A Festa



-Ah, que maravilha, vocês vieram mesmo!

Foi o que a Gina Weasley disse quando abriu a porta e viu o Harry e eu parados ali na escada da casa dela. Para falar a verdade, ela não disse. Ela berrou.

Mas eu já devia saber que isso ia acontecer. Eu já devia saber que esse seria o modo como ela (e todo mundo) reagiria.

No carro, a caminho de lá, o Harry tinha ficado tipo: “Então. De quem é essa festa?” E eu tentei explicar, mas acho que não me saí muito bem (provavelmente por causa do frisson que, infelizmente, teimava em não ir embora), já que ele emendou: “Deixa eu ver se entendi. É a festa de uma pessoa de que você não gosta, onde vai ter um monte de gente que você não conhece... por que é mesmo que a gente está indo?”

Mas daí eu expliquei que estávamos indo porque eu tinha prometido à minha amiga, Luna, e ele só deu de ombros e mandou: “Tudo bem.”

E apesar de ele não ter dado o menor sinal de que percebeu que todo mundo ficou quieto quando entramos na casa da Gina, e logo depois o pessoal todo começou a cochichar, ele se ligou. Eu me liguei que ele se ligou. E nem foi por causa do frisson. Não, eu me liguei porque aquele sorrisinho voltou, sorrateiro... tipo como se ele estivesse se segurando para não rir. Acho que ele estava se segurando para não rir daqueles tontos da John Adams que pareciam incapazes de parar de olhar para ele.

Pelo menos ele podia rir de tudo aquilo. A única coisa que eu parecia incapaz de fazer era ficar cada vez mais vermelha. Só que eu não conseguia entender por quê. Tipo assim, não era como se eu gostasse dele nem nada assim. Só gostava dele como amigo.

-Oi, eu sou a Gina – apresentou-se , estendendo a mão para o Harry. Ela estava usando um minivestido jeans. Tipo como se a temperatura não estivesse em zero lá fora.

-Oi – disse Harry, apertando a mão da garota que transformava o meu cotidiano e o de todas outras pessoas em um verdadeiro inferno. – Eu sou o Harry.

-Oi, Harry – respondeu Gina. – Nem sei como agradecer por você ter vindo. É mesmo uma honra conhecer você. Seu pai está fazendo um ótimo trabalho no comando do país. Sabe como é, eu era nova demais para votar nas eleições, mas eu quero que você saiba que eu, tipo, super distribuí panfletos para ele.

-Obrigado – Harry disse, sem parar de sorrir, só que com uma cara de quem estava querendo a própria mão de volta. – Foi muito legal da sua parte.

-A Mione e eu somos melhores amigas – revelou Gina, continuando a apertar os dedos dele, sacudindo para cima e para baixo. – Ela contou para você? Praticamente, desde o jardim-de-infância.

Não dava para acreditar em tamanha mentira, na cara dura. Eu teria dito algo, mas não deu tempo, porque a Luna veio correndo na nossa direção.

-Ah, Meus Deus, que bom que você chegou – cochichou para mim depois das apresentações. – Você não faz idéia. O Ron e eu só estamos parados aqui. Ninguém fala com a gente. Ninguém mesmo! Estou morrendo de vergonha! Ele deve achar que eu sou tipo uma leprosa social, total!

Dei uma olhada no Ron. Ele não parecia estar pensando nada daquilo. Estava olhando Luna cheio de adoração, que estava totalmente fofa de jeans preto e uma blusinha de seda que tinha pego emprestado da Lucy.

Virei-me para o Harry (que finalmente tinha conseguido se livrar do aperto de mão da Gina) e perguntei:

-Quer uma Coca ou qualquer outra coisa?

-O quê? – perguntou, incapaz de me ouvir com a música tão alta. E nem precisa dizer que não era ska.

-Coca? – perguntei de novo.

-Claro – gritou em resposta. – Vou lá buscar.

-Não – insisti. – Fui eu que convidei. Deixa que eu pego – dei uma olhada no John, que estava apoiado em uma parede e tentava se misturar com os convidados. – Vou pegar uma para o John também. Fica aqui me esperando, se não a gente vai se perder um do outro.

