Capítulo 9
Capítulo 9
Enquanto Harry estava em seu dormitório pensando – literalmente – na Morte, os outros seguiam sua tarde normalmente.
Lily, que agora havia deixado para trás seu livro de Poções, caminhava pelo corredor distraidamente. Vez ou outra parava para chamar a atenção de alguns alunos do primeiro e segundo ano, mas nada muito sério. Queria logo encontrar Marlene e Emmeline para conversar, por isso andava com certa rapidez.
Assim que virou a direita em um corredor se surpreendeu ao encontrar Severo Snape. Tentou desviar de seu caminho, mas foi impedida por ele.
- Lilian, nós precisamos conversar. – ele disse.
- Eu não tenho nada para conversar com você, Snape – ela disse com amargura – E é melhor você não ficar muito perto de mim. Vai pegar mal se alguém te vir falando com uma sangue-ruim.
A expressão de Lily não era a das mais simpáticas. Severo podia ver claramente a mágoa estampada em seus olhos verdes. Ele sabia que ela não o perdoaria, mas precisava tentar, pois já estava desesperado.
- Eu não queria ter dito aquilo para você, Lilian. – Snape disse com arrependimento, se referindo à vez que a tratou mal e a chamou de sangue-ruim na frente de várias pessoas.
- Aquilo o que? Não queria ter me chamado de sangue-ruim? Não queria ter me tratado mal na frente da metade da escola? Não queria ter dito que não precisava de mim? – Lily jogou aquelas verdades na cara de Snape sem a menor piedade – Se você não quisesse ter dito nada disso, você não teria feito. Simples assim! Agora não vem bancar o arrependido para cima de mim porque não vai colar.
- Eu ‘tô falando a verdade, Lily! – Snape estava desesperado – Eu preciso que você me perdoe!
Lily respirou fundo e passou a mão por seu longo cabelo ruivo. Por que as coisas tinham que ser tão difíceis mesmo?
- Tudo bem, Snape, eu te perdoo! Mas isso não significa que vou esquecer as coisas que você me fez.
- Não... Não vamos mais ser amigos?
- Não! – Lily balançou a cabeça negativamente – Não posso ser amiga de alguém que me trata mal e finge que não existo só porque sou nascida trouxa e pertenço a Grifinória. Agora, Snape, se me der licença vou encontrar as minhas amigas.
Lily não esperou Snape falar nada. Simplesmente continuou caminhando pelo corredor como se não tivesse sido interrompida por seu ex-amigo.
E então tudo o que aconteceu depois foi rápido demais. No primeiro segundo, o silêncio no corredor dominava, e, no segundo seguinte, o grito de Snape foi ouvido por todo o local. Quando Lily se virou, se deparou com Severo pendurado de cabeça para baixo e James parado logo atrás, com uma expressão assassina.
- Você é um covarde desgraçado! – James cuspiu as palavras furiosamente.
- O que está acontecendo? – Lily finalmente encontrou sua voz para fazer a pergunta.
- Conte a ela, Seboso! Conte o que você ia fazer! – James ordenou.
- Me coloque no chão, Potter! – Snape gritou – Você não tem nada a ver com isso.
Lily olhou de James para Snape, sem conseguir compreender muito bem aquela situação. Seus olhos tentavam captar algum detalhe que fizesse algum sentido, mas não encontraram nada.
- Por favor, Potter, coloque-o no chão. – Lily pediu educadamente.
James pensou em negar, mas achou melhor fazer o que ela pediu.
Assim que estava sobre os próprios pés, Snape ajeitou suas vestes e deu um passo em direção a Lily, que recuou.
- O que você ia fazer, Severo? – ela perguntou.
Ante o silêncio de Snape, James se adiantou e respondeu:
- Ele ia azarar você.
- Isso é mentira! – Snape praticamente gritou.
- Se era mentira, por que estava com a varinha apontada para ela quando cheguei?
Lily parecia ter acabado de levar uma bofetada. Mal podia acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo.
- Você ia mesmo me azarar, Severo? – Lily perguntou visivelmente magoada.
