Dois



- Boa noite, Potter. – ela disse, vendo-o entrar na enfermaria quase se arrastando.
- Boa pra você. – ele respondeu.
Ela riu do mau humor dele, o que o deixou mais irritado.
- Realmente ótima pra mim, todo o trabalho que eu teria agora pertence a você. – Ela disse, mostrando a ele várias caixas cheias de pequenos vidros. – Coloque-os na ordem que indica nas prateleiras.
Ele soltou um muxoxo e puxou a varinha das vestes.
- Sinto muito, mas é sem varinha. Essas são as regras. – ela disse, e com um aceno ligeiro da própria varinha, a dele veio direto para uma das mãos da garota. – Tenha uma excelente detenção, senhor Potter.
Ela deixou o lugar rindo.
O mau humor dele estava transbordando pelos poros do rapaz. E ela sentia-se vingada: a professora McGonagall o havia encontrado numa situação bem critica com uma garota da Lufa-Lufa num armário de vassouras nas masmorras.
- Bem feito! – ela murmurou.
Guardou a varinha dele nas vestes e atravessou o Saguão de entrada, dirigindo-se a Torre da Grifinória.
Ela tinha raiva de si mesma por gostar dele... Tentava odiá-lo, ou ao menos esquecê-lo... Mas era impossível.

É uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor pretensão de acontecer


Tinha um futuro planejado, metas e objetivos traçados. E, com certeza, ele era o tipo de pessoa com a qual ela jamais se envolveria.
Mulherengo, safado, adorava quebrar regras, e bebia bebidas extremamente alcoólicas as escondidas durante os passeios a Hogsmeade.
Respirou fundo ao atravessar o quadro da mulher gorda.
Não ia contar aquilo a ninguém. Ia passar. Tinha certeza disso. Paixonite passageira, daquelas que vem e vão como chuva de verão.
Estava torcendo pra passar.
Mas... E se não passasse?
Paciência.
Ninguém precisava saber.
Era ela quem ia ganhar, ou perder.
Quem ia sofrer...
Não precisava acontecer.
Ia ficar como estava, pelo tempo que fosse.
Afinal, se num futuro distante ou não, não fosse nada daquilo que ela imaginava, só caberia a ela esquecer.

***


Passava um pouco da meia noite, quando ela já fazia o caminho de volta depois da sua ronda.
- Hei, menina dos livros! – ela chamou, num tom controlado, para não chamar atenção.
Ela olhou em volta e o viu vindo em sua direção.
- Sim?
- Terminei. Quero minha varinha de volta. – ele disse, rabugento.
- Tenho que verificar se o serviço ficou bem feito, depois devolvo sua varinha.
Ele bufou, vendo-a tomar o caminho pra a enfermaria num andar imponente.
Era óbvio que ele não tinha feito o serviço a ponto de se dizer que estava bem feito.
Mas, pra ele, também era óbvio que ela não duvidaria de Harry Potter.
Estava exausto, ainda tinha que agüentar aquele autoritarismo debochado dela.
Respirou fundo buscando todo seu auto-controle e adiantou-se para alcançá-la.
- Menina dos livros... – ele chamou, num sussurro, aproximando-se perigosamente dela, fazendo-a parar.
- Sim? – ela disse, olhando-o com uma firmeza estrondosa, sem deixar transparecer por um segundo que fosse, o fato de seu coração estar pulando acelerado no peito.
- Vamos fazer assim... – ele sorriu aquele sorriso. Ela continuou impassível, ele começou a achar que seria impossível conseguir alguma coisa com ela, da forma que estava acostumado. – Você devolve minha varinha agora, e eu finalmente poderei descansar, depois de passar a tarde inteira treinando um time e parte da minha noite enfileirando frascos. Você vai verificar, e o que estiver errado, amanhã eu arrumo.
Ele deu mais um passo, ela não recuou e até sorriu. Nesse momento o sorriso dele aumentou, certo de que conseguira dobrá-la. “Igual às outras... Todas iguais... Consegui mais essa!”, ele pensava, envolvendo os olhos de avelã dela nos seus.
- Potter...
- Harry. – ele disse, finalmente prensando-a contra a parede. – Me chame de Harry.
Ela sorriu ainda mais.

