reliquias de família



Harry não quis fazer nada às pressas. Tinha adquirido experiência suficiente em erguer e ocultar acampamentos durante o famigerado período de caçada a horcruxes. Por isso decidiu ir até a cozinha. Definitivamente um lugar muito pouco afetado pela tragédia. Harry sentia que conhecia instintivamente bem aquela casa onde teria crescido alegre ao lado de seus pais, se isso não tivesse sido roubado tão cruelmente dele.

Atravessou a pequena sala de jantar onde uma pequenina, bonita e rústica mesinha em madeira crua de quatro lugares estava intacta, apesar de empoeirada. Havia sobre ela um delicado vaso tombado e fragmentos ressequidos do que outrora deve ter sido um belo buquê de flores.

Atravessou a porta à frente da anterior e viu uma panela muito enferrujada ainda sobre o fogão. Havia uma crosta de poeira cobrindo todo o local, e vários potes onde provavelmente sua mãe armazenava os mantimentos estavam tombados, assaltados por animais. Havia ainda um porta-retratos caído e coberto por uma grossa camada de pó e teias de aranha, também as fezes pequeninas de algum animal pequeno.

Harry fez questão de apanhá-lo. Limpou-o na própria roupa e qual não foi sua surpresa. Ele estava com um aninho, no colo de um sorridente Dumbledore, com Minerva logo ao lado, e seus pais, Sirius, Lupim, Os Longbotton (incluindo Neville) todos ali reunidos. Milagrosamente o feitiço que mantinha as fotos em movimento estava intacto. Essa relíquia Harry preferiu guardar na bolsinha felpuda que Hagrid lhe dera no seu décimo sétimo aniversario; quase não coubera, mas com o devido feitiço de elasticidade, o porta-retratos passou pela estreita borda e se acomodou justinho no interior da carteira.

E na mão direita harry empunhava duas varinhas até agora: a dele próprio e a de seu pai que ele encontrou no exato lugar que ele vira nas memórias de Voldemort. Sem dúvida que por ali ele não encontraria mais muita coisa. Voltou para a sala onde tinha uma vastidão de porta-retratos, que foram todos para dentro da bolsinha de contas dd Hermione.

A escada, que ficara intacta, embora meio titubeante na parede à direita da sala chamou agora a atenção de todos. Sem duvida que a parte mais interessante estaria ali em cima, no segundo andar, mas seria muito arriscado subir aqueles incertos degraus, mais arriscado ainda galgar os poucos pedaços de assoalho que permaneceram ao lado direito da casinha. Sem duvida que fora ali que o horripilante bruxo desferira a maldição contra Harry, e onde ela explodira de volta pra ele.

Decidiram desaparatar e aparatar ao lado esquerdo da casa. Deliberaram e determinaram como destino o piso acima da cozinha.

O quarto dos pais de Harry, apesar de empoeirado, também estava intacto, e ali, caída ao chão, ao lado de um singelo criado mudo tombado, estava a varinha que certamente pertencera a Lílian Potter. Também ela enfrentou voldemort desarmada. E definitivamente Harry percebeu que os pais deliberadamente não pretendiam reagir diante de Voldemort. Harry a apanhou carinhosamente e a juntou às outras duas que já estavam em sua mão direita. Harry agora sentia outra obsessão subir-lhe queimando ao cérebro diretamente do coração: iria reerguer a casa de seus pais e ali moraria com a Gina... Ali moraria com a Gina.... será que moraria com a Gina? E de um súbito de plena consciência percebeu: Desejava ter Gina para o resto da vida. Em não muito tempo pediria a mão da ruiva em casamento. Estava decidido. Mas será que ela iria aceitar?

Ainda agachado diante do criado mudo Harry começa a erguer o móvel. Ao menos isso ele iria fazer: erguer o criadinho do quarto de seus pais. Ao fazer isso uma das gavetas se abriu. Ali ainda se mantinham guardados inúmeros pertences de seus pais. Harry queria guardar tudo o que encontrava na bolsa de Hermione, mas mesmo com o feitiço de expansão tão bem executado por ela, a bolsa já estava transbordando,e não caberia. A melhor atitude seria manter a casa sob os feitiços protetores de Dumbledore e Minerva e pesquisar para restaurar tudo o quanto antes, e ali tudo permaneceria intacto, como até agora se manteve.

