Capítulo Oito
- Você simplesmente não tem o direito de me comparar ao que você era – Marlene pontuou.
Pelo seu tom de voz era possível perceber que estava ficando ligeiramente irritada. Lily mantinha o rosto entre as mãos, pensando em como fazer pra elas se acalmarem; não poderia conversar com a amiga daquele jeito. Dorcas estava sentada lixando as unhas, indiferente à situação. Não estava nem fodendo para o que aconteceu com Lisa, e como detestava Emmeline, achava aquela discussão uma perda de tempo. Remus estava do lado de Lily, com medo que ela começasse a chorar. Sirius fumava um cigarro no canto da sala, atento as palavras que eram trocadas.
- Como não? Você tem alguma idéia do que fez àquela menina? Destruiu a vida dela, Marlene! Ela nunca mais vai ter a confiança dos pais se aquilo chegar ao ouvido deles, nunca mais vai ter a confiança do colégio se chegar aos ouvidos de alguém lá, também! Isso é muito sério! – Emmeline gritava.
- Eu te avisei que era pra jogar sujo, Vance. Se queria cair fora, não o fez de besta.
- Você não falou hora nenhuma que ia destruir a vida da menina por completo! Imaginei que só o relacionamento dela com o James estivesse em jogo, e não sua vida social, acadêmica e familiar!
- Quer ir lá e fazer amizade com ela pra se sentir melhor? À vontade! Eu não vou voltar atrás. O que eu fiz já está feito, Emmeline.
- Você podia no mínimo se mostrar arrependida! Pelo menos eu fiz isso, e aí? Não tenho mesmo o direito de te comparar?
- É óbvio que não! Eu não quase assassinei alguém! Talvez, se eu tivesse jogado uma pobre inocente de uma altura de quase três metros numa piscina rasa eu conseguisse sentir culpa – cuspiu as palavras na cara de Emmeline e saiu dali, indo para a varanda.
A loira desatou a chorar. Como ela podia ter sido fria a ponto de falar aquelas coisas? Sabia que Emmeline não tinha jogado ninguém, foi um acidente! Remus, ainda que assustado pela descoberta – que pretendia tirar a limpo - foi abraçar a loira caída no chão. Dorcas, enojada com a situação, saiu dali. Precisava de um ar fresco, um copo d’água.
Sirius ia atrás de Marlene, mas Lily o puxou.
- Não. Eu vou – não pediu; apenas disse. Entrou na varanda e viu a amiga fazendo o que há mais de um ano não fazia: fumando – Lene?
- Sim? – não se virou, tampouco foi grossa.
- Você tá bem? Sabe que isso deve ser difícil pra Emme, ela guarda muitas coisas dentro do coração dela. Imagina ela se sentir culpada por mais isso?
- Lily – encarou os olhos verdes da amiga – Eu sei. Não sou insensível. Sei o que a Emmeline guarda na porcaria do coração dela, e eu também não queria ter que dizer aquelas coisas nunca mais. Mas o que eu posso fazer? Aquela discussão não ia ter fim, eu estava ficando esgotada!
- Tudo bem. Acho que você também tem o direito de se estressar, afinal – Lily sorriu.
As duas se abraçaram. E Marlene fez mais uma coisa que há mais de um ano não fazia: chorou.
- Eu sei que as coisas estão atrapalhadas, Lene. Por que você não me deixa te ajudar?
- Porque eu não preciso de ajuda, eu não quero ajuda. E também não vou te encher de problemas não-importantes, Lily.
Afastou-se de Marlene para encará-la nos olhos: - Não. Nenhum problema seu não é importante. Ainda mais esse gigante que você guarda. Eu sei o quanto machuca, mas você tá se sentindo ferida sem necessidade. O Sirius te ama, Lene.
- Impossível. Ele é um idiota, cretino. Amor é uma coisa que ele nunca vai conhecer.
