Eight
-E aí, Lily, aproveitou bem a noite? – Marlene sentou-se ao meu lado na mesa do Salão Principal, com um sorriso malicioso. Mas logo o sorriso esmaeceu.
Eu realmente devo estar horrível.
-Lily, o que houve? – Ela olhou de mim para Tiago, que me observava, com uma cara cansada, triste, anormal para ele.
Cínico, mentiroso, hipócrita, duvido que ele esteja triste mesmo. Provavelmente está rindo por dentro, achando que a trouxa aqui vai acreditar nesse teatrinho dele e vai cair em sua lábia. Cretino.
-Lily? Onde você está heim? – Marlene estalou um dedo na frente dos meus olhos, fazendo-me voltar a atenção para ela.
-Em lugar algum, Marlene. Estou bem aqui do seu lado – Brinquei, sorrindo – Mas você é que deve estar imaginando coisas. Eu vi você saindo da festa ontem acompanhada – Sorri maliciosamente, enquanto ela corava - Muito bem acompanhada, pra dizer a verdade – Ela ficou quase roxa e me puxou para fora do Salão, para dentro de um banheiro feminino.
-Será que mais alguém viu? – Ela perguntou apreensiva, enquanto eu me sentava em uma das pias.
-Não sei Lene, mas alguém do fã clube dele deve ter visto, né? – Indaguei sensatamente. Ela suspirou pesarosamente. Sabia que ela ia me contar.
-Nós ficamos – Ela disse alguns instantes depois, passando a mão pelo rosto – Eu não sei mais o que eu faço, Lily. Eu não acredito que ele goste de mim, não consigo – Ela pegou minhas mãos, como num apelo – Mas também não consigo resistir á ele! Sei que vou me machucar, que ele vai acabar me traindo como fez com tantas outras, ou simplesmente me dispensar, me fazer mais uma da lista dele – Ela despejou e eu refleti, estava na mesma situação, mas já havia tomado minha decisão.
-Oh, Lene, eu não sei o que te dizer... – ‘Talvez porque você esteja no mesmo barco, e esteja se ferrando com sua decisão’ – Eu realmente acho que o Sirius gosta de você. Pode não ser tanto quanto gostaríamos, isso eu não poderia saber, mas ele gosta. – Garanti-lhe, secando uma lágrima teimosa que deslizava pelo rosto da minha amiga – Tente conquistá-lo. Fazê-lo gostar de você como você quer. Você sabe que pode, Lene – Ela me olhou e me abraçou forte, no que eu demorei alguns segundos para retribuir.
-Obrigada, Lily – Ela me disse com voz fraca, sorrindo – E-eu me prometi que não ia chorar por nenhum garoto, mas dói demais. Fui burra, comecei a gostar dele – Ela secou mais uma lágrima – Mas eu vou tentar. Se for pra me ferrar, vou me ferrar inteira, de uma vez só, e não ficar nesse chove não molha – Ela sorriu otimista – Me deseje sorte.
-Toda a sorte do mundo para você, minha amiga – Abracei-a e vi ela se distanciar, saindo pela porta do banheiro afora. Desci da pia e lavei meu rosto, sentindo uma vontade gigante de sucumbir ao choro novamente. Daqui a pouco vão me tachar de emo, desgraça.
-Lily? Lily, você está sozinha aí? - Uma voz masculina ecoou pelo banheiro, fazendo-me sobressaltar. Ainda assim verifiquei os boxes e constatei que estava sozinha ali mesmo.
-Sim, estou – Disse alto o suficiente para a pessoa ouvir, e então ela adentrou o aposento.
-Acho que já deu tempo para pensar, Lily – Ele disse ajeitando os óculos no rosto, aproximando-se de mim – Eu não posso mais esperar. Não posso. – Prendi a respiração.
-Tiago, eu... – Tentei argumentar, mas ele estava irredutível.
-Sem ‘Tiago’... – Ele sentenciou, coma voz firme, como se não admitisse contrariação.
-Acabou. Dessa vez é de verdade – Minha voz não queria sair, mas minha razão forçava-a a dizer aquelas palavras.
-Por que? – Ele parecia até bem calmo, um tanto indignado, como se eu não tivesse motivos pra estar fazendo aquilo. Ele nunca iria entender.
