Nine
-Huuum, esse sorriso tem algum motivo especial? – Marlene perguntou á Dorcas ao chegar no dormitório, onde eu estava sentada na minha cama e ela estava sentada num pufe no meio do dormitório.
Dorcas corou.
-Eiita que esse Sr. Lupin ta fazendo certas umas no dormitório tremerem na base heim? – Eu eu disse sem sorrir, mas em tom de brincadeira, como se fosse uma constatação.
-Vocês me seguiram, não foi? – Dorcas perguntou resignada, sentando-se em sua cama e tirando a gravata.
-Não, meu amor. – Marlene disse rindo – Eu, como namorada oficial de um maroto, agora tive acesso á um dos brinquedinhos deles... – Ela sorriu maliciosamente – O mapa do maroto, ta lembrada?
-Isso foi golpe baixo, Marlene – Dorcas disse rindo, mas meio ultrajada – Um dia eu roubo o mapa e te surpreendo em algum armário de vassouras com o Sirius, daí você vai ver só... – Marlene sorriu, sonhadora.
-Se engana, Dorcas querida... – Ela suspirou, sorrindo bobamente – Ele é diferente do que eu pensei que seria comigo... Nada de armário de vassouras para dona McKinnon – Ela abraçou uma almofada sorrindo e nós rimos.
-Quanta paixão heim Lene? – Comentei deitando-me de bruços na cama, com os pés em direção á cabeceira, apoiada sobre os cotovelos, observando Marlene e sentindo aquela pontada que já sentira antes, uma vontade de ter o que ela tem. Não falo do Sirius, entendam, alguém como ela tem, assim, nesse sentido.
-Ah, Lily, você nem imagina... – Ela alargou o sorriso e eu e Dorcas tivemos a mesma reação.
-Mas e você, Lily? – Dorcas perguntou.
-Bom... – Eu suspirei – Sabe como é. Ele ainda não sabe o que eu quero, mas eu é que não vou dizer – Elas concordaram – Então ele só quis me torturar um pouquinho – Sorri meio maliciosa, meio constrangida e mostrei as marcas no pescoço e colo, abrindo dois botões da blusa que já tinha dois abertos.
Elas sorriram muito maliciosas e se aproximaram de mim.
-Se fosse outro teria apanhado – Dorcas comentou divertida, sentando-se ao lado da cama.
-E teria sido azarado até a última geração – Marlene sentou-se do outro lado da cama.
Elas querem saber alguma coisa.
-Falem logo, o que querem saber? – Perguntei sorrindo resignada e elas riram.
-Queremos saber... – Marlene começou.
-...É tudo o que você quis, não é Lily? – Dorcas perguntou objetiva, e eu suspirei.
-Fora as galinhagens e a arrogância eventuais, ele é o perfil do garoto que eu sempre quis pra mim, se vocês querem saber – Eu disse, meio envergonhada de falar aquilo, mas sabia que não tinha problema de falar aquilo para elas.
-E como ele é com você? – Marlene soltou a pergunta, e eu me pus a pensar.
-Ele é intenso. Sempre. – Fiquei pensativa por alguns instantes – E parece que o prazer dele é me dar prazer, se é que vocês entendem – Elas sorriram – Em qualquer sentido. Se eu tiver prazer em ficar dentro da cozinha comendo quiabo num dia quente de passeio de Hogsmeade, acho que ele faria – Completei. – Assim como eu acho que faria por ele.
Com essa última frase elas ficaram meio pasmas.
-Lily... – Marlene disse – Você está completa e totalmente apaixonada por ele. Sabe disso, não sabe? – Ela estava meio incerta.
-Sei sim Lene – Respondi – Como já disse, sei que ele é o perfil de garoto que eu sempre quis pra mim. Então, se ele aparece assim quase de mão beijada na minha vida, como é que eu não ia gostar dele?
-Quer dizer que a Dona Evans não quer o que todos acham que ela quer... – Marlene sorriu maliciosamente.
-Nada de santinhos carinhosos para ela... – Dorcas complementou sorrindo também.
-Vai gente, pára, vocês sempre souberam que de santa eu só tenho pose... – Eu sorri.
-É, e parece que alguém está adorando isso – Dorcas disse olhando pela janela, imitada por mim e por Marlene. Tiago estava lá embaixo, e parecia que estava com um dos seus belos bestas sorrisos babões, como eu chamo, pois a pessoa parece besta, sonhadora e babona.
Além de extremamente feliz.
-Até parece o sorriso babão da Marlene agora a pouco – Dorcas disse rindo e eu assenti com a cabeça, mas sem conseguir tirar os olhos da figura morena lá embaixo.