- Aí que você se engana. Eu sei que ele te machucou há muito tempo, e é isso que eu quero dizer: eu sei como é. Mas mesmo assim, não tem por que você não perdoá-lo, ele já provou merecer seu perdão. Vai me dizer que ele te abandonou por um minuto sequer nos últimos doze meses?
- Eu não consigo. Já tentei, juro que já tentei. Eu odeio a Mirella, Lily. Eu odeio a Mirella com todas as minhas forças! Por que tinha que ser justo com ela?
- Ela não é o mais importante, Lene! Ele faria com qualquer uma, você sabe disso. Ela só esteve no lugar errado na hora errada pro seu desgosto. E o meu. Era o jeito dele, mesmo até que ele não soubesse na época, de lidar com o tanto que ele gostava de você. O Sirius é um idiota mesmo. Imagina que ele nunca entendeu o que sentia por você até te ver longe?
- Não...
- Para de mentir pra ele. Chega dessa história de “segundo homem e futuro brilhante”. Eu sei que você não quer afastá-lo, como ele fez com você. Tá muito nos seus olhos o amor gigante que você sente por ele, Lene. Então, não comete um erro, por favor. Para de machucar o Sirius, perdoa ele e faz as coisas do jeito certo.
Antes de sair, porém, lembrou-se de dizer: - E não esquece que eu vou estar aqui pro que você precisar. Sempre.
E Marlene se encontrou ali sozinha; apagou o cigarro e encarou a cidade que via da varanda. Lily havia realmente lhe dado algo para se refletir.
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- Desculpa.
Levantou os olhos: ali estava Marlene. Calma... Marlene?
- É você mesmo? – Emmeline riu, arrancando uma risadinha da amiga, também.
- Não. Um holograma criado pela Lily para apaziguar as coisas.
- É muito a cara dela, estou quase acreditando...
- Eu sei. Mas sério: me desculpa. Eu não queria ter falado aquelas coisas.
- Ah, Lene – se jogou na amiga, quase lhe esmagando com o abraço – Eu te amo!
Marlene riu. Emmeline estava tão parecida com Lily. Talvez fosse a convivência assídua das duas nas últimas semanas. Ou talvez fosse o efeito do Remus, eles pareciam ter progredido um pouco.
- Então. Como estão as coisas com o Remus?
- Não sei. Agora eu vou ter que contar as coisas do meu passado, sempre tive medo de fazer isso. E vou contar com a minha ex-melhor amiga pronta pra mordê-lo caso eu o deixe passar por um segundo.
- O Remus não faria isso. Não com ela.
- Eu sei. Mas isso me deixa aflita do mesmo jeito.
- Converse com ele. O mais rápido possível. Vocês já deviam ter feito isso há muito tempo.
- Sim... Que droga. Não tem como escapar das coisas, tem?
- Não. Tudo que a gente faz nos persegue pra vida inteira – sorriu.
- Você parece dizer isso mais pra você mesma do que pra mim – a loira riu.
- É... Acho que eu estou precisando repensar um pouco essa frase – Marlene falou pensativa.
Elas começaram a andar em silêncio; tinham uma última aula antes de poderem ir para casa. Marlene havia levado alguns dias pra pedir desculpa, pois já era sexta-feira, mas também, ela nem esteve no colégio pra poder pedi-las. Onde esteve? Mistério. Nem Lily soube responder quando perguntaram.
- E aí, Lene? Onde você esteve nos últimos quatro dias? – Emmeline arriscou.
- Pensando – foi a única coisa que ela respondeu.
Por que a Marlene tem que ser sempre tão enigmática?
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Estavam todos reunidos na casa de Marlene, menos Dorcas e Lily. Essas tinham um plano: fazer com que James e a ruiva pudessem conversar. Como ele só conversaria com ela caso fosse encurralado, era o que planejavam fazer. Dorcas havia o chamado, pois eles iriam sair – coincidentemente para a mesma balada que todos os outros -, mas quando ele chegasse, ela ainda estaria se arrumando. Portanto, Lily tocaria a campainha, fingindo ter ido ali só pra conversar com a ex-amiga e tentar fazer as pazes – típico dela – e James abriria a porta.
