Eight
-Lene? O que você ta fazendo? – Lily perguntou á amiga no jardim que elas criaram com os mais variados tipos de plantas. Dorcas estava junto com ela, um pouco afastada. Elas pareciam procurar algo.
-Procurando quebra-pedra, arruda, cabacinha ou erva de bicho. Se eu não conseguir essas, porque que eu saiba não é bem época de arruda agora, eu vou ter que dar um jeito de comprar mysoprostol, e isso não vai ser legal – A morena disse á amiga, que arregalou um pouco os olhos.
-Você ta grávida? Marlene, por que não me disse? Eu já podia ter feito o “chá” faz tempo! – A ruiva disse acompanhando a morena, enquanto se abaixava para apanhar algumas folhas e cheirá-las, para colocar no saquinho de pano que a amiga carregava amarrado no pulso.
-Eu não queria que ninguém soubesse, mas Dorcas percebeu que eu não chutei o sapo dela da minha cama quando ela o jogou. Ou seja, eu não tive TPM na época que deveria ter, e você sabe como eu minto bem, então... –A morena revirou os olhos e se abaixou para cheirar uma florzinha, voltando a andar.
-Quem é o pai? – Lily perguntou, olhando diretamente no rosto da amiga. Obviamente que sabia quem era, todas elas sabiam, mas preferia que a amiga pensasse que achava que tinha ficado com alguém além dele.
-Sirius. Naquela maldita noite da festa, embaixo da árvore, você sabe. Mas por que você ta perguntando se sabe que ele foi o único que eu fiquei? – Marlene percebeu finalmente, fazendo sinal para Dorcas para que se juntasse á elas. Lílian sorriu.
-Achei que seria melhor se eu não deixasse claro que era tão óbvio. Só para não te aborrecer e você acabar abortando por nervoso, sabe – A ruiva riu, mas a morena olhou-a sériamente.
-Você tem certeza de que quer tirar ele? Digo, o bebê. – Dorcas perguntou olhando para Marlene, que se fez de desentendida. Mas as duas amigas puderam ver a sombra negra que havia passado pelos olhos azuis da outra.
-Eu sinceramente não sei. Seria o mais lógico, obviamente, mas não me parece justo. – Marlene disse passando uma mão discretamente sobre o estômago ainda reto.
-Eu acho que ao menos ele deveria saber. Ele pode ser galinha, Lene, mas já provou que gosta de você – Dorcas aquiesceu.
-Você quer contar? – Lily perguntou á outra, que olhou para baixo.
-Eu não sei. Eu pessoalmente não contaria, mas eu queria que ele ficasse sabendo – Marlene disse.
-Então você quer que nós contemos á ele? – Lily perguntou novamente, e Marlene só acenou suavemente com a cabeça.
-Ok. Dorcas, peça á Alice para marcar um encontro com o Sirius na sala ao lado da Tapeçaria de Theves. Agente vai lá, conta pra ele e, se você quiser, impedimos ele de falar com você até que tudo tenha acabado. – Lily comandou falando para Lene, que assentiu, e então Dorcas foi, solícita, achar Alice para que ambas fossem chamar Sirius, enquanto Lene e Lily foram para a sala atrás da tapeçaria para fazerem a infusão que tiraria aquela criança de dentro de Marlene.
Assim que as duas terminaram a poção Lily ouviu passos. Sirius se aproximava com Alice e Dorcas. Emmeline ficara esperando do lado de fora, para não deixar Sirius entrar na sala, se ele descobrisse que Marlene estava ali.
-Certo, o que vocês queriam falar comigo? – Marlene ouviu o rapaz perguntar ás amigas, e ela viu que Lílian tinha saído por uma porta ao fundo, que ia dar no outro lado do corredor. Logo a ruiva se juntou á eles, ela pôde ouvir pelos passos. Tomou um grande gole da infusão fazendo uma careta suave. Poderia ter colocado um pouco de mel para adoçar, ao menos. Pena que não pensara naquilo antes, agora era tarde. Tomou mais três grandes goles, esperando para ouvir o que eles diriam.
-Viemos porque Marlene nos pediu para te informar de uma coisa – Emmeline disse agressiva, mas Lene, que a conhecia bem, pôde perceber que ela hesitou em chegar ao ponto.
-A Lene? O que aconteceu com ela? – O tom de voz dele imediatamente se modificou, mas Marlene não prestou muito atenção, pois começava a ficar um pouco tonta. Se deitou nas almofadas que Dorcas colocara ali e sentiu um pouco de cólica, como acontecia em sua menstruação. Continuou a ouvir o que eles diziam.
