Capítulo 5
Nos fundos da casa de Diana Black, no bairro de Milton Gardens, existia um jardim estreito e comprido que ia até um lugar pavimentado com paralelepípedos, e onde havia uma série de pequenos apartamentos que tinham sido construídos sobre antigas estrebarias, e agora modernizados. Entre o jardim e essa área nos fundos da casa havia um muro alto com um portão, que dava para o que tinha sido no passado uma espaçosa garagem dupla. Quando Diana voltou para Londres, vinda de Aphros, decidiu que seria um investimento muito lucrativo transformar a garagem e todos os aposentos acima dela em um lugar habitável, e assim construiu um apartamento ali, pensando em alugá-lo. Essa atividade a distraiu por mais de um ano, e quando a obra acabou, com todos os cômodos mobiliados e totalmente decorados, ela de fato o alugou, por um valor exorbitante, a um diplomata americano designado para trabalhar em Londres por dois anos. Aquele era um inquilino perfeito, mas depois que voltou para Washington, deixando o imóvel vago, e Diana começou a procurar um novo interessado para alugar o apartamento, não foi assim tão feliz como da primeira vez.
Então, surgindo do passado, apareceu Caleb Ash, com a namorada Íris, dois violões, um gato siamês e nenhum lugar para morar.
- E quem é esse... - Sírius quis saber - Caleb Ash?
- Era um amigo de Gerald Granger, em Aphros. Uma daquelas pessoas que estão sempre prestes a fazer alguma coisa, tipo escrever um romance, pintar um mural, começar um novo negócio ou construir uma pousada... acabam não realizando nada. Enfim, Caleb é o homem mais preguiçoso do mundo.
- E a Senhora Ash?...
- Íris. E eles não são casados.
- Você não os quer morando no apartamento que está para alugar lá nos fundos?
- Não.
- Por quê?
- Porque acho que eles poderão ser uma má influência para Jody.
- Jody vai conseguir se lembrar deles?
- Claro que vai! Estavam sempre entrando e saindo de nossa casa em Aphros, o tempo todo.
- Mas você não gostava dele?...
- Eu não disse isso, Sírius. É impossível não gostar de Caleb Ash, ele tem todo o charme do mundo. Só que eu não sei... Ele e a namorada morando nos fundos do jardim, aqui atrás...
- E os dois têm condições para pagar o aluguel?
- Diz ele que sim.
- E você por acaso está achando que eles vão acabar transformando o lugar num chiqueiro?
- De jeito nenhum, Íris é muito caprichosa com a casa. Está sempre encerando o piso, polindo tudo, preparando cozidos e sopas suculentas em grandes panelas de cobre.
- Você está me deixando com água na boca. Deixe-os ficar lá. Já que são amigos dos velhos tempos, você não devia cortar todos os seus laços com o passado, e também não vejo de que modo a presença deles possa ser maléfica para Jody.
E foi então que Caleb, Íris, o gato, os violões e as panelas de cobre se mudaram para o "chalé do estábulo". Diana lhes cedeu um pedaço de terreno para construírem um jardim, e Caleb colocou ladrilhos em volta, plantou camélias em vasos, e assim, do nada, conseguiu criar um nostálgico ambiente mediterrâneo que parecia um pedaço da Grécia transplantado para Londres.
Jody, como era de se esperar, adorava Caleb, mas desde o princípio fora orientado por Diana a visitar os novos inquilinos apenas quando fosse convidado, para não acabar se transformando em um transtorno para eles. Katy foi frontalmente contra a presença de Caleb desde o início, especialmente depois que, por meio da rede local de fofocas, descobriu que Caleb e Íris não eram casados nem pretendiam se casar.
- Jody, você não vai novamente até o jardim dos fundos para visitar aquele Senhor Ash, não é?
- Mas ele me convidou, Katy. Sukey, a gata, teve filhotes.
- Humm... Vamos ter mais daqueles bichos siameses?