- Não – Snape respondeu rápido demais – Eu... Lily, eu ia obliviar você. – ele admitiu – Não aguentava mais ficar longe e a única forma de você me perdoar era essa.
- Me fazer esquecer não é o mesmo que perdoar. – Lily respondeu. Seus olhos estavam banhados de lágrimas – Eu nunca pensei que você pudesse fazer isso comigo! Se antes eu disse que ia te perdoar, agora nem isso consigo fazer. Eu tenho nojo de você, Snape!
- Nós somos amigos, Lily – a voz de Snape não pensava de um sussurro.
- Nós éramos amigos. Ou melhor, eu era a sua amiga, já que você sempre deixou claro para todo mundo que eu não passava de uma sangue-ruim, quando estávamos no quinto ano.
Snape pensou em falar algo para rebater aquela acusação, mas a expressão de Lily era tão cortante que ele preferiu ficar calado. Simplesmente deu as costas para ela e seguiu pelo corredor com a cabeça baixa.
Lily ainda estava parada em estado de choque. Mal podia acreditar que aquele que um dia fora seu amigo esteve prestes a apagar a sua memória só porque esse era o meio mais fácil de conseguir o “perdão”.
- Você está bem? – James perguntou e deu dois passos em direção à Lily.
- Sim – ela mentiu.
- Não, não está! – James disse e, mesmo sabendo que poderia ganhar uns bons tapas por causa disso, a puxou para um abraço.
Para a sua surpresa, Lily não o afastou.
- Ele... ele ia me obliviar. – Lily disse, ainda chocada demais para conseguir raciocinar – Por quê?
- Porque ele é um idiota – James respondeu como se aquilo fosse óbvio e a afastou para encará-la – Não fique assim, Evans. Ele não merece.
Lily ia responder, mas naquele momento se deu conta de algo óbvio: James havia acabado de salvá-la.
- Obrigada, Potter! – Lily, pela primeira vez, abriu um sorriso sincero para James, que pareceu abobado demais para falar alguma coisa – Se não fosse você, a essa altura não teria parte da memória.
- O que seria bem ruim – James disse – Imagina se você me esquece? Não iríamos ter mais todas aquelas brigas que me fazem ter vontade de viver.
Lily riu e balançou a cabeça.
- E lá vem você com as cantadas baratas.
- Não, não foi cantada, eu juro! – James apressou-se em dizer – Só foi a constatação de um fato.
- Ok, sorte a sua que não esqueci então. Ainda podemos brigar muito.
- Assim espero – James piscou – Ei, você ‘tava indo atrás da McKinnon?
- Sim! Por quê?
- Porque eu ‘tô atrás do Sirius – James respondeu – E é bem provável que ele esteja enchendo a paciência da menina.
- Isso porque vocês dois não dão folga e adoram nos irritar.
James riu e passou a mão pelos cabelos naturalmente desgrenhados.
- Não, minha cara Evans, isso é porque nós amamos demais. – James disse o óbvio – Mas essa é outra história. Agora é melhor nos apressarmos. A essa altura o Sirius já deve ter levado uns bons tapas.
Lily riu e, por mais incrível que pudesse parecer, seguiu em paz pelo corredor ao lado de James. De repente, ele não parecia tão irritante e idiota assim.
~*~
James estava mais do que certo. Sirius havia mesmo levado uns tapas, mas não por falar demais, e sim por agir muito depressa.
Ele estava caminhando tranquilamente quando avistou Marlene conversando com Rabastan Lestrange. Logo um Lestrange nojento havia se aproximado da jovem e isso não lhe agradou em nada. Entretanto, ao se aproximar dos dois percebeu que eles não estavam exatamente conversando. Os dois discutiam – e feio – por algo que Rabastan havia dito e Marlene não havia gostado.
Sirius não aguentou ver aquela cena e interrompeu a briga aos berros, expulsando e quase azarando Rabastan para que mantivesse distância de Marlene. Assim que o sonserino se foi, Marlene começou a discutir com Sirius, afinal, ele não tinha nada que se meter em sua vida. E então, no meio daquela briga, ele a beijou, e a partir daí, as coisas só piraram.