-Ela está – ou estava grávida. De você – Alice finalmente falou e pôde sentir toda a tensão que se instalara naquele corredor. A respiração ruidosa de Sirius era a única coisa que podiam escutar, e ela foi ficando gradualmente mais rápida.
-Onde está ela? Ela vai tirar o bebê? É seguro fazer isso? – As perguntas jorraram da boca dele sem controle. Marlene então chamou Lily, que entrou pela tapeçaria imediatamente, preocupada com a amiga. Emmeline fez de tudo para não deixar Sirius entrar, mas logo ele estava ao lado da morena jogada nas almofadas com um copo do que parecia ser um chá nas mãos.
-Lene? Lene, isso é verdade? Você vai... Você vai abortar? – A voz dele era confusa, perplexa, sentida, preocupada. Tudo ao mesmo tempo.
Ela somente sorriu levemente, os olhos um tanto desfocados pela droga que ingerira, e se apoiou com as mãos para ficar com a cabeça no colo do rapaz.
-Eu não poderia ter um filho, Sirius. Não agora, e principalmente não com você - Apesar das palavras cruéis, ela não parecia querer sair de perto dele.
Lílian e as outras ficaram tomando conta de Marlene, se revezando para checar a temperatura dela de hora em hora. Já de noite, umas três ou quatro horas depois de tudo ter começado, um leve sangramento foi percebido nas roupas dela, e então Lily percebeu que tudo havia acabado.
-Sirius, vá comer. Nós cuidamos de Marlene, ela vai ficar assim por mais algum tempo, ela quis ser sedada para não sentir muita cólica – Dorcas disse com voz firme, como quem mandava ele ir embora. Ele fez que não com a cabeça.
-Sem chance. Só saio daqui quando a Lene acordar.
Eles permaneceram na sala até a manhã seguinte, quando Lene abriu os olhos levemente. Lílian já lhe estendia uma poção para restaurar-lhe as forças, e ela rapidamente se levantou do colo de Sirius, percebendo que o Maroto adormecera sentado sobre as almofadas, com a cabeça dela no colo e as costas apoiadas na parede fria de pedra. Deu um leve sorriso e beijou-lhe a face levemente.
-Vamos embora – Ela disse sendo ajudada por Alice á levantar-se. Emmeline abriu a passagem, já que ficara de guarda no corredor, mas Lílian a chamou de volta.
-E ele? – Ela perguntou á amiga, que somente sorriu.
-Deixe-o aí. Quando acordar provavelmente vai pensar que bebeu muito ontem á noite e sonhou tudo – Ela disse com voz doce de quem é obrigada a deixar o amor da sua vida para trás, para o próprio bem dele.
As garotas levaram Marlene para o quarto, e esta agradeceu que ela sábado. Poderia ficar descansando o dia inteiro. Poderia evitar Sirius o dia inteiro.
Só não sabia como faria para evitá-lo pelo resto do ano. Mas teria que tentar.
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-Dorcas? Dorcas finalmente eu consigo falar com você! – Remo apareceu num corredor enquanto levavam Lene para o quarto, puxando-a pelo braço. Não poderia fazer a amiga, fraca, esperar por ela, então fez sinal para que as outras prosseguissem sem ela. Observou bem a face do rapaz, endurecendo a própria expressão e cruzando os braços.
-Eu acho que você não tem mais nada pra falar comigo, Lupin – Forçou o melhor tom de desprezo para ele. Apesar de não estar acostumada a usar aquele tom com o loiro, tinha que fazê-lo. Afinal, nada poderia ser mais desprezado do que a atitude dele.
-Tenho sim. Primeiro eu quero perguntar o que vocês fizeram ao Frank e ao Sirius. Depois eu quero perguntar por que você está fazendo isso comigo. – Ela ia falar, mas ele colocou um dedo sobre os lábios dela – Você nem ao menos me deixou falar. Não me deixou explicar. Não me deixou dizer, em todo esse tempo, que aquela garota tinha me agarrado. Eu não beijei ela de volta, eu nunca quis que ela me tocasse. Eu nunca quis ela como eu quis você, Dorcas, mas você nunca me deixou explicar isso. – Ela lutou bravamente contra as lágrimas que insistiam em inundar seus olhos naquele momento. Mas já era tarde. Um soluço brotou de seu peito, suave, mas ainda assim nítido para que Remo escutasse.
-Eu pensei que você estivesse reagindo. Pensei que se você gostasse de mim, teria reagido. Você tinha que ter reagido. Por que não a afastou, Remo? Por que fez aquilo comigo? – Ela perguntou gaguejando em algumas partes e se amaldiçoando por isso.
