Bem vindo ao futuro



Capítulo 24 - Bem vindo ao futuro.


(23 de Agosto de 1991, Harry com onze e Alicia ‘para fazer onze’. Rumo a Hogwarts!)


 


O futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...


Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar


                            (Música Aquarela)


 


POV’s Harry:


         Não podia deixar de pensar em como me sentia feliz de tê-los aqui. Daqui a uma semana iríamos para Hogwarts, e queríamos ouvir sobre tal, então, Rony teve uma idéia.


         Chamei Al, Rony, Gina, Susana, Neville e Alicia para virem dormir na minha casa, além de Fred e Jorge, que iriam para o terceiro ano e podiam nos contar como era lá.


         Eu estava excitado, pensando em como poderia fazer traquinagens – para meu pai e meu padrinho orgulhosos – e tentar tirar notas boas – para deixar minha mãe orgulhosa.


         Eu já tinha ganhado minha Nimbus 2000, mas ela teria que ficar em casa. Puft! Minha varinha também já tinha, se bem que, será que magia com as mãos é proibido? *carinha inocente*


         Sabia que minha aura, ironicamente chamada de Aura, poderia ganhar grande poder mágico se eu me descontrolasse, então, tentaria não ficar estressado e não quebrar nada.


         Tipo, nada legal né. Eu lá tomando café da manhã, alguém me estressa, aí as jarras de suco quebram. Nada legal!


         Eu não teria nenhum problema desse tipo, tentaria não ter problemas lá.


         Mas, uma coisa ainda me incomodava. Minha cicatriz ainda ardia. Ela nunca tinha ardido, talvez de uns dois anos para cá dado umas pontadas de dor e uns flashes de um corpo morto, mas nunca assim.


         Como se fosse um sinal, um aviso.


         Mas eu só estou, provavelmente, ficando paranóico.


- Então – terminava Fred, ou Jorge nunca sei, às gargalhadas – a bomba de bosta explodiu na cara dele.


         Eu ri, acompanhando todos, que também se matavam de rir. Fiquei satisfeito em ver que Gina não parecia mais ficar como um pimentão a minha frente e conseguia ao menos falar.


         Al também não parecia ter mais aquele desejo assassino, como do natal de 1987, onde pendurara Gin-Gin – como chamavam os gêmeos mesmo – de cabeça para baixo na árvore.


         Neville e Susana pareciam finalmente terem se integrado ao grupo, tipo “Os Marotos (e Marotas insistia Su em acrescentar) vão para Hogwarts!”.


         E Ron, bom, esse me dirigiu um sorriso, como se dissesse “Serei seu amigo sempre,ok?” enquanto continuava a rir da história dos gêmeos.


         Uma dor excruciante veio a minha cabeça e ela pareceu finalmente que iria rachar. Um grito quase escapou de  meus lábios, mas os mantive firmemente fechados.


         Tentando me distrair, menos com minha dor, ouvi – com meus ouvidos apurados por causa de Aura – a voz do meu pai falar:


- Ora, Lírio, você sabia que essa época ia chegar – de novo ele confortava minha mãe.


- Tão novinho, meu bebê já vai embora!  - ai, ai, ela e essa sua mania de me chamar de bebê.


         De uns tempos para cá, ela estava chorona, porque eu iria para Hogwarts... Bom, fazer o quê.


         Paramos instantaneamente de rir ao ouvir a porta ser arrombada e bater contra a parede mais próxima. Ah, não...


         Meu pai e minha mãe desceram correndo para ver o que eram, e quando chegaram ao hall de entrada, vi cinco figuras encapuzadas entrando, e, bem na frente, um homem. Que deveria estar morto.


         Era o homem que aparecera nos flashes em minha cabeça, quando minha cicatriz dava pontadas de dor. O homem que devia estar morto, como seu corpo. O homem que, há dez anos, eu vencera.


         Lord Voldemort.


         Ele estava ali, parado, no meu hall de entrada, as minhas vistas e de todos. Tinha um sorriso irônico e um tanto extasiado, um tanto excitado, como se, finalmente, chegasse ao lugar que queria.


- Ora, ora, Potter – falou. Um sorriso de canto de boca.


         Reparei que sua cara parecia viperina, diferente das imagens que eu tinha de quando eu lembrei dele, ao meu primeiro ano de idade. Sua pele era branca, seus nariz eram fendas, e seus olhos num vermelho vívido.


         Mas, de certa forma, parecia mesmo o corpo morto que eu via nos flashes de minha cabeça.


         Atrás dele, vi, encapuzados de preto, os famosos Comensais da Morte. Um deles deu uma risada histérica, e logo soube que era mulher. Ela puxou o capuz, e vi Belatriz Lestrange. Achei que ela estivesse presa. Obviamente, fugira. Agora, como o Ministério não sabia disso?...