Pode até parecer fraqueza - Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá - Isso vai sem eu dizer


- Harry. – ela disse, ele piscou pra ela. Como num jogo, ele já sabia exatamente o que fazer. – Não vai conseguir me comprar com seu joguinho de sedução barato, querido.
O sorriso dele sumiu, o dela se alargou.
- Precisa de muito mais que isso para conseguir me enganar. – ela continuou, vendo o rosto dele ficar sério, numa frustração explicita. – Tente usar sua inteligência da próxima vez, porque seu sorriso bonito comigo não funcionou.
Ela se desvencilhou dele, e voltou a se dirigir a enfermaria, deixando o sorriso escapar de seus lábios como água entre os dedos.
Ele pensava o que?
Que ela era como as outras?
Jamais.
Não se rebaixaria ao nível delas.
- Melhor vir comigo, Potter. – ela disse, reparando que ele permanecia parado onde ela o deixara. – Ou mandarei Filch chamá-lo para consertar o serviço errado.


Eles entraram na enfermaria e ela logo se dirigiu aos armários para verificar o que ele tinha feito.
Ele se sentou em uma das macas esperando que ela visse que fizera tudo sem prestar atenção, e teria que refazer.
A garota começou a demorar demais, ele se deitou na maca em que estava e fechou os olhos.
- Potter? – ela chamou, minutos depois. – Potter? – ela se virou e o viu dormindo, com a respiração lenta e ritmada. Ele perdia todo aquele orgulho arrogante que estampava seu rosto durante o dia, parecia tão mais real ali, assim... Tão vulnerável.
Ela não pôde evitar um sorriso sincero ao se aproximar dele.
- Potter... – ela chamou, com suavidade. – Potter...
Ele se mexeu, abrindo os olhos de repente.
- Desculpe... Eu... – ele pareceu envergonhado. Sinceramente envergonhado. – Fiz tudo errado... Não devia estar dormindo aqui... Eu... Desculpe...
Ela riu docemente.
Ele se sentou desajeitado. A observou. Ela parecia bem menos autoritária quando ria daquela forma, perdia toda aquela pose de menina mandona.
- Tudo bem... Vá dormir. – ela disse, estendendo a varinha para o rapaz, que a olhou sem entender.
- Tenho que arrumar o que eu fiz de errado.
- Não... Arrumo isso em cinco minutos. Vá dormir, você está precisando.
Ele a fitou e sorriu.
Ela reparou que não era aquele sorriso sedutor, de senhor do mundo, que conseguia qualquer coisa a hora que quisesse. Era simplesmente um sorriso que não tinha segundas intenções. Era o sorriso dele, pura e simplesmente.
- Menina dos livros, eu...
- Não se preocupe Potter. Eu resolvo isso e ninguém vai ficar sabendo que cumpriu sua detenção pela metade. – ele abriu a boca para argumentar, mas ela o interrompeu. – Aproveite, pois eu não sou boazinha assim sempre. Na verdade... Nunca. Agora apanhe sua varinha e vá dormir, antes que eu mude de idéia.
Ele pareceu desconcertado diante daquele gesto. Nunca ninguém lhe fizera um favor sem esperar nada em troca.
Harry pegou a varinha da mão dela e se pôs de pé.
- Obrigado.
- Não se preocupe. – ela disse, dando as costas pra ele, voltando às prateleiras.
- Menina dos livros? – ele chamou, já a porta.
- Hum? – ela murmurou, prestando atenção nos movimentos que fazia com a varinha, enquanto os vidros levitavam e se ajeitavam ordenadamente em seus lugares.
- Desculpe... Àquela hora no corredor, lá em cima. – ele disse, em voz baixa. Se sentia extremamente envergonhado pelo que fizera, ela devia ter se sentido ofendida. A confundira com todas as outras...
Ela virou-se pra ele e o fitou.
- Desculpe se a ofendi... Não quero que pense que eu acho você...
- Tudo bem, Potter. Eu já entendi. – ela respondeu.
- Não. – ele disse com veemência. – Não entendeu... Entendeu errado. Não devia ter te tratado daquela forma, você não merecia...
Ela voltou a fitá-lo, mas dessa vez ela sorriu, o que o fez sentir-se aliviado.
- Tudo bem, Potter. Não se preocupe. Está desculpado. – ela falou, voltando aos frascos.
Ele deu as costas para sair da enfermaria, mas girou sobre os calcanhares.
- Menina dos livros? – tornou a chamar.
Ela murmurou qualquer coisa dando sinal de que ouvia.
- Qual é o seu nome?
Ela tornou a fitá-lo.
Eles sorriram, juntos.
- Hermione. Hermione Granger.
- Boa noite, Hermione. – ele disse, lançando um olhar totalmente oposto àquele que lhe lançara no corredor enquanto tentava “conquistá-la”.
- ‘Noite... – ela respondeu.

