Six




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Eu girei naquele banquinho pela vigésima vez, deixando Marlene – que acabara de me contar que estava realmente com Sirius desde que eu tinha saído naquela maldita viagem – arrumar mais uma vez as anáguas brancas do vestido. Ela verificou o meu coque e a minha maquiagem, então pegou as minhas mãos.

-Lily, agente só tem mais alguns minutos, okay? Fiquei aí paradinha enquanto eu levo a madrinha para o lugar dela – Dorcas, quem organizou o casamento todo, disse entrando na sala com seu vestido de seda amarelo absolutamente perfeito com a loirisse e os olhos azuis dela. Marlene me lançou um beijo no ar, ela vestia um roxo longo de alças e um coque, assim como eu e Dorcas, com vários cachos castanhos emoldurando seus olhos que, naquele fim de tarde, beiravam á violeta. Fiquei lá sozinha em cima daquele banquinho, absolutamente nervosa.

Eu estava em um dos quartos do hotel que Amos havia escolhido para a cerimônia, esperando em cima de um banco com o meu vestido branco de cetim, com flores em renda e tudo mais. Dispensei o véu, contrariando Amos, e coloquei enfeites no coque, estrelas em diamante, eu acho. Não sei que pedra é, Emmeline que arrumou pra mim de um dos figurinos pra foto dela. “É um presente” Ela me disse e eu fiquei meio assim de aceitar, mas deixei quieto. Qualquer coisa era melhor do que aquele véu desconfortável cobrindo a minha cara com todo aquele calor.

Eu não sei por que, mas eu não queria fazer aquilo. Era um ambiente estranho cheio de pessoas estranhas, com uma música que eu não escolhi, toalhas e flores que eu não escolhi. Era tudo feito pras outras pessoas, e não para mim e Amos, como deveria ser feito. Ele só pensou no que os colegas de profissão dele iriam pensar. E isso era uma droga. E quando eu disse isso a ele, ele só me deu um calmante e disse pra eu ir dormir, porque meu nervosismo estava me deixando irracional e egoísta. Naquela noite eu chorei. Claro que foi falta de tato dele, mas atribuí isso ao nervosismo dele mesmo pelo casamento e por toda aquela pressão social que sofreríamos.

Meu primo Harry entrou e me deu um beijo na testa, me dizendo o quanto eu estava linda. Ele era um dos últimos homes vivos na família e eu absolutamente o adorava, por isso tinha o escolhido para me levar até o altar – ao menos nisso Amos não podia dar palpites. E então ele me oferecia o braço para que eu descesse daquele banquinho e fosse com ele até o salão, já todo decorado e arrumado para o casamento. Os convidados já estavam lá. Amos já estava lá. Frank estava lá na frente tentando acalmar Emmeline, que estava uma pilha por ter que organizar o bufê do casamento todo, seus cabelos loiros presos em um coque baixo, vestindo um de crepe até os joelhos verde-água. Alice provavelmente não conseguira.

Eu coloquei um sorriso no meu rosto e olhei para o meu primo, começando a caminhar lentamente enquanto a marcha nupcial começava. Gosh, como eu odeio essa música. Mas continuei andando lentamente sobre o tapete vermelho, finalmente começando a olhar Amos, lá na frente com o padre. Ele estava de terno branco. Eu quase ri, era ridículo. Mas bem, ele ainda estava bonito – do jeito dele – naquelas roupas. Ele sorriu para mim e eu para ele, caminhando no ritmo daquela música horrorosa.

Mais um passo e eu olhei discretamente em volta. Eu não conhecia toda aquela gente. Eu não conhecia o lugar. Um flash daquele hotel onde eu tinha passado a última semana com o Potter me vieram na cabeça, e junto com ele os beijos, as caminhadas, os sorrisos, as palavras, e inevitavelmente o sexo. Não deveria estar lembrando daquilo agora. Não deveria...