- Você é um completo imbecil – Marlene disse aos berros. – Onde você estava com a cabeça?
- Em você, como sempre!
- Só se for agora, né? Porque nos outros momentos sua cabeça fica ocupada com todas as outras meninas da escola.
- ‘Tá com ciúme é?
- Nem se eu fosse louca! – ela revirou os olhos. Sua vontade era de bater em Sirius de novo – Só estou dizendo o óbvio. Esse papo de que você só pensa em mim funciona só enquanto estou na sua frente.
- Não! – Sirius disse e, antes que a coragem lhe abandonasse, continuou:
- Eu penso em você em todos os momentos e isso me atormenta, porque quanto mais me esforço, mais eu fracasso na tentativa de te esquecer. Não penso em você só quando te vejo. Também penso antes de dormir, quando acordo, quando me imagino daqui a dez anos... Que Droga, Marlene, eu penso em você a cada segundo do meu maldito dia e isso é uma merda, porque não importa o que eu faça, você jamais vai acreditar que te amo, e se fico andando por aí com todas as meninas da escola é para tentar te esquecer, mas não tenho muito sucesso, né? – ele deu uma risada sem humor e passou a mão pelos cabelos negros – Você acha que eu gosto disso, McKinnon? Acha que adoro essa sensação de estar apaixonado, sabendo que você não ‘tá nem aí para isso? Não, McKinnon, eu não gosto! Na verdade, eu odeio! Mas não há nada que eu possa fazer, não é? Então, se você tiver aí a fórmula mágica que me faça parar de bancar o cara ciumento, apaixonado e chato, por favor, me diga. Porque, sinceramente, não aguento mais toda essa merda.
Marlene estava com os olhos marejados e isso era uma droga. Detestava admitir que Sirius mexia com ela daquela forma, mas agora já era tarde demais. Estava estampado em seu rosto o amor que sentia por aquele garoto a sua frente, e só Merlin sabe o quanto ela lutou para esquecê-lo e seguir com a própria vida.
- Eu ficaria muito feliz se você calasse a boca. – Marlene começou a dizer – Você pode fazer isso?
- Acho que sim. – Sirius murmurou.
- Ótimo! Então agora me beija de novo, antes que eu mude de ideia e esqueça que também sou completamente apaixonada por você.
Sirius abriu o sorriso mais bobo do mundo e, antes que Marlene pudesse mesmo desistir da proposta que acabara de fazer, a beijou. Para a sua surpresa, ela correspondeu com a mesma paixão.
Sirius tinha quase certeza de que fora levado para um universo paralelo, pois só isso poderia explicar toda aquela atmosfera romântica que havia acabado de se formar. Talvez ele estivesse sonhando ou então havia abusando muito do uísque de fogo, mas aquilo parecia real demais para não ser verdade, e aquela Marlene que estava entre seus braços, definitivamente, era melhor do que a de seus sonhos.
Quando se afastaram, Sirius encarou Marlene para ter certeza de que aquele beijo havia sido real e que ela não estava brincando quando disse que era mesmo apaixonada por ele.
- É clichê, eu sei, mas você não sabe o quanto esperei por isso.
Marlene sorriu e acariciou seu rosto.
- Acho que tenho uma ideia, Six.
- Six? – Sirius repetiu aquele novo apelido com a sobrancelha erguida.
- Sim! Six. E nem começa a reclamar do apelido se não quer apanhar de novo.
Sirius riu e a beijou de novo. E de novo. E mais uma vez, fazendo-a rir gostosamente.
- Eita mulher brava que fui arrumar, viu?
- E é melhor ir se acostumando, porque é daqui para pior.
- Assim espero. – ele riu e então fez uma expressão de desânimo.
- O que foi?
- Tenho treino de Quadribol. Vou ter que te deixar aqui, linda.
- Eu não posso assistir? – ela perguntou.
- É claro! Se você quiser vai ser ótimo.
- Então eu quero.
~*~
O treino de quadribol da Grifinória nunca teve tantas espectadoras. Lily, Marlene e Alice estavam juntas, conversando e rindo animadamente.