-Você nunca iria entender – Tentei argumentar, mas já havia enfraquecido. Não tinha mais barreiras, não tinha mais reservas, não tinha mais defesas. Não com ele ali.
-Tente – Ele se aproximou e me abraçou por trás, beijando meu rosto – Tente me explicar por que você quer acabar, se vejo nos seus olhos que ainda me quer, minha pequena? – Céus, ele me chamou de pequena.
*.*
Ele me chamou de minha pequena
-Eu não sou sua, Potter – Tentei forçar a voz mais séria que possuía, e ela quase saiu perfeita.
Quase.
-Pelo amor de Merlin, Lílian! Por que resiste tanto assim? – Ele me soltou e foi para longe, passando a mão pelos cabelos em um ato de nervosismo. Suspirei.
-Para não me machucar no final – Nem sabia que havia proferido aquilo em voz alta, quando ele se aproximou de mim novamente.
-Esse é o problema? É essa sua briga? Acha que eu vou te machucar? – Ele perguntou.
-EU TENHO CERTEZA! VOCÊ FEZ ISSO COM TODAS AS OUTRAS, POR QUE COMIGO SERIA DIFERENTE? – Gritei, desesperada para me livrar daquele sentimento de culpa que se apossava de mim toda a vez que ele falava daquele jeito.
-Porque para elas eu não dei esperanças, elas se iludiram sozinhas. Eu nunca disse que gostava de nenhuma delas. Meio insensível, admito – Ele passou a mão pelos cabelos – Mas real. Nunca alimentei nada por elas, elas sempre souberam disso. Mas para você, já ofereci tudo o que eu tinha e muito mais – Sorriu-me de modo estranho, pensativo – Basta você aceitar.
-Você não me ofereceu tudo – Eu disse, convicta. – Falta uma coisa, o essencial. – Ele me olhou confuso – Pense um pouco. Tem até o fim do dia para me dizer – Saí do banheiro deixando-o sozinho, provavelmente pensativo.
Meio tosco, mas ele não me ofereceu o essencial. Ele ofereceu o corpo, as atitudes, a companhia. Ofereceu o apoio, um certo companheirismo, a amizade. Mas não ofereceu o que eu queria. Não ofereceu o que qualquer garota iria querer. Ele gosta de mim, eu sei disso. Mas só gosta. E isso para mim não é o suficiente.
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Logo depois disso, no fim das aulas, fui agraciada com a notícia de que Marlene e Sirius começaram a namorar. Claro, depois ela mesma veio me contar como aconteceu, e agora eu, Dorcas, Emmy e Lice ríamos juntas, enquanto a morena relatava o ocorrido.
-E então ele simplesmente me agarrou, do nada, depois de agente ter discutido por uns dez minutos – Ela disse e nós irrompemos em gargalhadas – Claro, eu tentei me desvencilhar dele, mas...
-Ah, claro que você tentou – Eu disse cínica, sorrindo maliciosamente, enquanto as outras riam da minha ironia.
-Tudo bem, tudo bem, nem tentei tanto assim... Sabe como é – Ela corou e deitou na grama, sendo acompanhada por mim.
Fiquei observando a árvore sobre minha cabeça, observando o sol passar por suas folhas e fazerem desenhos, como num rendado na grama verde, uma das coisas que eu mais gostava de ver. Senti a brisa sobre meu rosto e me perguntei por que ele demorava tanto para vir falar comigo.
-Lily? Você está muito quieta, o que aconteceu? – Dorcas, sempre muito atenciosa, notou meu silêncio anormal e perguntou-me. Ás vezes eu acho que nós cinco temos telepatia umas com as outras.
-Não é nada, Dorcas – Eu disse, mas ela pareceu não se convencer.
-Vem, Lil. Conta pr’a gente logo – Emmy disse e elas se sentaram, no que eu suspirei.
-Eu... Ah, é muita coisa pra contar – Eu disse e elas sorriram.
-Temos toda a tarde livre, Lil’s – Alice sorriu para mim e eu quis não concordar com ela.
-Eu briguei com o Potter – Eu disse de uma vez, suspirando logo depois.
-Mas vocês não tinham... Hum... Um caso? – Lene perguntou.
-Sim, mas nós brigamos hoje de manhã. – Suspirei pesadamente, e elas pareceram sentir o tamanho daquela briga.
