Seven
Eu estava exausta quando chegamos ao hotel onde passaríamos a lua de mel. Duas semanas calmas no campo era tudo o que eu precisava para reaprender a amar Amos. Agora ele era meu marido, e teríamos que ficar juntos para toda a eternidade, certo?
Errado. Logo nos três primeiros dias – Nós nem fizemos aquilo por causa das desculpas dele de estar cansado ou de não conseguir naquela noite. Ou seja, nem excitá-lo mais eu conseguia – Ele desistiu de tudo e voltou para o trabalho, me deixando lá sozinha.
Naquele momento eu desisti de tudo. Arrumei minhas malas e voltei para o meu apartamento, contatando minha advogada e solicitando dela papéis para anulação de casamento. Não iria ficar com Amos nem mais um segundo. Enviei os papéis junto com as alianças de casamento e de noivado que ele me dera, junto também com o exame que eu tinha feito para provar que não fizera sexo desde duas semanas antes do exame. Exame bruxo, claro que o trouxa não conseguiria.
Então arrumei minhas malas de novo e tomei uma decisão. Avisei as minhas amigas para onde ia e aluguei um quarto no hotel do Potter, naquela ilha maldita. Precisava de férias, e com certeza não conhecia lugar melhor que aquele para descansar.
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-Amos, não quer caminhar na praia comigo? – Eu perguntei ajeitando a viseira na cabeça. Estávamos há três dias de lua-de-mel e ele não tinha saído de perto daquele maldito laptop. Eu tinha decidido tentar me re-apaixonar por Amos, mas com ele assim, só pensando em trabalho, meu trabalho ficaria mais difícil.
-Não, deixa pra depois, to com um caso difícil aqui – Ele nem tirou os olhos da porcaria da tela. Eu então dei um beijo no rosto dele e tentei me convencer de que ele era um bom homem enquanto saía do quarto para ir á praia. Emmeline escolhera o hotel e Amos odiara, por ser na beira da praia. Aliás, eu acho que na realidade ele queria estar trabalhando. Começar a vida de marido e mulher logo e pular a parte da lua de mel.
E eu estava começando a ficar frustrada. Eu tentava seduzi-lo a noite e ele alegava estar cansado, ter trabalhado o dia inteiro. Eu cheguei a fazer strip pra ele, e nada adiantou. Ele virou para o lado, pediu desculpas nada sinceras e dormiu.
Não havia fogo, não havia paixão. Eu tinha noção de que Amos era recatado e tudo mais, mas pelo amor de Merlin. A última vez que deitei com ele foi tipo há um mês. E, se ele foi fiel como prometeu que fora, então ele estava há um mês sem sexo.
Certo, hum. Será que ele é gay?
Afastei aqueles pensamentos quando os meus pés encontraram a areia da praia. Comecei a apreciar aquela beleza, o cheiro de maresia se espalhava pelo ar naquele fim de tarde. Fui até o mar e comecei a caminhar com água pelos tornozelos. Sempre adorei fazer isso. Sempre. Pena que Amos não goste de areia. E nem de mar. Aliás, provavelmente ele só gosta daquele computador.
Então avistei algo estranho. Estranho não,na realidade só surpreendente. Harry e Sofie, os dois que se diziam “meus filhos” com o Potter. Era impossível eles estarem ali, não era? Afinal, casando com Amos eu mudara o curso das coisas, e provavelmente nem no futuro eles existiam. Ignorei isso e fui até eles, Harry segurando Sofie no colo.
-O que vocês querem? Vocês não deveriam ter deixado de existir quando eu mudei o curso das coisas e casei com Amos? – Eu perguntei o que veio na minha mente quando cheguei perto o suficiente deles, e eles só sorriram. Harry parecia mais velho, e Sofie parecia bem maior. Pelo jeito eles vieram de alguns anos depois do que da última vez. Harry deu uma risada e eu vi que sua voz tinha engrossado. Oh céus, ele já era adolescente! Sofie então apontou para trás de mim e eu o vi.
Ele parecia uma miragem saída de algum filme romântico antigo. Caminhava devagar com passos decididos, vestindo somente uma bermuda verde. Ele então me viu e fez cara de surpresa.
-Lily? Não vai me dizer que a tua lua de mel é aqui? Oh droga. – Ele então viu os pequenos e a cara dele ficou mais surpresa ainda. – Mas o que...? – Ele olhou para mim confuso. Passou a mão pelos cabelos, pasmo. – Isso é impossível, não é?