-Eu não podia, Dorcas - Ele disse e olhou para baixo, passando a mão pelos cabelos os quais ela tanto ela quisera tocar outrora, e lembrar daquilo agora só a deixava mais triste. Por que ele fizera aquilo afinal? – Eu não posso te dizer as razões, mas eu provavelmente a mataria. Eu tive que esperar ela me largar, mas pode perguntar pra ela, eu nunca, nunca correspondi. – Os olhos âmbar dele brilhavam, implorativos. Ele pediapara ser perdoado.
-A mataria? E quando a mim? Você nunca pensou no que aquilo me causaria? Nunca pensou no quanto eu choraria se eu visse você naquela situação? Não me venha com essa de matá-la, Remo, pois ao invés de matar ela, você matou a mim - Dorcas virou-se, dando o assunto como encerrado.
Remo pegou seu braço e puxou-a, fazendo-a ficar colada ao seu corpo. Segurou-a pela nuca e cintura e beijou-a, nem se importando se ela lutava contra isso ou não. Tinha de senti-la novamente, não era possível que não acreditasse nele. Não podia contar para ela que não afastara a outra por a sua força estar duplicada e descontrolada, já que estava em véspera de lua cheia, mas esperava que aquele toque a convencesse de que nunca tivera a intenção de beijar outra garota senão ela.
Dorcas sem querer libertou algumas lágrimas ao sentir os lábios dele provarem os seus, como se pedisse desculpas. Empurrou-o e virou as costas novamente, caminhando até a torre de astronomia, já que as meninas estavam no quarto com Marlene. Não as preocuparia com isso agora. E tentaria ao máximo não deixá-las saber que estava apaixonada por Remo Lupin.
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Lily verificou Marlene mais uma vez e deixou-a com Alice e Emmeline, indo deitar-se no sofá do salão comunal. Estava cansada, não dormira nem um segundo de preocupação com a amiga, ficara a noite inteira junto com Sirius velando por ela, enquanto as outras cochilavam por alguns minutos. Provavelmente merecia um descanso também, não? Afinal, era sábado.
Sentou no sofá sem olhar, e então percebeu que sentara em cima de algo. E esse algo, estranhamente, nem ao menos acordou. Saiu dali de cima rapidamente, batendo com o pé na mesinha de centro e mordendo a boca para não gritar e acordar quem quer que fosse. Caiu sentada no chão entre o sofá e a mesa, bem ao lado do sofá mesmo. E ao olhar para quem estava deitado naquele sofá, teve que se conter para não babar.
Isso porque, apesar de James Potter ser um absoluto imbecil, ele era... angelical enquanto dormia. Lílian observou como o peito dele subia e descia calmamente, sua expressão tranqüila e inocente quase contrastando com os cabelos rebeldes caindo sobre a face.
Ela, sem perceber, se aproximou um pouco dele, colocando os próprios cabelos para trás da orelha. Sentada sobre as pernas Lílian, hesitante, tocou os cabelos dele, percebendo pela primeira vez o quanto eram macios. Ficou mexendo só nas pontas deles até que resolveu ousar mais um pouco, e mudou-os de lado, brincando com os fios. Então entrelaçou os dedos nas madeixas castanhas, acariciando-as com a mão inteira. “Parece um anjo” sua mente soltou sem querer, e ela quase se repreendeu, desistindo de fazê-lo quando o ouviu murmurar uma coisa, uma coisa que nunca pensou que ele murmuraria durante o sono:
-Lily... –A voz dele não passava de um sussurro, obviamente, mas ainda assim ela pôde ouvir claramente. Mandou sua sanidade dar uma voltinha e continuou a acariciar os cabelos dele, observando-o dormir. Que se danasse sua sede de vingança naquele momento, ela estava absolutamente bem guardada em algum canto obscuro. Naquele exato momento só conseguia ver o quanto ele era lindo e lembrar de tudo o que ele tinha feito de bom para ela logo depois de... Bom, não queria lembrar daquilo agora. Eles eram realmente muito crianças quando ele lhe roubara o primeiro beijo que havia dado na vida e um dia depois ela o vira ficando com outra nos jardins. A promessa que fizera aquele dia, de se vingar dele custasse o que custasse, estava totalmente esquecida.
Só conseguia pensar na cor dos olhos do Maroto, o sorriso dele, a voz, e na sensação estranha que sentia na boca do estômago naquele momento, observando-o. Então paralisou ao ver que ele abrira os olhos e a encarava, meio sonolento, mas absolutamente consciente do que estava acontecendo ali.