- Será que eu bati com a cabeça forte demais e agora ‘tô ouvindo e vendo coisas? – Alice perguntou – Você e o Sirius estão mesmo juntos?
- Eu não sei – Marlene respondeu com sinceridade – Acho que sim, mas nunca sabemos quanto tempo o Sirius pode se comportar.
- Vocês são estranhos. – Alice observou e franziu o cenho – Mas não tanto quanto a visão da Lily sorrindo para o James.
- Ei, eu já expliquei, o garoto me salvou de ser obliviada pelo Snape. – Lily a lembrou – Eu não posso simplesmente fingir que isso não é relevante.
- Engraçado é que você ‘tá aí falando de nós duas, mas ainda não explicou por que ‘tá aqui vendo o treino. Você nem é da Grifinória. – Marlene a encarou com a sobrancelha erguida.
- Não, eu sou da Corvinal. – Alice deu de ombros – E, além do mais, fui convidada pelo Frank.
Lily e Marlene a encararam como se estivessem vendo um ser de outro planeta.
- Qual parte dessa história nós perdemos? – Marlene perguntou.
- Qual parte? Vocês perderam a história toda, e nem adianta me olhar assim ok?! Eu até fui atrás de vocês para contar, mas não as encontrei em lugar nenhum. – Alice disse.
Então, depois de suspirar profundamente, começou a contar a conversa que teve com Frank, o beijo que ele deu em seu rosto e o convite que fizera para assisti-lo treinar. Aquilo tudo parecia ser um sonho, mas as risadas e os olhares de suas melhores amigas a faziam ter certeza de que aquela era a mais pura realidade.
- Ele não é perfeito? – Alice perguntou e suspirou apaixonadamente quando Frank entrou em campo com a vassoura sobre os ombros.
- É sim, Alice, ele é...
- Por que vocês não me contaram? – Emmeline chegou do nada na arquibancada, e, pela sua expressão revoltada, não estava se referindo ao clima de romance que estava visivelmente no ar.
- Por que não contamos o que? – Lily perguntou.
- Que a Dorcas gosta do Remmy! – Emmeline respondeu como se fosse o óbvio.
Lily, Lene e Alice trocaram olhares desconfortáveis.
- Estou esperando... – Emme tamborilou os dedos no banco da arquibancada, impaciente.
- Ok, a Dorcas é a fim do Remus há um tempo – Marlene começou a dizer – E, pela forma como ela olha para ele, eu poderia jurar que você já sabia.
- Pois eu não sabia! – Emmeline disse – E o que isso faz de mim?
- Como assim? – Lily perguntou confusa.
- O que quero saber é: O que eu sou agora?
- A namorada do Lupin – Alice respondeu – Francamente, Emme, eu não sabia que a cor do seu cabelo afetava a sua capacidade de raciocínio.
- Ah, por Merlin, sem piadas de loira agora! – Emmeline revirou os olhos – O que quero saber é se agora sou o tipo de amiga que quebra o código de amizade e fica com o cara que a outra gosta?
- Não! – Lily apressou-se em dizer – Você é a garota que fica com o cara que gosta e que, por sorte, também gosta de você!
- Mas...
- Além do mais, você não tinha ideia de que a Dorcas gostava dele também. – Lily acrescentou antes que Emmeline continuasse se torturando.
- E quer saber do que mais? – Alice perguntou retoricamente – Logo a Dorcas se acerta com o Amos.
Foi a vez de Marlene encarar as amigas com uma expressão confusa.
- Com o Amos? Como foi que ele veio parar nessa conversa?
- Francamente, Lene, você pode ser linda e charmosa, mas não é pelos seus olhos azuis que o Amos suspira.
Marlene deu uma gargalhada e as quatro continuaram a conversar. Emmeline ainda estava um pouco balançada e aproveitou para contar como foi que descobriu que Dorcas estava interessada em seu namorado (ela ouviu uma conversa de duas garotas da Lufa-Lufa que costumavam andar com a Dor). Torcia para que Alice estivesse mesmo certa, e que logo Amos e ela se acertassem.
- Olhem, eles já começaram a treinar. – Marlene apontou para o alto, onde os meninos treinavam, e a atenção de todas as meninas foi direcionada para o treino de quadribol.
