Harry, Susan e o Abacaxi
Sobrou para a Molly me levar de carro até o ateliê de arte, depois da escola, no dia seguinte.
Mas a Molly está acostumada a nos levar de um lado para o outro. Ela trabalha para a minha família desde que voltamos do Marrocos. E faz tudo aquilo que meus pais não têm tempo de fazer: levar a gente onde precisamos ir, limpar a casa, lavar a roupa, preparar as refeições, fazer compras.
Mas é claro que a gente também precisa ajudar. Por exemplo, cuidar do Manet é minha obrigação, já que eu queria tanto ter um cachorro. A Rebecca tem que pôr a mesa; eu tiro os restos de comida dos pratos e jogo no lixo; a Lucy coloca tudo na lava-louças.
A coisa até que funciona direito (quando a Molly está de olho na gente). Se ela já voltou para a casa dela à noite, as coisas geralmente ficam meio bagunçadas. Uma das obrigações não-oficiais que ela tem é refinar a disciplina na minha família, já que mamãe e papai, nas palavras da Horizon, a escola de Rebecca, às vezes “não conseguem estabelecer limites adequados” para nós, os filhos.
No caminho do ateliê da Susan Boone naquele primeiro dia, a Molly ficou tipo estabelecendo um monte de limites. Ela estava bem ligada na minha total intenção de escapulir no minuto em que ela se afastasse com o carro.
- Se você esta achando, Dona Hermione, que eu não vou entrar lá com você, é melhor você mudar de pensamento – informou enquanto passávamos pelo Beco dos Burritos, a maneira como o povo está chamando o Supont Circle, já que ultimamente o lugar se encheu de fast-foods mexicanos e lugares que vendem sanduíches.
“Mudar de pensamento” é uma das expressões preferidas da Molly, e fui eu quem ensinou a ela. Na verdade, é “mudar de idéia”, não “pensamento”. È uma coisa que todo mundo fala. Eu me esforcei muito para adaptar a Molly à nossa cultura já que, quando começou a trabalhar para nós, tinha acabado de chegar do Equador e não tinha a mínima idéia de como as coisas funcionavam nos Estados Unidos.
Agora que ela já está a par do que rola e do que não rola nos EUA, a MTV até podia contrata-la como consultora.
Além disso, ela só me chama de Dona Hermione quando está brava comigo
- Eu sei exatamente o que você está pensando, Dona Hermione – continuou Molly no meio do congestionamento da Connecticut Avenue , causado, como sempre, pela comitiva de carros do presidente. Esse é um dos problemas de morar em Washington, D.C... Não dá para ir a lugar algum sem topar com uma comitiva de carros. – Assim que eu virar as costas, você entra correndo na loja de CDs mais próxima e pronto, acabou.
Suspirei como se tal idéia jamais tivesse passado pela minha cabeça, apesar de eu estar planejando aquilo mesmo. Mas eu me sinto como se fosse obrigada a pensar coisas assim. Se não desafiar a autoridade, como é que vou manter minha integridade artística?
- Até parece, Molly – foi o que respondi, apesar de tudo.
- não me venha com esse “até parece, Molly” – retorquiu ela. – Eu conheço você muito bem. Sempre vestida de preto e ouvindo aquela música punk...
- Ska – corrigi.
- Tanto faz.
O último carro da comitiva passou e fomos liberadas para seguir em frente. Ela prosseguiu:
- Daqui a pouco você vai querer tingir esse seu lindo cabelo castanho de preto.
Pensei, cheia de culpa, na caixinha de coloração instantânea Sussurro da Meia-Noite que repousava no armarinho do banheiro. Será que Molly tinha visto? Porque eu não acho que ter cabelo castanho é tão bom assim. Bom, talvez seja, se o seu cabelo for igual ao da Lucy, que é daquela cor que chamam de castanho-de-Tiziano, o nome do pintor que inventou essa cor. Mas cabelo castanho igual ao meu, que tem a mesma cor – e consistência – dos fios que passam pelos postes de telefone, quem vai achar bonito? Não é tão fofo assim, vou dizer.