- Voldemort – meu pai parecia um tanto atordoado. – Você... Devia estar morto!


         Reparei que eu estava em pé, pronto para ajudar meu pai. Eu não portava uma varinha, mas tinha Aura e esperava que fosse o suficiente.


 


Tem que ser, ela sussurrou em minha mente, também parecia um tanto temerosa.


        


Vi que meus amigos também estavam de pé, Al do meu lado, pronta para agir, tanto quanto eu.


- Não achou que eu tivesse morrido naquele ataque ao seu filho, não? – e sorriu, ou quase isso.


         Então, seus olhos – suas fendas vermelhas – viraram para mim, numa satisfação inconfundível, numa sede de morte, insaciável.


- Saia de nossa casa, antes que os expulsemos! – gritou, corajosamente, minha mãe. Mas vi que seu rosto estava branco e suas mãos tremiam.


         Esse detalhe não passou despercebido para Voldemort.


- Lílian Potter, aquela que frustrou meus planos com seu sacrifício de amor? – sua voz era cheia de raiva, mas tinha um tanto de ironia.


         Não, ele não faria nada a minha mãe.


- Deixe ela em paz, seu cara-de-cobra mestiço! – por puro impulso impensado, estava entre meus pais, um pouco a frente deles.


         Como se pudesse protegê-los...


- Harry Potter – Voldemort disse esse nome com prazer – Como é bom vê-lo novamente. Não esperava me ver nunca mais, acho.


- É, então, é bom sair, antes que o botemos para fora – minha voz não tinha medo, mas tinha um certo receio. Receio que ele machucasse outro.


         Esse detalhe também não passou despercebido para ele, como todos os outros.


         Com um gesto de varinha, Al estava presa. A varinha de Voldemort em sua garganta, presa nos braços de alguém que ela não poderia fugir... Justo ela.


         Não!


         Vi meu pai se movimentar atrás de mim, pronto para atacar, mas eu já estava descontrolado.


         O que eu pensara agora pouco, sobre ter de controlar minha raiva, já não mais passava em minha cabeça.


         Minha aura expandiu-se pela raiva, e ficou tão densa a ponto de empurrar meus pais contra a parede e manter meus amigos afastados. Eu e Voldemort, estávamos em uma bolha, só ele e eu, onde ninguém poderia entrar nem sair.


         Al fora levada junto com a força da bolha feita por Aura, mas não conseguia entrar, nem com a ajuda de Universo. Não era como no natal onde ela fizera uma bolha e eu entrara, afinal.


- Deixe todos em paz! – gritei e não tinha ideia do que estava fazendo.


         Além de Aura fazer uma bolha dourada e branca em torno de mim e Voldemort, também estava em sua forma humana ao meu lado. E também em forma de fênix, em meu ombro.


         Era tão sólida, eu sentia seu peso em meu ombro, e sentia a mão humana sobre a minha.


         A sua forma humana nunca fora tão definida, e, para minha surpresa, estava completamente branca, exceto nos olhos.


         Os cabelos eram quase como molas, que caiam até um pouco acima da cintura. Os olhos eram dourados – mas eu sabia que na realidade seriam azuis céu. O rosto era delicado e angelical, e sua altura batia na minha.


         E era Alicia que estava ali. Alicia que era minha aura! Alicia era Aura, e isso era muito confuso.


- O que pretende, Harry? – riu-se Voldemort – Você não tem poder para derrotar o poderoso Lord Voldemort.


         Minha varinha estava em meu malão de Hogwarts. Eu não poderia usar magia – com varinha – até meus dezessete anos fora da escola, do que adiantaria tê-la aqui?  


         Mas eu tinha mais poder usando magia com as mãos mesmo.


         Voldemort riu, enquanto pegava sua varinha e apontava para mim. Eu já não tinha mais noção das coisas.


         Tinha onze anos e enfrentava Voldemort. Meus pais gritavam por mim, os Comensais riam, meus amigos – até os meninos – choravam em desespero e medo.


         Al ainda estava caída e olhando para mim, como se disesse “Não faça, não me deixe, não morra”. Eu me sentia culpado, mas tentaria não quebrar a promessa que fizera a ela, pouco menos de um mês atrás.


Só promete que não vai me deixar nunquinha? Vamos ser amigos até ficarmos bem velhinhos e enrugados? Promete? Sua voz suave e um tanto medrosa, nesse dia, invadiu minha mente.


         Mas eu continuei ali. Não sabia por que, só fazia. Sentia uma enorme necessidade de salvá-los.