Daí comecei a abrir caminho pelo meio da multidão na direção em que eu achava que estavam as bebidas, que era o lugar onde havia a maior aglomeração. Preciso confessar que fiquei aliviada de fugir da presença do Harry. Tipo assim, era tão esquisito aquilo que estava rolando entre a gente. Não sei exatamente o que era, mas sei de uma coisa:
Não estava gostando daquilo nem um pouquinho.

Conforme eu ia me esgueirando pelo meio daquela multidão rodopiante e às gargalhadas, pensava comigo mesma: É isso que eu estou perdendo por fazer parte do grupo das pessoas nada populares? Casas abarrotadas de gente barulhenta e insuportável, com uma música que martelava na sua cabeça e que nem dá para entender a letra? Francamente, preferia estar em casa assistindo a desenho animado e comendo sorvete.

Mas acho que eu era a única que pensava assim.

Quando cheguei ao lugar onde achei que as bebidas estavam, só vi um barril de chope. Um barril de chope! Que sutil, Gina. Tipo assim, ela sabia perfeitamente que o Harry vinha e que ia trazer uns caras do Serviço Secreto com ele. Hummm, até parece que ela nem ia se ferrar muito, nem nada assim.

E sabe o quê? Eu não tinha a mínima pena dela, para falar a verdade.

Os refrigerantes, alguém me informou, estavam em um isopor no quartinho ao lado da cozinha. De modo que eu me enfiei de novo na multidão até conseguir chegar ao quartinho ao lado da cozinha.

Adivinha? A minha irmã e o Draco estavam lá, totalmente de agarrando.

A Lucy soltou um gincho:

-Você veio! – gritou. – Tudo certo? Cadê o Harry?

-Está para lá, em algum lugar – respondi. – Vim pegar refrigerante para a gente.

-Bobona – disse Lucy. – Ele é que tem que ir buscar refrigerante para você. Espera aqui um minuto. Vou chamar as garotas.

Por “garotas”, claro, ela queria dizer as outras animadoras de torcida.

-Lucy – pedi. – Por favor. Hoje, não.

-Ah, deixa de ser tão estraga-prazer – Lucy disse. – Fica aqui com o Draco, eu já volto. Tem um monte de gente aqui louca para conhecer o filho de verdade de um presidente vivo...

E, antes que eu conseguisse proferir qualquer palavra, ela já tinha dado o fora e me deixado sozinha com o Draco.

Que ficou olhando para mim pensativo, depois de virar todo conteúdo do copo de plástico.

-Então – começou. – Como vão as coisas?

-Bem – respondi. – Surpreendentemente bem. Na quinta, a Susan Boone mandou a gente desenhar um pedação de carne. E foi superlegal porque, para falar a verdade, eu nunca tinha parado para observar um pedaço de carne, sabe? Tipo assim, tem um monte de coisa que dá para ver na carne...

-Que ótimo – exclamou Draco, aparentemente sem perceber que estava me interrompendo, apesar de a música estar bem mais baixa ali na lavanderia. – Você recebeu meu quadro?

Olhei para ele sem entender nada:

-Que quadro?

-O que eu desenhei – respondeu. – Do concurso da minha janela.

-Ah. Não. Tipo assim, não sei. Tenho certeza que devem ter recebido. Só que eu ainda não vi. Ainda não vi nenhum quadro.

-Bom, você vai adorar – entusiasmou-se Draco. – Demorei três dias para fazer. É a melhor coisa que eu já fiz.

Daí o Draco começou a descrever o quadro muito detalhadamente. Alguns minutos depois, quando o Harry apareceu na porta, ele ainda estava falando daquilo.

Fiquei alegre quando o vi. Não pude fazer nada a respeito disso. Apesar de o objeto da minha afeição estar bem ali do meu lado, fiquei feliz em ver o Harry. Disse a mim mesma que não foi só porque aquela história dos talheres de servir salada tinha sido tão fofa. Não tinha nada a ver com aquele negócio de frisson. Nada mesmo.

-Ei! – chamou Harry, com aquele sorriso que, eu percebera, era praticamente sua marca registrada. – Fiquei imaginando onde é que você tinha se enfiado.

-Harry, este aqui é o namorado da minha irmã, oDraco. Draco, este aqui é o Harry.

O Harry e o Draco apertaram as mãos.

-O Harry está na minha aula de arte – informei, para quebrar o silêncio incômodo que se seguiu ao aperto de mão dos dois.