- E às cinco e meia – Molly prosseguiu -, quando eu vier buscar você, vou lá dentro apanha-la. Nada dessa história de me esperar na calçada.
A Molly encarna mesmo esse negócio de mãe. Ela própria tem quatro filhos, todos já bem crescidos, e três netos, apesar de ser só um ano mais velha do que a minha mãe. Isso porque, ela mesma diz que o filho mais velho, Gui, é um imbecil.
É por causa da imbecilidade de Gui que a Molly não se deixa enganar: ela já viu de tudo.
Quando afinal chegamos ao Estúdio de Arte Susan Boone, na esquina da R com a Connecticut, bem em frente à Igreja Fundamental de Cientologia, a Molly lançou um olhar de viés na minha direção. Não por causa da Igreja de Cientologia, mas porque o ateliê da Susan Boone ficava em cima de uma loja de CDs. Como se fosse minha culpa ela ter escolhido aquele lugar!
Mas preciso dizer que a Static, uma das únicas lojas de disco da cidade em que eu nunca tinha entrado, parecia tentadora... Quase tanto quanto a Capitol Cookies, a confeitaria bem ali do lado. Dava até para ouvir os acordes de uma das minhas músicas favoritas ressoando através das paredes à medida que íamos caminhando nessa direção (tivemos que dar a volta no quarteirão e estacionar a um milhão de quilômetros dali, na Que Street; já dava para ver que a Molly não ia insistir na idéia de me acompanhar até a porta de novo, depois disso). Na Static, tocava uma música do Garbage, “Only Happy When It Rains” (“Só fico feliz quando chove”).
Pensando bem, essa frase resume a minha atitude para com a vida, já que os pais só deixam a gente ficar em casa desenhando quando está chovendo. Se não, é sempre: “Por que você não sai para dar uma volta de bicicleta, como qualquer garota normal?”
Mas a Susan Boone deve ter mandado colocar isolamento acústico no ateliê dela, porque, ao subirmos a escada estreita e caiada até a porta de entrada, no andar de cima, não ouvíamos mais nada do Garbage. Em vem disse, o que se ouvia era um rádio tocando música erudita suave e outro som que eu não conseguia identificar muito bem. O cheiro, à medida que íamos subindo, era aconchegante e bem conhecido para mim. Não, não tinha cheiro de biscoito. Tinha o mesmo cheiro da sala de arte da escola, de tinta e terebintina.
Só quando chegamos até a posta do ateliê e eu a empurrei é que entendi o que era o outro som que eu estava ouvindo.
- Oi, Joe. Oi, Joe. Oi, Joe – um enorme corvo negro, empoleirado em cima, e não dentro, de uma enorme gaiola de bambu, grasnava para nós.
Molly deu um grito.
- Joseph! – uma mulher baixinha, com o cabelo mais comprido e mais branco que eu já vi, saiu de trás de um cavalete e berrou com o pássaro. – Tenha modos!
- Jesus Cristo – exclamou Molly, afundando-se em um banquinho próximo, salpicado de tinta. Ela já estava sem fôlego por causa da escada íngreme. O susto de levar um grito de um pássaro na cara não ajudou em nada.
- Desculpem-me por isso – disse a mulher de cabelo comprido e branco. – Por favor, não liguem para o Joseph. Ele demora um pouquinho para se acostumar com estranhos. Bom, você deve ser a Hermione. Eu sou a Susan.
Quando estávamos no final do ensino fundamental, a Luna e eu passamos por uma fase em que só líamos livros de fantasia. Nós os devorávamos como se fossem M&Ms, aos montes: J.R.R. Tolkien, Terry Brooks, James Kahn e Lloys Alexander. Para mim, a Susan Boone parecia a rainha dos elfos (quase sempre tem uma rainha dos elfos nos livros de fantasia). Tipo assim, ela era mais baixa do que eu e usava uma roupa esquisita de linho em tons de azul e verde claro.