         Vi Aura/Alicia – nesses dias de hoje não sei mais nada - assentir, na forma humana e de fênix, concordando.


         Voldemort não deu muito valor a minha aura, pouco se importando com ela.


         Eu gostaria de saber como ele renascera, mas só queria era destruí-lo, novamente. Para que ele deixasse os que eu amava em paz, finalmente em paz. Somente com perturbações díarias e infantis. Como o que eu iria comer amanhã no almoço...


- Avada Kedavra! – gritou Voldemort.


         Estiquei minha mãos, e delas saíram um raio dourado e branco, que avançavam contra a Maldição da Morte, mas não tinha força o suficiente.


         Eu tinha um aura poderosa, tinha, mas Voldemort tinha uma aura mais forte, mais negra, pior.


         A minha era branca, mas eu ainda era criança, não aprimorara tanto assim meus poderes.


         As últimas coisas que me lembro?


         Meus pais gritando meus nome, junto a meus amigos. Os Comensais da Morte gargalhandos histéricos e deliciados. Aura, voltando para dentro de mim, enquanto me cobria, como uma camada de pele dourada.


         E, por fim, Al chorando ali, e então, a Maldição da Morte.


         Minha cabeça pareceu explodir na cicatriz, e quando os feitiços se ricochetearam explodiu mesmo, o fogo tocou minha pele, senti roçar na barreira de Aura.


         E eu me senti entrando na insconsciência profunda.


         E, provavelmente, eterna.


 


                                                        ooOoo


 


POV’s Alicia:


         Lágrimas insistiam em pingar do meu rosto para o carpete.


         Não Harry, não meu amigo. Ele não poderia ter me deixado e morrido desse jeito, não ele...


 Claro que prometo. Ele prometera, não podia!... Não...


         Vi que Voldemort riu de nossa fraqueza, junto com as outras cobrinhas.


- Por hoje, haverá somente uma morte, mas o mundo logo, logo será de Lord Voldemort – e aparatou, com os Comensais logo em seguida.


         Reunindo forças, levantei.


         Cambaleei como uma bêbada até o local que Harry estivera.


         O carpete e o tapete estavam chamuscados, não tinham chamas da explosão, nem cinzas, só um forte cheiro de ferro derretido – o que era estranho – e fumaça.


         Senti uma vertigem no estômago ao reparar que o corpo de Harry não estava ali.


Promessas são dívidas. A voz da lua em meus sonhos, a voz de Harry – porque ele era a lua. “Harry”.


         Será que... Mas era impossível, uma voz sussurrava freneticamente em minha mente, explodira diretamente nele e se não fosse isso, seria a Maldição da Morte.


         Senti Tia Lílian me abraçar pelos ombros, também chorava, tanto ou mais que eu.


         Susana também veio, e ficamos nós três chorando, abraçadas, sobre onde deveria estar o corpo de meu melhor aimgo.


         Não sei quanto tempo fiquei ali, derramando lágrimas. Mas passados alguns minutos – ou horas, não tinha ideia alguma – ouvi a voz de minha mãe, embargada pelo choro. A voz de meu pai, raivosa e triste, junto a de Tio Pontas.


         Neville assoava o nariz com um lenço. E eu nunca vira os gêmeos Weasleys tão deprimidos... Em um dia qualquer, perguntariam, de brincadeira, como era Voldemort, mas depois de ver seu amigo – e meu próprio – ser morto na frente deles pelo Lord Titica, também não seriam mais os mesmos.


         Vi Gina soluçando a um canto, com Rony lhe consolando, mas este mal parecia conseguir se manter também. Por alguns instantes, vi como a amizade deles seria duradoura e forte, tanto quanto a minha.


         Também ouvi outras vozes, do Tio Dumby, da Tia Minie, até do Olho-Tonto Moody.


         Mas não dei importância. Ninguém sofria tanto quanto eu... Ninguém choraria e espernearia por sua perda tanto quanto eu.


Eu, Alicia Melanie Black, virei oficialmente amiga de Harry Tiago Potter! Eu ouvia minha própria voz sussurrar em minha mente. Do dia que conhecera Harry, eu dissera isso...


         A voz de Harry sussurrava palavras em minha mente. Promessas, elogios, brincadeiras. E minha voz aparecia as vezes, dando minhas, também, promessas e certezas.


         As certezas que eram erradas.


         Continuei encarando, com a vista embaçada pelas lágrimas, o mesmo lugar por horas a fio, o lugar da morte.


         Voldemort estava vivo – sabe-se lá como – e Harry Potter morto. Não ficaria barato, ah, não mesmo.


         Sequei as lágrimas, que teimosamente, continuavam a cair.


 


Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo...

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.