Três

***

Uma vertigem a fez parar no meio do corredor escuro.
As coisas que segurava caíram no chão e ela não se importou. Levou a mão a cabeça sentindo tudo a sua volta girar e girar sem parar.
Seu equilíbrio foi-se embora e seu corpo quis ceder, mas alguma coisa a aparou.
- Você está bem? – a voz dele soou preocupada.
- Eu... – mas ela não viu mais nada, tudo ficou escuro e nada mais foi sentido.
- Hermione! – ele chamou, mas a garota desmaiara em seus braços.
Ele a pegou e saiu em passos rápidos corredor a fora, olhando preocupado para a garota inconsciente em seus braços.

***

Seus olhos abriram-se lentamente, uma luz tênue iluminava o lugar, ela tentou distinguir onde estava.
Enfermaria.
Virou cabeça com dificuldade, viu alguns frascos de poções em seu criado mudo.
O que acontecera?
Só se lembrava de estar andando pelo terceiro andar.
Não vinha se sentindo bem há algum tempo. Será que estava com alguma coisa grave?
Apoiou as mãos no colchão para tentar se sentar, mas a tentativa foi em vão. Estava fraca, desmoronou na cama outra vez.
Alguma coisa chamou sua atenção. Uma coisa desorganizada e extremamente negra estava ao seu lado na cama.
Ela não via direito, estava fora do seu campo de visão. Esticou sua mão e tocou, sentiu os cabelos macios dentre seus dedos.
- Ah, que bom que acordou. – ele murmurou, levantando a cabeça.
- O que está fazendo aqui?
- Estava dormindo, confesso. – ele disse, com cara de sono e um sorriso doce. – Como se sente?
- O que aconteceu?
- Te encontrei meio tonta no corredor do terceiro andar, quando perguntei o que você tinha, desmaiou sem dizer uma única palavra.
- Quando foi isso?
- Ontem à tarde. – ele respondeu, com paciência.
- Ontem? – ela repetiu, incrédula. Ficara desacordada por tantas horas assim?
- Sim.
- Está aqui desde ontem? – ela perguntou, receosa.
Estava totalmente confusa: não se lembrava o que tinha acontecido, porque desmaiara, como fora parar na enfermaria, e porque ele estava ali ao lado dela, sendo tão atencioso.
- Sim. Não sai daqui nem por um minuto. – ele respondeu, com simplicidade.
- O que eu tenho?
Ele se calou.
Um longo silêncio se estabeleceu ali, eles apenas se fitaram durante todo o tempo, ele tocou o rosto dela com uma das mãos delicadamente.
Ela quis recuar, ma não tinha pra onde.
Tinha alguma coisa errada ali.
- Você está ótima. – ele disse, sorrindo.
- Por que está aqui, então? – ela perguntou, agressivamente, esquivando-se dele.
Ele não entendeu a reação dela, afastou-se ficando anormalmente sério.
- O que está pensando? Que sou algum monstro ou algo parecido? – ele perguntou, parecendo ofendido.
- O que quer comigo? O que acha que vai conseguir? – ela perguntou, bastante agressiva agora. – Não vai me ganhar com essa preocupação fingida, Potter. Esqueça, volte para o seu mundinho, já lhe disse isso.
Ele a fitou, perplexo.
Certo.
Bem feito.
Só estava tendo o que merecia.
Era assim que ela o via, pois essa era a imagem que ele passava.
- Acredita em mudança? – ele perguntou, em voz baixa.
- Acredito em mudança. Não acredito em milagre. – ela respondeu, categórica.

Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,

- Ora, ora... Enfim a senhorita acordou, Granger. – A enfermeira adentrou o lugar fazendo-os se calar.
Se fitaram por longos minutos até ele sair dali a pedido de Madame Pomfrey, que precisava examiná-la.
- Pobre coitado... Não saiu daqui nenhum segundo. Não comeu, não dormiu... Esteve aqui o tempo todo velando teu sono. Se dormisse por mais uma semana creio que ele estaria aqui, não a abandonaria de modo algum.
- O que ele queria? Porque esteve aqui durante esse tempo?
- Ele estava preocupado. Enquanto não disse que estava perfeitamente bem ele não sossegou. Quebrou alguns frascos de poção enquanto esperava do lado de fora. Ele estava extremamente nervoso quando chegou ontem com você desacordada nos braços. Ficou louco da vida...
- Ficou? – ela perguntou, apreensiva. Era estranho, totalmente ilógico imaginar ele, Harry Potter, o Senhor-Popular-Consigo-Tudo-Que-Eu-Quero, quebrando frascos de nervoso por não saber se ela estava bem ou não.