-Quer ir lá, Lily? – Marlene perguntou atenta á minha reação.
-Já passou do horário permitido, Lene – Eu disse tentand fugir. Não da vontade delas, mas da minha própria.
-E quem disse que você se importa? – Dorcas completou. E me convenceu.
-Façam meu relógio esquentar se tiver alguém perto de mim no mapa – Eu disse correndo até minha capa, pegando-a e saindo do dormitório. Caminhei atenta até as grandes portas do colégio, abrindo-as e saindo.
Senti o ar frio da noite incidir-se sobre meu rosto, me causando um sorriso. Adoro essa sensação.
Voltei á consciência abrindo os olhos, com uma coisa só na minha mente: Procurá-lo. Mas logo soube que não precisaria, ao sentir um calor estranho ‘irradiando’ ás minhas costas, e então uma mão pôs-se em minha cintura, virando-me para o seu dono e puxando-me contra ele.
-Tiago – Foi o que eu consegui sussurrar antes de ele me beijar. Nem soube o que dizer quando ele me olhou nos olhos, um olhar diferente, como se ele soubesse de algo que eu não sei, um olhar que me fez estremecer de antecipação.
-Lílian, eu quero falar com você. Mas não aqui – Ele olhou para os lados e depois para mim, atento – Me siga.
Ele começou a andar bem rápido pelos jardins, o que me fez quase correr para acompanhá-lo. Corremos até o Salgueiro Lutador, e fiquei um tanto apreensiva,
-Está com medo? – Ele me perguntou, compreensivo. Estranhamente, notei que não. Neguei com a cabeça.
-Ótimo. Venha. – Ele me pegou pela mão e o Salgueiro simplesmente parou de se mexer. Acho que ele fez algum feitiço, mas não consegui me concentrar correndo daquele jeito. Logo estava em uma espécie de túnel estreito, onde o seguia.
-Isso é... – Comecei a perguntar ao ver a ‘decoração’ do lugar.
-A casa dos gritos. Sim. – Ele estava limpando a roupa suja de terra e eu me sentei na cama quebrada e suja que havia ali.
-E então? O que tem de tão importante pra me dizer que não podia ser dito no colégio? – Perguntei objetiva, como se não me surpreendesse mais com o que ele fazia.
Mas ele me surpreendeu.
-Lily, queria te falar que o que você disse na beira do lago ontem é exatamente o que eu quero. Ser seu amigo, mas mais uma ‘amizade colorida’ – Ele riu – Eu gosto de você, Lil. De verdade – Ele deu um sorriso amigável e me estendeu a mão, fazendo-me levantar dali.
-Isso quer dizer que tanto você quanto eu podemos ficar com quem quisermos enquanto estamos juntos? – Eu perguntei com um nó na garganta, mas sem demonstrar.
-É isso aí, se assim quisermos – Ele piscou para mim e eu engoli o soluço que vinha.
Sim, a partir disse com certeza vão me tachar de emo.
Sem dúvida.
-Acabou – Eu disse, firme.
-O que? – Ele estava mais que aturdido, estava completamente pasmo com as minhas palavras.
-Eu não quero te ter se não for pra ser inteiro – Eu disse com firmeza na voz, na decisão, mas desmoronando por dentro – Não quero só uma amizade colorida, Tiago. E não vou me prestar á um papel que só me faz sofrer para o seu contentamento – Falei, incrivelmente me sentindo mais leve, apesar de toda a dor que aquilo me causava – Eu não posso. Me desculpe.
-Então... Isso é um adeus? – Ele perguntou, e eu entendi o sentido do que ele queria dizer.
-Entre nós dois? Acho que sim – Eu disse ele suspirou, passando a mão pelos cabelos.
-Posso ter uma despedida? – Ele perguntou resignado, e eu simplesmente assenti com a cabeça.
Começou suave, doce, mas logo toda a voracidade de uma despedida estava empregada naquele beijo e as carícias que o acompanhavam. Logo o ritmo de tudo ficou intenso, do jeito que me atordoa, do jeito que eu gosto, e ele sabe disso. Senti minhas costas baterem em algo macio que descobri ser o colchão da cama que havia ali, que agora estava limpo, de certeza que ele fez isso.
Não protestei quando minha blusa começou a ser aberta, nem quando senti minha saia ser deslizada por minhas pernas. Eu queria aquilo. Aquele laço que, mentalmente, eu criaria com ele. E sabia que isso acarretaria em, talvez, muito mais sofrimento para mim. E também sabia o que aconteceria na manhã seguinte.
Acordei sozinha na cama, enrolada nos lençóis. Sobre o colchão, jaziam um lírio e uma camisa.
E um adeus.
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