Capítulo Sete



                  




- Eu juro que nunca esperava que aquela menina fosse uma vadia – Emmeline respondeu, rindo.


- Alguém esperava? Ela vinha pra escola com aquelas roupas de igreja! Foi a maior surpresa do ano, tipo a revelação da semana – Marlene também ria.


- Vocês deviam parar de zoar com a menina, já viram o estado dela hoje? – Sirius comentou, o sorriso irônico estampado no rosto.


- Você me parece mesmo muito preocupado – a loira revirou os olhos.


- Qual o problema? Ela ainda está disponível, querido – Marlene brincou.


- Não. Não é de hoje que eu me recuso a ensinar ninfetas. Gosto de mulheres que já sejam grandes conhecedoras do mundo dos prazeres.


- Você é desprezível, Sirius – Emmeline disse o batendo em seguida.


- Só digo a verdade.


- Realmente, Emme, imagina que chato ter que ensinar todas as doçuras do primeiro ano a gemer do jeito que ele gosta? – Marlene usou seu tom de desprezo normal para quando ia implicar com o nosso querido Sirius.


Ele retrucou: - Não. Só existe uma mulher no mundo que geme exatamente do jeito que eu gosto, e isso é impossível de se ensinar, Lene.


- Eu não sei se quero mais participar dessa conversa, ela tá tomando rumos estranhos – Emmeline riu mais uma vez.


- Não seja boba, Emme.


- É mesmo. Eu só disse que nenhuma mulher geme como a Marlene, nada mais.


Os dois riram, deixando Marlene a única sem ter o que dizer. Logo mais, ela estava batendo nos dois e dizendo que eles eram idiotas. Emmeline esperou sua crise acabar, pra dizer:


- Não sei como você não fica vermelha quando ele fala essas coisas. Eu quase sinto o meu rosto queimando, sério. O Sirius torna as coisas tão... Sei lá.


Marlene ia retrucar, dizer que já estava acostumada com o jeito público dele de lidar com as coisas, mas quase todos os celulares da sala vibrando ao mesmo tempo a impediu de fazê-lo. Abriu a mensagem, assim como aqueles que a haviam recebido também; já sabia, porém, o seu conteúdo. Leu forçando a melhor cara de espanto que conseguia: uma foto de Lisa McCoy comprando drogas. Não é possível. Isso sim é um escândalo, não?


- Inacreditável. Por que ela faria isso? – Emmeline perguntou, ainda encarando a imagem, estática.


Sirius lhe respondeu de maneira indiferente: - Ela não fez.


Então a loira entendeu tudo: aquele era o pedaço crucial do qual Marlene estava falando. Aquilo que faria o plano ser concluído, que faria a vida de Lisa ser destruída, assim como o seu relacionamento com o James – que era o mais importante, no fim das contas. Mas aquilo era inaceitável! Marlene não podia fazer isso com aquela menina, por pior que ela tenha sido! Estava destruindo toda a vida social e acadêmica de Lisa, e isso era muito mais cruel do que (quase) todas as coisas que Emmeline havia feito em sua fase vadia.


- Eu não aceito isso – falou firme, porém com a voz baixa.


Sabia que se alguém desconfiasse que aquilo era obra de Marlene, estaria morta em segundos, bem antes de ser capaz de pronunciar a palavra “desculpa”.


- Você já aceitou, há duas semanas. Não me venha com piedade no coração agora. E se quiser discutir esse assunto, espere até o anoitecer.


Emmeline não seria capaz de retrucar; foram palavras duras, como sempre são as que saem da boca da amiga. Mas com certeza o faria mais tarde. Com certeza.


E agora as coisas começariam a chegar ao fim. Primeiro Dorcas iria dizer o quanto estava decepcionada com Lisa, por ter falado o que falou, não ter ido pedir desculpas e agora, por ser drogada. Sirius também terminaria tudo com ela, dizendo que aquilo era demais pra ele. Que se ela estava se sentindo tão mal assim, poderia simplesmente ter dito. James também, obviamente, já que o relacionamento dos dois estava por um triz. E ele nunca correria o risco de namorar uma viciada influenciar em seu futuro escolar; seus pais eram obsessivos com aquilo.


Mas não foi bem nessa seqüência que as coisas ocorreram:


- Isso é demais pra mim, Lisa – foi a primeira coisa que James Potter berrou ao encontrá-la no almoço.


Ele mantinha o celular na mão, a foto aberta.


- James, você não pode acreditar nisso! – ela já estava chorando, obviamente.


- Como não? Quer que eu acredite no quê? Em você? É uma foto, Lisa, prova tudo. E você não tem palavra pra me dar, eu não confio em uma que saia da sua boca.


