O que fazer????
Quando voltei da Casa Branca naquela noite, tomei o maior susto quando vi a Lucy na sala, folheando um exemplar de Elle;
-O que é que você está fazendo aqui? – disparei, antes de conseguir me conter. Não deu para evitar. Desde o aniversário de 12 anos da Lucy que eu não a via em casa em um sábado à noite. – Cadê o Draco?
Pensei: será que eles, finalmente, terminaram? Será que me ver com outro cara na casa da Gina Weasley finalmente fez o Draco perceber os sentimentos verdadeiros que tinha por mim?
Mas a questão era: se isso tinha mesmo acontecido, por que é que eu não me sentia mais feliz? Tipo assim, por que é que aquilo tudo me revirava o estômago, de verdade? A não ser que fosse por causa dos aperitivos que eu engoli antes de perceber como eram horríveis...
-Ah, o Draco está na sala de TV – Lucy disse com voz entediada. Vi que ela estava fazendo a numerologia dela. – Ele precisa ler um livro aí para a aula de inglês... O morro dos ventos uivantes. Ele tem que entregar um trabalho na segunda-feira, mas ainda não leu. E disseram que, se ele repetir em inglês, não vai poder se formar no fim do ano.
Tirei o casaco e a tipóia rendada e me joguei no sofá do lado dela.
-Então, ele está lendo o livro agora? Na nossa casa?
-Credo, claro que não – respondeu Lucy. – Está passando na TV. Ele está lá em cima assistindo. Eu tentei ver mas, apesar de ter o Ralph Fiennes, não agüentei. O que você acha desta saia? – e me mostrou uma página no meio da revista.
-É legal, acho – minha mente parecia estar funcionando igual a uma lesma, apesar de eu só ter bebido 7-Up no Festival Internacional da Criança. – Cadê a mamãe e o papai?
-Eles estão naquele troço – Lucy virou uma página. – Você sabe. Aquela festa beneficente para os órfãos do norte da África ou qualquer coisa do tipo. Sei lá. Só sei que a Molly disse que não podia vir porque o Gui quebrou o pé quando foi tentar carregar uma geladeira, então eu estou aqui para assegurar que a senhorita ET-phone-home não vá mandar o quarto dela pelos ares. Ah, meu Deus – Lucy abaixou a revista. – Você precisa ver. A Rebecca convidou uma amiguinha para dormir aqui. Lembra quando você convidava a Gina Weasley e vocês ficavam brincando de Barbie até de madrugada, ou qualquer coisa assim? Bom, advinha o que a Rebecca e a amiga dela estão fazendo? Ah, estão construindo uma fita de DNA com aquelas peças de montar de madeira. Ei, o que você acha desse terninho? – Lucy me mostrou o terninho. – Achei que podíamos comprar um desses para você ir à cerimônia de entrega da medalha – explicou. – Sabe como é, a gente só tem umas duas semanas para arrumar uma roupa super transada para você. Eu falei para a mamãe que a gente deveria ter parado nos outlets quando você voltou da casa da vovó...
-Lucy – comecei.
Não sei o que me fez tomar aquela iniciativa. Conversar com a minha irmã Lucy, e não uma outra pessoa qualquer, sobre os meus problemas.
Mas aconteceu, e tudo começou a jorrar. Parecia lava, ou qualquer coisa assim, saindo de um vulcão. E quando o negócio todo começou a escorrer, não tinha mais jeito de colocar para dentro de novo.
E a coisa mais estranha que aconteceu é que a Lucy pousou a revista e me escutou de verdade. Olhou bem nos meus olhos e escutou, sem falar nenhuma palavra durante, sei lá, uns cinco minutos.
Normalmente, é claro, eu não divido os detalhes da minha vida pessoal com a minha irmã mais velha. Mas já que a Lucy é especialista em todas as coisas sociais, achei que ela talvez pudesse lançar uma luz sobre o comportamento esquisito do Harry (e, possivelmente, o meu próprio). Eu não falei nada a respeito do Draco, sabe como é, ser minha alma gêmea e tudo o mais.
Só falei do negócio da festa e de como o Harry tinha agido comigo no Festival Internacional da Criança, aquela esquisitice do frisson e essas coisas.
Quando terminei, a Lucy revirou os olhos.
-Pombas – exclamou. – Da próxima vez, vê se me conta alguma coisa mais complicada de verdade, ta?
Fiquei olhando para ela.
-O quê? – tipo assim, eu tinha acabado de abrir a minha alma para ela (bom, pelo menos a maior parte da minha alma) e ela parecia decepcionada porque os meus problemas não eram mais apetitosos. – Como assim?
-Estou falando que o que está acontecendo entre você e o Harry é totalmente óbvio – e colocou os pés com chinelos em cima da mesinha de centro.