A partir daí, todos contavam com o grande poder da ruiva.
- Abre pra mim – Dorcas gritou do chuveiro.
James desceu a escada em espiral e chegou até a porta, abrindo-a rapidamente e dando de cara com quem menos esperava dar.
- Lily?
- Ah, oi. A Dorcas tá aí?
- Tomando banho.
- Tudo bem. Acho que posso esperar – falou entrando na casa.
Ela se sentou no sofá e James, por educação, fez o mesmo.
- Então... Fiquei sabendo dos últimos acontecimentos. Sinto muito.
- Não precisa. Eu não gostava dela, de qualquer forma.
- Sabe James? Eu queria falar com você há um tempo. Tem uma coisa que eu acho que ficou mal entendida entre nós dois – se virou de frente pra ele, o forçando a lhe encarar – Quando eu disse que te amava, não esperei ouvir nada de volta. Eu nunca vou esperar nada em troca. Eu te amo sem motivo algum, não sei explicar e tampouco lutar contra isso. Mas eu não quero que você pense que não pode ser meu amigo por isso, ou que precisa se sentir do mesmo jeito.
Então era isso que Lily pensava? Que ele não a amava e que por isso havia se afastado? Esse tempo todo ela passou sem nem suspeitar da verdade? Como... Não, era muito óbvio: estávamos falando de Lily Evans. Quando que ela, com seu puríssimo coração, ia pensar que James tinha um passado obscuro o qual não o permitia ficar com ela?
- Eu sei disso, Lily. Desculpa, acho que você entendeu tudo errado...
- Tudo errado? – ela estava confusa.
Muito certa do que havia feito e esperando que James, assim que ela lhe dissesse aquilo, falasse que ia voltar a ser amigo de todo mundo, foi pega de surpresa. Aquilo era, definitivamente, uma surpresa.
- É. Eu nunca disse que não te amava. Pelo contrário.
- James, eu...
- Desculpa. Eu imagino o quanto você está confusa, afinal, você está na casa de uma das suas amigas, falando com o cara que supostamente está com ela, e ele fica lhe dizendo que te ama.
- Você... Me ama? – perguntou, seus olhos brilhando e se esquecendo de todo o resto.
- Sempre pensei que isso estivesse na cara.
- Eu nunca poderia adivinhar – sorriu. – Oh, James! Isso é ótimo!
- Não, não é.
E ele ia dar explicações, mas percebeu a presença de mais alguém ali: Dorcas. Como havia se esquecido dela? Era aqueles olhos verdes de Lily que sempre o faziam perder a noção de tempo e lugar. Estava em sua casa se declarando pra outra! O quão cafajeste ele poderia ser?
- Dorcas...
- Não precisa, James – ela sorriu – Eu sempre achei isso muito na cara, mesmo – deu de ombros – Talvez fosse só uma questão de tempo.
Ele não soube o que responder, ela voltou a falar:
- E aí? Ainda topam ir pra balada? Não quero ter me arrumado à toa!
E lá se foram eles. Lily estava radiante, não havia palavras pra expressar o tamanho de sua felicidade. James estava absurdamente confuso agora, apesar de bem convincente o argumento de Dorcas. Imaginou que ela não quisesse chorar na sua frente ou fazer dramas do tipo “você está me largando”, sendo que eles nem estavam juntos oficialmente. Seus olhos demonstravam certa tristeza, mas ele não conseguiu interpretá-los. E Dorcas, ah, estava realmente triste.
Triste não por James tê-la deixado; nunca gostou do James daquele jeito. Triste por ver mais um casal se resolvendo e se sentir obrigada a lembrar que o homem que amava não faria o mesmo com ela.
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