Mas era o cabelo branco e comprido (que ia até a cintura!) e os olhos azuis brilhantes, espiando através de um rosto enrugado e completamente sem maquiagem, que prenderam a minha atenção. Até mesmo os cantinhos da boca dela se curvavam para cima, como faria a boca de um elfo, mesmo sem ouvir nada engraçado.
Naquele tempo em que a Luna e eu vivíamos apalpando o fundo dos guarda-roupas, na esperança de ser transportadas para uma terra onde houvesse faunos e hobbits, não almoços infantis prontos e VJs idiotas da MTV, conhecer alguém como Susan Boone teria sido emocionante.
Agora, era meio esquisito.
Estiquei o braço e apertei a mão que ela estendeu na minha direção, e nos cumprimentamos. A pela dela era seca e áspera.
- Pode me chamar de Mione – falei, impressionada com o aperto de mão, que não tinha nada de élfico: a mulher com certeza seguraria firme o Manet com o mínimo de esforço.
- Oi, Mione – respondeu Susan Boone. Daí ela largou minha mão e voltou-se para Molly: - E você deve ser a Sra. Granger. Muito prazer.
Molly tinha retomado o fôlego. Em pé, balançou a cabeça, dizendo que era a empregada da Sra. Granger, e que estaria de volta às cinco e meia para me buscar.
Então Molly foi embora e a Susan Boone me segurou pelos ombros e me dirigiu até um dos banquinhos manchados de tinta, que não tinha encosto, só uma tábua alta de um dos lados, em que se escorava um bloco de desenho.
- Pessoal – anunciou ao me encaixar no banco. – Esta é Mione. Mione, estes aqui...
Então, exatamente igual a duendes que saem de trás de cogumelos venenosos gigantes, o resto dos alunos do curso de arte esticou a cabeça, de trás de imensos blocos de desenho, para olhar pra mim.
- Lynn, Gertie, John, Jeffrey e Harry – apresentou Susan Boone, apontando-os um por um.
Tão logo apareceram as cabecinhas, sumiram de novo, e todos voltaram a seus blocos. Eu não recebi nada além de uma olhadela rápida da Lynn, uma mulher magrinha de uns 30 anos; da Gertie, uma mulher de meia-idade; do Jeffrey, um jovem negro; do John; e do Harry, que usava uma camiseta da Save Ferris.
Como a Save Ferris é uma das minhas bandas preferidas, achei que pelo menos teria alguém com quem conversar.
Mas daí dei uma olhada melhor no Harry e percebi que a possibilidade de algum dia ele me dirigir a palavra era mais ou menos zero. Tipo assim, parecia que eu o conhecia de algum lugar, o que provavelmente significava que a gente estudava na mesma escola. E eu sou uma das pessoas mais odiadas na John Adams por ter sugerido que o dinheiro arrecadado com a venda de papéis de presente no Natal fosse todo doado para o departamento de arte da escola.
Mas a Lucy, a Gina Wasley e outras queriam usar o dinheiro para ir andar de montanha-russa no Six Flags Great Adventue.
Adivinha quem ganhou?
Além disso, esse negócio de usar-preto-todo-dia-porque-estou-de-luto-pela-minha-geração também não ajudou muito a minha popularidade.
O Harry parecia ter mais ou menos a mesma idade da Lucy. Era alto (bom, pelo menos parecia ser, sentado ali naquele banco) com cabelo escuro, olhos muito verdes e mãos e pés muito grandes. Ele era meio fofo (mas não tão fofo quanto o Draco, claro), o que significava que, se estudava mesmo na Adams, devia ser da turma dos atletas. Todos os garotos fofos da Adams são da turma dos atletas. Menos o Draco, claro.
Portanto, quando eu sentei e o Harry piscou pra mim, dizendo “que bota legal”, eu fiquei completamente chocada. Pensei que ele estava zoando com a minha cara (como a maior parte dos caras da turma dos atletas da Adams tem o costume de fazer), mas dai olhei para baixo e percebi que, igual a mim, ele também usava um coturno.
