O Inseto e a Flor
Ela no fundo sabia que apesar de criticar tanto o ruivo, o admirava imensamente, seu jeito meio inconseqüente, meio abobalhado, mas que jamais falhava diante de suas próprias ações e jamais traia a confiança dos que ele amava.
Na verdade o que estremecia seu coração angustiado era, diante exatamente do fato de ela saber que implicava tanto com ele, o entulhava de críticas, que não o deixava, na verdade, nem um segundo em paz, que ele não soubesse de sua admiração velada, que não soubesse ou não mais acreditasse no quanto ela o amava intensa e loucamente, e mais, que por isso, ou com isso, ele tenha passado a não mais admirá-la como nos tempos da escola, como antes do casamento, que ele não a admirasse a ponto de querê-la por perto até o fim da vida, ela temia, na verdade, que ele já não mais a amasse, que já não mais a quisesse, e o pior, que estivesse interessado em outra pessoa.
Ela sabia que sempre respondia suas tentativas de lisonjas com certa aspereza que não conseguia evitar, nem vencer dentro dela mesma. Ela sabia que isso era um mecanismo de defesa desde sempre desnecessário na relação dos dois. Inúmeras foram as vezes que ela acreditou que eles jamais se entenderiam, que o dialogo entre eles seria como o diálogo entre um sereiano e uma serpente. Mas cada noite quando se recolhiam lado a lado em seu leito conjugal, e que os olhares se cruzavam e uma aura de cumplicidade os envolvia, ela percebia que jamais a linguagem dos anjos lhes faltaria para lhes dar entendimento.
Mas porque agora, logo agora, em que ela precisava estar concentrada na missão, tantos temores descabidos a acometia. Porque não se abrira ao amado quando este a questionou, notou seu silêncio e a perguntou o que havia? Ela o conhecia e sabia que diante disso ele seria todo carinhos. Bem! Pelo menos não o respondera com a habitual rispidez. Como ele agüentava tanta rispidez? Era uma sua pergunta que latejava em sua mente.
Ela caminhava mecanicamente, apenas colocando um pé diante do outro. Mas tentava se manter firme.
Um brilho ao longe, no fundo da caverna, junto á uma afastada e resguardada parede, que parecia mesmo ser o limite, o final da caverna, mostrou que estavam se aproximando do objetivo magno. Ojesed estava ali, o espelho estava ali, logo adiante. Fechou os olhos por longos segundos sem suspender a caminhada automática. Tropeçou, quase caiu, todos riram, ela corou. Mas assim foi bem melhor. Isso a trouxe a tona, a trouxe de volta. Ela voltou à realidade do que estava engendrando, e em nome de quem. Era acima de tudo a encarregada da missão. Era o próprio ministério, era o próprio Shaklebolt naquele momento. Precisava agir como tal
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Eu sou do Engenho de Dentro e você vive no vento do Arpoador
Eu tenho um jeito arredio e você é expansiva, o inseto e a flor
Um torce pra Mia Farrow O outro é Wood Allen
Quando assovio uma seresta Você dança havaiana
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