Muitos Detalhes
Apesar do estado de saúde de Fred, a Armada tinha muito o que comemorar. A iniciativa de ir até o Ministério deu certo. Eles conseguiram impedir Voldemort de colocar as mãos no objeto de Ravenclaw e ainda fizeram o exército do Lorde das Trevas ficar bem desfalcado.
Os curandeiros do St. Mungus garantiram que Fred ficaria bem e poderia voltar para casa dali a uma semana. Cansados das batalhas, os jovens voltaram para o Largo Grimmauld. Passava das três da manhã quando chegaram em casa e foram direto para as camas, sem nem ao menos tomar banho.
No dia seguinte, passaram a tarde discutindo os últimos acontecimentos e qual destino deveriam dar ao Coração de Ravenclaw. A Srª Weasley passou o dia no hospital, fazendo companhia para o filho, enquanto George voltava ao Beco Diagonal para fechar a loja.
Ele não queria sair do lado do irmão, e como Lino Jordan também saiu machucado do combate, eles acharam melhor manter a Gemialidades Weasley fechada, até Fred sair do hospital.
Enquanto isso, num canto afastado da Inglaterra, um jovem se agachava assustado e gemendo de dor, dentro de uma sala escura e fria. Seus óculos haviam se espatifado quando ele foi torturado com toda a fúria do Lorde das Trevas. As lágrimas escorriam pelo rosto pontilhado de sardas. Os cabelos ruivos estavam empapados de suor.
Agora sim, Percy Weasley, conhecia o que era ser um comensal. O que era estar ao lado do bruxo mais cruel de todas as eras, que não sabia perdoar uma falha. Aquele bruxo que agora o torturava foi o mesmo que lhe deu um quarto luxuoso, com todo conforto, por ele se tornar um informante precioso dentro do Ministério.
E foi aquele mesmo bruxo que acabou com a vida de Rodolfo Lestrange, pelo simples fato do homem ter se tornado um inválido. Percy sabia de tudo o que acontecia na Fortaleza. E sabia também que o gesto de Voldemort para com Rodolfo não foi piedade.
Ele se livrou de um estorvo. Ele apenas deu fim a um bruxo que certamente tomaria o tempo de Bellatriz e a impediria de lutar como devia.
Com as mãos sobre o abdômen, onde a maldição da tortura lhe acertou, Percy pensava que nada aconteceu do modo como imaginou! Acreditou que se voltasse inteiro do Ministério seria recompensado. Tratado como o único sobrevivente de um massacre. Imaginou que teria honras, mas Voldemort não o tratou assim.
Despejou sua ira sobre o rapaz, acusando-o de covardia e de não ter feito o serviço direito, permitindo que a sua família escapasse ilesa. Percy ainda tentou argumentar, mas sempre que abria a boca, era ainda mais torturado.
- Eu não consigo entender – falou Voldemort tentando recuperar a calma – Como é que meus melhores servos podem ser tão facilmente derrotados?
- Não foi fácil, meu senhor!
- Silêncio, Weasley! – pediu numa calma ainda mais assustadora que todos os seus ataques de raiva – O que você achou do confronto não faz diferença para mim. Mesmo porque eu sei que enquanto meus seguidores de décadas se empenhavam na batalha, você ficou quieto e seguro no corredor. Sabe, Weasley, se tem um tipo de gente que eu aprecio menos do que trouxas ou sangues-ruins são os parasitas.
Percy se encolheu ainda mais. A voz sibilante de Voldemort entrava como um sussurro gelado em seus ouvidos, arrepiando-lhe a espinha. Não queria encarar o Lorde das Trevas, com medo de parecer petulante.
Sentia dores alucinantes a cada feitiço, e chegou a crer que até mesmo a voz de Voldemort, entrando pelos seus ouvidos seria capaz de provocar dor.
O lorde lançou-lhe um último olhar de desprezo e falou:
- O seu destino, Weasley, eu cuido depois. Agora tenho coisas que realmente merecem minha atenção! Como os Malfoy!
