Capitulo VI
Ficaram algum tempo em silêncio, o sol começava a se por além dos cafezais. Harry mostrou tudo na fazenda pra ela, desde o pé de café, até o produto final... Depois as uvas e o vinho... Mostrou a adega que ele tinha sob a fazenda, cheia de teias de aranha, que para a surpresa dele, não a assustaram.
- E cuida de tudo isso sozinho? – ela indagou, quando finalmente voltaram para o gramado, já perto da escadaria de entrada.
- Faço o possível. – ele respondeu, puxando-a pela mão até uma pedra imensa que tinha atrás da casa, ao lado de uma árvore colossal, com um tronco enorme.
Ele a ajudou subir na pedra e se sentou ao lado dela.
- Olhe isso... – ele falou, com um aceno breve da cabeça para o por do sol maravilhoso que se estendia diante deles. Os tons alaranjados, pintando o céu de forma divina. – Essa aqui, - ele falou, apontando para a árvore. – É a árvore que eu consegui chegar ao topo com doze anos de idade.
- Essa é a famosa árvore... – ela falou, observando que realmente deve ter sido emocionante chegar ao topo da árvore... Ela era simplesmente gigante.
- Sim. Essa é a árvore. Acho que não vais querer subir nela, não é? – ele perguntou, rindo.
- Acho que vai ficar para a próxima vez. – ela respondeu, voltando a olhar o por do sol. – Impressionante, não é?
- Sim... Um espetáculo da natureza...
- Especialmente para nós. – ela completou, juntado-se mais a ele.
- Obrigado por vir.
- Obrigada pelo convite.
- Era o mínino que eu podia...
- Pra mim está sendo o máximo. – ela falou, baixo, fitando os olhos verdes dele.
- Tudo que eu escrevi... Naquela carta...
- Não precisa falar se não quiser. – ela falou, fazendo-o sorrir.
- Tudo era verdade. Tudo é verdade.
- Harry...
- Tu me puxaste de um abismo, Ninfa. Eu estava prestes a cair... – ele desviou seu olhar do dela. - Ou prestes a me jogar.
Ela o fitou, ele olhava pra baixo, triste.
- Eu nunca imaginei dizer isso a alguem um dia... – ela disse, com sinceridade, mesmo sem querer, ela se rendia a ele. - ...mas tu tens a mim agora, para o que precisar. Espero que seja o suficiente.
- É mais que o suficiente... Mais do que eu merecia... – ele a encarou. – Porém, é tudo que eu precisava.
Ela não soube o que dizer. Simplesmente se calou e voltou a observar o por do sol.
O pai saiu pisando duro pela sala, em direção a cozinha da mansão. Hermione se encolheu no sofá, observando sua mãe apoiar as duas mãos no encosto da poltrona.
- Vá! Vá pegar uma das empregadas pra descontar tuas frustrações... – berrava ela. – Porque a mim, tu nunca mais terás.
Ele parou no meio do caminho e se virou pra ela, furioso.
- Eu a tenho a hora que quiser e quando eu quiser. Entendas de uma vez por todas, sou teu marido, deves-me obediência. – ele murmurou, dando as costas com um sorriso cínico.
- Maldito! Vá para o inferno, desgraçado! – ela gritou, com lágrimas correndo o rosto.
Hermione apertou a almofada que abraçava. Até quando teria que agüentar aquilo?
- Burra! Burra! – lamentava a mãe. – Como fui burra!
- Mamãe...
- Sabes quando foi que me rendi a ele? Sabes quando foi que eu tive certeza que ele era o homem da minha vida? Quando ele disse que eu era tudo que ele precisava. – a menina se encolheu mais sob o olhar de ódio da mãe. – Maldito! Palavras doces, olhar apaixonado, belas promessas... Olhe onde estou agora! Como estou agora! Arrepender-me-ei até o fim dos tempos por ter me deixado levar por ele...
Ela saiu andando, em direção a escada. Provavelmente entraria em seu quarto e quebraria mais alguns objetos de porcelana que estavam em sua cômoda, como sempre.
Hermione se levantou e foi caminhando lentamente até seu refúgio, sua casa na árvore.
“Nunca me renderei como ela... Nunca acreditarei em palavras doces ou belas promessas... Nunca me submeterei a isso. Nunca.”, ela pensava enquanto corria pelo pequeno jardim da casa.
