Capítulo V
- Senhorita Granger? – chamou uma das irmãs, ao bater na porta de seu quarto.
- Sim? – ela respondeu, ao abrir a porta.
- A Madre Superiora quer vê-la na sala dela, agora.
- Estou indo, obrigada.
Saiu em passos lentos pelos corredores intermináveis e silenciosos do convento.
Os últimos dias haviam sido exaustivos pra ela... Uma briga mental, discussões em seu interior, medos e vontades numa luta constante dentro dela. Era uma guerra, que realmente estava a matando ao poucos, a dúvida era uma amiga vinda do inferno para atormentá-la, e sua mente não tinha mais paz, não tinha mais concentração em seus livros, e nada mais parecia interessante, ou bonito, ou horrível... Era só ela e seu próprio eu numa batalha interminável que a estava consumindo de maneira desgastante.
Chegou à porta da sala e bateu.
- Entre. – ouviu a Madre dizer. Abriu a porta e entrou.
E todas as dúvidas foram embora, e tudo fez sentido, e a vontade de experimentar aquele sentimento emergiu dentro dela, soltando lavas incandescentes como um vulcão, no momento que seus olhos encontraram os de Harry, ali, naquela sala.
- Como vai, senhorita? Ainda não tive a oportunidade de agradecê-la por ter me mostrado o convento. Muita gentileza a sua. – ele falou, numa interpretação incrível, tomando uma das mãos dela e levando aos lábios, ele a fitou e piscou com um pequeno sorriso, que logo foi substituído por uma cara séria, no momento que a Madre passou a observá-los.
- Não há o que agradecer, senhor. Espero que tenha apreciado. – ela falou, entrando no jogo dele.
- Ah, por certo que o fiz. Pretendo trazer minha irmã pra cá, com certeza. Mas, como acabei de dizer a Madre, Anne ainda é muito jovem, tenho receio de que ela possa estranhar o ambiente, visto que ela nunca esteve num convento antes.
- Será realmente um choque pra ela, suponho que ela leve uma ótima vida em vossa fazenda. É um verdadeiro contraste vir pra cá. – ela respondeu, sentando-se dignamente numa cadeira em frete a mesa da Madre, que escrevia algo em alguns papéis.
- O senhor Potter veio até aqui pedir-me que a senhorita vá conversar com a senhorita Anne Potter, para informá-la de como mantemos o regime aqui no convento, para que ela vá se habituando ao ritmo que temos aqui.
Hermione sentiu uma vontade enorme de cair na gargalhada, pelo visto, Harry também se segurava para não fazer o mesmo. Juntando todo seu autocontrole, ela falou:
- Acho que seria excelente, coitadinha, pode sentir bruscamente a diferença entre a vida que tem e a que terá aqui. Ainda á muito jovem, conseqüentemente, muito frágil, essa mudança poderia ser realmente deprimente pra ela, se não estiver devidamente preparada. – Hermione falou, com seu tom sério e equilibrado. – Ainda lembro-me de meus primeiros dias aqui, foram horríveis, uma experiência péssima. Acho compreensível que o senhor Potter se preocupe com a saúde mental de sua irmã.
Harry virou-se, falsamente interessado numa das imagens sobre o console da lareira, segurando-se para não rir.
A Madre pareceu muito ofendida com o comentário.
- Saúde mental? Este é um lugar onde as pessoas encontram seu equilíbrio, sua paz interior... E não um lugar que mexe com a saúde mental das pessoas, a ponto de deixá-las deprimidas.
- Depende da pessoa. Fale pela senhora Madre. – Hermione respondeu, no seu tom desafiador. A Madre respirou fundo, ela sempre fora atrevida, desde o primeiro momento, aprendera a não discutir com ela.
- Não importa. O importante agora é que a idéia do senhor Potter é totalmente estapafúrdia e fora de cogitação. Ninguém sairá desse convento.
Harry virou-se para mulher.