- Não faz isso comigo, a gente é tão feliz juntos! – ela praticamente implorava.


- Nós nunca fomos felizes juntos. Era uma farsa, você sabe disso. Acabou finalmente. Eu não preciso mais de você pra nada. E não tente refazer as coisas, só fica longe de mim.


Ele ia sair de mãos dadas com Dorcas, mas esta antes se virou para a ex-amiga:


- Eu nunca esperei isso de você. Falar mal de mim, tudo bem, talvez eu não fosse uma boa amiga, mesmo. Mas se drogar por que o seu namoro está indo mal? Mexer com essa gente? Você não é mesmo o que parece ser. Que decepção, você é pior do que a vadia da Vance – e então eles saíram juntos.


O choro de Lisa não comovia ninguém além de Mirella, que abraçava a amiga e lhe dizia que tudo ia ficar bem. Bella estava não-se-sabe-aonde, fazendo não-se-sabe-o-quê. Mas havia sumido minutos depois da notícia. Talvez estivesse confirmando sua veracidade, não era possível descobrir agora.


Sirius, então, se aproximou lentamente. Lisa o olhou esperançosa, segurou em sua blusa, mas ele não a abraçou. Seus olhos continuavam encarando os dela, sem nenhum sentimento.


- Sirius...


- Você podia ter me dito. Eu te ajudaria, não precisava destruir o seu futuro desse jeito. Tudo por causa de um homem. Que tipo de mulher você é?


- Sirius, eu não fiz aquilo, você precisa acreditar em mim!


- Por quê? Você não mentiu pra mim quando disse que estava comigo só porque gostava da minha companhia? Talvez vocês se mereçam, você e sua maldita porcaria – ele se afastou.


- Não, eu te juro, eu não...


- Tá legal. Não quero saber. Você pode morrer, eu não me importo. Vê se pelo menos não afasta a última pessoa que sobrou do seu lado – se referiu, obviamente, à prima de Marlene, Mirella McKinnon.


Dizendo isso, pegou um cigarro, o acendeu e saiu dali, parecendo muito nervoso com o que tinha acontecido. E muito decepcionado. Mas na verdade a raiva que sentia – ah sim, ele estava mesmo nervoso – era de Mirella. Como ele podia ter sido tão estúpido? Ela provavelmente tinha falado milhões de asneiras pra Marlene sobre as coisas que ele havia inventado. E Marlene era tão nova naquela época... Ainda não entendia seu jeito, podia muito bem pensar que eram todas as palavras verdadeiras.


Quanto à Lisa, não havia nenhum sentimento em seu coração sobre ela, principalmente porque aquilo havia sido decisão de Marlene, e ele apoiava qualquer decisão que ela tomasse. Também, porque por culpa daquela mulher (e mais tarde descobriria que o nome de Mirella deveria ser acrescentado a essa lista) o seu melhor amigo estava longe há quase um ano.


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Emmeline? “Ela é a mais linda da escola, se eu pudesse seria como ela”; “Ela me disse oi hoje, acho que ela talvez esteja notando que eu existo”; “Não tem nada mais que ocupe minha mente na hora do cinco contra um”; “Sou louco com ela”; “Queria tanto que ela me escolhesse pra ser sua amiga!”.


Blábláblá. Nada era novidade. A loira já sabia de toda essa devoção à sua pessoa há muito tempo. Sempre havia sido assim. Ela arrancava suspiros por onde passasse, abria caminho entre as pessoas, tinha o que quisesse. Praticidades de ser a rainha do colégio. Não era clichê, era sua realidade. Ela já havia assistido aos filmes que mostravam como as coisas acabam pra pessoas ruins, mas na verdade, ela não parecia muito se importar. Meninas Malvadas estava em seu top 10 de preferidos.


Inclusive, ela achava muita graça desses filmes. Sempre tentando retratar a realidade e nunca conseguindo. As coisas não eram bem daquele jeito. Ela não era tão má – ou se enganava com isso, pelo menos – e as coisas nunca davam errado. Era impossível que dessem errado. Até porque, ela nunca chamaria uma idiota que veio da África e nunca esteve em um colégio pra se sentar com ela.


Na sua mesa estavam Dorcas e Alice, suas fiéis escudeiras. Ambas eram branquinhas e tinham os cabelos escuros. Porém, Alice tinha olhos cinza e Dorcas tinha olhos bem azuis. Poucas meninas eram loiras no colégio; tinham medo de serem comparadas à Emme, pois sabiam que perderiam com isso.


- Bom dia – um qualquer lhe disse esperançoso.


- Não fale comigo – ela retrucou com sua costumeira impressão de nojo.


