Sequestro
O outono com certeza tinha chegado, as folhas já caiam lentamente e a noite não mais carregava a umidade e o calor tão caracteristicos do verão. O ar que agora entrava por suas narinas era gelado, mas ainda assim puro e de certa forma sabia ser o remedio ideal para as suas aflições.
Achava que voltar a Hogwarts podia resolver seus problemas, e de fato alguns deles tinham melhorado, mas quanto outros tinham surgido? A começar pela surpresa de descobrir que seus dois melhores amigos também eram sombras, o lento andamento da caça ao mapa mesmo tendo colocado a melhor detetive da Europa no caso e agora a descoberta dos sombras no lado de Voldemort.
E ainda tinha a garota Lovegood, sabia que ela era especial, mas aquele poder, logo aquele excedia todas as suas expectativas, e o que tornava tudo ainda mais maravilhoso é que tinha a certeza que ela o dominava completamente
Em pensar que isso tudo ocorrera antes do Natal.
Suspirando agoniado, Harry subiu no parapeito da torre e sentou-se o mais perto da borda possível, embora aquilo pudesse parecer perigoso para qualquer um vendo para o garoto era reconfortante, ele sabia que não cairia e mesmo se o fizesse pousaria em pé, afinal tinha sido assim que decidira tocar sua vida.
- Um galeão por seus pensamentos – uma voz brincalhona sussurrou ao seu pé de ouvido e Harry precisou se controlar para que Hermione não percebesse o arrepio que lhe descera pela coluna. O sorriso, entretanto, foi impossível de conter.
- Somente um? Assim você me ofende!
- Por você eu ofereceria todo o meu cofre, mas não sei como sobreviveria depois disso.
- Não se preocupe, eu iria fazer valer cada centavo! – o sorrisinho brincalhão da morena foi imediatamente substituido por uma expressao séria e um longo arrepio. O modo como seu amigo a encarava diretamente nos olhos, sem nem mesmo piscar parecia dar muitos outros significados a frase, Harry não estava brincando!
Ela sabia que seus sentimentos por Harry não eram mais os mesmos, desde que o amigo fora embora notara que a saudade que sentira dele ultrapassava em muito a de todos os outros, mas se acostumara que era porque tinha perdido seu melhor amigo, aquele que lhe entendia mais que qualquer outro, que conseguia lhe ler com apenas um olhar.
Entretanto quando Harry voltara, alivio não tinha sido a única coisa que sentira, ela ficara arrepiada, feliz, completa. A convivência com o moreno apenas tornara aquilo ainda maior.
E quando acordara, após tomar um surra dos demônios de Sirius, e os olhos de Harry tinha sido a primeiro coisa que enxergara, tinha percebido que queria acordar sempre com aqueles olhos sobre si.
Ela o amava!
E ver Harry falando daquele jeito enquanto mantinha um olhar tão intenso sobre si, a fazia esperar que o sentimento fosse reciproco.
- Não brinque com isso Potter! – Harry sorriu e concordou.
- Desculpe!
Ok, ela não esperava aquela resposta! Talvez algo do tipo “Quem disse que eu estou brincando?” ou algo assim. Talvez estivesse esperando demais.
- No que estava pensando?
- De como eu gostaria de me jogar daqui!
- HARRY!
- Não é como se eu fosse morrer de qualquer jeito Mi – ele respondeu sério, e outro arrepio subiu pela coluna da castanha em prol do apelido inusitado – você já viu que consigo criar asas, a questão é que tenho a impressão de que se eu realmente me jogasse o vento carregaria para longe todos os meus problemas, e eu tenho muitos deles. É por isso que eu sempre amei voar.
- Estranho! Você voltou tão diferente, tão seguro e confiante que inconscientemente eu começei a acreditar que não havia nada que você não pudesse resolver por si só, que nenhuma dessas situações realmente lhe incomodassem, vejo agora que fui uma tola, pode ter novos poderes e habilidades, mas ainda é um adolescente e não deveria ter que sustentar em seus ombros o peso do mundo.
- Nunca tive muita escolha não é? De alguma forma isso me foi imposto antes mesmo do meu nascimento, fui forçado a lidar com a morte prematura dos meus pais, ataques de monstros aos 11 e 12 anos e agora com o peso de um poder com força o suficiente para me matar! Como se eu não tivesse pessoas o suficiente tentando fazer isso!