-É? – de um modo estranho, meu coração tinha começado a acelerar de novo. – O que é, então? – O que está acontecendo entre a gente?
-Dãh – fez Lucy. – Até a Rebecca sacou tudo. E até a escola reconhece que ela é nula em traquejo social.
-Lucy – eu estava tentando, com todas as minhas forças, não berrar de tanta frustração. – Fala logo. Fala o que está acontecendo entre mim e o Harry, ou juro por Deus que vou...
-Credo, calma aí – interrompeu ela. – Vou falar. Mas você tem que prometer que não vai ficar brava.
-Não vou – respondi. – Juro.
-Certo – Lucy olhou para as unhas das mãos. Dava para ver que ela tinha acabado de fazer manicure. Cada uma das unhas estava perfeitamente ovalada, com a pontinha branca. As minhas unhas, obviamente, nunca tinham ficado com aparência tão limpa quanto as dela, já que sempre estavam sujas com poeira de lápis, de tanto desenhar.
Lucy deu uma respirada profunda. Então soltou o ar e disse:
-Você está apaixonada por ele.
Fiquei olhando para ela, atônita:
-O QUÊ? COMO ASSIM?
-Você prometeu que não ia ficar brava - cobrou Lucy, em tom de advertência.
-Não estou brava - reclamei. Apesae de, obviamente, estar. Eu tinha aberto meu coraçãozinho para ela, e era isso que ela tinha a dizer? Que eu estava apaixonada pelo Harry? Será qu existia alguma coisa que estava mais longe da verdade? - Mas eu não gosto dele.
-Pombas, Mione – comentou, deixando a cabeça cair sobre o sofá, com um resmungo. – Claro que gosta. Você disse que, quando ele sorri para você, parece que seu coração vai sair do peito. E, quando você está perto dele, sempre fica com o rosto vermelho. E que ele ficou tão bravo com você, porque ficou desfilando com ele como se fosse um troféu que você ganhou em algum concurso quando estava se sentindo péssima. O que é que você acha que isso tudo é, Mione, se não for amor?
-Frisson? – sugeri, cheia de esperança.
A Lucy pegou uma das almofadas de cetim do sofá e jogou em cima de mim.
-Isso é amor, sua boba! – gritou. – Tudo isso que você sente quando olha para o Harry? É isso que eu sinto quando olho para o Draco. Você não percebe que ama o Harry? E se não estou enganada, acho que dá para apostar que ele sente a mesma coisa em relação a você. Ou pelo menos sentia, antes de você, sabe como é, ferrar com tudo.
Não dava para dizer a ela que estava errada, claro. Não dava para dizer a ela que era impossível eu estar apaixonada pelo Harry porque eu tinha ficado apaixonada pelo namorado dela praticamente desde a primeira vez que ela o levou em casa.
Mas era preciso reconhecer, parecia um pouco... possível. Tipo assim, considerando aquela coisa toda do frisson. Por mais que eu amasse o Draco, era preciso admitir que o meu coração não disparava quando eu o via. Não como acontecia com o Harry. E eu nunca tive problema nenhum em olhar nos olhos do Draco (apesar de os olhos azul-claros dele serem exatamente lindos quanto os olhos verdes do Harry). E ao passo que eu ficava vermelha perto do Harry, é preciso reconhecer a verdade: eu sou timida; fico vermelha perto de qualquer pessoa.
Mas a pessoa perto de quem fico mais vermelha é o Harry.
E também tinha que pensar naquela coisa que o Harry falou. Sobre a rebelião urbana do Draco, que era meio... bom, falsa? Porque era mesmo falso, agora que eu tinha parado para pensar, atirar nas janelas do consultório do pai dele para protestar contra algo que, tudo bem, pode até machucar os animais, mas ajuda a curar pessoas doentes.
E aquela vez que ele nadou pelado no Clube de Campo d Chevy Chase? Contra o que ele estava protestando? Contra a regra do clube que obrigava todo mundo a usar roupa de banho? Sabe como é, aposto que tem um monte de gente no Clube de Campo de Chevy Chase que não seria muito legal ver nadando pelada. Então, será que a regra da roupa de banho não era uma coisa boa?
Então, o que tudo aquilo queria dizer? Será que existia a possibilidade de a Lucy estar certa? Será que aquilo era remotamente possível? Que de algum modo eu tinha me desapaixonado do Draco e me apaixonado pelo Harry, sem nem mesmo ter percebido... até agora?
E como é que eu, Hermione Granger, que durante tanto tempo achava que sabia tudo, passei a saber tão, tão pouquinho?