- Por favor, Madre, peço que reconsidere. A senhorita Granger não é freira, não há nada de errado no fato dela deixar o convento. Sei que é contra as regras para as outras irmãs deixarem esse lugar, jamais iria contra as normas impostas pela senhora, por isso mesmo vim pedir-lhe que mande a senhorita Granger.
- Ela não tem permissão dos pais para sair.
- Quem disse que preciso da permissão deles para fazer alguma coisa? – Hermione falou, levando-se indignada. – Sou dona da minha vida.
- Sabes muito bem que não é assim que as coisas funcionam, senhorita Granger. – disse a madre.
- Por favor, Madre. – disse Harry, antes que Hermione retrucasse e colocasse tudo a perder. – A senhorita Granger é a mais indicada para convencer minha irmã e fazê-la se acostumar com a nova vida que escolheu, elas possuem idades aproximadas, será mais confortável para Anne.
- Não adianta insistir Senhor Potter.
- Essa é vossa ultima palavra, Madre? – ele perguntou.
- Sim, senhor.
- Ótimo. Só espero que esteja preparada para a reputação que seu convento terá se, por acaso, minha irmã tiver algum problema aqui dentro. Principalmente se ela cair doente, ou, deprimida... Eu não vou fazer nada para poupar os falatórios na cidade, Madre, eu sinto muito. – ele falou, pegando sua capa de viagem nas costas da cadeira. – Foi um prazer revê-la, senhorita.
Ele acenou para Hermione e deu as costas. Sabia que a Madre o chamaria de volta, vinha planejando isso há alguns dias, podia sentir uma energia leve e juvenil emanar do corpo de Hermione e alcançar o seu. Ele estava jogando, ela percebera com facilidade, e ambos tinham certeza: a Madre cairia, sem dúvida.
- Senhor Potter? – disse uma voz trêmula, que o fez parar e girar sobre os próprios calcanhares tentando conter um riso de satisfação.
- Sim, Madre?
- Não quero ver o nome de meu convento jogado na lama, por tamanha besteira. – ela falou, nervosa. – Tem minha permissão para levar a senhorita Granger até vossa casa, acompanhada por um de meus empregados de confiança.
- Ah, eu tinha certeza que a senhora faria a coisa certa. – ele falou, com um sorriso. – Pode arrumar suas coisas agora, senhorita? A espero lá fora.
- Num minuto. – Hermione respondeu, feliz, saindo afoita pelos corredores do lugar.
- Mas vai levá-la agora? Estamos quase à hora do almoço.
- Sim, senhora, tenho urgência nisso. – ele respondeu. – Não se preocupe Madre, ela estará em boas mãos, sabe disso. A senhora conheceu meus pais e toda minha família, não faria nada de mal a menina.
- Eu sei, senhor Potter. O fato é que sua fazenda fica a horas daqui, pretende trazê-la de volta quando?
- Amanhã? – ele arriscou, tendo certeza que seria o cúmulo da bondade a Madre deixar que Hermione passasse a noite fora.
- É claro que não! A quero aqui ainda hoje, antes das dez da noite, me entendeu bem, senhor Potter? Antes das dez.
- Sim, senhora. Ela estará de volta antes das dez.
- Perfeito. Faça boa viagem.
- Obrigado. Obrigado por tudo.
Quase três horas depois de ter estado na sala da Madre superiora, Hermione saltou da carruagem em frente a uma belíssima escadaria que dava acesso a fazenda dos Potter. Uma verdadeira mansão rural, enorme, um belo jardim, via-se, ao longe o começo da plantação de café.
- Incrível. – ela sussurrou, ao aceitar o braço dele, para subirem juntos a escada.
- Obrigado. – ele respondeu. Apareceram dois empregados para levarem a carruagem onde tinham viajado e outras duas desciam a escada, prestativas.
- Boa tarde, senhor. – disse uma delas, com um aceno.
- Boa tarde, Lídia. – ele respondeu, com um sorriso. – Sabe o que fazer, não? – ele perguntou em voz baixa, acenando discretamente para o homem que a Madre mandara junto com Hermione.