Finalmente o mundo das garotas e dos garotos parecia estar em paz.
~*~
Depois do jantar, Harry foi para a biblioteca terminar seu trabalho de Transfiguração. Merlin sabia o quanto ele não estava nada empolgado com aquilo, mas ficar preso no dormitório vendo as horas passarem não ajudava muito, e ele precisava mesmo passar mais algumas horas com o homem que o protegeu por dezessete longos anos.
Severo Snape não era tão mais simpático do que Harry se lembrava. Continuava sendo o mesmo cara antipático e de poucas palavras – talvez até mais frio e sarcástico –, mas toda vez que sentia vontade de dar-lhe boas respostas, Harry sempre respirava fundo e se lembrava do que ele havia sacrificado para mantê-lo vivo.
- Vá para a página 394. – Snape disse com indiferença.
Harry fez o que lhe foi ordenado e deu de cara com um grande relato sobre lobisomens. Déjà vu. Aquela cena já havia acontecido antes, só que Snape era bem mais velho quando deu essa ordem.
- Lobisomens? – Harry ergueu a sobrancelha – Eles não podem ser considerados animagos, você sabe, não é? Eles não...
- Se transformam quando querem, apenas na lua cheia, e não tem controle sobre os próprios atos. São agressivos e uma mordida deles faz de você um amaldiçoado por toda a vida.
- Exatamente. – Harry fechou o livro – Animagos não oferecem riscos. A não ser a eles mesmos, pois até onde sei, o processo para se tornar animago é difícil e perigoso. Fora que eles podem ser considerados criminosos, caso não declarem ao Ministério da Magia que podem se transformar, tornando-se assim ilegais.
Snape meneou a cabeça e continuou a folhear os livros a sua frente. Depois de um breve silêncio e algumas anotações, ele fechou os livros e encarou Harry com desprezo.
- Está feito. – Snape disse – Isso é suficiente. McGonagall vai ficar satisfeita.
- Certo. – Harry não sabia exatamente o que dizer ou fazer, então limitou-se a guardar seu material.
Snape fez o mesmo. Ficar naquela biblioteca não estava fazendo muito bem para ele. Passar muito tempo com um membro da Grifinória não era algo muito agradável – a não ser que a pessoa em questão fosse a Lilian, mas esta já estava fora de cogitação.
- Adeus, Granger! – Snape se levantou para sair.
- Não se junte a Ele. – Harry disse, sem nem mesmo pensar, fazendo com que Snape parasse antes de dar o primeiro passo.
- Desculpe, o que foi que disse?
- Eu disse para não se juntar a Ele. – Harry repetiu – Sei que uma guerra está prestes a explodir, mas isso não significa que você tem que escolher o lado das Trevas. Por favor, Snape, não faça essa escolha. Nós dois sabemos que você é melhor que isso.
Snape deu uma risada de escárnio e, de repente, seu olhar ficou frio e distante. Aquele garoto a sua frente parecia não ter muita noção do que estava falando ou onde estava se metendo.
- Quer um conselho para usar em toda a sua vida, Granger? Não se meta na vida dos outros e nem ouça conversas escondido por aí.
- Eu não ouvi conversa nenhuma. – Harry disse na defensiva e se sentiu muito estúpido por isso.
Snape deu um passo na direção de Harry e quase se debruçou na mesa para encará-lo.
- Não minta para mim, Granger! – ele falou de forma ameaçadora – Sei que estava espionando minha conversa com o Carrow naquele maldito corredor, noites atrás.
- Eu não...
- Você pensa que sou idiota, Granger? – Snape deu uma risada sem humor – Você e seus amigos pensam que são os melhores e que sempre tomam as decisões corretas, mas aí vai um segredo: todos vocês estão errados.
Harry balançou a cabeça e se colocou de pé, a fim de encarar Snape de forma digna e não parecer uma presa encurralada.
- Podemos não tomar as decisões certas sempre, mas uma coisa te garanto, Snape, ir para o caminho das Trevas e se juntar a Voldemort não vai ajudar em nada.