- Bem, na verdade eles não são siameses puros. A mãe teve um caso com um gato malhado que mora no numero oito da rua de trás, e tiveram filhotes que são assim, do tipo mestiços. Caleb diz que os bichinhos vão ficar todos malhados também, assim como o pai.
Katy voltou a mexer com a chaleira, ainda com mais energia. Estava muito aborrecida.
- Bem... - disse. - Não sei o que dizer diante disso... É o fim!
- Pensei em ficar com um dos filhotes.
- Não quero nenhuma daquelas coisinhas horríveis miando por aqui. De qualquer modo, a Senhora Black não quer animais aqui pela casa. Você já ouviu muitas vezes ela dizer: "Sem animais!..." E um gato está na categoria de "animais", então está resolvido.
Na manhã seguinte à noite do jantar que fora oferecido aos Haldane, Hermione e Jody Granger apareceram na porta do jardim nos fundos da casa e caminharam, pelo caminho enfeitado, até o "chalé do estábulo". Não estavam pretendendo se esconder. Diana tinha saído e Katy estava trabalhando na cozinha, que dava para a rua da frente, preparando o almoço. Além disso, eles sabiam com absoluta certeza que Caleb estava em casa, pois tinham telefonado para perguntar se poderiam aparecer em sua casa, e ele dissera que ficaria esperando por eles.
A manhã estava fria e ventava muito, mas o céu estava limpo, com um tom de azul forte que se refletia nas poças formadas entre os paralelepípedos molhados do piso. O sol estava ofuscante. Tinha sido um longo inverno. Agora, apenas as pontas dos primeiros brotos de flores apareciam timidamente, nos canteiros com terra preta. Tudo o mais estava marrom, seco, atrofiado e aparentemente morto.
- No ano passado, por essa época - disse Hermione -, o açafrão já tinha brotado por todo o jardim.
O pequeno jardim de Caleb, no entanto, era mais protegido e ensolarado. Por isso, já havia ali narcisos surgindo em pequenas gamelas pintadas de verde, e algumas anêmonas brancas se apertavam em torno da base da amendoeira de tronco escuro que ficava no meio do pátio.
Era possível ter acesso ao apartamento através de uma escada externa que levava até um terraço largo, parecido com o balcão de um chalé suíço. Caleb ouvira o som das vozes que se aproximavam e, quando eles chegaram ao topo da escada, já estava ali para recebê-los, com as mãos no parapeito de madeira e parecendo mais o capitão de alguma pequena embarcação grega que vinha dar as boas-vindas e receber os convidados a bordo.
De fato, ele vivera por tantos anos em Aphros que suas feições adquiriram características fortemente gregas, assim como as pessoas que estão casadas há muitos anos e acabam se parecendo. Seus olhos eram tão profundos que era quase impossível identificar-lhes a cor. Seu rosto era acobreado e cheio de marcas. O nariz era uma proa que se projetava, e o cabelo, grosso, grisalho e cacheado. Seu tom de voz era grave, forte e sempre fazia Hermione se lembrar do vinho grego rascante, do pão recém-saído do forno e do cheiro de alho misturado na salada.
-Jody! Hermione! - E os abraçou, cada um com um braço, beijando-os a seguir, com uma falta de cerimônia maravilhosamente grega. Ninguém jamais beijava Jody, exceto, às vezes, Hermione. Diana, com a sua usual percepção tão apurada, notou o quanto ele detestava beijos. Mas com Caleb era diferente, uma respeitosa demonstração de afeto, de homem para homem. - Que surpresa agradável, meus amigos! Vamos, entrem. Estou preparando café.
Na época em que o diplomata americano morara ali, o apartamento adquirira um ar de ordem, exibindo uma elegância fria e educada, típicas da Nova Inglaterra. Agora, sob a influência inconfundível de Íris, tudo estava muito mais descontraído, mais cheio de cor e de vida. Telas sem moldura enchiam as paredes, um móbile feito com pedaços de vidro colorido pendia do teto, um imenso xale grego fora jogado sobre os sofás de chintz cuidadosamente escolhidos por Diana. A sala estava muito acolhedora e cheirava a café.
- Onde está Íris?