Só que o Harry, diferentemente de mim, não fazia de suas botas uma afirmação satírica: um dia, na última aula, eu tinha coberto o couro preto de margaridas (com corretivo e caneta marca-texto amarela).
Fiquei quietinha e completamente vermelha por um garoto tão fofo ter falado comigo, e a Susan Boone anunciou:
- Hoje, estamos fazendo uma natureza-morta – e me entregou um lápis bem bom, de grafite macio. Daí, aponto para uma pilha de frutas em cima de uma mesinha no meio da sala e prosseguiu: - Desenhe o que você vê á sua frente.
Daí, saiu fora.
Bom, isso é que é tentar acabar com a minha individualidade e minha habilidade natural. Fiquei aliviada de ver que estava completamente errada nesse aspecto. Dizendo a mim mesma para esquecer o Harry Fofo e o comentário da bota (sem dúvida, ele só estava sendo legal comigo por eu ser a aluna nova e tal), olhei para a pilha de frutas na mesinha, aninhada em um pedaço amarfanhado de seda branca, e comecei a desenhar.
Tudo bem, pensei comigo mesma. Até que isto aqui não é tão mau assim. Na verdade, até que o ambiente era agradável ali no ateliê da Susan Boone. A Susan era interessante, com aquele cabelo e aquele sorriso de rainha dos elfos. Um garoto fofo disse que gostou das minhas botas. A música erudita que tocava baixinho no fundo era legal. Eu nunca ouço música erudita, a não ser que esteja tocando como fundo de algum filme que eu esteja assistindo ou algo assim. E o cheiro de terebintina era revigorando, igual tomar sidra quente em um dia frio de outono.
Talvez, pensei enquanto desenhava, isto aqui não seja tão ruim assim. Talvez seja até divertido. Tipo assim, existem maneiras muito piores para desperdiçar quatro horas por semana, não é mesmo?
Peras. Uvas. Uma maça. Uma romã. Desenhei sem prestar muita atenção no que estava fazendo. Fiquei imaginando o que Molly faria para o jantar. Perguntei a mim mesma por que não tinha escolhido espanhol em vez de alemão. Se tivesse escolhido espanhol, poderia ter a ajuda de duas pessoas que falavam espanhol em casa, a Molly e a Luna, para me ajudar na lição de casa. Eu não conhecia ninguém que falasse alemão. Por que é que eu fui escolher uma língua tão boba, para começo de conversa? Eu só fiz isso porque era a língua que a Lucy tinha escolhido, e ela tinha dito que era fácil. Fácil! Rá! Talvez para ela. Mas o que é que não era fácil para Lucy? A Lucy tinha tudo: cabelo lindo, um namorado completamente íntegro, o quarto do canto com um closet imenso...
Eu estava tão ocupada desenhando e pensando em quanto a vida da Lucy era melhor do que a minha que nem percebi que Joe, o corvo, tinha descido da gaiola e vindo na minha direção para verificar o que eu estava fazendo, até que arrancou alguns fios do meu cabelo.
Fala sério. Um pássaro roubou o meu cabelo!
Soltei um grito, o que fez com que Joe saísse voando, espalhando penas pretas por todos os lados.
- Joseph! – Susan Boone esbravejou quando viu o que estava acontecendo. – larga o cabelo da Mione!
Obedientemente , Joe abriu o bico. Três ou quatro fios de cabelo cor de madeira velha flutuaram até o chão.
- Corvo lindo – anunciou Joe, inclinando a cabeça na minha direção. – Corvo lindo.
- Ah, Mione – Susan Boone se abaixou para pegar os cabelos do chão. – Desculpe-me. É que ele sempre fica atraído por coisas coloridas e brilhantes.
Veio até mim e me entregou os fios, como se eu pudesse cola-los de volta na cabeça.
- Ele não é um pássaro mau – informou Gertie, como que preocupada com alguma impressão errada que eu pudesse guardar do pássaro da Susan Boone.
- Corvo mau –fez Joe. – Corvo mau.
