Um

Apenas Mais Uma de Amor...

Ele parecia intocável no ponto de vista dela, apesar de todas as garotas atrevidas da escola o tocarem.
Mas pra ela... Era como se ele não fosse real.
Irreal para a realidade dela.
E vê-lo passar atraía atenção de todas; algumas se atiravam na frente dele e se apresentavam depois de conferir se o decote estava bem visível, exibindo sorrisos exageradamente apelativos.
E ela apenas observava aquilo dia após dia...
Será que valia a pena pular na frente dele exibindo-se daquela forma para atrair segundos da sua atenção?
O que mais a irritava é que ele aceitava as provocações... Abria aquele sorriso maravilhoso e conversava com cada uma das que lhe apareciam.
Isso a corroia por dentro.
Ela abominava a forma como ele era popular, gostava e aproveitava disso. Ele permitia que as garotas o tocassem, o abraçassem, se aninhassem a eles como galinhas com medo de trovões.
Era... Estranho.
Não tinha ciúmes. Era simplesmente raiva por ele aceitá-las com todo aquele exibicionismo exagerado... Ele parecia adorar aquilo. O tempo todo havia milhares delas, chamando o nome dele em vozinhas infantis, fazendo biquinhos e tirando algumas casquinhas.
Onde fora parar a juventude descente do mundo?
Aquilo era o futuro da humanidade?
Aquelas eram o futuro da humanidade?
Bufava de raiva, totalmente desacreditada da vida.
E lá ia ela, para sua sala, estudar para ser bem sucedida na carreira que escolhera. Tinha agüentar gracinhas dos colegas de sala, suportar os rótulos que lhe davam e fingir que se sentia muito bem com tudo aquilo.
Pior: ainda tinha que aceitar e rir de toda aquela palhaçada, para não arrumar inimizades.
O que ela fazia no tempo livre enquanto todas as garotas corriam atrás dele?
Estudava.
O que fazia durante a noite enquanto as outras tagarelavam sem parar dos dotes físicos dele (que eram muitos, digas-se de passagem)?
Estudava.
O que ela fazia quando todas as garotas se juntavam para jantar no mesmo horário que ele?
Estudava.
Era como se tivesse se tornado especialista em ser invisível.
Não havia como lutar contra todas elas.
E também não se rebaixaria ao nível das outras para ser notada.
Era demais.
Era nojento.
Ainda tinha que ouvir cochichos como: “Sabe o Harry...? Sim, o gostoso da Grifinória?”, depois de um aceno, completavam “Então... Ele beijou aquela ruivinha da Corvinal, sabe quem é?”
Era tudo tão sórdido.
Tal pessoa beijou fulano, que tinha beijado o sicrano, que tinha traído o beltrano...
Ridículo.
Insuportável.
Não era aquilo que ela queria pra si.
Por isso era considerada estranha.
Diferente de todos os outros.

- Olá, Harry! – disse uma voz melosa a sua frente.
- Ah! – ele assustou-se com a aparição inesperada. – Oi.
- Sou Anna da Lufa-Lufa. Sétimo ano.
- Hum... Hãm... Legal.
- Não hesite em me chamar se precisar de alguma coisa. Qualquer coisa.
- Hãm... Claro. Obrigado. – ele disse, ainda assustado, apesar de estar acostumado.
Ela saiu andando, e ele não pôde deixar de reparar na saia absurdamente curta que ela usava. “Belas pernas...”
Riu de si mesmo e voltou a andar pelo corredor escuro com sua vassoura no ombro. Mais uma... Aquela era apenas mais uma. Poderia pedir qualquer coisa a ela que a garota cederia de bom grado, ela mesma dissera.
Era sempre assim, conseguia tudo que queria, sempre. Todas elas eram fáceis, fúteis e beijavam o chão que ele pisava.
Breves relacionamentos frios, pessoas sem conteúdo. A euforia do momento era nada perto da sensação de vazio que tomava conta logo depois.
Estava cansado.
Mas as garotas eram atrevidas demais.
Era homem... A carne é fraca... Não resistia...
- Ai! – ele resmungou ao trombar com alguém.
Sua vassoura caiu no chão juntos com uma grande quantidade de livros.
- Desculpe... – o ‘alguém’ murmurou abaixando-se rapidamente.
Ela recolheu o primeiro livro e viu que os outros estavam sendo recolhidos também. Olhou para quem o fazia. Seu coração disparou.

Eu gosto tanto de você - Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar – Subentendido

- Eu que peço desculpas. Estava distraído. – ele disse, fazendo uma pilha e entregando a ela. – Você lê mesmo tudo isso?
Ela acenou afirmativamente, aceitando a pilha.
- Uau... boa sorte então.
Ele pegou a vassoura, voltou a colocá-la no ombro e continuou sua caminhada como se nada houvesse acontecido.
Ela ficou parada ali, estacada no corredor por alguns segundos, sem conseguir se mover.