- Saiu para fazer compras. - Empurrou uma cadeira. - Sentem-se. Vou pegar o café para nós.
Hermione se sentou. Jody seguiu Caleb e pouco depois voltaram, o menino carregando uma bandeja com três canecas e mais o açucareiro, e Caleb empunhando o bule fumegante. Arrumaram lugar para tudo na mesinha baixa em frente à lareira e se acomodaram ao redor dela.
- Vocês não estão em alguma encrenca, estão? - perguntou Caleb com cautela, pois vivia com medo de despertar a antipatia de Diana.
- Ah, não! - disse Hermione de modo espontâneo. A seguir, pensando melhor, corrigiu-se. - Pelo menos, não exatamente.
- Conte-me tudo!
E ela contou. Falou sobre a carta de Angus e também a respeito de Jody não querer ir para o Canadá. Finalmente, relatou as idéias que o menino tivera para encontrar o irmão novamente.
- Assim, nós resolvemos ir até a Escócia. Amanhã, terça-feira.
- E vocês vão contar isso para Diana?
- Se contarmos, ela vai nos dizer para não fazermos a viagem. Você sabe que ela faria isso. De qualquer forma, vamos deixar-lhe uma carta.
- E Neville?
- Neville também seria contra, se descobrisse.
- Hermione... - Caleb franziu as sobrancelhas. - Você está para se casar com esse rapaz, e daqui a uma semana.
- Mas eu vou me casar com ele.
- Humm... - fez Caleb, pensativo, como se não acreditasse nela. Olhou para Jody, que estava sentado ao lado dele. - E você? Como é que vai ser? E a escola?
- As aulas acabaram na sexta-feira. Já estou de férias.
- Humm... - fez Caleb, de novo. Hermione começou a ficar apreensiva.
- Caleb, não ouse dizer que você também não aprova.
- Mas é claro que não aprovo. E uma idéia completamente insana e absurda. Se vocês estão querendo conversar com Angus, por que não telefonam para ele?
- Jody não quer fazer isso. É muito complicado tentar explicar uma situação como essa pelo telefone.
- E, de qualquer modo... - completou Jody -, você não consegue convencer ninguém pelo telefone.
- Quer dizer que você acha que vai precisar convencê-lo? - Caleb deu um sorriso meio torto. - Nisso, eu concordo com vocês. Afinal, Angus vai se ver obrigado a vir para Londres, procurar um lugar para morar, modificar todo o seu estilo de vida...
- Por isso é que não dá para telefonar! - disse Jody, de forma teimosa e ignorando as observações de Caleb.
- E imagino que enviar uma carta levaria muito tempo.
Jody concordou.
- Telegrama?
Jody balançou a cabeça para os lados.
- Bem, parece que vocês já pensaram em todas as alternativas possíveis. O que nos leva à questão seguinte. Como é que pretendem chegar na Escócia?
Hermione tomou a palavra, de uma forma que ela tentava fazer com que parecesse decidida e vitoriosa.
- Esta é uma das razões, Caleb, de nós querermos conversar com você. Veja só, temos que ir de carro, e não podemos levar o de Diana. Mas se nós pudéssemos usar o seu pequeno automóvel, o Mini, se você não for usá-lo por esses dias... Você e Íris... Quer dizer, vocês não o utilizam muito, mesmo, e nós vamos tomar todo o cuidado com ele...
- O meu carro? E o que é que eu vou responder quando Diana vier ventando pelo jardim até aqui atrás, com uma fileira interminável de perguntas embaraçosas?
- Você pode dizer que o carro está na oficina. É só uma mentira bem pequena.
- É muito mais do que uma mentira pequena, isso é desafiar a Divina Providência. Jamais fiz uma revisão naquele carro, desde que o comprei, há sete anos. Suponha que ele enguice no caminho?...
- Estamos dispostos a correr o risco.
- E dinheiro para a viagem?
- Temos o suficiente.
- E quando é que pretendem voltar?
- Na quinta ou sexta-feira. Trazendo o Angus.
- Vocês estão muito confiantes. E se ele não quiser vir?