- Sim, senhor. – ela respondeu, e rapidamente, foi até o homem e lhe disse algumas palavras, ele pareceu bastante animado e acompanhou a mulher até sumirem de vista atrás da casa.
- O que ela vai fazer? – Hermione perguntou.
- Um belo lanche da tarde, acompanhado de um bom cochilo... Será o suficiente para mantê-lo longe até o jantar.
- Pensaste realmente em tudo!
- Nos mínimos detalhes. – ele falou. – Lourdes, querida, venha conhecer a moça de quem lhe falei. Hermione Granger, esta é Lourdes, é minha babá desde quando nasci, cuida de mim até hoje.
- Ah, menino, mas ela é mais linda do que me disseste. – disse a mulher, que devia ter uns cinqüenta anos, cabelos grisalhos, rosto bondoso.
- Obrigada. – Hermione respondeu, pouco corada.
- Venham, queridos, o lanche está pronto, Ronald está comendo, junto com Anne, cansaram de esperá-los.
- Não, Lourdes, agora não. Vou mostrar a fazenda à Hermione, voltaremos para o jantar, tudo bem?
- Claro menino... Capricharei no jantar de hoje.
- Tu caprichas todos os dias Lourdes... – ele falou, soltando Hermione e abraçando a velha, que riu.
- Me larga menino, vá logo, antes que a moça fique com ciúmes. – Hermione riu, achando estranha a relação do rapaz com a empregada, era tão diferente das coisas na casa dela.
- Certo, certo... – ele falou, rindo, voltando a oferecer o braço para Hermione, que o aceitou. – Vamos, ninfa?
- Hoje, tu és o meu guia. – ela respondeu, começando a caminhar com ele pelo gramado bem verde em frente a propriedade.
- Quem é Ronald? –ela perguntou, enquanto era guiada por ele, conhecendo cada centímetro da fazenda de Harry.
- Ronald? – Harry riu. – Rony. Ronald Weasley. Meu melhor amigo. Crescemos juntos, ele mora na fazenda vizinha, sou dois meses mais velho que ele, nossas mães se conheceram na cidade, as duas grávidas, não tinham ninguém por aqui, viraram amigas... Desde então, convivo com ele todos os dias da minha vida. É um irmão.
- E ele estará no jantar?
- Ele praticamente mora aqui. Rony tem muitos irmãos, depois dele, só tem uma garota... Todos lá têm muito com o que se preocupar, e o trabalho é dividido pra todos, são tantos, que não sobra quase nada pra ele fazer... Então ele vem pra cá e me ajuda com os meus negócios... É meio estranho, mas eu o considero muito, tem sido muito importante pra mim desde a morte de meus pais. Ele e Lourdes são tudo para mim e Anne.
- Incrível. Eu nunca tive ninguém... Sempre fui sozinha.
- Agora você tem a mim... E logo depois do jantar terá ao Rony e a Anne também! Estão curiosos para conhecê-la. – ela falou, fazendo-a rir. – Boa tarde, John!
Um homem passou por eles carregando um pesado saco de café nas costas.
- Boa tarde, senhor. – o homem respondeu, parando e acenando a cabeça para Hermione.
- Não é melhor pedir ajuda para alguém para ajudar a carregar isso? Já não está mais na idade de carregar uma saca sozinho, homem! – Harry falou, com preocupação e simplicidade.
- Não, senhor, ainda consigo.
- Não quero ver-te doente pelos cantos. Cuide-se, está bem?
- Sim, senhor. Alice pediu para que eu entregasse isso aqui pro senhor. – o homem falou, colocando a saca no chão, com dificuldade, tirando uma margarida que estava guardada desajeitadamente no bolso da calça. – Em agradecimento pela visita de ontem, senhor.
Harry apanhou a margarida com um sorriso.
- Diga a ela que agradeço muito, e que farei outra visita para ver Isabel.
- Ah, senhor, muito obrigado... Muito...
- Pare de me agradecer, não me deve nada disso John. Diga a Alice para ir lá em casa qualquer dia que tenho um presente pra ela.
- Sim, senhor.
- E Isabel?