***


Ela entrou no corredor com sua costumeira pilha de livros e parou de súbito.
Uma roda de garotas se acumulava no corredor, em volta de Harry e os outros rapazes do time.
De repente ela se sentiu uma idiota.
Acreditara numa coisa que não era real. Acreditara que ele podia ser diferente daquilo que parecia... Se enganara amargamente.
Tola.
Passou pelo grupo como um raio, estava acostumada a não ser notada.


Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer



- Boa tarde. – ele disse, passando ao lado dela no corredor durante uma troca de aula.
Ela o encarou com frieza, e com um aceno da cabeça passou por ele.
Harry estranhou.
Onde fora parar toda a amabilidade da noite passada?
A garota mandona e sabe-tudo voltara a encarnar?
Ou ela tinha períodos de “doce” e “amarga”?
Por Merlim?
O que dera nela?


- Droga! – ela gritou, no meio do corredor parcialmente escuro e deserto. O eco fez-se ouvir por muito tempo, ela acendeu a ponta da varinha e iluminou o chão. Devia ter uma dúzia de livros que haviam caído, todos eles com pergaminhos cheios de anotações dentro. – Ah, que ótimo.
Ela prendeu a varinha entre os dentes e se agachou para apanhar toda a bagunça que fizera.
- Tente pegar menos livros da próxima vez... – a voz murmurou, com graça, as costas dela. – Dará menos trabalho para recolher.
Ele se abaixou e fez menção de ajudá-la, mas a garota segurou o braço dele, enquanto tirava a varinha dos dentes.
- Não pedi para que me ajudasse. – a voz dela soou cortante.
Ele não se moveu, assim como ela.
- O que houve? – ele perguntou, segundos depois, tentando fitá-la, mas a pouca luz do corredor o impedia de ver com nitidez.
- Porque não me deixa em paz e volta para sua vidinha de garoto popular no meio daquele bando de vagabundas que não te deixam em paz? – ela falou, agressiva, soltando o braço dele.
- Do que está falando? – ele perguntou, sem entender absolutamente nada, entendendo absolutamente tudo.
Sim, simplesmente paradoxal.
- Só quero que me deixe em paz. – ela disse, num sussurro, com a voz embargada. – Quero que me deixe em paz... Não quero te envolver nisso.

O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber


- Não quer me envolver em que...? – mas ela se levantou, acenou a varinha para as coisas que se ajeitaram precariamente numa pilha e saiu andando com pressa, deixando-o ali parado.
Era tarde demais para deixá-la em paz... Era tarde demais para que ela lhe pedisse tal coisa.
Não importava o que fosse, ele já estava envolvido como nunca estivera antes.
Ela parecia tão irreal... Tão intocável, diferente de todas as outras.
Tão irreal para a realidade dele, que só tinha capacidade para sorrir um belo sorriso e conseguir uma garota fácil.
“Não vai conseguir me comprar com seu joguinho de sedução barato, querido.”
Ele jamais chegaria aos pés dela... Era correta demais para ele... Era suficientemente inteligente para nunca se interessar por uma pessoa como ele.
Precisa de muito mais que isso para conseguir me enganar. Tente usar sua inteligência da próxima vez, porque seu sorriso bonito comigo não funcionou.
O que ela poderia ver nele? O cara do sorriso bonito, que só tem esse subterfúgio para conseguir o que quer que seja?
Era muito pouco... Era pobre de espírito.
O cara que já saiu com quase todas as garotas daquela escola? Com exceção dela.
Tinha uma vida patética demais para ela... Ele era pateticamente ridículo.
Porque não me deixa em paz e volta para sua vidinha de garoto popular no meio daquele bando de vagabundas que não te deixam em paz?
É... Não havia como mudar.
Era fato.
Ele era nada perto dela.
Podia vê-la lá no alto, em um pedestal. E a única coisa que podia fazer era observá-la de longe.

Eu gosto tanto de você - Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar - Subentendido


Apenas de longe.


***

N/a: Eu já disse pra vocês que eu amo essa fic???

Se não: gente, eu amo essa fic!

Sério mesmo... Me sinto ótima por tê-la escrito.

Ai, ai....


Então, é isso aí!

Comentem bastante.

E muitíssimo obrigada a todos que comentaram.. Assim que der eu irei respondê-los.

Amo vocês.

Beijooo.

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