- Vamos resolver como conseguiremos atravessar essa ponte quando chegarmos diante dela.
Caleb se levantou, inquieto e indeciso. Foi até a janela para ver se Íris estava chegando, para ajudá-lo a se desembaraçar daquele dilema terrível, mas não havia nenhum sinal dela. Repetiu para si mesmo que estes eram os filhos do seu melhor amigo. Por fim, soltou um suspiro.
- Se eu concordar em ajudá-los e se eu acabar emprestando o carro, é só porque acho que já está mais do que na hora de Angus assumir algumas responsabilidades na vida. Acho que ele deveria mesmo voltar. E se virou para olhar para eles. - Mas vou precisar saber para onde vocês estão indo. O endereço, por quanto tempo vocês vão ficar, e tudo o mais.
- É o Hotel Strathcorrie Arms, que fica no centro de Strathcorrie. E se não voltarmos até sexta-feira, pode contar a Diana para onde fomos. Mas não conte antes disso.
- Certo! - Caleb balançou a grande cabeça, num gesto que parecia que estava prestes a colocá-la em um laço. - Combinado!
E escreveram um telegrama para Angus:
ESTAREMOS EM STRATHCORRIE NA TERÇA-FEIRA À NOITE PARA DISCUTIR PLANOS IMPORTANTES com VOCÊ.
TODO O NOSSO AMOR,
JODY E HERMIONE.
Feito isso, Jody escreveu uma carta que seria deixada para Diana.
Cara Diana
Recebi uma carta de Angus, e ele está na Escócia. Assim Mione e eu fomos até lá para procurar por ele. Tentaremos estar de volta na sexta-feira.
Por favor, não se preocupe.
A carta para Neville, porém, não foi assim tão fácil, e Hermione lutou, tentando escrevê-la por mais de uma hora.
Querido Nev,
Como Diana já deve ter contado, Jody recebeu uma carta de Angus. Ele voltou da Índia por mar e está agora trabalhando na Escócia. Tanto Jody quanto eu achamos que é importante vê-lo antes de Jody ir para o Canadá, e assim, no momento em que você receber esta carta, já estaremos rumo à Escócia. Esperamos voltar a Londres na sexta-feira.
Eu teria conversado isso com você, mas você se sentiria no dever de contar a Diana, ela nos convenceria a não irmos e jamais conseguiríamos vê-lo. E é muito importante para nós que ele saiba o que está para acontecer.
Sei que é terrível fazer isso, sair assim a uma semana do nosso casamento, e sem avisar. Porém, se tudo correr bem, estaremos em casa na sexta-feira.
Amor,
Hermione.
---------------------------------------------------------------------------------------------------
Agradecimentos:
#Jackeline Potter Malfoy:
Oi Jack! Oh, deve ter sim o livro na internet... Mas eu não consegui encontrar o link... Eu já o tinha no meu computador há alguns meses e só agora me veio a idéia de adaptá-lo para HH. Se eu achar, juro q te mando, ok? Bjos e continue acompanhando!!
#Carla Ligia Ferreira:
Ah, Carla... a relação dele com a Gina? Por enquanto, ela era a paixão adolescente do irmão morto... haaauhauhauha Continue acompanhando a fic, pq só posso te adiantar q a Gina ainda vai dar raiva... hauahaua
bjos
#Nick Granger Potter:
hauahuahuaahu Tá certo então, mas mesmo assim, obrigado! Continue lendo, viu!? e comentando! Bjos
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
N/A: Aí está, como prometido, o 5º capítulo... Se não me engano, no próximo, talvez já haja o encontro... \o/
COMENTEM e o 6º vem rapidinho p vcs! Ah, 4 comentários pelo menos, ok?!
Bjoooooooooooooooooooooooooooossssssssssss
p.s: junto com o proximo capítulo, colocarei uma enquete sobre uma nova adaptação q estou fazendo. Será um livro da Nora Roberts e, como tal, tem muita Nc... Vcs leriam? O.O
ah, mas a enquete não é essa, ok? hehehe
bjos
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!