- Tem muita coragem de falar o nome dele, Granger.
- O medo de um nome só faz aumentar o medo da própria coisa. – Harry disse, citando as sábias palavras ditas por Hermione, certa vez.
Snape praticamente fuzilou Harry com o olhar. Quem aquele garoto pensava que era para se meter na sua vida daquela forma? Ele não tinha mesmo noção do perigo que corria ao tentar bancar o salvador da pátria.
- Granger, você não sabe de nada. – Snape disse entredentes – Então não me dê conselhos.
- Sei o suficiente para saber que esse não é o melhor caminho. – Harry disse – Não faça isso com a sua vida.
- Da minha vida cuido eu – Snape disse com rispidez – E agradeceria se você cuidasse apenas da sua.
Snape simplesmente saiu da biblioteca, encerrando aquela conversa desagradável. Ninguém iria dizer o que ele ia fazer da sua vida, muito menos aquele novato intrometido.
Harry suspirou e recolheu seu material. O aviso estava dado, mas, pensando bem, em breve aquele assunto não teria tanta importância. Se a sua conversa com a Morte tivesse algum resultado, não precisaria se preocupar com o Lord Voldemort e seu exército de Comensais.
~*~
Passava da meia-noite quando Harry desceu as escadas e se sentou na poltrona em frente à lareira. A Sala Comunal estava mais fria que o normal e as fracas chamas da lareira não pareciam esquentar nada a sua volta. Aquilo seria bem estranho se não fosse o fato de que na poltrona ao lado, a Morte estava sentada, encarando Harry com um sorriso sinistro.
- Vejo que finalmente descobriu – a Morte disse com satisfação – Agora vamos as questões práticas: como prefere matá-la? Particularmente gosto de um pouco de drama, mas você não...
- Espera! Antes de pensarmos na morte da Merope, preciso que responda uma pergunta – Harry disse, tentando controlar o nojo que sentia. Como alguém podia tratar a respeito da morte de outra pessoa com tanta tranquilidade? Ah sim, a própria Morte.
A Morte meneou a cabeça e entrelaçou os dedos em seu colo.
- É claro! O que quer saber, criança? – ela perguntou.
- Por que a existência de Merope te atrapalha? – Harry perguntou – A senhora disse que o fato dela ter dado a luz ao Voldemort não era bom; que ele era um inconveniente. E eu quero saber o motivo disso.
A Morte tornou a abrir um sorriso sinistro e sentou-se de forma mais relaxada em sua poltrona.
- Menino Potter, conte-me o que sabe a respeito dos horcruxes.
- Sei que para fazer uma, a pessoa precisa fragmentar a alma e, depois de um ritual de magia das trevas, é necessário prender parte da própria alma em algum objeto, animal ou pessoa, embora a última opção não seja lá tão agradável.
- Exatamente – a Morte balançou a cabeça positivamente – E você sabe qual é a maneira mais fácil de fragmentar uma alma?
- Matando pessoas.
- Correto! – a Morte se colocou de pé e começou a caminhar pela sala – Agora, criança, você sabe quais são as consequências disso?
Harry piscou, pouco a vontade com o rumo que aquela conversa estava tomando.
- Pessoas mortas e apenas uma, aparentemente, imortal. – Harry explicou – Mas eu ainda não entendo... Se a senhora é a Morte, deveria gostar que as pessoas morressem, não? Por que isso é um inconveniente?
A Morte parou abruptamente e encarou Harry com uma expressão sombria. De repente, ela parecia mais assustadora e ameaçadora que antes.
- Você tem noção do quanto é difícil procurar alguém cuja alma está fragmentada? – a Morte quase gritou – Tem ideia do desastre que isso causa no ciclo vicioso de “vida e morte”? É terrível, e, se eu pudesse ter dores de cabeça por isso, com certeza teria.
“Potter, as pessoas nascem e morrem. É assim que as coisas funcionam e meu trabalho é garantir que isso aconteça. Quando alguém decide interromper isso, a minha vida vira um verdadeiro inferno! Pessoas são mortas antes do tempo apenas para a criação desses objetos, e isso faz com que as almas entrem em conflito e que o número de fantasmas aumente catastroficamente, por causa dos assuntos inacabados. Isso sem contar que parte de mim fica incompleta por causa disso.”