Deu as costas ao rapaz e saiu da sala, trancando-a magicamente. Percy ficou ali, agachado do mesmo modo que estava antes, numa sala escura, sem janelas e fria. Estava desarmado e quase nu. Quando chegou intacto do Ministério, Voldemort se lançou contra ele, arrastando-o pessoalmente para aquela sala. Arrancou-lhe a varinha e a quebrou ali mesmo. Depois, tirou sua capa de comensal e lançou fora, deixando Percy com uma calça fina e sem camisa.
O jovem Weasley sentiu tanto medo, que começou a chorar antes mesmo de ser torturado. Voldemort se irritou ainda mais com a demonstração de fraqueza do rapaz e se pôs a torturá-lo com um ódio sobrenatural.
Agora, sozinho naquela escuridão e quietude do quarto, o medo que sentia se misturava ao arrependimento de ter dado ouvidos a Dolores Umbridge e aceitado a proposta de se tornar um seguidor do Lorde das Trevas.
Pensou no quanto foi ruim saber que o irmão mais velho foi atacado por um lobisomem. Gui era muito diferente dele, mas ainda assim ele o admirava pela coragem e pelo sucesso alcançado em sua profissão. Doeu quando não foi convidado para o casamento dele com Fleur. E aquela noite, ver Fred e Rony sendo carregados pelos amigos... As palavras duras que lançou a George, fingindo uma indiferença que não era exatamente o que seu coração sentia.
Quanto tempo ainda ficaria ali? Preso? Sem nenhum conforto ou luxo com o qual se acostumou por ser “o informante no Ministério”?
Sentia-se verdadeiramente arrependido e passou a imaginar como seria se reencontrasse a família e pudesse se desculpar. Mas uma vozinha dentro de sua cabeça dizia que aquilo não aconteceria. Sua família o teria recebido de braços abertos se não fosse tarde demais.
- Tarde demais – repetiu baixinho.
As horas passavam lentamente. E a única coisa que Percy ouviria o resto do dia era o som de uma goteira irritante do outro lado da sala, que ecoava pelo cômodo com a precisão de um relógio de água. Um relógio que marcava quanto tempo faltava para que Voldemort decidisse o que fazer com ele.
O Lorde das Trevas cruzou a grande porta de madeira que dava para o Salão do Trono com passos rápidos. A agilidade de Voldemort era mais uma prova de que sua irritação continuava. Na maioria das vezes ele andava calmamente, mantendo a pose e as boas maneiras.
Sentou na grande cadeira de madeira, apoiando os braços nos joelhos e segurou o queixo com as mãos. Precisava pensar.
Há alguns dias Draco voltou da Floresta Proibida trazendo o corpo de Nagini. O rapaz estava pálido e magro. Tremia convulsivamente enquanto depositava o corpo da serpente no chão frio da Sala do Trono. Olhou amedrontado para Voldemort e esperou.
Se Dumbledore não tivesse enfeitiçado Draco, Voldemort conseguiria enxergar na alma do rapaz o medo da morte que ele sentia no momento de dar a notícia da morte de Nagini a seu senhor. Mas a única coisa que o Lorde das Trevas viu foi um temor moderado e por isso mesmo apenas trancou o rapaz numa sala muito parecida com a que Weasley estava. Voldemort apreciava a coragem, e a postura de Draco segurou um pouco a sua ira.
No entanto, o momento de decidir o que fazer com Draco, Lucius e Narcisa, havia chegado. Mandou Greyback trazer os três comensais, que agora eram tratados como prisioneiros e os colocasse de joelhos diante dele.
O silêncio do Lorde das Trevas era desesperador. Ele não olhava diretamente para nenhum membro da família Malfoy. Olhava para o vazio que a morte de Nagini provocou dentro de sua própria alma.
Agora, mais que nunca, Voldemort emanava uma aura de frio, capaz de provocar arrepios em qualquer um. Até mesmo Greyback, que sempre se mostrou tão destemido, sentiu que o momento era de total seriedade.
- Eu não sei o que fazer a respeito de vocês! – falou pausadamente Voldemort enquanto se levantava da cadeira e andava ao redor dos três comensais ajoelhados.
Parou de frente para Draco e levantou o queixo do garoto com os longos dedos.
- Sua determinação foi louvável, apesar de não ter sido o bastante para manter Nagini viva. No entanto, quero provar a você que seu lorde sabe ser generoso com aqueles que se mostram determinados.
