Capitulo VII
Anne tocava piano divinamente no salão de musica, enquanto Rony a ouvia, observando o luar através da janela do lugar. Mas um barulho constante de batidas o fez virar em tempo de ver Hermione passar correndo por eles, com suas botas batendo contra o assoalho de madeira milimetricamente polido.
- Mas que diabos...? – antes de terminar a frase, viu Harry passar correndo, sem dar explicação alguma, gritando o nome da moça.
Ela chegou à porta da fazenda, ofegante, segurou o vestido e desceu os degraus da entrada correndo, o homem grandão, chamado Alfred, tinha cara de mal e a esperava realmente zangado.
- A senhorita entra no carro, agora! – ele gritou, tomando-a pelo braço, assim que ela terminara de descer a escada.
- Solte-me.
- Entre agora! A Madre falou para ficar de olho na senhorita? E o que tu fez? Colocou algo na bebida para que eu dormisse? – ele ralhou, apertando o braço dela.
- Largue-a, agora. – Harry gritou do meio da escada, descendo correndo, assombrado com a falta de respeito do homem.
- E quem tu pensas que é pra falar assim comigo. Foste tu, não é? Que mandou colocar coisa na minha bebida, pra eu dormir. – ele falou, mantendo Hermione presa em uma das mãos, enquanto a outra apontava o dedo indicador rente ao nariz de Harry.
- Solte-a agora, e eu não irei repetir. – ele falou, com um tom autoritário e cheio de raiva. Hermione nunca o vira assim.
- Eu não vou soltá-la enquanto não chegarmos ao convento.
- Achas mesmo que vou deixá-la ir com você, seu bruto? – Ele indagou, tomando Hermione pela mão, puxando-a para si. A moça se desvencilhou do braço do homem e se deixou envolver por Harry. Os livros que ela abraçava, estavam espalhados pela grama. – Eu a levarei para o convento e a entregarei para a Madre sã e salva, não te preocupes.
- Sou eu que tenho ordens para levá-la, é o meu serviço entregá-la! – o homem bradou.
A essa altura, Rony e Anne espiavam a confusão lá da porta da fazenda. Assim como a maior parte dos empregados.
- Fala como se ela fosse uma encomenda, um produto que tem de entregar. – Harry gritou, sua paciência já tinha ido embora há muito, mantinha sua mãos apertadas sobre Hermione, para não estrangulá-lo tanto era ódio que estava sentindo por aquele home, a tratando como se fosse uma qualquer. Rony desceu os degraus, rezando para que o amigo não fizesse uma besteira.
Hermione encolheu-se no peito de Harry, fechou seus olhos. Estava segura ali com ele...
- Eu não sou um objeto ou uma encomenda para tratar-me assim! – berrou a mãe.
- Calada, mulher! – ele rugiu sobre ela.
O pai e mãe estavam em mais uma de suas discussões, na sala, Hermione estava sentada no chão, encolhida contra a parede, chorando ao ver aquilo... Tinha apenas treze anos.
- E não sou nenhuma daquelas vadias com quem tu te divertes todas as noites.
A mão pesada do homem cortou o ar, e foi em cheio no rosto bonito da mulher, que caiu no chão com a força do golpe.
- Já disse pra ficar calada. – ele berrou. Depois se ajoelhou perto dela, e tomou-lhe o rosto delicado nas mãos, obrigando-a a olhá-lo. – E acredite, querida, não és tão diferente daquelas vadias. – ele sibilou, bem junto ao rosto dela, apertando-o entre as mãos, provocando-lhe marcas.
Ela se encolheu mais junto a ele, tentando impedir as lágrimas que queimavam-lhe os olhos. Ouviu apenas Alfred responder, num tom irônico:
- Quem disse que ela não é?
Sentiu Harry soltá-la, e partir pra cima do homem com os punhos fechados.
- Desgraçado... – Harry berrou, antes de acerta-lhe um soco certeiro no nariz, fazendo-o cambalear.
- Harry, pare! O que está fazendo, amigo? – gritou Rony, tentando puxar Harry para longe do homem que parecia surpreso, com sua mão no nariz, tentando estancar o sangue.
- Infeliz, desgraçado... Ouviste o que ele disse dela? Ouviste? – Harry berrou, pra Rony, tentando se desvencilhar do amigo e voltar a atacar o homem.
Enquanto isso, Hermione sentara-se, cambaleando, em um dos degraus, chorando silenciosamente, sentiu Anne sentar ao seu lado e acolhê-la num abraço reconfortante.