- Acho que já é hora de entrarmos, o jantar sairá em breve, precisas voltar cedo para o convento. – Harry falou, depois de muito tempo em silêncio. – Vamos?
Ele se levantou e estendeu a mão pra ela.
Hermione o fitou, hesitou, mas aceitou.
Hermione conheceu a casa, guiada por Harry, depois, acompanhada de Lourdes, foi levada até um quarto onde poderia se banhar e se vestir para o jantar.
A moça colocou sua pequena mala sobre a cama e caminhou pra junto da janela. E ela sempre fora tão racional, tão certa de si e o que queria da vida. E de repente tudo mudou, e seu instinto que sempre fora comandado pela razão, agora era pura emoção. E ela não podia controlar isso, nem parar, era mais forte que ela, inexplicável e inconsciente.
“Case-se com o homem que seja capaz de morrer por ti. Se ele provar que o faz por ti, então é o homem certo.”, ouvira tais palavras saírem da boca de sua mãe quando tinha apenas onze anos de idade, nunca as esquecera. Não acreditava que um dia precisasse realmente ouvi-las... Tinha certeza que não se apaixonaria, mas agora...
- Por Deus! – ela exclamou, dando-se conta da realidade. – Estou apaixonada.
Aquele negócio de ‘estar apaixonada’ era coisa de contos de fadas. Não existia. Ela tinha certeza que não existia, até descobrir o que é estar apaixonada.
- Teu banho está pronto, senhorita. – disse Lourdes ao sair do banheiro. – Tudo que precisas está lá.
- Obrigada. – ela respondeu com um sorriso, voltando a pegar mala.
A velha ficou parada perto da porta, observando Hermione tirar suas vestes de dentro da mala de couro.
- Senhorita?
- Sim?
- Ele gosta de ti. – a velha falou com um sorriso.
- O que? – Hermione indagou, meio confusa e incrédula.
- Ele gosta de ti. Gosta como nunca gostou de ninguém antes. Ele nunca esteve assim, tu deste vida a ele, sou-lhe muito grata, menina.
Hermione não soube o que responder, Lourdes pelo visto percebeu isso e saiu do quarto com um sorriso bondoso.
A moça respirou fundo e entrou no banheiro, com duas únicas certezas: estava muito confusa e muito apaixonada.
Harry estava inquieto no pé da escada. Rony e Anne já estavam na sala de jantar, todos esperavam somente Hermione.
- Perdoe-me o atraso. – ele a ouviu dizer, virou-se rapidamente, e deparou-se com uma verdadeira ninfa descendo as escadas. Com um vestido azul bem claro, que cintilava sob a iluminação da sala.
- Ah... Não... É... Sim... – ela riu com o nervosismo dele.
- Certo, concordo contigo.
Ele sorriu pra ela, e lhe estendeu a mão assim que ela completou sua descida majestosa.
- Estás belíssima... Mais do que de costume. – ele sussurrou, beijando as costas da mão dela.
- Obrigada. – ela sibilou, levemente corada.
- Pronta, Ninfa?
- Sim, senhor Potter. – ela respondeu, enlaçando seu braço no dele, deixando-se conduzir pelo imenso salão de música, até a sala de jantar.
- Por Deus, Harry. – exclamou Rony, levando-se de supetão da mesa. – Mas é a rainha das Ninfas em carne e osso!
Hermione sorriu envergonhada, sentindo as bochechas queimarem.
- Rony, Anne, - Harry falou, formalmente. – Essa é a senhorita Hermione Granger.
- Muito mais bonita do que disseste, Harry. – disse Anne. Uma menina de cabelos ruivos e olhos castanhos escuros. – Muito prazer, sou Anne.
- O prazer é todo meu. Harry me falou muito de ti. – Hermione respondeu.
- E eu sou Rony, o amigo-irmão de Harry. – disse Rony se adiantando, beijando, também, uma das mãos de Hermione.
- Harry também já me falou de ti.
- Espero que tenha falado bem. – disse o ruivo, dando um soco de leve no braço de Harry.
- E como falar bem de ti? Qualquer um sabe que és um traste! – Harry falou, guiando Hermione pela mesa e puxando uma cadeira para que ela se sentasse.
- Ah, não me venha com essas conversas, Harry, só porque és dois meses mais velho, não...
