O moreno
-Bom dia Lil! – Ele me abraçou por trás, fungando no meu pescoço, no meio do salão principal. Mas ficou parado assim, aturdido, ao ver que eu não me viraria ou o estapearia.
Não, naquele dia eu estava particularmente mal. E qualquer coisa que fizessem pra mim, acho que eu ficaria paradinha ou passaria reto, ignorando completamente.
Ele então foi me soltando devagar, e me virou para ele. Eu continuei encarando o chão.
-O que que você tem hoje, doçura? – Tá, isso foi brega, Potter.
-Nada. – Eu respondi tentando sair dali, mas ele me segurou. E ele não parecia convencido.
-Tá certo – Ele começou com sarcasmo, se abaixando pra ficar da minha altura – Eu te abraço, te chamo pelo apelido e você não faz nada? Você ta estranha há uma semana, Lil – Ele me falou colocando uma mecha do meu cabelo pra trás da orelha, e eu só desviei o olhar, virando a cara levemente pra ele.
-Lilyê – Argh, Potter, me deixa em paz!
Tá,eu queria dizer isso, mas eu não disse.
To cansada demais até pra brigar.
To triste.
De imaginar que aquele maldito coiso loiro pode ficar com o Potter e se dizer “vencedor”. Como se agente tivesse competindo. Porque pelo jeito que ele ta agindo comigo, abraçando o Potter e olhando pra mim, parece que é isso que ele quer fazer.
Eu não sei porque, mas não gosto disso.
E, eu comecei a odiar lufos.
Porque eles tão sempre de bem com a vida, são perfeitos e ficam bem de amarelo. E talvez seja por isso que o Potter goste mais deles do que de mim. Imagina, até os meus cabelos são vermelhos!
-Lily, dá pra responder? – Ele pediu mais uma vez, e eu bufei.
-Não, não dá – E dizendo isso eu me virei de lado, pegando uma torrada e enchendo a boca com uma generosa mordida.
-Que atitude mais infantil, Lílian – A coisa loirosa e ultra-lufana chegou falando, colocando uma mão no ombro do Potter, que olhou para ele sorrindo como se não houvesse amanhã.
Okay, eu tenho que ir na enfermaria. Não é possível que um estômago dê tantas cambalhotas assim, uma atrás da outra. Acho que o pobre pensa que vai poder sair de dentro de mim e competir nas olimpíadas, aquelas de saltos ornamentais.
Só pode.
-É Lily, fala comigo – O Potter CONCORDOU com a coisa loirosa. E me chamou de INFANTIL.
Ah ótimo, era tudo o que eu precisava pra completar meu circo hoje, eu sou a palhaça.
-Deixa ela pra lá James, ela deve estar de TPM – Grunhi indignada, com a boca cheia de torrada, sem poder protestar.
-Certo, então vamos tomar café? – O Potter começou a me ignorar. Oh Gosh, ele vai tomar café... Na mesa dos lufas?
O mundo está perdido. É o apocalipse! Salve-se quem puder, corram para as colinas!
Enfiei mais um pedaço de torrada na boca e peguei a minha mochila, indo rapidamente para fora do salão.
Me sentei nos jardins, embaixo de uma árvore. A árvore que o Potter estava com a coisa loira.
Peguei um pedaço de pergaminho, uma pena, meu tinteiro e comecei a escrever.
Por Lily Evans
1 - Porque eles ficam dando em cima da pessoa que você gosta. E fazem você notar que não gosta nada nada disso.
2 - Porque eles são irritantemente legais. O tempo todo. E fazem você perceber que não o é.
3 - Porque eles querem abraçar quem gostam á toda hora, e ficam querendo ajudar essas pessoas também. Só que você começa a perceber que não quer que eles abracem um certo alguém, e não entende muito o porquê disso.
4 - Porque eles fazem você querer ficar tão bem quanto eles vestindo amarelo.
5 - Porque eles são tão lufos que até o Potter acha impossível odiá-los por mais de cinco minutos. Isso que ele odeia o Snape, que nunca fez nada pra ele.
6 - Porque eles podem ser incrivelmente dissimulados. E falsos.
6.1 - E gays.
7 - Porque eles parecem querer competir com você pela atenção de uma certa pessoa. Tipo, não que você vá competir por uma coisa idiota dessas. Mas eles fazem você ter vontade de fazê-lo, o que é pior ainda
8 - Porque eles tocam o Potter constantemente. E, de um jeito estranho, você começa a desejar que eles parem.
Imediatamente.
9 - Porque eles são perfeitos, e estão em perfeita harmonia e sintonia com todas as coisas vivas, e todo mundo acha isso lindo. E você não. Porque isso te irrita profundamente, já que você sente que é tudo fachada deles. E por isso, você é taxada de errada, anti-social e recalcada.
10 - Porque eles fazem você querer chamar tanto a atenção do Potter quanto eles chamam.
10.1 - Mesmo que você não saiba bem o que isso significa.
10.2 - E mesmo que você saiba que nunca conseguiria.
Parei de escrever e reli tudo rapidamente. Certo.
Nunca pensei que ia estar nessa situação.
Abracei os meus joelhos e fiquei olhando pro lago. E então notei um barulho de grama sendo pisada, e quanto olhei pra trás, vi um garoto. Moreno, os cabelos bem lisos, os olhos quase dourados. Ele estava apoiado com a lateral do corpo na árvore, as mãos nos bolsos displicentemente.