Mas ainda assim Harry queria procurar, ver, tocar em todos os objetos, senti-los, e continuou a abrir todas as gavetas, todos os lugares possíveis, as portas do guarda-roupa, tudo. E foi em uma pequena cômoda, na última gaveta que ele encontrou algo que realmente disparou seu coração. Um enorme recipiente de vidro, muito bem fechado, com algo prateado dentro, que ao mesmo tempo parecia um liquido condensado e um gás. Harry não confundiria aquele conteúdo jamais. Eram lembranças. E muitas delas. Nunca tinha visto antes tanta lembrança armazenada no mesmo recipiente, mas não havia duvidas quanto à natureza daquela incomum substância mágica. Junto deste recipiente estava um envelope. Harry o tomou e logo reconheceu a letra. Idêntica à letra contida na carta que encontrara no quarto de Sirius, que ela havia remetido a ele para agradecer o presente de um aninho que ele mandara a Harry.

Seu coração que desde quando chegaram ameaçava parar, se despedaçou de imediato quando leu o destinatário, ou melhor OS destinatários.

“Para Harry Potter & Neville Longbotton
De
Papai e mamãe:”

Harry sabia que não conseguiria ler, não conseguiria nem sequer falar, emitir voz agora, e por isso entregou silenciosamente a carta a Neville. Este também não conseguira nem sequer se manter de pé. Ia deixando a carta escorregar pelos dedos da mesma forma que as lágrimas escorreram quentes e doloridas de seus olhos, quando Hermione a tomou delicadamente, rompeu o selo que a mantinha fechada e retirou o papel dobrado de dentro do envelope.

_Eu posso ler?

Diante do total silêncio, Hermione compreendeu que era necessário que ela lesse, ou ninguém, por mais que desejassem saber o que estava escrito, seria capaz de fazê-lo.

“Queridos Harry e Neville: esta carta foi escrita a quatro punhos na linda caligrafia de Lily. Adoraríamos entrega-la pessoalmente, mas sabemos que não poderemos. Conhecemos nossos destinos e infelizmente sabemos que não será ao seu lado, os vendo crescer. E por isso decidimos deixar para vocês esse presente. Sabemos que serão amigos pois estarão em Hogwarts na mesma época, e por isso sabemos que quando isto for encontrado, os dois com certeza terão acesso às nossas lembranças. Vocês poderão compreender todos os motivos de nossas ações, vão compreender todos os perigos que todos corremos em nosso tempo, e principalmente nós quatro, por causa dos desmandos de Você-Sabe-Quem. Muita coisa há que vocês dois e, provavelmente alguns amigos que estiverem com vocês os ajudando precisarão saber. E boa parte dessas coisas será esclarecida através de nossas lembranças que quisemos manter intactas e disponíveis a vocês. E como sabemos que já que encontraram esta carta juntamente com o recipiente das lembranças, sabemos que estão na casa em Godric’s Hollow. Muito há que se encontrar e resgatar nessa casa. Por isso averigúem com cuidado, e não deixem de dividir isso com dumbledore, ou, se ele por algum motivo não os puder atender, com Minerva. Estes dois poderão sem duvida ajuda-los a entender tudo.

Filhinhos. Fiquem o melhor possível, e parabéns pela vitória que, temos certeza, alcançarão.

Tiago Potter, Lily Potter, Frank Longbotton, Alice Longbotton.”


As quatro assinaturas carregavam caligrafias diferentes da que prevalecera por todo o texto da carta. Provavelmente pertencentes aos donos das assinaturas. Harry não chorava, mas estava com o rosto contraído e com os olhares perdidos na garrafa selada de vidro transparente. Neville também fitava o vidro sobre a cômoda, mas com os olhos muito úmidos de lágrimas abundantes. Isso definitivamente precisaria encontrar espaço dentro da bolsinha de Hermione. Tentaram mas não conseguiram.

_Podemos terminar de vasculhar e depois a gente olha o que podemos tirar para caber as coisas mais importantes para levarem para a hospedaria, e depois voltamos pra buscar mais algumas coisas.