-E aí? – Alice perguntou, apreensiva. Apreciei o tato delas, que não perguntaram o que fazíamos de manhã cedo juntos.
-E aí que eu acabei dizendo que o odeio, fiquei confusa, comecei a chorar e pedi um tempo para pensar – Eu despejei tudo e elas pareceram absorver, atentas ao meu problema.
-Vocês já se falaram de novo? – Dorcas perguntou.
-Sim, no banheiro, logo depois que a Marlene saiu ele entrou – Passei a mão pelos cabelos nervosamente – Ele me pressionou para decidir se terminaria tudo ou se continuaria com ele.
-E então...? – Emmy me encorajou.
-Eu disse que tinha medo de ele me machucar como havia feito com todas as outras. Ele me disse que comigo era diferente, que havia me oferecido tudo que ele tinha – Eu contei, mas Dorcas, atenta, negou levemente com a cabeça.
-Mas ele não ofereceu o que você quer, estou certa? – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça, segurando uma maldita lágrima.
-Está – Sequei-a rapidamente – Ele me ofereceu corpo e alma. Quando eu só quero o coração – Marlene, num impulso, me abraçou, e eu deixei algumas lágrimas rolarem. Ali, na borda do lago, entendi que o que eu queria era a atenção dele, o carinho, o amor. Mas ele não havia me oferecido isso, e menos que tudo eu não aceito. Não nesse caso.
-Er... – Dorcas corou um pouco – Gente, eu vou indo – Ela se levantou e arrumou a saia e a blusa. Arrumou até de mais, pro meu gosto.
-Vai aonde, Dorquitas safadinha? – Perguntei sorrindo maliciosamente, secando minhas lágrimas.
Ela corou e coçou a cabeça, sem jeito.
-Hum... Estudar – Ela disse e saiu correndo, olhando para o relógio.
Seguimos ela com o olhar e vimos ela entrar em uma porta escondida em uma árvore, do outro lado do lago. Logo depois Remo apareceu, entrando por aquela mesma porta. Nos entreolhamos e sorrimos.
-Estudar, não? – Marlene comentou.
-Só se for estudo sobre anatomia humana – Alice disse e todas rimos, voltando ao clima descontraído de antes.
Sabe, foi bom eu ter contado para as meninas. Parece que dividir isso com alguém me tira um peso das costas. Sorri distraidamente, observando alguns alunos brincarem na água.
-Lily, posso falar com você? – Uma voz grave me arrepiou os pêlos ao perguntar, e ao avaliar as expressões de Emmy, Lene e Lice eu não preciso nem olhar para saber que é ele.
-É claro – Levantei-me do chão com sua ajuda, começando a caminhar ao seu lado para longe das meninas. Quando atingimos uma distância de onde certamente ninguém ouviria, ele começou a falar.
-Sabe Lily... – Tiago passou a mão pelos cabelos, parecendo incerto do que ia dizer – Eu realmente acho que eu te ofereci tudo. Não consigo entender a sua decisão – Ele passou a mão pelos cabelos de novo – Eu te ofereci carinho, apoio, beijos – Ele riu levemente – Já disse que gosto de você, o que você quer mais de mim?
Eu suspirei, negando com a cabeça levemente.
Ele não entendera.
-O que você espera de mim, Tiago? – Eu perguntei repentinamente, quando nós paramos embaixo de outra árvore, observando as folhas balançarem suavemente.
-Bem... – Ele coçou a cabeça, incerto – Eu não sei... Espero confiança e respeito, sempre, pois já te ofereci o mesmo – Ele disse e eu continuei observando as folhas projetarem sombras no chão, deixando o lugar com um ar agradável.
-E o que mais? Confiança, respeito, beijos, talvez um pouco de apoio, carinho... Seria como se fôssemos amigos, que de vez em quando ‘se amassam’, mas amigos, certo? É isso que você quer, Tiago? – Perguntei sentando-me no chão e sendo seguida por ele, que sentou-se ao meu lado.
-Não... – Ele suspirou confuso - Não é isso.
-Então o que você quer de mim? – Me virei para ele, encarando-o – O que você quer de mim, Tiago James Potter? – Ele me encarou e se aproximou de mim.