E ele vestia amarelo.
-Lílian, não é? – Ele me perguntou e eu assenti com a cabeça. – Eu imaginei. Até mesmo em Hogwarts não é muito comum cabelos tão ruivos quanto os seus – Ele se aproximou e se sentou do meu lado, e imediatamente eu achei estranho.
-E você é...?
-Nathaniel. Me chame de Nate, por favor – E me estendeu uma mão, extremamente cordial. Mas ele não parecia ter aquela... Coisa falsa dos lufas. Ele era... Normal. Doce, sereno. E tinha um leve sorriso sobre os lábios enquanto falava comigo.
Aceitei a mão e formulei mais uma pergunta, latente em minha cabeça:
-E como sabe de mim, Nathaniel? – Gostei do som do nome inteiro, mas ele fez uma careta.
-Todos escutam histórias sobre você. E sobre o Potter, logicamente – Ele abraçou os joelhos também, com as pernas meio cruzadas, parecendo extremamente confortável.
-Que tipo de histórias? – Eu perguntei novamente, meio ingênua, acho. Ele riu.
-Histórias que fizeram Daniel perder a cabeça, pelo que me consta – Ele disse com pesar, o sorrisinho se mostrando triste, então. E aí eu liguei as coisas.
-O Daniel que anda com o Potter agora? – Eu perguntei e ele assentiu com a cabeça, dando uma risada meio triste. – Você... Você gosta dele? – Perguntei com cautela, vendo-o observar o lago, meio perdido.
-Mais do que deveria, acho – Ele disse e eu suspirei levemente – Éramos amigos de infância, chegamos a namorar por alguns meses. Mas aí ele mudou e começou a namorar um outro rapaz, e agora... Nem parece o garoto legal que eu conheci. E você, o que faz aqui sozinha?
-Precisava de tempo para pensar. – Omiti sobre o que pensava, mas ele não pareceu se enganar.
-É, eu sei. Eu vi o que Daniel tem tentado fazer á você. E ouvi ele falando do que ainda pensa em fazer – Eu me surpreendi, e me pus a encará-lo – Ele está obcecado pelo Potter, e acha que isso é alguma espécie de competição entre você e ele. – Eu notei que era realmente doloroso pra ele falar sobre isso. – O que é isso? – Eu corei quando ele pegou o papel com os motivos, no qual ele havia sentado sem perceber.
Eu até tentei pegar o papel de volta, mas ele foi se inclinando para trás enquanto eu me inclinava sobre ele, e ele ainda sorria enquanto lia. E logo ele deu uma gostosa gargalhada e eu tentei com mais vontade arrancar aquilo das mãos dele, mas ele já estava deitado, e eu notei que estava em cima dele.
Quando ele terminou de ler, ainda dando “olés” em mim enquanto eu tentava pegar o papel, ouvimos um barulho estranho, como um grunhido ou algo do gênero. Então olhamos para o lado, e vimos o Potter olhando para nós, emburrado, e o tal do Daniel tentando fazê-lo voltar para dentro do colégio, exigindo a atenção dele somente para si.
Mas ele não parecia ouvir. Ficou parado olhando para mim e Nate, que agora olhava para mim e sorria malicioso.
-Parece que alguém não gostou muito de te ver em cima de mim – Ele disse risonho, devolvendo o papel para mim, enquanto nos sentávamos.
-Sinceramente, eu não me importo muito. Se você não fosse gay, seria bem aproveitável – Eu disse brincalhona, mas ainda corada por ele ter lido aquilo tudo.
-Você sabe que está apaixonada por ele, não sabe? – Ele me perguntou e eu assenti levemente com a cabeça.
-Entendi isso há alguns minutos atrás, quando li o que estava escrito aqui – Eu falei e ele riu.
-E depois desses alguns minutos você está simplesmente confraternizando com o inimigo. Decidida você, não?
-Certo, não é como se eu gostasse de vocês – Eu respondi, mas não consegui deixar de rir das brincadeiras dele.
-Mas pelo menos me achou aproveitável. Já é um começo – Ambos rimos e observamos o lago, os pensamentos perdidos.
Engraçado como eu me sinto... Hun... Confortável, com ele. Seilá, ele daria um ótimo amigo. Mesmo.
Foi aí que olhamos para a porta do castelo, e vimos que o Potter estava sentado nas escadas, ainda nos encarando fixamente.
-Então ta, ele é um maníaco – Nate falou olhando pro Potter tipo “dude!”, estranhamente, e eu olhei também, por cima do ombro dele. – Parece que ele vai me comer o couro se eu não sair de perto de você logo. E, sabe, isso até seria legal, se a idéia dele de “comer o couro” não fosse completamente diferente da minha –Ele falou se levantando e eu ri.
-Não fica mais triste por causa dele não, você tem um sorriso lindo – Ele falou e eu continuei sorrindo – Foi bom te conhecer, Evans – Ele me estendeu a mão, brincalhão, e quando eu a aceitei ele me puxou, fazendo eu me levantar e dando um beijo na minha testa – Se cuida.
E dizendo isso ele se virou, colocando a mão de novo no bolso da calça bege, andando descontraidamente, assobiando algo que eu não pude identificar. O acompanhei com o olhar, e vi quando ele deu uma batidinha amigável no ombro do Potter, que ficou bravo.
Meldels, o que será que o Nate fez?
O Potter então entrou no castelo imediatamente, e eu aproveitei a deixa para me escapar, correndo direto para a aula.
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