Ainda estava tentando entender quando, cinco minutos mais tarde, deixei a Lucy na sala (toda feliz por ter resolvido todos os meus problemas) e fui para a cozinha comer alguma coisa, porque a comida da festa não tinha me deixado nem um pouco satifeita.
Dá para imaginar meu incômodo quando eu estava dando uma mordida em um sanduíche de peru que tinha acabado de fazer (só com maionese, no pão branco) e o Draco apareceu.
-Ah, oi, Mione - exclamou, dirigindo-se para a geladeira. - Não sabia que você tinha chegado. Como foi a festa?
Engoli o pedaço de sanduíche que estava mastigando quando ele entrou.
-Hum - respondi. - Legal. Já acabou O Morro dos Ventos Uivantes?
-Hã? - ele estava examinando o interior da geladeira. - Não, ainda não. Está no intervalo. Então, qual é a parada, Mione? - tirou uma cenoura da gaveta de legumes e deu uma mordida que fez o maior barulho. - O meu quadro vai para Nova York ou não?
Eu sabia que essa conversa ia rolar cedo ou tarde. Mas torcia para que fosse tarde.
Então achei que fosse melhor acabar com aquela história de uma vez.
-Draco – comecei, pousando o sanduíche em cima da mesa. – Escuta.
Mas, antes de eu conseguir falar alguma coisa, o Draco já estava se adiantando, com um olhar de descrença total no rosto:
-Espera um minuto. Espera aí. Nem fala nada. Dá para ver pela sua cara. Eu não ganhei, não é mesmo?
Tomei fôlego, para me equilibrar, preparando-me para a dor que eu sabia que me invadiria quando eu dissesse a palavra que o decepcionaria tanto:
-Não.
O Draco, que tinha deixado a porta da geladeira escancarada, deu um único passo atrás. Claramente, eu o havia decepcionado. E, por isso, eu me arrependeria por toda a eternidade.
Mas, incrivelmente, não rolou nenhuma dor. Não mesmo. E olha que eu estava preparada. Eu estava totalmente pronta para receber a inundação de dor que se abateria sobre mim, o arrependimento intenso por tê-lo decepcionado.
Mas não rolou. Nada. Nadinha. Nadica de nada. Eu sentia muito por ter ferido os sentimentos dele, mas fazer isso não causou nenhuma dor em mim.
O que era esquisito. Muito esquisito. Porque, como é que eu podia decepcionar o homem que eu amava (minha alma gêmea, o homem com quem eu estava destinada a viver para sempre) e não sentir a dor dele se espalhando por cada terminação nervosa do meu corpo?
-Não dá para acreditar – Draco finalmente reencontrou a voz. – Não dá para acreditar, caramba. Eu não ganhei? Você está falando sério que eu não ganhei?
-Draco – exclamei, ainda abalada pelo fato de não ter sentido nem um tremor pela dor dele. – Sinto muito, muito mesmo. É que tinha tantas inscrições boas e...
-Isso é inacreditável – disse Draco. Mas ele não disse, exatamente. Ele meio que berrou. O Manet, que tinha entrado na cozinha assim que ouviu a porta se abrir, como era o costume dele, levantou as duas orelhas quando o Draco ergueu a voz. – Caramba, totalmente inacreditável.
-Draco... – Tentei contornar a situação: - Se tiver alguma coisa que possa fazer para ajudar...
-Por quê? – perguntou Drzco com os olhos muito arregalados e muito indignado. – Só me diga por quê, Mione. Será que você pode fazer isso? Você pode me dizer por que o meu quadro não foi escolhido?
Eu respondi lentamente:
-Bom, Draco. Recebemos muitas inscrições. Tipo assim, um montão mesmo.
Draco, até onde dava para perceber, não estava nem ouvindo. Ele mandou:
-Meu quadro era controverso demais. É isso. Tem que ser isso. Fala a verdade, Hermione. A razão por que eu não ganhei é que todo mundo achou que era controverso demais, não foi? Eles não querem que os outros países vejam como a juventude americana de hoje em dia é apática, não é?
Eu respondi, sacudindo a cabeça:
-Não, não foi bem isso...
Mas claro que eu deveria ter dito sim, foi por isso mesmo. Porque isso seria muito mais aceitável para o Draco do que a razão real, que eu revelei, como uma babaca, um segundo depois, quando ele me perguntou:
-Bom, então por quê, hein?
-É que você não pintou o que você viu - revelei, com a intenção de fazer com que ele se sentisse melhor, mas ao mesmo tempo querendo fazer com que ele entendesse.
No começo, o Draco não disse nada. Só ficou olhando para mim. Era como se ele meio que não conseguisse processar o que tinha acabado de escutar.
-O quê? - exclamou, em um tom de descrença total.
Eu deveria ter percebido. Eu deveria ter captado a dica. Mas não percebi, claro.