- Harry resolverá tudo, não te preocupe. – ela falou, tentando consolar Hermione, que apenas assentiu, incapaz de falar. Eles eram uma família. Um se encrencava e todos os outros estavam juntos, e se tivessem que se dar mal, o fariam. Mas estavam sempre unidos... Hermione nunca vira isso. Nunca provara esse sentimento de cumplicidade e compreensão mútua.
- Desgraçado é quem me chama, seu... – o homem partiu pra cima de Harry, mas Rony colou-se a sua frente.
- Desculpe-me amigo, mas se realmente estás a fim de briga, saiba que somos dois.
- Três. – disse uma voz, vinda da escuridão.
- John! – Harry falou, meio constrangido pela bagunça.
- Eu ouvi o barulho senhor, vim ajudar se precisar. – o homem falou, postando-se ao lado de Rony.
- É isso, então. Somos três, e quantos mais ouviram a confusão. – disse Rony, com certo triunfo na voz. – Se quiser brigar, arque com as conseqüências depois.
Alfred os encarou e deu as costas, saiu andando, subiu na carruagem que trouxera Hermione, e foi-se embora.
- Covarde! – gritou Rony, ao vê-lo ser engolido pela escuridão da noite.
- Por Deus! Que confusão foi essa, senhor? – perguntou John, com um sorriso.
- Grosseirão matuto, mal educado. – bradou Harry, virando-se para Hermione. - Ninfa? – ele chamou, baixo, ajoelhando-se para falar com ela.
O rosto dela, escondido até então pelas mãos e pelo corpo de Anne que a abraçava, emergiu manchado de lágrimas.
- Desculpe-me por tudo isso... Eu realmente não... - ela começou, mas foi Rony quem a interrompeu.
- Quem tem que se desculpar é aquele dinossauro, que por um erro na vida, um dia aprendeu falar. Deus nos livre! Nunca vi ninguém que abrisse a boca pra falar tanto absurdo. Isso é jeito de tratar uma dama?
- Eu não devia ter vindo... Eu só causei confusão... Só problemas... Eu...
- Calada, Ninfa. Não repitas isso nunca. Agora, vamos, vou levá-la para o convento.
- Quer que eu vá junto, Harry? – perguntou Rony.
- Não, Rony. Fique aqui com Anne, sabe que não gosto de deixá-la sozinha.
- Eu acompanho, senhor. – disse John, prestativo.
- Não, não. E Isabel? Já passa o dia todo sozinha...
- Ela mesma que me mandou vir aqui ajudar. Disse que pelo senhor vale a pena brigar. – o homem falou. – Eu vou guiando a carruagem, vamos.
- Muito obrigado, John. – disse Harry, com um sorriso. - Anne, querida, suba com Rony. Vá dormir, deve estar cansada.
- Certo. – disse a menina, levantando-se a ajudando Hermione a fazer o mesmo. – Não se preocupe, Harry sempre resolve tudo, Hermione, fique tranqüila.
- Obrigada. Obrigada por tudo... – ela agradeceu, abraçando Anne e depois Rony, que a abraçou com carinho.
- Se encontrar algum grosseirão mal educado pelo caminho, é só assoviar que eu corro para salvá-la.
Hermione riu, e entrou na carruagem, logo Harry fez o mesmo, entregando-lhe os livros que recolhera no chão, e eles começaram a andar, abandonando as luzes da grande fazenda de Harry, para serem engolidos pela escuridão da estrada.
- Está tudo bem? – ele perguntou.
Havia mais de duas horas que haviam partido da fazenda. Desde então Hermione nada dissera, encolhera-se no assento e fitava o nada. Parecia sofrer por dentro. Não emitiu nenhum som, parecia não tê-lo ouvido.
- Ninfa? – ele chamou, ficando ligeiramente preocupado. Sabia dos traumas dela, do sofrimento, dos bloqueios... Vê-la assim o preocupava. – Pode, ao menos, dizer-me se está tudo bem?
Ela assentiu, sem som algum.
- Não foi tua culpa...
- Foi.
- Por favor...
- Por que nada em minha vida dá certo? - ela indagou, fitando o carpete da cabine que sacolejava pelo caminho escuro. – Quando eu parecia finalmente ter encontrado pessoas que pareciam gostar de mim...
- E gostam. Realmente gostam. E tu encontraste o que procurava. Encontraste tua família.