-Impossível é você estar aqui – Eu disse e ele ficou com expressão culpada.
-Me desculpe. Tem uns problemas por aqui que eu tinha que resolver. – Ele disse e eu assenti. Não era pouco provável, já que há pouco tempo o hotel estava caindo aos pedaços, pelo que eu sei. Agora descobriram infiltrações e tem quartos mofados. Isso foi o que eu ouvi, mas é na parte interditada do hotel. Ele provavelmente estava ali para ver o que fazer.
-Tem mais algum problema na rede de hotéis? Digo, no sistema dos computadores ou nas ações que as envolvem? – Eu perguntei querendo averiguar com a cabeça. Ele negou.
-Se tivesse, Sirius já tinha me ligado. Contratei mais dois funcionários para cuidar disso para mim com a saída de Amos durante essas semanas de lua de mel. Aliás, como ele está se saindo? – Tiago perguntou e eu cerrei os punhos.
-Ele só trabalha. E eu não sei no que, já que você diz que contratou dois para cuidarem do serviço dele – Eu disse me sentando na areia e abraçando os joelhos com as pernas entrelaçadas. Harry e Sofie sentaram no meu lado esquerdo e Tiago sentou no direito. – O pior é que no final do dia alega cansaço e me ignora. Odeio te contar isso, afinal eu sei que você não tem nada a ver com isso.
-Não tem problema. Quero estar a par do que o seu marido faz. Porque, se você quer saber, ele não está trabalhando. Ninguém da empresa ouve falar dele durante esses três dias inteiros. Então, a não ser que ele esteja passando informações para outras empresas, não há motivo para ele ignorá-la, afinal me assegurei de que ninguém os contatasse enquanto estivessem fora. – Ele me disse e eu cerrei ainda mais os punhos.
-Eu já volto – Eu falei me levantando da areia e me dirigindo novamente ao hotel. Ouvi sons estranhos enquanto subia a escada para o meu quarto, então apressei o passo. Abri a porta do quarto silenciosamente e entrei pé ante pé, passando a saleta e vendo a cama de casal.
Amos estava deitado na cama. E não estava sozinho.
-O que é isso? – Eu perguntei com voz baixa e calma, cruzando os braços. A secretária loira turbinada levantou-se assustada, enrolando-se no lençol, e Amos levantou-s desesperado.
-Lily, Lily eu posso explicar... – Ele disse enrolando-se no lençol também. Quando ele foi levantar da cama acabou puxando a parte da loira, e eu pude ver que o corpo dela exibia algumas manchas roxas. De chupão.
-Não, Amos, eu não quero explicações. Você sempre soube, sempre, que uma das únicas coisas sem perdão para mim era traição. Enquanto éramos noivos eu talvez pudesse aceitar. Na nossa lua de mel, não - Eu disse descruzando os braços. Fiz a secretária desmaiar com um aceno da varinha, ela provavelmente não lembraria disso. Então dei mais um aceno com a varinha e minhas malas estavam se fazendo sozinhas.
-Lily, por favor, olha o vexame que eu vou passar com os meus colegas... – Ele disse e eu não me segurei. Não mais.
-Amos, eu já fiz demais pelos seus colegas de trabalho metidos e idiotas, que saíram do nosso casamento falando em como o salmão estava sem sal e o camarão estava salgado demais. Fiz o meu casamento de um jeito que eu não queria em um lugar que não queria e além de tudo, agora eu percebo, com uma pessoa que eu não queria! Eu vou pedir a anulação do casamento, Amos, e se você não aceitar é bom chamar seu advogado. Eu estou indo embora – Eu disse decidida então pegando a minha mala e saindo dali.
E que se ferrasse a carreira dele! Eu não ia ferrar a minha vida inteira por causa da opinião dos outros. De jeito nenhum.
Saí do hotel e me deparei com Potter parado na entrada do lugar, as costas apoiadas no batente da porta do hotel, os braços cruzados.
-Certo, eu acabei com o seu casamento – Ele disse e eu fiz um gesto vago com a mão livre, entregando a mala para um carregador e pegando um celular.
-Na realidade não. Sem sexo eu não sei se agüentaria muito tempo, de qualquer modo – Eu falei para ele e ele riu.
-Oh. Ninfomaníaca, não? – Ele foi se aproximando de mim e eu sorri, mesmo irritada. Que se danasse mesmo. Eu nunca amei Amos, Tiago tinha razão. E além de tudo ele era um falso. Agora se mostrava um imbecil.