-Você está linda meu amor – Eu ouvi Amos dizer quando eu cheguei ao altar e ele tomou as minhas mãos por entre as dele, beijando-as. Eu sorri para ele e me ajoelhei em frente ao juiz, começando a ouvir as palavras dele. Mas logo no começo senti algo me puxando pelo umbigo e toda a visão á minha volta se modificando. Me vi novamente naquele hotel na ilha do Potter, mas desta vez eu estava completamente sozinha, ainda vestida de noiva. Comecei a caminhar achando estranho o hotel estar tão vazio. Subi as escadas e fui para o quarto onde eu me hospedei com o Potter, olhando pela sacada. Vi que o Potter estava sentado na praia observando o pôr do sol, então me dirigi para lá, sem me preocupar com sujar o meu vestido na areia da praia.

Ao vê-lo mais de perto sorri. Afinal ele comprara bermudas e camisetas para ficar por lá. Bem melhor que aqueles ternos ridículos. Ele ouviu o som do vestido farfalhando na areia e se virou, sua face ficando feliz e depois confusa. Perplexa, para dizer a verdade.

-O que você está fazendo aqui? Esse não era pra ser o dia do seu casamento? – Ele me perguntou e eu sorri levemente.
-Parece que algo ou alguém não quer que eu me case com Amos – Eu disse ao perceber os dois pequenos que vimos na lembrança que tivemos em Hogwarts novamente. O garoto de uns onze anos, cabelos pretos e olhos verdes, estava segurando a garotinha ruiva de uns cinco anos, com olhos amendoados pelas mãos. Eles vinham até nós e eu avançava para ficar logo ao lado do Potter.

-Sentem-se – O garotinho comandou e eu, após olhar para Tiago, obedeci, junto com ele. Ficamos sentados enquanto as crianças caminhavam uma ao lado da outra, como se estivessem prestes a tomar uma decisão importante.

-E aí Sofie? Contamos ou não? – A garotinha sorriu para o menino, que deu um beijo na bochecha dela.

-Certo, acho que contamos. Eu não sei bem como começar, hum... Oi. Meu nome é Harry Tiago Potter e vocês dois são meus pais – Eu olhei para Tiago confusa. Apesar de saber que aquilo era absolutamente possível no mundo da magia – esses dois estarem falando conosco, digo – eu não entendia como nós dois poderíamos ser pais daquelas duas crianças no futuro. Afinal, será que eu estivera grávida do Potter ou do Amos? Eu achei que tinha perdido o bebê no começo dessa semana. Aliás, eu perdi esse bebê de certeza. Como eu poderia ter um bebê do Potter então?

-Isso é absolutamente impossível. Eu tenho que me casar com Amos, crianças, é melhor me levarem de volta ao meu casamento – Eu disse me levantando, mas o garoto fez um sinal com a mão e eu me forcei a sentar na areia novamente.

-Viemos para impedir isso. Nós nos deixamos ver naquela lembrança de vocês no hotel, e isso provavelmente mudou o curso das coisas. Vocês dois têm que ficar juntos ou eu e Sofie não nasceremos – Ele disse e eu olhei-os seriamente.

-E daí? Digo, não quero ser insensível nem nada, mas se vocês não existirem então nada vai mudar. Eu vou me casar com Amos hoje. Eu amo Amos, não seu pai – Esse “seu pai” saiu meio sem querer, e eu corei depois de falar. Céus, eu não corava desde a adolescência!

-Certo, mas se você casar com esse cara você vai ser infeliz. E, mãe, agente definitivamente não quer isso. Se você casar com Amos nem ao menos terá filhos, porque ele sempre vai estar ocupado e vai colocar a carreira dele acima de você. Sim, nós consultamos o outro lado... Você vai brigar conosco quando voltarmos e você entender o que é isso. – Ele terminou de dizer e se sentou na minha frente. – Mãe, é sério, Amos vai te fazer infeliz. Você e papai brigaram logo antes de sair do colégio porque você estava com dor de cabeça e ele estava ouvindo música no quarto ao lado. É sério, não sei por que vocês terminaram por uma coisa tão boba. Além do mais, vocês se amam – Ele afirmou sorridente e eu sorri de volta.