-Bom - expliquei. - Tipo assim, Draco, fala sério. Você precisa reconhecer. Você não retratou o que vê. Você fica aí fazendo quadros desses garotos perdidos... e eles são ótimos, não me leva a mal. Mas eles não são reais, Draco. As pessoas que você retrata não são reais. Você nem conhece ninguém assim. É tipo... bom, é tipo quando eu desenhei aquele abacaxi. É legal e tal, mas não é honesto. Não é real. Tipo assim, você não consegue ver nenhuma loja de conveniência da janela do seu quarto. Eu duvido muito que você consiga ver uma lata de lixo.
Mas eu devia estar bem próxima da verdade, porque consegui fazê-lo ficar fulo da vida.
-Não retratei o que eu vejo? – urrou ele. – Não retratei o que eu vejo? Do que é que você está falando?
-B-bom... – estremeci, pega de surpresa pela reação dele. – Sabe como é. Aquilo que a Susan Boone disse. Pintar o que você vê, não o que você conhece...
-Mione! – gritou Draco. – Isso aqui não é nenhuma porcaria de aula de arte. É a chance de o meu trabalho ir para Nova York! E você desclassificou o meu quadro porque eu não retratei o que eu vi? Qual é o seu problema?
-Ei! – uma voz conhecida quebrou o silêncio entre o Draco e eu. Olhei e vi a Lucy parada na porta, com um ar aborrecido. – O que é que está acontecendo? – ela quis saber. – Dava para ouvir vocês dois gritando lá do outro lado da casa. O que é que está pegando?
Draco apontou para mim. Aparentemente, estava tão desconcentrado por minha causa que nem conseguia explicar para a namorada dele o que eu tinha feito.
-Ela... ela... – gaguejou. – E-ela-disse q-que eu n-não pinto o que eu vejo.
A Lucy olhou do Draco para mim e para ele de novo. Daí ela revirou os olhos e mandou:
-Ah, credo, Draco, será que dá para você dar um tempo, por favor?
Daí, veio até nós batendo os pés no chão, pegou o Draco pelo braço e o levou para longe da cozinha. Ele deixou que ela fizesse tudo isso, era um homem em transe.
Mas o Draco não era o único que estava tonto. Eu também estava.
E não era por causa do jeito como ele tinha gritado comigo. Nem por quê, como supostamente éramos almas gêmeas, eu não senti, nem por um segundo, a dor do Draco enquanto ele ouvia a má notícia.
Não. A razão por que eu estava tonta era pelo que tinha acontecido quando o Draco entrou sorrateiro na cozinha e eu estava mastigando aquele sanduíche, sem esperar nem um pouco que ele aparecesse. E daí ele entrou na cozinha e preencheu a porta com aqueles ombros enormes...
E o meu coração não quis sair do peito.
E não bateu nem um pouquinho mais rápido.
Não tive problema nenhum para respirar e nem uma sombra de vermelho subiu às minhas bochechas.
Nada das coisas que aconteciam comigo quando eu via o Harry aconteceram quando o Draco irrompeu na cozinha. Não existiu frisson nenhum. Nem o menor sinal de frisson.
O que só podia significar uma coisa:
A Lucy estava certa. Eu estava apaixonada pelo Harry.
O Harry, cujo pai não me suportava, por causa do modo como eu discordei dele sobre toda aquela coisa do quadro.
O Harry, que me deu um capacete de margaridas e disse que gostava da minha bota e gravou o meu nome no parapeito de uma janela da Casa Branca.
O Harry, que com quase toda a certeza nunca mais quer olhar na minha cara por causa do jeito como eu o usei para fazer ciúme no Draco.
O Harry, que sempre foi o cara perfeito para mim, e que eu fui muito idiota (muito cega) para enxergar.
De repente, o sanduíche de peru que eu estava mastigando não ficou com o gosto tão bom assim. Na verdade, parecia vencido. E os pedaços que eu tinha engolido pareciam que iam voltar todos.
O que é que eu tinha feito?
O que é que eu tinha feito?
E, mais importante... o que é que eu ia fazer?
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Obrigada pelos comentários, amo cada um deles...
Alex, num da vontade de pegar a cabeça da Mione e dar com ela na parede???
Ah, mais agora ela ta começando a perceber como o Harry é lindo, fofo, gostoso e tdb!!! E o Draco é um idiota!!
Bєlinhααα que bom que vc ta gostando da fic...Aiii se eu tivesse um Harry desses para mim...*suspira*
Gente, eu queria saber se alguém aqui já leu o livro Crepúsculo ou Twilight (inglês) da autora Stephenie Meyer???
Eu to pensando em adaptar ele, mais queria saber a opnião de vocês....
Bjooos e comente muiiiito...
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