Ao contrário do que ela pensou que ele faria, ele somente se aconchegou mais ao sofá e moveu a cabeça contra a sua mão, como se pedisse para que ela continuasse. Lily assim o fez até que ele adormeceu de novo. Porque logo após isso ela mesma adormeceu ali, sentada no chão com os braços e a cabeça apoiados no sofá vermelho, respirando um pouco mais fundo por causa da fragrância que o garoto exalava.
Quando abriu os olhos ela mesma estava deitada no sofá onde ele estivera, e já era pra mais de duas da tarde. Levantou-se e jogou a manta que a cobria no sofá, se dirigindo ao dormitório para jogar uma água no rosto e ir á cozinha comer alguma coisa, tentando ao máximo esquecer a expressão tranqüila do rapaz enquanto dormia.
Porque, agora se lembrara, não queria vê-lo nunca mais.
Nunca mais.
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Emmeline observava Edgar Bones conversar com algumas garotas, sorrindo inocentemente e passando as mãos no cabelo, enquanto corava. Ah, claro, era realmente conveniente que ele parecesse inocente naquele momento, no meio de todas aquelas babonas miseráveis. Quando estivera com ela ele fora um bruto, querendo forçá-la a fazer coisas que não queria. E agora parecia um cordeirinho, sendo atacado pelas garotas famintas, todas loucas para convidá-lo para o próximo passeio de Hogsmeade.
A loira então colocou um sorriso no rosto quando ele passou por ela, e ele olhou-a como se a visse pela primeira vez. Ignorou todas as outras meninas e foi na direção dela, e Emmeline viu-se sem saber o que fazer. O que ele estava fazendo? Será que ele ia ser mesmo tão cara de pau a ponto de ir falar com ela naquele momento, depois de ter atacado ela na noite da festa?
-Oi, eu sou Edgar – Ele se apresentou oferecendo a mão para que ela pegasse. O que ele estava fazendo? A expressão de fascinação diante dela era absolutamente perfeita. Ele nem ao menos parecia a mesma pessoa.
Ao mesmo tempo em que pegava a mão dele, confusa, viu um garoto moreno se apoiar na parede oposta á qual estava apoiada, com um sorriso absolutamente maldoso no rosto. Pôde vê-lo lamber os lábios enquanto olhava para ela, mas viu de esgoela, para que ele não soubesse que ela o percebera. Esse sim lembrava o garoto que a atacara na festa. Nojento.
Edgar então olhou para ela como se esperasse algo. Ela não entendeu.
-Você ainda não me disse o seu nome, moça – Ele disse beijando a sua mão sem nunca deixar de olhar em seus olhos, impelindo-a a se deixar levar pelos olhos verdes do rapaz. Corou, sentindo como se o garoto da festa e esse não fossem a mesma pessoa.
-E-Emmeline – Amaldiçoou-se por gaguejar e procurou o garoto do cabelo escuro novamente olhando em volta, mas não pôde vê-lo. Ele havia sumido.
-Um belo nome. Combina com você – O sorriso dele era absolutamente sincero, e Emmeline perdeu o chão – Quer dar uma volta? Agente vai nos jardins, lá ta bem cheio. – Ele disse enquanto caminhava com ela. Certo, aquele não poderia ser o mesmo garoto da festa. Poderia?
-O-ok – Ela lançou um olhar de socorro á Alice, que estava sentada em um banco de pedra, mas a amiga estava “ocupada” demais com Richard. Amaldiçoou-se mais uma vez ao perceber que se ele continuasse com aquele sorriso, ela nunca conseguiria dizer não á ele. Tentou lembrar-se da raiva que sentia por ele, mas ele não parecia ser ele! Não sabia o que faria. Por isso só caminhou ao lado dele, rezando profundamente para que Merlin ou Lílian a tirassem daquela emboscada da qual ela mesma não conseguia sair.
Não com aqueles olhos verdes olhando para ela em expectativa e o sorriso doce nos lábios perfeitos, enquanto ele a convidava para ir a Hogsmeade com ele.
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Mais um cap aqui pra vocês. Crise de inspiração finalmente coincidindo com tempo livre. Divirtam-se!
Ps: qual vocês acham que é a do Edgar? Afinal, por que ele tá agindo assim, como se nem conhecesse a Emmy? Dêem seus palpites! E, bem, será que ela vai aceitar o pedido dele de Hogsmeade mesmo depois de tudo o que ele fez pra ela na festa?
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