Fiquei lá parada, com os fios de cabelo na palma da mão aberta, pensando que a Susan Boone faria bem de gastar 500 paus com o especialista em comportamento animal, já que o bicho de estimação dela tinha problemas sérios. Enquanto isso, Joe voltava para o topo de sua gaiola batendo as asas, sem tirar os olhos de mim. Do meu cabelo, para ser mais exata. Dava para ver que ele estava mesmo a fim de tirar mais um chumaço, se pudesse. Pelo menos, foi o que me pareceu. Será que os pássaros têm sentimentos? Eu sei que os cachorros têm.
Mas os cachorros são inteligentes. E os pássaros são meio idiotas.
Mas não tão idiotas quanto seres humanos conseguem ser, eu vim a perceber mais tarde. Ou pelo menos tanto quanto este ser humano em especial consegue ser. Por volta das cinco e quinze (eu sabia por que a estação de rádio de música erudita tinha começado a dar notícias), a Susan Boone encerrou a sessão.
- Pronto. Parapeito da janela.
E todo mundo, menos eu, levantou do banco e colocou o bloco de desenho apoiado na janela, de frente para o ateliê. Havia janelas em toda a extensão das três paredes da sala, que era de canto, e o parapeito era largo o bastante para alguém se sentar ali. Apressei-me para colocar o meu bloco ao lado dos outros e depois todos nós nos afastamos para olhar o que tínhamos desenhado.
O meu era claramente o melhor. E eu fiquei bem mal por causa disso. Tipo assim, era só o meu primeiro dia de aula, e eu já estava desenhando melhor do que qualquer outro aluno, melhor até que os adultos. Tive mais pena do John: o desenho dele era só uma enorme bagunça. O da Gertie era quadradão e todo manchado. O da Lynn parecia ter sido feito por uma criancinha de jardim-de-infância. E o Jeffrey tinha desenhado alguma coisa que não podia ser identificada como um monte de frutas.
Até podiam ser uns discos voadores, mas frutas, não.
Só o Harry tinha desenhado algo remotamente bom. Mas ele não tinha conseguido terminar, Eu tinha conseguido desenhar TODAS as frutas e tinha até adicionado um abacaxi tipo para dar um equilíbrio à figura.
Fiquei torcendo para Susan Boone não fazer muito alarde por o meu desenho ser muito melhor do que o de todo mundo. Eu não queria que os outros ficassem mal.
- Bom – avaliou Susan Boone.
Deu um passo à frente e começou a discutir o desenho de cada um.
Ela foi muito diplomática a respeito da coisa toda. Tipo assim, meu pai bem que poderia contratá-la para algum dos escritórios dele, de tão cheia de tato que ela era (os economistas são muito bons com números, mas quando se trata de relacionamentos humanos, assim como a Rebecca, eles não se dão muito bem). A Susan ficou falando e falando sobre a emotividade das linhas da Lynn e do bom uso do espaço no desenho da Gertie. Disse que o John tinha melhorado muito, e todo mundo pareceu concordar, o que me fez pensar o quão ruim John devia ser quando começou. O Harry recebeu “excelente justaposição”; e o Jeffrey, um “muito detalhado”.
Quando ela finalmente chegou ao meu desenho, tive vontade de sair da sala de fininho. Tipo assim, meu desenho era tão obviamente o melhor... Eu não quero parecer esnobe, mas meus desenhos sempre são os melhores. Desenhar é o que eu faço melhor. E fiquei torcendo mesmo para a Susan Boone não esfregar isso na cara dos outros. O resto da classe já devia estar se sentindo bem mal.
Mas, no final, vi que não precisava ter me preocupado tanto com a reação da classe aos elogios de Susan Boone. Porque, quando ela chegou ao meu trabalho, não pôde dizer nada agradável a respeito dele. Em vez disso, deu uma boa olhada, chegou mais perto e examinou com muita atenção. Daí, deu um passo para trás e começou:
- Bom, Mione , estou vendo que você desenhou o que conhece.
Achei que essa era uma observação bem esquisita. Mas também, até agora tudo tinha sido meio esquisito. Legal, mas esquisito (a não ser pelo pássaro ladrão de cabelo, o que não tinha sido muito legal).