_Sim, mas é verdade, precisamos continuar a procurar. Eu sei que há mais coisas para serem encontradas. Dumbledore e McGonaghal deixaram isso bem claro naquela lembrança.

E todos saíram pela porta do quarto dos Pais de Harry e se depararam com um corredor pouco iluminado, mas com bastantes luminárias pendendo do teto, ainda com resto de cera de velas presa nas bordas dos castiçais. Outrora ele com certeza era bem iluminado e singelamente decorado. Seguiram e encontraram primeiramente a porta de um não muito grande, mas muito bem elaborado banheiro, onde tinha uma gostosa banheira, uma bonita pia e cujo piso era de um azul delicado e claro, todo coberto de sujeiras. Harry julgou um tanto inútil vasculha-lo naquele momento. O que poderia ter ali? Mas quando já estavam todos mais adiante, quase chegando à outra porta diante das escadas, Gina chama não muito alto pelo nome de Harry. Ele sobressaltado se vira rapidamente e a vê parada diante da porta do banheiro.

_Que foi Gina?

_Tem.... uma.... mais uma.... tem....

_Uma varinha aqui Harry. – completa Rony que. Preocupado retorna para perto da irmã e vê claramente o que ela estava apontando.

_Mas como pode ser? Já encontrei as duas varinhas, a do meu pai na sala, onde eu sabia que estaria, e a da minha mãe no quarto, não pode ter outra varinha. A de Voldemort não ficou aqui, os comensais conseguiram recupera-la de alguma forma.

_Não sabemos Harry, - diz Jorge – não sabemos de quem é a varinha, nem como veio parar aqui, só sabemos que ela está aqui. – e a apanhou e levou até Harry, que a pegou, examinou.

Sentia no seu íntimo que a varinha de sua mãe era aquela que já estava reunida às outras duas em sua mão, mas que varinha era aquela? E se aquela é que fosse na verdade a de sua mãe? Não, tinha certeza, ele sentira quando tocou a varinha encontrada no quarto.

Mas por via das duvidas juntou mais essa às outras na mão.

E enfim chegaram à porta do quarto que fora de Harry bebê. Esta estava dilacerada, pendendo em apenas uma dobradiça, as outras quebradas. O chão próximo à porta todo destruído e apenas uma pequena parte do assoalho se mantinha de pé, na parede oposta, onde estava o bercinho tombado.

Todos se sentiram tomados por extrema ternura por Harry e quiseram ir até o pequenino leito para erguê-lo do chão, mas definitivamente não havia como ir até lá caminhando e sabiam que precisariam novamente aparatar ali, mas o fragilizado chão sederia ao peso dos sete. Suportaria apenas um, no máximo dois.

_Mione, Ron, eu vou até lá, e só posso levar um comigo. Espero que não fiquem chateados, mas eu gostaria de levar o Vill comigo. Eu o quero comigo agora.

_Não poderia ter feito melhor escolha Harry.

_Isso mesmo. Sem problemas.

E Harry pegou Neville pelo punho e juntos sumiram no ar reaparecendo três metros adiante, bem rentes à outra parede. Não havia muita coisa inteira. Havia próximo ao berço o colchãozinho chamuscado, com um enorme buraco no meio, uma mamadeirinha partida, uma fadinha de pelúcia. E na outra extremidade do quarto estava caída ao chão, incrivelmente intacta, uma vassourinha de brinquedo, provavelmente a que Harry ganhara de Sirius por seu primeiro aniversário. Harry a tomou com mãos trêmulas. Era idêntica a uma genuína vassoura de qualidade, porém bem menorzinha. Pode ler em letras desbotadas ‘comettoys’. Ergueu-a na direção de Hermione e ela, sagaz, a trouxe pra si com um simples feitiço convocatório.

Depois foi averiguar o destruído berço. Sempre com um emocionado Neville aos calcanhares. Nenhum dos dois conseguia sentir medo de o resto do assoalho ceder debaixo de seus pés.

Harry percorreu com os olhos e com a palma da mão toda a extensão do pequeno móvel tombado. E quando os olhos chegaram próximos á cabeceira, no estrado, puderam vislumbrar aquele minúsculo objeto dourado, que parecia ser ornamentado com uma minuciosa pintura.

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