A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer

Ele estava realmente preocupado com ela?
Estava assustada e confusa com tudo.
- Ora, mas porque tantas perguntas? Imagino que são namorados, não? O rapaz estava quase morrendo em te ver nesse estado.
A garota olhou para a mulher que lhe estendia um copo com uma poção qualquer.
- Obrigada. - Ela disse, apenas.
- Repouso até amanha.
- O que foi que houve comigo, afinal?
- Nada grave. Uma queda de pressão repentina, talvez seja em função da sua anemia. Por isso vou mantê-la aqui até amanha.
De novo, aquela maldita anemia.
Já tinha se esquecido de como era horrível aquilo.
Recostou-se em seus travesseiros e fechou os olhos. Tinha muito tempo fazendo nada ali. Tinha muito no que pensar também.

***

Estava tudo absolutamente escuro, a única luz presente era proveniente do luar prateado que banhava o chão bem polido através da grande janela.
A silhueta era vista totalmente negra contra aquela luz prata.
Seus passos eram silenciosos.
O robi que cobria seu pijama ia arrastando-se no chão como uma capa que esvoaçavam sob uma brisa inexistente.
Tocou-lhe o ombro levemente, e o perfil bem feito virou-se assustado.
- Obrigada. – foi tudo que ela disse, ao vê-lo olhá-la buscando uma explicação.
- Ia voltar pra lá. Não devia estar de pé... Ainda não está totalmente recuperada. – ele disse, baixo.
- Estou bem. – ela disse, sem encará-lo. - Graças a você.
- Isso não é...
- É verdade sim. Eu fui ingrata e grosseira com você. Não merecia aquilo, sei que lhe ofendi e estou profundamente magoada por isso. Me desculpe... Eu realmente sinto muito por...
Ele a calou lavando o dedo indicador aos lábios carnudos e bem desenhados dela.
- Jamais deixaria alguma coisa lhe acontecer. Não me perdoaria por isso. – ele disse, correndo os dedos pelas bochechas rosada da garota.
Ela se calou.
Ponderou.
Preferiu ser sincera.
- Eu não sei o que quer comigo... Não faço idéia do que está pretendendo... Mas se há alguma coisa que valha a pena entre nós dois, eu te peço que tome cuidado com o que vai fazer.
- Hermione...
- Conheço você. Conheço sua reputação e conheço o jeito como você vive sua vida. Não quero que você me inclua nela. Não quero sofrer. Você é previsível, seu modo de viver é certo, é planejado, vai ser assim sempre... Conquistas, mulheres, noites inesquecíveis com mulheres que você sequer sabe os nomes...

Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer

- Uma coisa deu errado. Eu jamais contei que isso poderia acontecer. – ele disse, interrompendo-a.
Era duro ouvir tudo aquilo saindo da boca dela, saber a imagem que construíra de si mesmo, saber que tal criatura via-se fadada a dor se, por acaso, se deixasse levar por ele.
- O que deu errado?
Ele sorriu sinceramente.
- Me apaixonei por você.
- Você... O que? – ela perguntou, tendo certeza que ouvira a coisa errada.
- Me apaixonei por você. – ele repetiu, sentindo-se, pela primeira vez na vida, nervoso diante de uma mulher.
Ela o fitou, seus olhos cor de avelã sendo encobertos por uma pequena nuvem de duvida, cintilava sob aquela luz perolada que se derramava sobre eles.
- Sei que é difícil acreditar... – ele disse, pegando uma das mãos delas e a ajeitando com acarinho entre as suas. – Sei que não sou o homem que você imaginou pra você. Sei que não sou nenhum exemplo de integridade moral ou coisas do tipo... Sei também e principalmente que não sou digno de você e sua confiança. Tanto sei que entenderei perfeitamente se virar as costas pra mim agora. Mas se não o fizer, acredite, estará apostando suas preciosas fichas num caso quase perdido... Mas saiba que por você eu faria tudo, qualquer coisa. Percebi isso quando te vi desacordada nos meus braços. Soube naquele momento o que amar alguém incondicionalmente, sem me importar com o que os outros irão falar. Soube naquele momento que se fosse preciso lhe daria minha vida de bom grado, apenas pra vê-la feliz. Que daria o que quer que fosse pra vê-la sorrir. E que essa é a primeira vez que eu me sinto nervoso diante de uma mulher, e é a primeira vez que tenho medo de ser rejeitado... E é a primeira vez que eu não me importo comigo. Penso apenas em você e na sua felicidade.
Ele respirou fundo e prendeu a respiração.
Certo.
Conseguira falar tudo que pretendia.
Sim, tinha sido tudo muito rápido, mas estava certo daquilo.
E se ela lhe desse as costas agora, ele ficaria satisfeito por ter tentando.
Ela o fitou, mas os olhos dele não olhavam pra ela.
Hermione tomou o rosto dele entre as mãos e o fez encará-la.
- Tenho muitas fichas. – ela disse. – Essa é a hora de apostar.