Voldemort retornou para a cadeira e ordenou:
- Levantem-se!
Os três comensais ajoelhados obedeceram em silêncio, sentindo as mãos ficarem úmidas e frias com o suor nervoso.
- Eu pensei muito... E agora encontrei a missão ideal para vocês. A partir de agora, os Malfoy serão os responsáveis por exterminar a pior escória do mundo bruxo!
Lucius olhou para a mulher e o filho imaginando qual a classe de trouxas eles teriam que matar para aplacar o desagrado de Voldemort.
- Oho! – riu desagradavelmente Voldemort – Vocês não vão matar trouxas esta noite. Vão matar a maldita família que protege o Potter. Esta noite eu quero os corpos de todos os Weasley aqui, jogados nessa sala. Completamente destroçados! Não vai ser poético: uma família unida destruindo a outra?
E com o mesmo tom de voz habilidosamente contido para inspirar ainda mais medo, Voldemort se voltou parta a porta e perguntou:
- O que faz aí, Severo? Sempre pensei que apesar de ser filho de um trouxa asqueroso, você tivesse boas maneiras!
Severo deu um passo à frente e entrou na sala. Não pareceu se abalar com a referência a sua família e fez uma reverência.
- Perdoe-me, meu senhor! Apenas vim informar-lhe que todos estão prontos para partir. Os lupinos estão ansiosos! O ataque acontecerá na hora em que a lua alcançar sua força máxima, o que nos dará uma grande vantagem!
- E qual sua opinião?
- Acredito que o ataque será bem sucedido, meu senhor!
- Não seja insolente, Severo! Você entendeu a minha pergunta perfeitamente!
- Não me cabe opinar em assuntos que não me dizem respeito, senhor!
- É por essa razão que eu aprecio os seus préstimos, Severo. Você sabe exatamente qual é o seu lugar. Mas agora eu faço questão de saber: o que pensa sobre a tarefa que dei aos Malfoy?
- Se me permite dizer, acredito que o mundo não tem muito que perder com a morte dessas criaturas. Apenas não compreendo a importância disso...
- Não basta o estrago que esses traidores do sangue fizeram no Ministério da primeira vez, depois ainda enfrentaram meus homens na floresta e agora, novamente, desfalcam meu exército! – Voldemort pronunciava cada palavra com exatidão, exibindo uma calma cínica.
- Como queira, meu senhor! – respondeu Snape, impassível retirando-se da sala.
Andou apressado pelos corredores escuros e sinuosos, indo para seus aposentos com a mente inquieta, apesar de ter nos olhos uma serenidade apática e insensível. Fechou a pesada porta atrás de si e começou a andar em círculos torcendo as mãos.
As palavras de Voldemort o perturbaram em demasia. Não que se importasse com qualquer um daqueles ruivos patéticos. Mas não conseguia admitir a idéia de que mais gente inocente iria morrer por um simples capricho do Lorde das Trevas.
Já não bastava Dumbledore? Ele sabia que o velho estava fraco e doente e por isso não ofereceria risco algum. Eu mesmo passei essa informação, tentando dissuadi-lo. Mas não adiantou. E agora ele vai descontar sua ira numa família inteira. Aqueles meninos foram meus alunos!
Snape respirou fundo, recobrou a ordem de seus pensamentos e voltou para a enfermaria. Não poderia se arriscar de uma hora para outra. No caminho passou por Greyback que resmungava satisfeito.
- A Lua Cheia está lhe deixando mais transtornado que de costume, Lobo? – perguntou Snape.
- Não é de sua conta, Severo! – grunhiu satisfeito Greyback.
- Com certeza que não! Não costumo me interessar por vira-latas!
Greyback uivou ofendido e vociferou para Snape:
- Só não ataco você agora porque o Lorde está me esperando para preparar o presente que vai mandar pros Weasley.
O lobisomem saiu gingando e alcançou as escadarias que dariam nas masmorras. Snape continuou no corredor, esperando para ver qual seria o tal “presente”. Instantes depois, Greyback voltou, arrastando Percy que se debatia muito e implorava.
- Por favor! Por favor, não! Você não! Professor, me ajude! – soluçou quando viu Snape ali próximo.