- Parem, por favor! Nem com visita param com essas discussões? – disse Anne, sentado-se também.
Hermione riu da situação.
- Então é a mais nova que manda? – ela perguntou, vendo Harry sentar-se na cabeceira na mesa, estando ela logo a sua direita, Anne a sua frente com Rony ao lado dela, e a esquerda de Harry.
- Sou eu que tenho de controlar esses dois! Parecem crianças.
- Hei! Eu não sou criança, já tenho vinte e três, sou um homem! – disse Rony, indignado.
- Então se comporte como tal. – disse a menina, encerrando a discussão com muita dignidade, enquanto Hermione ria.
- Eles não sabem, sabem? – Hermione perguntou, enquanto caminhava com Harry pelo corredor da fazenda, ele prometera levá-la a biblioteca, para que ela pudesse pegar alguns livros para levar ao convento.
- Sabem de que? – ele indagou, abrindo a porta do aposento, afastando-se para ela entrar.
- Sobre nós. Nós e aquela noite. – ela falou, meio incerta e constrangida.
- Ah! Rony sabe, Anne não. – Harry respondeu.
Hermione se adiantou e ficou fascinada com a biblioteca. O cômodo parecia uma catedral, com paredes bem altas, cobertas por livros, mas com o centro vazio; os livros revestiam as paredes em volta, tão altas que se perdiam de vista. Haviam duas escrivaninhas no lugar, uma oposta a outra. Enquanto a parede oposta à porta por onde entraram tinha uma janela enorme. Não se via parede, apenas os vitrais de cristal que se estendiam do chão ao teto; com certeza, durante o dia, a iluminação do lugar era formidável.
- Fascinante. – ela falou.
- Obrigado. São várias gerações de livros que temos aqui... Desde os primeiros de minha família, até hoje.
Ele se sentou em uma das cadeiras das escrivaninhas enquanto a via andar pelo lugar, com seu belo vestido ondulando as suas costas.
- Por isso ele sorria daquele jeito, então. – ela falou, rindo.
- Quem sorria?
- Ronald. Toda palavra que dirigiste a mim durante o jantar, era acompanhada por um sorriso malicioso dele. – ela falou, andando pelas estantes, de costas para Harry.
- Ele é terrível. Ignore-o. O fato é que ele ficou muito entusiasmado quando contei-lhe sobre ti.
- O que contaste para causar-lhe tanto entusiasmo? – ela perguntou, achando graça, virando-se para fitá-lo.
Harry a encarou, sorriu, depois desviou o olhar, sem emitir uma única palavra.
Havia indiretas. Palavras implícitas. Muito bem compreendida pelos dois.
- Quase pulou de euforia quando contei-lhe sobre aquela noite. – ele continuou, como se não tivesse ouvido a pergunta dela.
- E posso apostar que gemeu de descontentamento quando soube que tu foste um perfeito cavalheiro comigo, e sequer tocastes em mim, além do necessário para a situação. – ela completou, fazendo-o rir da desinibição dela. Ela era natural, sem rodeios ou sem se importar com o que iriam falar dela.
- Previsível assim? – ele questionou, voltando a fitá-la.
- Não imagina o quanto. – ela respondeu com um sorriso, voltando a dar-lhe as costas para examinar as estantes cheias dos mais variados tipos de livros.
- Rony é tipo de homem que não consegue passar uma noite sem uma mulher. – ele falou, vendo-a erguer-se na ponta dos pés para alcançar um livro. – É um bom homem, apesar de tudo... A realidade é que ele não se conforma com o fato de eu simplesmente não acompanhá-lo em suas visitas noturnas as tabernas da cidade.
- E por que não o acompanhas?
- Por que não quero ter uma mulher por noite. – ele respondeu, sério, realmente espantado com tipo de conversa que estava tendo com ela. Violava qualquer regra da lista ‘Como conversar e conquistar uma dama, de maneira civilizada’, mas ela não parecia importar-se. – Quero ter uma mulher pelo resto da vida.
- Tu és realmente incomum. – ela falou, desistindo do livro que estava muito alto. – Não há homens assim no mundo.
Ela parou, e pensou no que tinha acabado de dizer. Ele era único, ele era diferente, diferente de todos os outros... Diferente de seu pai. Por que ainda assim sentia tanto medo?