O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber

Ela fincou seus lhos nos incrivelmente verdes dele e sorriu.
- Quem sabe se eu presenciar um milagre eu passe a creditar neles? – ela falou, fazendo-o sorrir. – Aposto todas as minhas fichas em você e realmente espero não me decepcionar.
Naquele momento ele não soube o que dizer, só sabia sentir... Sentir alguma coisa que ele jamais sentira antes, jamais provara.
E vê-la confiando nele, e acreditando que ele poderia se tornar uma pessoa melhor lhe deu novo animo. E ele se emocionou... Nunca ninguém acreditara nele como ela estava fazendo.
Hermione viu uma solitária lágrima escapar dos olhos do rapaz e sorriu amavelmente.
Ela se aproximou mais dele, e para a surpresa dos dois ele ficou tenso, sem saber o que fazer.
A garota fez seus lábios se unirem num contato sutil, permitindo a ele uma pequena prova do que ele teria pra si se fosse um bom garoto.
Ela se afastou e o viu sorrir como um menino inexperiente. Ela achou graça, até que o rapaz deixou de lado a surpresa e a tomou pra sim, unido seus lábios mais uma vez aos dela, dessa vez pôde provar uma boa parte.
Mas houve um suspense, fato que o deixou perdido. Ela deixou que ele tomasse seus lábios por um bom tempo, até dar permissão para que ele aprofundasse o beijo. Quando isso aconteceu Harry teve certeza que ela era diferente de qualquer outra, sentiu a suavidade com a qual ela o envolvia naquele momento que para ele, antes, era totalmente dispensável, devido a vontade de chegar aos ‘finalmentes’ de uma vez. Mas ela tinha um jeito que tornava um simples beijo em algo especial, algo que o fazia experimentar sensações que ele jamais experimentara.
As silhuetas bem juntas dos dois eram vista contra o belo luar que entrava pela janela, as mãos dele a tocavam com uma sutileza que deixava claro o cuidado e o medo que tinha de quebrá-la, de tão delicada que parecia aquela pele alva, o corpo frágil.
Uma das mãos dele, repousada na cintura bem delineada dela, a abraçava num jeito possessivo, enquanto a outra no rosto da garota, a toca com uma leveza vinda dos céus.
Ela o levava a agir assim, dessa forma... Totalmente diferente.
Antes ele apenas se preocupava consigo mesmo.
Agora se preocupava única e exclusivamente com ela, e o bem estar dela.
Se afastou lentamente, sentindo seu coração saltar no peito como nunca antes.
Ela sorriu timidamente, enquanto ele parecia abobalhado com o que acabara de acontecer.
Harry a abraçou com carinho, e ela aninhou-se ao peito bem definido do rapaz, sentindo os braços dele a envolverem de forma protetora, enquanto o a lua parecia cada vez mais cheia.
Eles ficaram olhando através da janela por alguns minutos, até que ela quebrou o silêncio.
- Sabe que temos um logo caminho pela frente, não é? – disse em voz baixa.
- Eu tenho, sei disso. – ele falou, num tom melancólico.
Ela se afastou do peito dele e o fitou.
- Nós temos. – ela repetiu com firmeza. – Estou com você agora. Juntos, somos mais fortes.
Ele sorriu.
- Haverá pessoas que dirão que é apenas mais uma de amor...
- Pode até ter sido. Não é mais. – ela disse.
- Eu amo você. – ele sussurrou, beijando a ponta do nariz dela.
Ela não respondeu. Teria tempo pra isso.
Teriam que passar por muitas provações.
Só aí teriam certeza do que sentiam.
E se o amor que ele dizia sentir era forte o suficiente.

Eu gosto tanto de você - Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar - Subentendido

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Baseado em fatos reais e na música “Apenas mais uma de amor” de Lulu Santos.



***

N/a: Ufaaa!

Mais uma fic concluída.
[Eu realmente não acredito quando eu consigo concluir uma fic... Porque eu tenho cinco histórias aqui começadas e não faço idéia de quando ou se irei acabá-las...]

Ah, mas deixando meus acessos de lado, eu realmente espero que você tenham gostado dessa fic, eu, particularmente, fiquei muito feliz em escrevê-la. Foi uma idéia que surgiu de um a realidade e que tomou seu curso sem eu nem precisar pensar muito. Admito que gostei do resultado e torço para que eu não os tenha decepcionado e que você tenham gostado de ler tanto quanto eu gostei de escrever.

Lembrando que essa fic tem uma continuação que eu não faço idéia de quando irei postar [depende dos comentários... Ha Ha Ha, sou muito má!]. A continuação tem apenas dois capítulos então, a história terá seu fim definitivo em breve.

Agradeço muito, muito, muito, muito, a todos que comentaram, que acompanharam e que me apoiaram, eu amo demais vocês... Afinal, você leitores são o motivo para eu estar aqui nesse momento, quase me descabelando porque não consigo continuar a Fic 1.

Ai, ai....

Mas amo vocês e isso não não vai mudar.

Haushuasuushausuasuaushauhsuahs


Comentem bastante esse último capítulo, ok???

Beijooos e até a continuação.

Obs.: Fic 1 = 'Não importa onde nem como, estaremos sempre juntos...' - O nome é muito cumprido, e já que foi a primeira que escrevi, costumo chamá-la de Fic 1.

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