fofo. Era legal. Sua mãe sempre soube me escutar.
Lily já parecia à beira das lágrimas. Por quê? A simples menção de sua mãe a deixava tão mal. Fazia meses que tentava parar de falar da mãe, pois imaginou que era uma mania irritante o tanto que ficava “mamãe sempre me disse que” ou “mamãe uma vez fez tal coisa”. Mas era difícil. Não havia um dia em que não pensava nela.
- Tínhamos combinado de nos encontrar no dia do acidente. Eu a vi do outro lado da rua, ela acenou pra mim. Eu vi o caminhão vindo desgovernado. Eu não falei nada, não consegui gritar, acenar, fazer o que quer que fosse pra salvá-la. Simplesmente assisti a cena como um idiota.
- James...
- Quando eu cai na real do que havia acabado de acontecer, corri pra ver a situação. Ela estava quase morrendo, não era preciso ser médico pra saber. Mesmo assim, ela ainda me disse “eu não te perdôo”. Num sussurro praticamente inaudível. Olhando nos meus olhos.
- Eu...
- Tem noção do quanto eu me culpei por isso? Do quanto ainda me culpo? Eu sei o quanto você a ama, Lily, eu fui um idiota que não conseguiu salvá-la, e por isso mereço muito bem que ela nunca me perdoe. Quando eu olho pra você, eu a vejo. Quando eu penso em estar com você, sua voz ecoa na minha cabeça.
- Não! – Lily gritou; já estava em prantos há tempos – Não, James! Não! Minha mãe nunca diria uma coisa dessas, eu sei. Ela jamais te culparia por isso... E se ela tiver mesmo dito aquilo nesse sentido... Vou ser obrigada a discordar dela! Eu nunca te culparia por nada... Nunca te afastaria de mim, você é a única coisa capaz de me fazer sorrir o tempo todo... Eu te amo, James! E esse é o melhor sentimento do mundo... Eu também a traí. Tinha jurado não amar ninguém mais do que a amei, ela tinha sido tudo pra mim. Mas não pude. Eu já te amo desde o primeiro dia que eu te vi.
Ele não respondeu; passou a mão em seus cabelos e a puxou, enterrando os cabelos ruivos em seu próprio peito, pra que ali ela pudesse chorar o que precisava. Não demorou muito, ela levantava os olhos para poder vê-lo.
- Você não tem o direito de me perdoar, espero que saiba disso – ele sussurrou.
- Você não tem o direito de me contestar, espero que saiba disso – ela repetiu no mesmo tom.
Eles se beijaram. Nem um, nem outro. Os dois. Colaram-se como dois lados opostos de imãs. Ela apoiava na gola de sua camisa pólo, ela lhe segurava pelos cabelos. O contato pequeno do beijo simples durou pouco. Logo, ela passou o braço por seu pescoço para que pudesse levantar mais e ele a puxou para ajudar; estavam se beijando com vontade, tentando dizer um “eu te amo” com cada mísero movimento.
Lily desistiu de ir para cima de James e decidiu puxá-lo, o que conseguiu com uma facilidade impressionante – mas só porque ele mesmo aprovou a idéia. Ela se arrastava de costas pela cama, ainda sem se desgrudar dele, para que pudessem se deitar. Não. Nunca haviam feito aquilo antes. Sequer haviam se beijado antes. Sabem o que anos de abstinência pode fazer com uma pessoa; torná-la selvagem é pouco. Podemos chamar isso de instintos primitivos.
Primitivo? Lily tirou a camisa de James com uma rapidez incrível. James puxou sua saia delicada de florzinhas de maneira pouco educada. Os beijos já não diziam apenas “eu te amo”. Gritavam fome e desespero; desejo e vontade. Mãos. Em todos os cantos, pareciam mais dois polvos, tamanha a rapidez com que trocavam os lugares pelos quais as passavam. Não era o suficiente; queriam mais, muito mais um do outro. E o que Lily diria no dia seguinte realmente faria sentido:
“- Que bom que demoramos um tempo considerável pra darmos o primeiro beijo, já que com ele foram todas as primeiras vezes juntas – riu. – Imagina se eu tivesse feito isso antes? Eu ainda brincava de boneca quando te conheci, James!”
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