Draco amassou o copinho de plástico:

-Ah, você quer dizer a sua aula de conformismo artístico?

O Harry fez uma cara de quem não estava entendendo nada. E não era para menos. O Draco é uma pessoa muito intensa, é preciso acostumar-se a ele.
Emendei, apressada:

-Não, Draco, acontece que não é nada disso. Eu estava totalmente errada a respeito da Susan Boone. Ela só quer que a gente aprenda a desenhar o que eu vejo antes de me soltar, sabe como é, para fazer as minhas próprias criações. A gente precisa aprender as regras primeiro, sabe como é, para só depois quebrar todas elas.

Jack, olhando fixamente para mim, mandou:

-O quê?

-Não, falando sério – continuei, percebendo que ele não estava entendendo nada do que eu estava dizendo. – Tipo assim, sabe o Picasso? O Harry me disse que ele passou anos e anos aprendendo a desenhar, sabe como é, tudo o que via. Só depois que ele aprendeu a fazer isso direitinho foi que começou a fazer experiências com as cores e as formas.

O problema é que o Draco, em vez de achar esse fato em especial infinitamente interessante, como tinha acontecido comigo, fez uma cara bem cínica.

-Mione, não dá para acreditar que logo você foi cair nessa baboseira pedagógica.

-Como é que é? – o Harry pareceu ficar com raiva.

Draco ergueu as duas sobrancelhas.

-Hum, acho que eu não estava falando com você, Primeiro-Garoto.

-Draco! Qual é o seu problema? – exclamei, um pouco chocada. Tipo assim, o Draco, na posição de artista extraordinário, e por ter toda aquela, sabe como é, energia artística dentro de si, pode ser bem cansativo (e eu sei disso muito bem). Mas não há motivo para ficar xingando os outros.

-Qual é o meu problema? – Draco riu, mas não porque de fato estivesse achando alguma coisa muito engraçada. – Essa não é a questão. A questão é: Qual é o seu problema? Tipo assim, você costumava pensar por si só, Mione. Mas de repente você está se entregando para essa conversa de “desenhar o que você vê” como se os deuses tivessem gravado isso em uma porcaria de uma taboa. O que aconteceu com o questionamento da autoridade? Fizeram sua cabeça em relação ao processo criativo e as funções que ele tem?

-Draco, fui eu mesma que fiz minha cabeça, eu... – não dava para acreditar naquilo que eu estava ouvindo. Tipo assim, o Draco sempre tinha dito que era obrigatório que os artistas sempre estivessem abertos a tudo que é novo, de modo que pudessem absorver o conhecimento com uma esponja. Só que, nesse caso, o Draco não estava agindo muito como uma esponja.

-Ei, pessoal – de repente, a Lucy reapareceu com uma turma de animadoras de torcida, cada uma com mais glitter e Lycra do que a outra, todas atrás dela. – Ah, ei Harry, trouxe umas amigas que querem conhecer...

Mas eu ainda estava tentando fazer o Jack entender.

-Eu fui pesquisar, Draco. O Harrytem razão. O Picasso dominava mesmo todas as técnicas antes de começar a fazer experiências com as linhas e...

-O Harry – repetiu Draco, revirando os olhos. – Ah, claro, tenho certeza de que o Harry sabe tudo sobre arte. Porque eu tenho certeza de que ele já participou de exposições.

A Lucy olhou do Draco para o Harry e do Harry para mim, como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo. Quando falou, foi com o Draco:

-E até parece que você participou! – declarou, com uma sobrancelha erguida.

A Lucy era mesmo a namorada que dava menos estímulo ao namorado no mundo.

-Claro que sim – respondeu Draco. – Na verdade, meus quadros já foram expostos...

-No shopping center – explicou Lucy.

Mas o Draco nem olhou para a Lucy. Estava olhando para mim. Dava para sentir os olhos cinzentos dele perfurando o meu corpo.

-Se eu não estivesse ligado, Mione, ia achar que não foi o braço que você quebrou no dia em que salvou o pai desse cara, mas sim o cérebro.

-Tudo bem – resolveu Harry. Já não tinha mais nem sombra do sorrisinho secreto no rosto dele. – Olha aqui, cara, não sei qual é o seu problema, mas...