- Seu poder pode te matar? Harry, do que está falando, achei que tinha dito que ele era apenas problemático.
O sorriso fraco que o melhor amigo que lhe deu foi o suficiente para ela saber que ele não iria falar mais nada, que não ia sanar suas dúvidas.
- HARRY!
- Voa comigo Hermione? Me ajuda a esquecer meus problemas? – ela estava certa, ele não iria falar mais nada, não importando o quanto ela gritasse, implorasse ou esperniasse, quando Harry se fechava assim ninguém conseguia o trazer de volta se esse não fosse o seu desejo, mas vendo Harry assim, tão fragil, tão abatido, tão seu, ela não queria tentar.
- Sabe que eu tenho medo de altura.
- Confia em mim?
- Com minha vida!
- Então não precisa temer.
Ela ainda olhou para aqueles olhos incrivelmente verdes por mais alguns segundos antes de concondar medrosamente.
Harry sorriu, envolveu os braços em sua cintura e pulou.
Hermione gritou e se agarrou com força no pescoço de Harry, temendo a hora em que seu corpo atingiria o chão, mas abriu lentamente um dos olhos ao perceber que isso não tinha acontecido.
A visão que encontrou fez sua respiração ficar presa na garganta.
De alguma forma Harry tinha ficado exatamente na frente da lua crescente que parecia iluminar seus cabelos escuros e envolver suas incriveis asas negras, o sorriso tranquilo em contraste com aqueles brilhantes olhos verdes dando a impressao que ela estava nos braços de um anjo.
- Você é lindo! – ela sussurrou, imediatamente corando ao perceber o que tinha acabado de dizer.
Harry apenas sorriu e batendo suas asas os levou para cima do lago, e aquela visão era outra mágica. A superficie escura do lago refletia com lealdade o céu acima deles, exceto quando um sereiano ou outro pulava para a superficia em giros perfeitos.
Hermione sorriu e aconchegando-se melhor no corpo quente do melhor amigo, permitiu-se relaxar. Então era por isso que ele amava tanto voar, o mundo ali em cima parecia diferente, mais tranquilo, calmo, bonito, como se os problemas deixassem de existir temporariamente.
Sentiu quando Harry foi lentamente guiando-os para um morro no outro lado dos terrenos que lhes dava a visão completa do castelo de Hogwarts parcialmente iluminado pelas luzes ainda acesas das pessoas que ainda estavam acordados.
Se surpreendeu quando sentiu seus pés tocando o chão e ficou ainda mais surpresa ao se sentir virada repentinamente apenas para se ver completamente presa pelos braços fortes do moreno.
- Meu Deus, como eu senti sua falta. – ele sussurrou no seu ouvido, a voz parecendo tão frágil e sincera que encheu seus olhos de lágrimas.
- Eu também senti sua falta Harry, mais do que você sequer pode imaginar, cada dia sem você foi como uma batalha que eu precisava ganhar, uma batalha que eu não queria precisar lutar, eu perdi as contas de quantas vezes eu precisei usar de todo meu auto controle para não abrir mão de tudo e ir atrás de você.
- Fico feliz por você não ter ido – ele respondeu sério e Hermione se afastou dele, ofendida.
- Porque? Não me queria lá?
- É por te querer tanto que fiquei feliz de não ter ido, Mione, se eu tivesse te tido comigo por apenas um segundo então eu nunca teria te deixado voltar, e isso seria errado, muito errado, porque diferente de mim você tem uma familia que se importa e que sentiria sua falta.
Hermione estava a perguntar aos gritos se ele nunca pensou o quanto ela sentiria sua falta,mas desistiu assim que viu as lágrimas que se derramavam silenciosas daqueles olhos , mais perfeitos, ela não tinha sido a única que sofrera com a distância e agora sabia disso.
Suspirando, ela andou até aquele homem/menino que tanto amava e enlaçou em uma abraço apertado, o deixando chorar em seus braços até a exaustão.