- Está melhorando, senhor. Sabe, do mesmo jeito que vistes ontem, ainda sem poder se levantar.
- Não deixe de me avisar sobre qualquer coisa que aconteça. Se precisar de médico, é só pedir para Lourdes que ela mandará chamar... Remédios e qualquer outra coisa, é só avisar, que mandarei providenciar.
- Obrigado senhor. Muito obrigado... Nem sei como agradecê-lo...
- Basta Alice continuar mandando-me flores que está tudo certo. Cuide-se homem, lembranças a Isabel.
- Sim, senhor. – o homem parecia emocionado, voltou a colocar a saca nas costas e saiu andando lentamente.
Hermione assistiu a cena totalmente bestificada, sem conseguir assimilar o que acabara de acontecer.
- John é um dos nossos empregados mais antigos. Isabel, sua esposa, caiu enferma há muito tempo... Coitada. Já tentamos de tudo, mas nada a faz melhorar. Alice, a filha deles, tem apenas onze anos, é um doce de menina. Tenho feito visitas a eles, sabe, sempre foram tão fiéis ao meu pai, e agora são a mim, contribuíram tanto conosco. É tão triste vê-lo sofrer assim, ele gosta tanto da esposa, tenho tentado ajudá-lo de todas as maneiras possíveis.
Hermione parou de andar, ainda desorientada com o que acabara de acontecer... Uma lembrança lhe veio a mente.
Hermione parou na janela da sala de estar, olhando para o pai que saía apressado.
O senhor Granger descia a escada em passos duros, o cavalo selado o esperava, até mesmo o animal parecia temê-lo, seu chicote na mão amedrontava a todos.
Um dos empregados empurrava um estrado cheio de produtos da fazenda, sozinho, com um esforço enorme, sob o sol quente do meio dia. O homem parou ao ver o senhor passar.
- Boa tarde, senhor. – cumprimentou.
O chicote cortou o ar, em cheio no rosto do empregado, que caiu no chão e soltou um grito de dor.
- Tenho que repetir quantas vezes para que faça seu serviço de boca fechada? – trovejou o homem sobre o rapaz jogado no chão, sangrando. Com um olhar de nojo, o senhor cuspiu e montou em seu cavalo.
Hermione cansara de ver cenas como aquela. Cansara de tudo aquilo. E não podia fazer nada. Correu em direção ao seu quarto, incrédula com a maldade e a barbárie que era aquele lugar.
- Hei... Ninfa? Está tudo bem? – Harry perguntou, preocupado, ao vê-la paralisada, com o olhar parado e sem foco. – Hei...
Ela balançou a cabeça de repente, o fitou, confusa... Cada minuto que passava com ele só a confundia mais e mais...
- Hermione? – ele chamou, sério.
Ela o encarou, ele nunca a chamara pelo nome.
- Hermione? – ela repetiu, meio incerta e totalmente perturbada. – Nunca me chamou de Hermione.
Ela pareceu com raiva, saiu andando sozinha, largando-o pra trás. Ele não entendeu. De repente ela mudara de humor tão drasticamente.
- É que você parecia aérea... – ele falou, acelerando para alcançá-la. – O que houve? Disse alguma coisa que a chateou?
Ela o fitou de maneira penetrante. Ele era tão preocupado com ela e com os outros, e era tão diferente...
- Não. – ela respondeu, sem graça. – É só que...
- Que...? – ele a encorajou.
- Lembrei-me de algumas coisas que prefiro esquecer.
Ele logo notou, tinha a ver com os pais dela, só podia ser.
- Eu sinto muito... Há alguma coisa que...
Ele não conseguiu concluir a frase, ela o abraçou, mas logo o soltou espantada com o próprio atrevimento.
- Desculpe-me... É que...
- Não precisa explicar, se não quiser. – ele falou, voltando a abraçá-la, forte. – Conte-me o que quiser, somente quando quiser.
Ela assentiu, separando-se dele, voltando a caminhar.
***
N/a: Comentem, por favor!!!
É tudo que eu peço.
Beijos.
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