-O meu problema? – Draco cutucou a si mesmo com um dedo. – Não sou eu que tenho um problema, cara. É você que parece estar totalmente disposto a deixar que a sua criatividade seja anulada por uma...

-Tudo bem – interrompeu Lucy com voz entediada, esgueirando-se entre o Draco e o Harry e colocando as mãos na frente do casaco preto e comprido do Draco. – Chega. Vamos lá para fora.

Draco olhou para ela como se só tivesse percebido sua presença naquele momento.

-Mas... Lucy, foi ele quem começou.

-Certo – fez Lucy, empurrando o Draco para trás, em direção a uma porta que parecia dar para o quintal. – Claro que foi ele. Vamos ali para fora tomar um ar. Aliás, quantas cervejas mesmo você tomou?

E daí eles se retiraram, deixando o Harry e eu sozinhos. Na companhia de toda a equipe de animadoras de torcida da Lucy.

Harry olhou para mim e mandou:

-Caramba, qual é o problema desse cara?

Sem deixar de olhar para o Draco (que eu enxergava através da porta de tela, gesticulando loucamente para a Lucy enquanto explicava sua versão dos acontecimentos), murmurei:

-Ele não é tão mau assim. Só que tem, sabe como é, alma de artista.

-Só. E cérebro de orangotango – observou Harry.

Lancei um olhar afiado para ele. Se liga! Ele estava falando da minha alma gêmea.

-O Draco Malfoy – afirmei. – por acaso é muito, muito talentoso. Não só isso, ele também é rebelde. É radical. Os quadros do Draco não refletem apenas a situação deplorável da juventude urbana de hoje. Mostram uma posição forte a respeito da apatia e da falta de correção moral da nossa geração.

O olhar que Harry lançou na minha direção foi bem estranho. Parecia um misto, em partes iguais, de descrença e confusão.

-O quê? – perguntou. – Você está a fim desse cara ou qualquer coisa assim, Mione?

As amigas da Lucy, que estavam assistindo a tudo aquilo (e ouvindo com muita atenção), deram risinhos abafados. Pude sentir minhas bochechas corando. Meu rosto estava mais quente do que estivera no restaurante.

Mas foi esquisito. Não dava para saber se eu tinha ficado vermelha por causa da pergunta do Harry ou por causa do jeito que ele estava olhando para mim. Falando sério. Não era a primeira vez naquela noite que eu estava tendo dificuldade para olhar naqueles olhos verdes dele. Tinha alguma coisa neles... sei lá... que estava me deixando pouco à vontade.

Claro que eu não podia contar a verdade para ele. Não com toda a equipe de animadoras de torcida da Adams bem ali, olhando para nós. Tipo assim, a última coisa de que eu precisava era a escola inteira sabendo que eu estava apaixonada pelo namorado da minha irmã.

Então, mandei:

-Dãh, ele é namorado da minha irmã, não meu.

-Não perguntei para você de quem ele é namorado – retrucou Harry, e eu percebi, com os corações apertados, que ele não ia me deixar escapar assim com tanta facilidade. – Eu perguntei se você gosta dele.

Eu não queria, mas foi como se eu não pudesse evitar. Algo fez com que eu levantasse o olhar e encontrasse o dele. E, durante um minuto, fiquei olhando para um cara que eu não conhecia. Tipo assim, não para o filho do presidente, mas o fofo que ele era, engraçado, o cara que por acaso estava na minha aula de arte, era ligado no mesmo tipo de música que eu e por acaso gostada da minha bota. Foi como se eu estivesse vendo o Harry(o Harry de verdade) pela primeira vez.

Abri a boca para dizer algo, mas nem consegui (não faço idéia do que era: tenho certeza que devia ser alguma coisa bem babaca; eu estava bem apavorada com tudo aquilo, especialmente quando percebi que as minhas mãos tinham ficado tremendamente suadas de repente e que meu coração batia forte no peito). Isso porque alguém apareceu por trás das animadoras de torcida e gritou: “Ah, vocês estão aqui!” E a Gina Weasley veio com tudo para cima de nós trazendo consigo umas setenta pessoas, todas, segundo ela, loucas para conhecer o filho do presidente dos Estados Unidos.

E o Harry, exatamente como era de se esperar de um filho político, foi lá apertar a mão de todo mundo sem nem olhar de novo para mim.


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É isso ai gente vamos comentar muuuuuito...





Bjinhusss

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