- Devo ter feito algo muito errado. Muito mesmo... Só pode ser castigo... Inferno! – ela falava, ainda focando o carpete, como se estivesse delirando.
- Ninfa...
- Tudo errado. Sempre. Brigas e mais brigas... – ela ergueu a cabeça de repente e o fitou com os olhos cheios de ódio e mágoa. – Ele batia nela, sabia? Batia nela quando estava nervoso, quando estava irritado, quando estava frustrado, quando estava feliz! Ele se divertia... E ela nunca fugiu... Sempre se submeteu... E era cada vez pior... Eu me encolhia e tampava os ouvido para não ouvir... Mas ela gritava alto... Muito alto. Eu a ouvia mesmo sem querer... E quando ele terminava, exibia triunfo... Sentia prazer em fazê-la sofrer... Depois ia atrás das empregadas... Eu as ouvia gritar também... Pediam pra ele parar... Imploravam... – as lágrimas vinham silenciosas pelo rosto amedrontado dela. – Um monstro... Sempre foi um monstro. Quanto mais eu tentava fugir, e evitar ouvir... Mais alto era... Mais constante com o passar do tempo. Eles brigavam aos berros... Ele batia nela como quem batia numa mesa, ao ganhar um jogo de cartas... Com vontade, ele entrava em êxtase... Ela gritava com ele, mas ele a ignorava. E depois, eu ia vê-la, e ela me expulsava do quarto... Jogava coisas em cima de mim... Ela não queria ver ninguém... Quebrava tudo que via... Eu queria somente abraçá-la... Somente dizer que ela tinha a mim, mas...
Harry respirou fundo, tentando conter as lágrimas que queriam vir, vendo-a e ouvindo-a dizer tudo aquilo.
- Nunca serei como ela.
- Tu não és.
- E nem serei. – ela falou, alto, como se o tom que ela usava fosse acabar com toda a dor que tinha dentro de si. – Ela nunca foi feliz...
- Mas tu serás.
- Serei? Acho que não. Olhe como tudo em minha vida insiste em dar errado. É minha sina, viver infeliz, ser como ela.
- Por favor...
- Não me peça favores! – ela falou, enojada. – Não peça nada. Não sei por que insisto em levar isso à frente. Não dará certo. Não é para dar certo.
- Ninfa... Não!
- ELE ERA COMO VOCÊ. – ela gritou, aterrorizada, como se todos os fantasmas do passado dela estivessem ali. – Ele era como você... Era bom... E a entendia... Precisava dela...
- Hermione...
- Mas tudo mudou depois que se casaram. E tudo aconteceu... Sucessivamente... Cada vez mais freqüente, cada vez mais intenso... Sabes quem eu sou? Sabes o que sou? – ela esperou uma resposta, mas os olhos verdes dele apenas a fitaram. – Sou fruto do ódio dela por ele. Tenho certeza... Ele entrou no quarto e tentou possuí-la a força, como tantas outras vezes... Aqui estou eu. Fruto do ódio, da ira e de tudo de ruim que se pode ser. Sou o resultado de um abuso, de uma monstruosidade... Sou detestável como aqueles que me fizeram.
E ela não chorava mais... Mas estava lívida, e tremia com ódio.
- Queria poder ajudá-la.
- Não podes. Ninguém pode. – ela falou, convicta.
A carruagem parou, ouviu-se a voz de John dizer ‘Chegamos’. Ela abriu a pequena porta e o encarou pela ultima vez.
- Ele também queria ajudá-la.
Hermione correu para dentro do convento, sumiu de vista. Harry queria poder ir atrás dela... Mostrar-lhe que não era como ela estava pensando... Que ele, Harry, não era como pai dela. Que ele apenas queria fazê-la feliz, de verdade.
Mas todas as suas vontades foram postas de lado ao ver a Madre aproximando-se do grande portão de ferro.
- Boa noite senhor Potter. Estou realmente ansiosa para ouvir sua explicação pelo atraso de pouco mais de uma hora. Queira me acompanhar até minha sala, por favor. – disse a mulher, obrigando Harry a atravessar os portões com destino a sua sala.
***
N/a: Só Deus sabe como esse capítulo me deu trabalho... Espero que tenha conseguido passar o que queria.
Esse negócio de intensidade emocional me deixa louca!!!
^^
COMENTEM bastante.
Obrigada, de coração, a todos que comentaram, assim que puder os responderei!
Beijooo,
Amo vocês.
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