- Então não há homens de verdade no mundo. – ele falou, assustando-a. A voz dele soou realmente perto. Ele se levantara e estava quase rente as costas dela, em frente a estante cheia de livros. – Deixe-me ajudá-la.
Ela virou-se de frente pra ele, surpreendendo-se com proximidade. Sem esforço algum, Harry esticou o braço e pegou o livro que ela tentara tanto capturar, e estendeu-o pra ela.
- Obrigada.
- Não há de que. – ele respondeu.
Hermione deu um passo pra trás, a fim de afastá-lo, mas foi em vão, quando deu-se conta estava entre a estante gigante e Harry absurdamente próximo de si.
- Mais algum? – ele perguntou.
- O que? – ela indagou, sentido-se tonta... Quase tinha esquecido o perfume dele. Mas, era inesquecível.
- Mais algum livro? – ele indagou, com um leve sorriso.
- Ah... Não. – ela respondeu, vendo-o se afastar. – Por enquanto.
Ele sorriu quando ela completou a frase.
Voltou a sentar-se na mesma cadeira e observá-la andar pela biblioteca.
Ela era encantadora. E ela tinha tudo que ele sempre procurara. Era tão diferente de todas as outras mulheres daquela cidade, que se matavam apenas para vê-lo passar na rua. Tão fúteis e desinformadas. Ela era incrível, e a maneira como ela sorria, e a forma dela falar, a maneira de pensar, o jeito que se comportava, e o entendimento que ela tinha sobre tantas coisas, o conhecimento, a cultura, a curiosidade em descobrir coisas novas, em se modernizar e não se deixar prender ou engolir pela sociedade na qual viviam, que oprimia as mulheres, usando-as para ter herdeiros, ou fatalmente, apenas por diversão. Ela tinha presença, força, determinação, um rosto jovem com corpo de mulher, uma fortaleza guerreira.
Uma fortaleza, infelizmente, forte demais. E ele tinha certeza que para conseguir alcançá-la em seu intimo, teria muito trabalho. O bloqueio que ela criara era tão forte e tão visível, que quebrá-lo parecia impossível.
Mas, fatalmente, tinha se apaixonado por aquela mulher, e iria até o inferno para fazê-la ver que a queria simplesmente do jeito que ela era, com todos os defeitos e qualidades.
- Tem ‘O Príncipe’? – ela perguntou, despertando-o de seus devaneios.
- O que? Perdoe-me... Me distraí.
- ‘O Príncipe’, de Maquiavel? – ela repetiu, buscando os olhos verdes dele, tentando adivinhar no que ele estava pensando.
- Claro. Mas... – ele olhou para uma prateleira bem mais alta que a primeira.
- Ah, tudo bem. – ela falou, ligeiramente desapontada. – Eu nem queria lê-lo, mesmo... – ela completou, fazendo-o rir.
- Mas eu vou pegá-lo pra você. Espere só... – ele disse, levantado-se.
- Não! – ela o interrompeu. – Por Deus, acho que já o incomodei demais por hoje. Não quero o livro. Quero que continue aí, sentado.
- Não seja tola, Ninfa! É claro que eu irei pegá-lo pra ti. – ele falou, fazendo-a sorrir. – E você jamais incomoda, não sabe quão feliz estou pela sua visita...
- Senhor! – disse a empregada que Hermione encontrara na sua chegada a fazenda, entrando afoita, pelo visto viera correndo.
- Sim, Lídia?
- O homem. Ele está muito furioso, disse que tem que levar a senhorita agora. Ele está querendo entrar na casa de qualquer forma... – ela falou, ofegante.
- Deus! – Hermione falou, sobressaltando-se. – Que horas são?
Harry verificou o relógio com uma careta.
- Quase oito e meia.
- Estou morta! – ela falou, saindo correndo da biblioteca, carregando os livros nos braços.
- Hermione! – ele chamou, tentando pará-la, mas ela passou pela porta como um raio e disparou correndo pelo corredor. – Obrigado, Lídia, fez um ótimo trabalho.
Mal terminara de agradecer, já disparara pelo corredor também.
***
N/a: Comenteeeeeem, pessoal!
Espero que estejam gostando dessa fic, que é bem diferente de todas as outras.
=]
Muitíssimo obrigada por todos os comentários, pretendo respondê-los em breve.
Amo vocês.
Beijooo.
anúncio
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!