Percy foi lançado na Sala do Trono e a porta se fechou. Era uma porta pesada, de madeira maciça, combinando com as paredes de grossas pedras cinza chumbo. Mas nem toda a estrutura do castelo foi o suficiente para abafar os sons do rapaz sendo estraçalhado por Greyback e seus lobisomens bem treinados.
O silêncio que se seguiu após os gritos de Percy cessarem serviram para despertar Snape. Ele saiu do corredor o mais rápido que conseguiu, tomando cuidado de não chamar atenção de nenhum outro comensal.
Quando alcançou a passagem principal, apresentou a Marca Negra e aparatou a quilômetros dali, numa praça circular, em frente a uma casa de número 12.
No Salão do Trono, Voldemort passava as últimas instruções para os Malfoy. O corpo mutilado de Percy foi colocado numa espécie de bandeja sinistra e deveria ser mostrado aos Weasley, como um requinte de sadismo, antes de acabar com todos eles.
- Espero que tenham mais sucesso desta vez! – comentou Voldemort com um tom casual.
- Não vamos falhar, meu Lorde! – afirmou Lucius Malfoy.
- Já estão falhando por demoraram tanto assim. – sibilou Voldemort.
Os três Malfoys aparataram próximos à Toca. O corpo de Percy flutuava ao lado deles e em poucos minutos estavam diante da construção torta e completamente às escuras.
Lucius lançou um feitiço na porta da casa, mas ninguém saiu. A escuridão na casa não era um truque. Os Weasley realmente não estavam por lá.
- Isso não é nada bom para gente – comentou Lucius contrariado.
- O que vamos fazer, querido? – perguntou Narcisa temerosa.
- Incendius! – berrou Lucius apontando a varinha para a casa que começou a pegar fogo.
A luz avermelhada da imensa fogueira que logo tomou o lugar do antigo lar dos Weasley deixava Lucius Malfoy com uma expressão diabólica. Mais um gesto de varinha e o corpo de Percy foi lançado a alguns metros da varanda.
- Draco! – disse o homem segurando o filho pelos braços – Você vai fugir daqui agora!
- Mas pai...
- Nada de “mas”! Me obedeça, está bem! Eu e sua mãe vamos fugir também. Se nos separarmos, será mais difícil ele nos encontrar. Ainda mais com a guerra tão iminente, talvez o Lorde nem sinta nossa falta.
- É muito arriscado! – protestou Draco.
- Mas é nossa única chance de conseguir sobreviver pelo menos mais dois dias – exasperou-se Lucius.
Draco nunca viu o pai perder o controle de nada. Já o vira zangado inúmeras vezes, mas aquele tom de voz não era de raiva. Era de medo.
As chamas que pouco a pouco consumiam a casa dos Weasley iluminavam o rosto de Narcisa que chorava baixinho observando a discussão.
Draco respirou fundo e olhou para o pai. Encarou aqueles olhos escuros que sempre lhe pareceram tão destemidos, tirou as mãos do pai de seus braços e segurou firme em seu ombro, dizendo:
- Eu vou sobreviver!
Aparatou em seguida, sem saber qual rumo os pais tomariam. Seguiu pela trilha que aprendeu com Hagrid e chegou ao Jardim dos Mortos. Se os pais o queriam vivo, ele faria o impossível para conseguir isso. E sabia que o único lugar em que estaria a salvo seria com Dumbledore.
- Irônico! – comentou consigo mesmo – Pensar que para poder sobreviver eu tenha que contar sempre com a ajuda da pessoa que eu deveria ter matado.
Quando alcançou a entrada do elmo é que Draco se deu conta. O ataque ao castelo aconteceria dali duas noites, quando a Lua Cheia estivesse realmente forte. E a Ordem ainda não tinha sido avisada.
Longe dali, no centro de Londres, a campainha do número 12 do Largo Grimmauld tocou e antes mesmo que Molly Weasley alcançasse a porta, ela se abriu de súbito, fazendo a bruxa parar assustada.
- Quem é mamãe? – disse Rony descendo as escadas correndo e estancando quando viu a figura de Snape parado na porta.
Procurou a varinha entre as vestes e começou a gritar pelos amigos. Logo todos apareceram no hall e antes que atacassem, Snape falou:
- Como vêem, eu estou desarmado. Se quiserem acabar comigo é fácil, mas primeiro, precisam me ouvir.