Porém, existiam outras reações pra quando se ouvisse seu nome:


Emmeline? “Uma idiota”; “Não sei por que tantas pessoas a adoram, ela não tem nada demais”; “A mais piranha do universo”; “Dormiu com o meu namorado!”; “Não entendo por que ela não morre de uma vez pro mundo ser mais feliz”; “Ela destruiu a minha vida porque eu não a deixei beber água antes de mim!”.


Blábláblá. Nada era novidade. A loira também já sabia de todo o ódio que era direcionado a ela. Pra repelir todas as más energias, se encontrava com um Guru todas as sextas e faziam uma seção de limpeza da alma.


- E aí, o que temos de novidade pra hoje? – Dorcas perguntou assim que a encontrou.


- Estou me sentindo tão entediada. O que acham de uma brincadeirinha? Só pra variar – sorriu maldosa.


- Será que é uma boa idéia? Da última vez quase nos metemos em problemas – Alice ponderou.


- Cala a boca, Lice. O que você acha, Dorc?


- Perfeito!


Dorcas discordando da melhor amiga, imagina? Jamais.


- Então. Sabem quem podia ser nossa vítima da vez?


- Quem?


Os olhos de Emmeline brilhavam de maldade: - Aquela loirinha novata que está dando em cima do Edgar.


- Perfeito. Nunca gostei dela, mesmo – Dorcas exclamou.


- Tudo bem – Alice acabou cedendo quando as duas a olharam – Mas vamos pegar leve dessa vez, tá?


Pegar leve? Existem vários conceitos pra “pegar leve”, e o de Emmeline não se encaixava com o de Alice, com certeza. Pois o que a loira chamaria de “pegar muito leve”, faria Alice ter ataques do coração enquanto seria feito. Ali estavam, no final da aula: na grande varanda do segundo andar. Já haviam empurrado a pobre menina (que se chamava Janeth) para a parte em reforma, a qual os estudantes estavam proibidos de ir.


Se estavam proibidos, havia um bom motivo: as grades daquela parte da varanda estavam quebradas, e logo embaixo se encontrava a piscina do colégio. Imagina só a algazarra que seria se eles tivessem acesso livre? Alguns sempre escapavam pra dar um pulinho, mas só em horários estratégicos e esses eram muito populares pra que alguma coisa desse errado.


- O que vocês querem? – a menina tremia de medo – O que eu fiz pra vocês?


- Ai Jane, relaxa. Odeio lidar com pessoas medrosas – Emmeline riu. – Só queremos conversar!


- Conversar sobre o quê? – a cada passo que elas davam, a loirinha dava um para trás, sem perceber que se aproximava da parte na qual não havia grade.


- Sobre você estar dando em cima do meu ex-namorado, talvez. Você sabe que amigas não dão em cima do ex de amigas, não sabe?


- Você não é minha amiga, nem sabia o meu nome!


- Que mentira, Jane... Não é só porque não nos falamos com freqüência que não a considero minha amiga. Todas as meninas dessa escola são minhas amigas, logo, nenhuma delas pode dar em cima do Edgar. Entendeu? – deu um sorriso falso.


A menina ia responder, mas pisou em falso; caiu. Seu grito ecoou na mente de Emmeline. Alice fechou os olhos e se desesperou ao ver a menina caída lá embaixo na parte mais rasa da piscina que logo ficou vermelha. Saiu dali rapidamente pra procurar ajuda. Dorcas chamava Emmeline; elas precisavam fugir. Mas a amiga estava estática encarando a loira que segundos antes estava em sua frente.


- Para de ser idiota e vem! – Dorcas gritou a puxando.


Foram correndo para o estacionamento onde o carro de Emmeline estava. Era possível ver o olhar decepcionado de Alice sob elas. Não dava pra voltar atrás. Dorcas ligou o carro e saiu dali o mais rápido possível, parando só quando estavam bem longe dali, numa lanchonete. Parecia ser freqüentada por alunos da escola que havia ali perto. Tudo bem.


- Vem. Vamos comer alguma coisa – chamou a amiga.


Emmeline saiu do carro, ainda sem dizer palavra alguma. Seus olhos se enchiam de lágrimas. Nunca na vida ela havia machucado alguém, não daquele jeito. No máximo fazia menininhas chorarem por semanas, mas isso era pro próprio bem delas. Nunca havia visto sangue. Nunca havia quase matado alguém – ou pior, talvez ela tivesse matado realmente a menina! Uma assassina! Não podia lidar com o peso de ser uma assassina. Aquilo era demais.