-Não, Harry. Eu amo Amos, já disse isso. – Repeti, mas notei que a minha voz saiu um tanto... “materna” demais.

-Mamãe, você diz todo dia que ama o papai e agora vem dizer que não? Não to entendendo mais nada – A pequena disse se jogando no meu colo, começando a mexer no vestido. Ela estava com carinha de sono então eu a mantive ali, acariciando os cachos ruivos.

-Tiago, por que você não fala algo? – Eu perguntei meio impaciente – Isso é loucura!

-Eu sei. Mas você sabe a minha opinião sobre isso. Eu a amo, Lílian, a amo mais que a minha vida. E sei que amo esses pequenos também, e faria tudo por eles. Nós seríamos ótimos juntos, Lily, mas você diz que não me ama, então eu não posso fazer nada. – Ele disse e eu senti aquela pontada no peito. Lutei contra as lágrimas.

-Eu... Eu não sei! Eu amo Amos, eu passei muitos anos da minha vida com ele, e ele me dá segurança! – Eu disse, mas Potter me interrompeu.

-EU te dei segurança, só VOCÊ não percebeu isso. Maior estabilidade do que a do meu amor por você, que durou desde os meus onze anos até agora, eu não conheço melhor. E você não o ama, dá pra ver na sua cara isso. Lily, ele foi tão egoísta que no dia do seu casamento ele só pensou na própria carreira! – Ele retrucou, mas eu retorqui:

-Ele tem que se preocupar com dinheiro, você nunca teve! Ele esperava ser promovido após estar estabilizado com o casamento! – Eu defendi Amos, mas percebi que as lágrimas começavam a surgir dos meus olhos. A pequena me abraçou pedindo para eu não chorar, e eu desejei que aquilo tudo acabasse.

Em um segundo eu abri os olhos e estava novamente ao lado de Amos no altar. Olhou para o homem que tinha um sorriso no rosto, mas os olhos permaneciam normais. Como se ele estivesse somente fazendo mais um negócio na vida dele.

Nos levantamos e Amos sorriu para mim, então eu comecei a prestar atenção no que o padre falava.

-Você, Amos Robert Diggory, aceita Lílian Sanders Evans como sua legítima esposa, jurando amá-la e respeitá-la na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na felicidade e na tristeza, para todo bem e todo mal, até que a morte os separe?

-Aceito.

-E você, Lílian Sanders Evans, aceita Amos Robert Diggory como seu legítimo esposo, jurando amá-lo e respeitá-lo na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na felicidade e na tristeza, para todo bem e todo mal, até que a morte os separe?

Eu olhei em volta, olhei para as minhas amigas que me olhavam em expectativa, e notei que nenhuma delas chorava. Não, elas esperavam que eu dissesse “não” àquela loucura. Observei também aquele bando de desconhecidos, que provavelmente iriam para a casa e falariam mal do camarão ou do salmão servidos no bufê, e diriam que eu estava maquiada demais ou calma demais para uma noiva. Olhei para Amos que esperava em expectativa a minha resposta. Os olhos dele ainda não tinham brilho algum além do normal. Ele não parecia estar feliz.

-V-você quer isso mesmo, Amos? – Perguntei á ele em um sussurro, e ele somente alargou o sorriso amarelo, assentindo com a cabeça. Pelo jeito estava com medo da vergonha que passaria se dissesse algo diferente.

Olhei para a bíblia nas mãos do Padre. Algo tão banal. Eu nunca quis um casamento na igreja trouxa, queria algo mais meu, algo sem aquelas regras, sem uma pessoa estranha me dizendo o que falar. Nada daquilo parecia ser o que eu queria. Nem ao menos Amos. Naquele exato momento eu percebi que não amava Amos, não como havia dito naquela praia. Ele era como um conhecido, ainda assim sua personalidade, seu real eu era um mistério para mim. Éramos como estranhos que decidiram viver juntos. Dei um longo suspiro e olhei para os olhos castanhos apertados do padre.

-Eu aceito.

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Sem comentários. Feliz natal.

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