- Nada que você tem para falar nos interessa. – falou Harry que apesar de saber que Dumbledore continuava vivo, ainda odiava Snape pela audácia de tentar matar o bruxo que ele mais admirava.
Por uns segundos, os olhos de Snape se iluminaram, mas logo Harry abaixou a cabeça, entendendo que o ex-professore talvez estivesse usando Legilimência. Quando o contato visual se rompeu, Snape retornou a falar:
- Eu tenho certeza que vão querer me ouvir. Eu trago notícias de Percy!
As varinhas que já estavam apontadas para a cara do comensal titubearam e a mão da Srª Weasley se levantou num gesto claro de quem pedia um pouco de calma.
- Entre, Severo! – ordenou a mulher – Vamos conversar na sala.
O ex-professor entrou cercado de todos os bruxos da casa e acomodou-se numa das cadeiras menos confortáveis daquele cômodo. Esperou todos se acomodarem, especialmente Molly, e começou a falar.
- O que me traz aqui não são boas notícias, como já deve imaginar.
A mulher balançou a cabeça, já ficando pálida e antevendo o que viria a seguir, mas manteve a classe, uma classe que nenhum outro Weasley jamais a viu exercer. Herança da época em que sua família era uma das mais bem vistas do mundo bruxo, sem o rótulo de traidores do sangue. Época em que ser um Prewett significava tradição e respeito. Reuniu toda sua força e respondeu, sarcasticamente:
- E quando você nos trouxe alguma notícia boa?
Snape pareceu não ouvir o comentário da bruxa a sua frente e respondeu mais sério do que antes:
- Ele não escapou! E é um alívio ver que o resto da família está aqui na sede.
- O que quer dizer? – perguntou Molly contendo as lágrimas com uma dignidade sofrida.
- Que Voldemort ordenou um ataque a todos vocês, e os Malfoy foram os encarregados da tarefa. Acredito que se estivessem na Toca agora, estariam todos mortos.
Como ninguém fez menção de dizer qualquer coisa, Snape se levantou e tomou o rumo da porta da frente.
- Para quê? Para que veio nos procurar? – perguntou Molly, já com os soluços a chacoalharem seus ombros.
Sem olhar para trás, Snape apenas respondeu:
- Até mesmo os piores assassinos têm seus princípios, Molly!
E desapareceu pela noite, deixando os moradores do Largo Grimmauld sozinhos com sua dor.
Quando o Sr° Weasley chegou em casa, Molly já estava bem mais calma. E foi com resignação que ela deu a notícia ao marido. Arthur Weasley se deixou sentar na cadeira mais próxima. O olhar perdido, as mãos entrelaçadas entre as pernas abertas. Sem lágrimas.
- Não há o que fazer! – comentou.
- Não, querido! Não há nada o que fazer! – respondeu Molly abraçando carinhosamente o marido, que finalmente deixou a dor sair de seu peito.
- Precisamos avisar os outros – lembrou Rony saindo da sala e subindo as escadas à procura de Pítchi.
Depois de algum tempo, Hermione pediu licença. Rony estava demorando muito e ela sentia, mais que sabia, o motivo da demora. Correu escada acima e como imaginou, o ruivo estava sentado junto à janela, chorando. Agachou-se ao lado dele e o puxou para seu colo, descansando a cabeça do rapaz em suas pernas.
Arthur Weasley deixou o Largo Grimmauld acompanhado de George. Os dois iriam até a Toca ver o tamanho do estrago que os Malfoy poderiam ter causado.
Voltaram horas mais tarde com as roupas cobertas de fuligem e completamente fatigados.
- Não sobrou muita coisa. – avisou o Sr° Weasley – Só conseguimos salvar os móveis do sótão. As chamas quase destruíram tudo. Nós guardamos o que sobrou no depósito da loja dos meninos e lançamos feitiços protetores. Mas a casa vai precisar ser reconstruída. A base foi muito danificada e não acredito que ela vá se manter de pé por muito tempo.
- Encontraram o corpo do Percy? – perguntou Molly.
- Sim, querida! Encontramos e já o enterramos no jardim da Toca.