- Emme, para de viajar e volta ao normal – Dorcas pediu, nervosa – Eu sei que aquilo foi horrível, mas não foi nossa culpa. Ela que não prestou atenção pra onde ia.


- Nós a matamos, Dorc...


- Lógico que não. Alice pediu ajuda. Vou ligar pra ela, se isso te deixa mais tranqüila – e dizendo isso, se levantou e foi até fora do lugar.


Sabia que discutiriam e não estava afim de chamar atenção naquele lugar. Enquanto isso, uma mulher linda de cabelos ondulados e castanhos se sentou no lugar onde Dorcas antes sentava.


- Oi. – ela disse.


- Quem é você? – Emmeline perguntou.


Estava com medo. Muito medo.


- Sou Marlene – sorriu – Estudo no colégio aqui perto. Sei que você não é de lá. Aliás, sei onde você estuda. É que o meu amigo, ele...


- Olha, hoje não é um bom dia.


Marlene pareceu interessada: - O que aconteceu?


- Não é da sua conta.


- Eu posso te ajudar, sabe? O seu namorado te chutou? Não deve ser, você é muito bonita pra isso. Descobriu que alguma piranha se ofereceu pra ele? Sou mestre nesses assuntos, posso acabar com ela em segundos e...


- Não! – Emmeline gritou e logo voltou a falar mais baixo: - Eu não quero acabar com ninguém! Chega! Eu não agüento mais, eu... Eu não quero ser assassina! Eu juro que não fiz de propósito!


- Assassina? Isso sim é um problema interessante. Você não me parece assassina. Por que acha que seria uma?


- Eu... Eu joguei uma menina, eu... Ela estava sangrando, foi horrível!


- Você jogou a menina? – Marlene arqueou uma das sobrancelhas – Sério? Por que me parece que ela simplesmente caiu e você está tendo uma crise de culpa.


- Ela só estava ali por minha causa. Eu queria implicar com ela por dar em cima do meu ex-namorado, não gosto de pessoas em cima do que é meu, entende? Ela caiu e... Eu não pude fazer nada. Eu só sai dali sem fazer nada.


- E você acha que cometeu algum pecado? Olha, você não é a única que implica com mulheres que dão em cima do ex-namorado, tá legal? Eu também nunca lidei muito bem com isso. Se a menina caiu provavelmente não foi sua culpa. Relaxa. E fugir foi a melhor opção. Você só ia se meter em problemas desnecessários se continuasse lá.


- Eu... Como você consegue ser tão fria?


- Eu não sou fria. Eu entendo o que você tá passando. Mas não há nada que você possa fazer agora. Depois eu vou com você no hospital pra você poder pedir desculpas pra ela e o caramba.


- Por quê? Você nem me conhece!


- Mas se eu me sentei aqui é porque quero conhecer. Não? – Marlene sorriu.


- E por quê?


- Alguém que eu conheço me falou muito bem de você. E aí? Quer me dar uma chance? Eu te dou uma também.


Emmeline estava receosa. Quem era aquela menina? O que ela queria? De alguma forma, queria dar uma chance pra ela, pois lhe parecia algo como uma salvação. E se ela fosse isso? Um anjo posto em seu caminho pra lhe mostrar que ainda tinha chance de se recuperar de todo o mal que havia feito?


- Tudo bem. Quem é você?


- Marlene McKinnon. Eu já disse o meu nome. Você é Emmeline, certo?


- Emmeline Vance.


- Então, Emme. Acho que você devia mudar de colégio.


- Ahm?


- Pensa como seria bom começar uma nova vida em um lugar onde ninguém te conhece ou sabe do seu passado. É o básico pra recomeçar, sabe?


Ia responder, mas Dorcas surgiu de repente. Perguntou à Marlene quem era ela e o que queria; estava nervosa, absurdamente nervosa. Marlene se explicou e ofereceu a mesma ajuda à Dorcas, ela pareceu duvidar da palavra da mulher, mas por fim, quando Emmeline disse que gostaria de mudar de escola, cedeu. Então era assim? Quase matavam uma menina – pois ela estava viva, com sérios problemas, mas viva -, fugiam e saiam do colégio sem mais nem menos?


- Não. Vocês precisam ficar lá um pouco mais. Acho que você vai se sentir melhor se resolver as coisas.


Seus olhos castanhos encararam os olhos azuis anil de Emmeline. Ela balançou a cabeça afirmativamente. Era um fato: se sentiria melhor se pudesse resolver todos os problemas que havia causado em sua futura antiga escola.


Não sabia bem por que, mas sentia que Marlene seria uma ótima amiga. Brotou de repente, mas estava muito apta a ajudá-la, e ela bem sabia que precisava de ajuda mais que ninguém naquele momento.

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