- Aonde você vai? – perguntou uma das garotas do grupinho quando ela se levantou.
- A biblioteca, é claro! – respondeu outra, em tom de deboche. – Ela deve ter um caso com a Madame Pince.
Seu sangue ferveu nas veias, mas não teve tempo de dizer sequer uma palavra.
- Quem tem um caso com a Madame Pince?
- Harry! – disseram todas, em uníssono, enquanto ele cumprimentava uma por uma com beijos estalados na bochecha.
Ela sentiu uma onda de energia vibrante correr seu corpo quando - por educação, ela pensou - ele a cumprimentou também. Ele tinha um cheiro bom... Perfume marcante, bem masculino.

Como uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer

O sol morno da primavera banhava o jardim da escola, reluzindo nos olhos cor de avelã da garota que ficou envergonhada quando ouviu a resposta que alguém deu a pergunta dele.
- Ela tem um caso com a Madame Pince. – disse uma das garotas maldosamente, as demais riram com gosto.
Os olhos verdes dele caíram sobre ela, observando-a de modo penetrante. Ela pôde sentir estar sendo analisada, mesmo tendo abaixado a cabeça, sentindo seu sangue afluir de tanto nervoso.
- Ah... A menina dos livros... – ele murmurou, perdendo o tom de interesse, parecendo não achar mais graça na brincadeira.
Ela simplesmente respirou fundo e deu o primeiro passo para deixar aquele antro de exibicionismo exagerado, quando uma voz venenosa lhe chegou aos ouvidos.
- É! A menina dos livros... Afinal, essa é a única coisa que ela consegue pegar.
Sem conseguir se conter, ela se virou de súbito largando a mochila e os livros, que segurava, no chão. Sacou a varinha e a apontou pra outra com firmeza. A outra recuou. Ela era a melhor em azarações ou em qualquer outra coisa.
- Escute aqui, Ginevra Weasley... – a ruiva a sua frente torceu o nariz. Não gostava que as pessoas a chamassem pelo nome. – Antes meus livros, que me trazem alguma cultura, a ter que transar com Goyle por ter perdido uma aposta sobre o Potter!
Todos se calaram em volta, prendendo a respiração. A menina atingiu todos os tons de vermelho possíveis e imagináveis, igualando ao cabelo que emoldurava o rosto.
Agora, satisfeita e cheia de dignidade, ela apanhou sua coisas e seguiu feliz para a biblioteca, com a sensação de dever cumprido.
Harry permaneceu parado, sem mexer um membro sequer.
Estavam fazendo apostas sobre ele?
Aquelas... garotas estavam mesmo fazendo apostas sobre ele?
Ficou furioso e deu as costas, avançando em passos rápidos para entrar no castelo.
- Harry! – Gina chamou, adiantando-se, agarrando o braço dele.
Ele se esquivou com brutalidade sem dizer uma palavra sequer. Estava se segurando para não fazer uma besteira.
- Harry! Harry! – ela gritou, tornando a segurá-lo.
- Me largue, sua vagabunda! – ele berrou, fazendo-a recuar, deixando o resto das garotas pasmas.

***

- Com licença, menina dos livros. – disse Harry, sentando-se de frente para ela numa das mesas da biblioteca.
Ela ficou nervosa, mas disfarçou bem. Estranhou aquela aproximação repentina, mas fingiu não ligar.
- Posso ajudá-lo? – disse, sem tirar os olhos da página que lia.
- Pode. – ele abaixou o tom, soando totalmente sedutor. – Quero que me diga que aposta é essa que Gina...
- Sinto muito. – ela o interrompeu, com indiferença. – Se quer saber pergunte a ela. Não tenho nada a ver com isso. Só usei o argumento para me defender. Não vou me envolver.
Ele simplesmente murchou.
Ninguém.
Nunca.
Nenhuma garota antes havia resistido àquele tom de voz.

Eu acho tão bonito - Isso de ser abstrato, baby
A beleza é mesmo tão fugaz

- Mas...
- Não adianta. – ela disse. Finalmente ergueu o olhar e o fitou com firmeza. – Sinto muito Senhor Potter, mas comigo o senhor não conseguirá o que quer. Tente outra, quem sabe...
Ela sorriu levemente dando a conversa por encerrada, e voltou a focar o livro.
Ele pareceu tão chocado que não se moveu.
Alguns segundos se passaram até que ela voltasse a olhá-lo.
- Algum problema?
Ele não respondeu, apenas a encarou, olhando-a bem dentro dos olhos. Logo depois se levantou e deixou o lugar com passos fortes.


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N/a: Sim, sim. Eu, Paulinha, atacando novamente. Essa é uma short que me deixou bastante satisfeita. Foi escrita em tempo recorde de duas semanas, possue três capítulos e uma continuação com mais dois.
Peço, por favor, que comentem e votem. Pois os comentários de vocês são extremamente importante para mim.

A música na qual a fic foi inspirada é “Apenas Mais Uma de Amor”, do Lulu Santos. E sim, essa história foi baseada em fatos reais.

Espero que gostem e comentem bastanteeee!

Beijos e até a próxima atualização.

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