- Humm – respondi. – Acho que sim.
- Mas eu não mandei desenhar o que você conhece. – retorquiu Susan Boone. – Eu mandei desenhar o que você vê.
Olhei do meu desenho para a pilha de frutas na mesa, depois olhei para o papel de novo, confusa.
- Mas não foi o que eu fiz? Desenhei o que vejo. Quer dizer, o que vi.
- É mesmo? – perguntou Susan Boone com um daqueles sorrisinhos de elfo. – E você está vendo algum abacaxi naquela mesa?
Não precisei olha de novo para o móvel para verificar. Eu sabia que não tinha abacaxi nenhum ali.
- Bom. Não vi, mas...
- Não. Não tem abacaxi nenhum ali. E essa pêra também não está ali – apontou para uma das pêras que eu tinha desenhado.
- Espera aí – comecei, ainda confusa, mas já na defensiva. – Tem pêra lá sim. Aliás, tem quatro peras na mesa.
- Tem – respondeu Susan Boone. – Tem quatro peras na mesa. Mas nenhuma delas é esta aqui, Esta é uma pêra perfeita, mas não é nenhuma das peras que você viu na sua frente. Eu não fazia a mínima idéia do que ela estava falando mais, aparentemente, a Gertie, a Lynn, o John, o Jeffrey e o Harry sabiam. Todos assentiam com a cabeça.
- Você não está vendo, Mione? – Susan Boone pegou meu bloco de desenho e veio em minha direção; Apontou para as uvas que eu tinha desenhado. – Você desenha uvas lindas, mas não são as uvas da mesa. As uvas da mesa não são tão perfeitamente oblongas, e também não são todas do mesmo tamanho. O que você desenhou aqui é a idéia que você tem sobre como as uvas devem ser, e não as uvas que estão de fato na nossa frente.
Pisquei, olhando para o bloco de desenho. Não entendi nada. Não mesmo. Tipo assim, eu meio que entendia o que ela estava dizendo, mas não conseguia perceber qual era o problema. As minhas uvas eram muito mais bonitas do que as uvas de qualquer outra pessoa. Isso não era bom?
A pior parte de tudo era que todo mundo parecia estar olhando para mim com um ar de solidariedade. Meu rosto começou a ficar quente. E claro que esse é o problema de ser tímida. Você fica vermelha 97% do tempo. E não tem como esconder.
- Desenhe o que você vê – repetiu Susan Boone, sem ser indelicada. – Não o que você conhece Mione.
E foi então que a Molly, arfante por ter subido as escadas, entrou na sala, fazendo com que Joe começasse a grasnar “Oi, Joe! Oi, Joe!” tudo de novo.
Era hora de ir embora. Achei que ia desmaiar de tanto alívio.
- Vejo você na quinta-feira – exclamou alegremente Susan Boone enquanto eu vestia o casaco.
Devolvi o sorriso, mas claro que estava pensando: “Nem morta que você vai me ver na quinta-feira.”
Naquele instante, claro, eu não fazia idéia de como eu tinha razão. Bom, mais ou menos.
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Bom, esse capitulo é dedicado a Jessi Potter que fez a capa pra minha fic, AMEI a capa...
Esclarecendo:Bom nessa fic a Molly e a Gina não tem nada a ver uma com a outra, nem o Rony ok...
Rhaissa.Black:Que bom q você esta gostando da fic.Continue lendo e comentando...
yohana:Eu pretendo postar dia sim dia não.
Kate Black :Obrigada Por comentar viu.Espero que continue lendo e que goste.
Lu Evans Black:Eu tambem sou super fã da Meg,e esse é um dos meus livros preferidos, Por isso que eu resolvi fazer a versão H² que fica melhor ainda....
AnnaSophia Potter: Bom o meu shipper é H², por isso que a Sam é a Mione..Pra falar a verdade eu odeio a Gina, e acho injusto que ela fique com o Harry....Mais gosto é gosto.E muito obrigada por comentar.
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