- Como assim?
- Esse assunto seria menos demorado se você tivesse a inteligência da sua amiga Granger. – a Morte disse com impaciência.
“Potter, o meu trabalho é levar as pessoas, incluindo suas almas. Você consegue entender a dificuldade que é ter de levar alguém com a alma repartida e protegida por magia?”
“A primeira vez que Voldemort foi ‘derrotado’, estive com ele e tentei convencê-lo a destruir os horcruxes. Ele só precisava dizer onde estavam os objetos, que eu destruiria. Mas ele ignorou meu conselho e até debochou do meu trabalho... Enquanto vagava por aí, fraco demais para se reerguer, mais e mais mortes aconteciam, e isso prejudicou – e muito – o mundo que você vive. Pessoas que deveriam morrer permaneceram vivas; pessoas que deveriam nascer não nasceram; e pessoas que deveriam viver, morreram.”
Harry processou aquela informação por um instante. As coisas pareciam começar a se encaixar.
- Voldemort alterou a ordem natural da vida e da morte. – Harry concluiu – Mas ele está morto agora.
- Sim, e os sete pedaços que faltavam de sua alma estão muito bem guardados comigo. Agora, você acha mesmo que o estrago que aqueles horcruxes causaram se foi com ele? – a Morte perguntou – A iniciativa do seu maior inimigo de se tornar imortal causou um desastre tão grande que nem a sua morte conseguiu arrumar. E, o pior disso, é que a essa altura os outros comensais sabem sobre os horcruxes. Todas as pessoas sabem. E isso pode ser perigoso. Nunca se sabe quando alguém vai passar para o lado negro e tentar terminar o que Voldemort começou. Antes de Voldemort, os bruxos perversos temiam fazer horcruxes... Agora, todos já sabem que é possível e, provavelmente, já devem saber como se faz.
Harry balançou a cabeça positivamente e respirou fundo. Apesar de não gostar, sabia que o que iria fazer era para o bem de todos.
- Certo, eu já entendi o perigo de tudo.
- Ótimo! – a Morte tornou a sorrir. Céus, como aquele sorriso assustava Harry – E então, Potter, o que pretende fazer agora?
- Me leve para o passado – Harry pediu – Eu vou matar a Merope.
~
N/A: Aeeee, finalmente o capítulo nove! Desculpem a demora para postar. Esse pequeno diálogo entre o Harry e a Morte me deu certo trabalho. Escrevi ele umas três vezes até que considerasse decente auauhauhauhauh Bom, o próximo capítulo vai ter um pouquinho mais de ação e emoção, e, infelizmente, sinto informar que faltam apenas dois ou três capítulos para o fim da fic. Espero muito que estejam gostando de tudo até agora e prometo não decepcionar ninguém. (pelo menos é isso o que espero hauhauhau)
A todos que comentam aqui sempre, muito obrigada pelo apoio e carinho. Vocês são uns amores *_____*
Até o próximo capítulo, gente!
Comentem e digam o que acharam, certo?
Xoxo,
Mily.
Comentários (3)
Meu Merlin como nunca tinha achado essa fic antes ? Perfeiiiiita. e olha que eu só leio fics marotas que são de algumas amigas porque é dificil eu parar realmente pra ler...Mas essa está maravilhosaaa sua ideia é genial sei que já repiti isso umas mil vezes mas realmente tá de parabens flr *-*
2011-12-08Awwn Mily , eu estou apaixonada até agora com a declaração do Sirius *---------* ele é tãaaao perfeito , e eu poderia estrangular o Snape , aquele FDP viado ...o voldy é mesmoo mau até a morte não gosta dele ... Beeem é issso , esperando proximo capitulo.
2011-08-15ai, eu quero muito que ele mate, mas estou com muito medo das consequências... mas se pelo menos Sirius ficar vivo, acho que já vale, né? ele é meu preferido <3 hahaha adorando cada capítulo mais! continue assim viu? beijos!
2011-08-15