-Eu to indo pra casa. Vai comigo? – Eu perguntei e ele sorriu mais ainda.
-Eu vou ser algum tipo de consolo por você ter terminado com o casamento ou por ter ficado sem sexo? – Ele perguntou. Eu fiquei séria novamente.
-Nada disso. Deixa quieto, eu vou sozinha – Eu falei dando gorjeta pro cara das malas e entrando no táxi.
-Não esquenta, eu vou contigo pra Londres – Ele falou entrando no outro lado do táxi, sentando do meu lado. Cinco minutos depois de viagem o taxista resolveu se manifestar:
-Lua de mel? – Ele perguntou e eu e o Potter nos entreolhamos.
-Não, um ex-namoro de escola. Agora ele veio me enlouquecer e me fazer acabar com o meu casamento – Eu respondi e o taxista nos olhou estranhamente.
-Vocês parecem se gostar – Ele disse e eu olhei para o Potter.
-É, talvez – Eu falei e vi que o Potter começou a me olhar. Fiquei olhando pela janela o resto da viagem até o aeroporto.
Chegamos ao aeroporto e ele foi comprar as passagens para Londres. Esperamos umas duas horas em silêncio e então estavam chamando o embarque do nosso vôo.
-Tem certeza de que quer fazer isso? Quero dizer, acabar com o seu casamento assim na lua de mel? Além de prejudicar a opinião que as pessoas têm sobre ele, não tem volta. Talvez o que quer que ele tenha feito seja perdoável e você só esteja com raiva – Tiago tentou me demover, mas eu olhei bem para ele.
-Ele estava me traindo com a secretária do Sirius na cama que nós dormimos na nossa lua de mel. Quer mais que isso? – Eu perguntei e ele assoviou.
-Não, não. Vamos embora – Ele pegou a minha mala e colocou para check-in, e então fomos para o portão de embarque. O vôo foi silencioso também. Chegamos em Londres algumas horas depois e eu encontrei Marlene com Sirius, pronta para me levar para casa. Eu havia ligado para ela no hotel logo depois de sair do quarto pra que ela viesse me buscar.
Eu ia me mudar para o apartamento no qual viveria com Amos. Era maior, uma cobertura, e ainda por cima fui eu que paguei e escolhi. A escritura está no meu nome, então é minha.
Eu me instalei lá, já estava tudo pronto para quando eu e Amos chegássemos. Arrumei as minhas coisas no lugar e comecei a passar o resto da semana sozinha em casa, como férias. As meninas me visitavam quase todo dia, mas eu assegurei á elas que estava bem. Afinal, eu não tinha perdido nada, tinha?
Os papéis da anulação do casamento chegaram assinados para mim na segunda feira, enquanto eu lia o jornal e bebia meu café. Isso queria dizer que a Amos tinha aceitado anular aquela droga. Dei um sorriso satisfeito e fui trabalhar.
Quando eu entrei no meu escritório ele estava absolutamente repleto de flores. E havia alguém sentado na minha cadeira. Tiago.
-Você sabia que eu não deixo ninguém sentar na minha cadeira? Se sentam eu passo álcool depois – Eu avisei-o andando por entre os vasos e colocando as minhas pastas na mesa. Ele riu.
-Não comigo, claro. Já que eu já toquei bem mais que a sua cadeira, acho que você não liga tanto, não? – Ele colocou os cotovelos sobre a mesa e entrelaçou os dedos, me olhando. Eu sentei na mesa com tampo de vidro, olhando-o com um sorriso.
-O que faz aqui? – Perguntei diretamente e ele colocou as mãos em meus joelhos, que estavam para o lado da mesa, e trouxe as minhas pernas para frente dele, tirando meus sapatos e colocando meus pés apoiados sobre as pernas dele. Eu deixei.
-Eu vim te dar um ‘oi’ e me desculpar por ter provocado o fim do seu casamento. Mas, afinal, eu sempre achei que você ia cometer um erro mesmo... – Ele olhava para a parte descoberta das minhas pernas, que era somente do joelho para baixo. Ainda assim não tirava os olhos dali, começando então a passar a mão por ali distraidamente.
-Ah é? E quem seria mais certo que o Amos pra mim? – Eu escorreguei da mesa para o colo dele, a minha saia subindo enquanto eu fazia isso. As mãos dele foram para os meus quadris.