- Menos mal! – suspirou a bruxa que não queria ver o corpo do filho.
O Lorde das Trevas sabia ser cruel. E ela imaginou que o filho não teve um final tranqüilo e sem dor. E agradeceu ao marido por não ter permitido que mais ninguém visse o rapaz.
Ainda com a sensação estranha de um funeral interrompido, todos se prepararam para dormir.
Em seu quarto, Harry segurou o pingente em forma de coração com muita força. Não sabia o que fazer com aquele objeto. Pensou em levá-lo para Dumbledore. Mas não teria como sair de casa aquela noite. O melhor seria dormir e discutir a idéia com os amigos no dia seguinte.
Harry teve a impressão que mal o dia raiou e ele já estava de pé. Alguma coisa o acordou. Procurou pelo quarto para ver quem o sacudiu e não encontrou ninguém. Só então é que se deu conta: não foi alguém que o sacudiu. Foi um sentimento. Um desespero alucinante, cercado de raiva.
- Voldemort – murmurou o rapaz.
Ele se levantou, trocou de roupa às pressas e acordou Rony.
- Levanta, cara! Precisamos nos preparar!
- Para quê? – resmungou o ruivo puxando as cobertas para cima da cabeça.
- Ele vai sair! Voldemort vai sair da fortaleza a qualquer momento!
Em poucos instantes eles estavam batendo à porta do quarto das meninas. Avisaram sobre o pressentimento de Harry e foram para a cozinha esperar por elas.
- Pode explicar direitinho o que você sentiu – falou Hermione se jogando no banco de madeira ao lado de Rony.
- Eu não sei explicar. Foi um estremecimento. A princípio pensei que vocês estavam me acordando. Mas como não vi ninguém, achei que tinha sonhado. E foi aí que eu senti, explodir aqui dentro, uma ansiedade como nunca senti.
- E por que você não ficou tão irritado como das outras vezes? – questionou Gina.
Harry a encarou. Aquilo não havia passado pela cabeça do rapaz. Sempre que Voldemort se irritava, Harry refletia os sentimentos do inimigo. Mas daquela vez ele apenas sabia que o Lorde das Trevas estava descontrolado.
- Não sei – respondeu confuso – Mas a sensação está aqui dentro.
Ele fez um gesto colocando a mão sobre o peito. Depois refez o movimento. Colocou a mão por dentro da camiseta e puxou o cordão. Antes de dormir, ele havia colocado o colar com o Coração de Ravenclaw no pescoço.
- O colar deve ter filtrado suas emoções, Harry. – sugeriu Hermione.
- Pode ser – ajuntou o rapaz.
- E o que você pretende fazer agora? – indagou Rony.
- Esperar! Vou preparar tudo o que posso precisar e vou esperar o sinal de Dumbledore.
Os outros três seguiram a sugestão de Harry. Arrumaram as vassouras, varinhas e capas. Harry cuidou de guardar sua capa da invisibilidade junto com as outras coisas que iria levar.
Harry arrumava tudo mecanicamente. Sua mente estava a quilômetros dali, num lugar que ele não conhecia. Sabia que dali algumas horas entraria na Fortaleza de Voldemort e precisaria de toda sorte do mundo para conseguir alcançar a taça sem ser descoberto.
Por um longo tempo, ele ficou imaginando quais perigos deveria enfrentar, como seriam os corredores da Fortaleza e quais comensais ainda estaria no local. Até que uma mão suave segurou seu braço.
- Harry! – chamou Gina.
Ele balançou a cabeça e olhou para a namorada. Ela estava parada a sua frente e segurava uma enorme pena laranja-avermelhada.
O rapaz tomou a pena com delicadeza das mãos da garota e ela simplesmente sumiu, deixando no ar um brilho avermelhado.
- É o sinal de Dumbledore! Chegou a hora! – falou apreensivo.
- Vamos? – chamou Hermione.
- Sim, vamos todos para a Floresta. É lá que iremos nos encontrar com Draco.
Harry aparatou, seguido de Hermione e Gina. Rony foi o último a sair da casa, deixando sobre a mesa um bilhete para os pais, em que avisava sobre o ataque que deveria acontecer ao castelo e para que eles convocassem toda a Ordem para proteger Hogwarts.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!