H²
Harry acordou com o sol batendo nos seus olhos, resmungando posicinou seu braço por cima da cabeça de modo que butesse proteger sua visão naquele inconveniente evento natural. Estava quase cochilando novamente quando uma voz brincalhona irrompeu perto de seus ouvidos.
- Nem pense nisso Potter!
- Hermione? – ele perguntou confuso, o que a garota estava fazendo no seu quarto? Estava prestes a perguntar isso a ela quando a realidade o atingiu. Sentou-se num pulo e corou ao perceber que tinha dormido com a cabeça apoiada no casaco dobrado da amiga, depois de chorar feito uma criancinha em seus braços – merda!
- Parece que você não vai voltar a dormir ahn? – o modo cortado como a amiga falara aquilo denunciara que ela provavelmente estava rindo da sua cara.
- Hey! – ele gritou virando-se para ela, mas as palavras morreram na sua boca quando a viu. Encostada num tronco de uma árvore, descabelada, sem maquiagem e vestindo apenas o uniforme amassado do colégio, Hermione nunca parecera tão linda como agora e Harry precisou de todo seu auto controle para não ir até ela, pressiona-la contra a árvore e beija-la até que ela esquecesse como usar as palavras. O fato dela continuar rindo de sua cara não ajudava em nada.
- Já perdemos o café da manha, mas podemos chegar a tempo nas aulas se um certo alguém com lindas asas negras decidir nos tirar daqui.
Ele resmungou, cruzando os braços.
- Porque eu deveria? Não é como se eles fossem ensinar algo que a gente já não soubesse!
- Harry!
- O que? – ele perguntou, fazendo um biquinho adorável que ele sabia quebrava sua pose de marrento e derretia o coração de qualquer mulher.
- O que vamos comer? – há, sempre funcionava.
- Tem muitas frutas por aqui! – ele disse, levantando-se entusiasmado.
Hermione ainda cruzou os braços, tentando parecer brava, mas com apenas um olhar de Harry ela suspirou e sorriu, dando-se por vencida.
Juntos, eles se embrelharam nas árvores ali próximas, procurando por aquelas que dessem bons frutos. Apenas alguns minutos depois eles tinham voltado para o improvisado acampamento com várias maças, três cachos de uvas e duas duzias de morangos.
A metade das frutas acabou sendo desperdiçada quando Hermione num impeto de criancisse ofereceu um morango para Harry comer, enfiando imediatamente outro após ele ter aceitado alegremente, e depois outro, e outro e outro até que chegou ao ponto que o garoto-que-sobreviveu poderia ser facilmente confundido com o esquilo-que-sobreviveu.
Hermione precisou de quase dez minutos para conter o ataque de riso diante da cena.
- Você sabe que isso é quase um sequestro não é? – Hermione brincou momentos depois, interrompendo o agradável silencio que tinha se instalado entre eles após a leve refeição.
- Bem, o que tem de errado em sequestrar minha melhor amiga?
- O errado é que sua amiga não queria ser sequestrada.
- Bem, eu não vejo ela chutando e gritando por liberdade – ele respondeu rindo, lhe oferecendo a lingua num ato claro de infantilidade.
- Não seja por isso – ela brincou, começando a gritar e chutar o ar imediatamente.
- OH? Estamos pirraçando hoje? Então eu vou te dar motivos para esperniar – ele aceitou o desafio e dois segundos depois estava em cima de Hermione, que imediatamente começou a gritar de verdade ao sentir Harry começar a lhe fazer cosquinhas.
- Harry! Não,para! – ela implorou, se virando em posição fetal numa tentativa vã de se proteger, o moreno apenas riu e continuou atacando a amiga sem piedade, parando apenas quando percebeu que a morena tinha perdido por completo o folego de tanto rir. – MALVADO! – ela gritou revoltada e com a pouca energia que tinha tentou atacar o amigo, que sorrindo a segurou pela cintura, mantendo-a presa em cima do seu corpo.
- Eu sei, e você é linda – Harry disse, beijando rapidamente a bochecha corada de Hermione.
A castanha sorriu, reconhecendo naqueles olhos brincalhões o amigo que tinha sumido há tres anos.
Eles não voltaram para o castelo antes do anoitecer.
EU MEREÇO UMA SURRA! então eu vou simplesmente aceitar o apedrejamento calada!
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!