-Eu não sei, Lily – Ele parecia confuso – É estranho. – Sorri tristemente.
-Eu sei que é. – Me levantei e ajeitei a saia, suspirando – Então, quando descobrir, venha falar comigo – Eu disse por fim, me preparando psicologicamente para ir embora, quando ele me puxou de volta.
-Isso tudo começou do jeito errado. – Ele sussurrou no meu ouvido, me abraçando por trás – Você sabe disso, não sabe? – Eu tremia a cada palavra, minhas pernas virando gelatina por causa da proximidade.
-Eu sei – Eu disse com voz fraca, mais num murmúrio – Mas me torturar não vai te ajudar a descobrir o que eu quero – Eu disse, ouvindo ele rir.
-Mas com certeza seria bem divertido... – Todos os meus pêlos se arrepiaram e todas as minhas moléculas vibraram no momento em que ele sussurrou isso de encontro ao meu pescoço.
Pelo. Amor. De Merlin.
-Aqui fora? – Eu perguntei resignada do meu destino. Ele riu e me puxou para trás. Eu me senti puxada pelo umbigo e me vi dentro de uma sala toda fechada dentro do colégio, parcialmente iluminada por tochas. E então não vi mais nada, somente senti os lábios dele sobre os meus com brusquidão, prensando-me contra a parede.
As mãos dele subiam e desciam por minha cintura, por baixo da blusa do colégio. As minhas passeavam por seu peito, costas, ombros, nuca e cabelo, livremente, como poucas vezes haviam feito. Quando ele me forçou contra a parede, fazendo-me colar mais o corpo nele, soltei um gemido de satisfação, alto e claro, sem mais reprimir droga nenhuma. Isso pareceu despertar algo dentro dele, pois a voracidade dele diminuiu gradualmente, voltando a aumentar, me deixando atordoada.
Uma coisa eu tinha de admitir: Ele sabia o que estava fazendo.
Ele dosava com cuidado a fome, me fazendo tremer de antecipação, esperando a volta do ritmo mais rápido. Mas então ele prolongava um beijo longo e lento, extremamente torturante para alguém que já havia provado da avidez anterior.
E então ele desceu a boca para o meu pescoço e segurou minhas mãos, para que ficassem pensas ao lado do meu corpo, e eu, por conseqüência, não reagisse. Fez peripécias com a boca e a língua sobre minha pele, fazendo-me chegar a patamares de um desejo estranho aos quais nunca sonhei em subir. Quando vi já estava suspensa no ar, com as costas apoiadas á parede, pernas e braços enlaçando o corpo de Tiago, enquanto ele se apossava do meu pescoço assim, como se sempre tivesse sido o dono.
Arquejei quando os lábios dele chegaram até o meu colo e depois voltaram para o pescoço, na outra lateral. Inclinei minha cabeça, dando-lhe mais acesso do que antes. Quando não agüentei mais, forcei-o com as mãos a voltar os lábios até os meus, beijando-me novamente, prensando todo o meu corpo contra a parede e fazendo-me sentir cada músculo tenso do corpo dele.
Paramos de nos beijar por alguns instantes, e então encarei-o. Eu havia bagunçado ainda mais seus cabelos, e o óculos estava completamente torto, tive de ajeitá-lo.
-Quase perdi o controle – Ele me disse em um murmúrio, e eu sorri.
-O meu já foi pro saco faz tempo – Ele sorriu, mas a expressão assustada não saía de sua face.
-Lily, eu não posso perder o controle – Havia urgência na voz dele – Não por mim, mas por você.
-Tiago, você pode perder o controle – Eu sussurrei em seu ouvido, mordendo de leve o lóbulo da orelha dele logo depois, causando-lhe um gemido – Quer dizer, com as outras não, já que está parcialmente comprometido, mas comigo pode sim... Sabe disso. – Beijei o pescoço dele levemente e arrumei minhas roupas tanto quanto pude, destrancando a porta da sala e saindo dali, me dirigindo ao Salão Comunal da Grifinória.
Senti-me sendo seguida, e logo fui puxada para alguma das inúmeras passagens secretas de Hogwarts, recebendo um ou dois beijos e depois sendo empurrada com delicadeza para fora, sentindo o perfume dele no meu corpo.
E, por algum motivo, sentia que esse perfume não iria sair.
Nunca mais.
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