-Não sei... Mas as vezes você quer é a pessoa errada, e não a certa – A boca dele estava absurdamente perto do meu ouvido, mas sem tocá-lo. Então ele beijou o meu pescoço e eu me arqueei.
-Hum... – Isso quase foi um gemido. Amos já nem se passava mais da minha cabeça. Eu aproveitava o que o Potter me dava sem culpa. E era ótimo. – E quem é essa pessoa errada? Sabe Potter, você está me deixando curiosa com essa conversa – Eu olhei nos olhos dele, irônica, mas o que eu vi ali me desarmou. Beijei-o rapidamente, logo me dando conta do que eu estava fazendo.
Apartei o beijo e olhei para ele, que me encarava confuso. Então eu saí do colo dele e vesti os meus sapatos novamente, fazendo aquelas flores irem para a minha casa, onde eu poderia escondê-las, já que ninguém nunca ia lá mesmo além de mim.
Então ajeitei a saia nervosamente e olhei para o Potter, recomposta. Vendo aquele maldito olhar nos olhos dele novamente, e então baixando os meus olhos par ao chão.
-Potter, você tem que ir embora – Eu disse nervosa e ele ficou confuso.
-Agora? Por que? – Tiago se levantou daquela cadeira estúpida e veio para perto de mim, passo por passo. Eu recuei.
-P-porque sim! – Céus, fazia tempo que eu não gaguejava.
-Do que você ta com medo, Lily? – Ele perguntou e eu fitei o chão com mais vontade. Como aquele piso estava bem limpo!
-Lílian Evans Diggory-Eu ri nervosamente em menção àquilo, enquanto ele levantava o meu rosto com o indicador de uma mão.
-Só Evans, queridinho. Amos assinou os papéis da anulação. Não sou mais casada – Eu disse e ele pareceu satisfeito, porque o sorriso dele alargou-se.
-Oh certo, então pode me beijar sem estar traindo seu marido? Isso parece ótimo – Ele passou a mão pelos cabelos – Ainda não respondeu, Lily. Do que você tem medo? – Ele perguntou, e eu percebi.
Eu não sabia.
-Vamos, você está suando frio. Do que você tem medo, Lily? - Ele perguntou novamente, e eu senti as minhas mãos começando a tremer levemente. Oh céus. Eu não posso estar...
Olhei nos olhos dele e vi aquela aflição que só alguém que se importa pode sentir. Ele estava preocupado, assim como eu ficaria com ele, por mais que negasse. Eu era uma idiota. E tinha caído na lábia dele mais uma vez.
-Eu acho que me apaixonei por você – Eu ri, sem graça – De novo.
Ele tomou as minhas mãos por entre as dele e beijou-as.
-E o que você pretende fazer sobre isso? – Ele me perguntou ainda me observando. Eu suspirei.
-Não sei. Tenho medo que algo assim aconteça novamente, que nós nos separemos por alguma idiotice e eu acabe casando com mais um idiota tipo o Amos – Eu disse e tentei olhar para o chão novamente, mas ele não deixou – Mas ainda assim o medo mais forte é de te perder.
Com essa confissão ele me beijou docemente, como ninguém fazia há séculos. Quando apartamos o beijo eu segurava-lhe os antebraços e ele tinha as mãos em meu rosto, secando as minhas lágrimas.
-Não tem do que ter medo Lily. Somos adultos agora, e não dois adolescentes volúveis. Eu quero me casar com você, ter filhos, dar pra você o melhor que eu puder. Estar com você pro bem ou pro mal que acontecer – Ele disse e eu respirei fundo.
-Certo, e como posso acreditar nisso? Eu o amo, Tiago, mas tenho medo terrível de perdê-lo – até mesmo se for para o meu orgulho – Eu disse e ele segurou o meu rosto com delicadeza.
-E eu prometo á você que sempre estarei lá para ultrapassar o seu orgulho, assim como eu sei que você estará lá para isso se estivermos juntos – Ele disse então. Eu olhei naqueles olhos cor de avelã que por tanto tempo eu amei. Aliás, acho que nunca deixei de amá-lo. É tudo da minha cabeça.
-Ok, eu... Eu preciso pensar – Eu disse indicando a porta para ele. Ele deu um suspiro.
-Certo, certo. Nos falamos depois – Ele desceu pelo elevador com as mãos nos bolsos, e quando ele sumiu eu quis sumir também.
Sumir do mundo.
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Sem comentários. Beijocas ;**
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