O Coração de Ravenclaw



Mal Harry apareceu na Floresta Proibida, os três amigos apareceram atrás dele contando que Monstro ficou irado achando que ele não cumpriria a promessa.
- Tenho coisa mais importante para fazer. Mas vou cumprir o que prometi a ele.
Ele se precipitou por entre as árvores, ansiando por chegar o mais rápido possível até o Jardim dos Mortos. Depois de uma boa correria ele parou diante do elmo, com o peito arfando e apoiou-se na pedra fria.
- Como vamos entrar? – perguntou Hermione.
- Acho que devíamos chamar pelo Hagrid. Há luz lá embaixo, com certeza ele está lá.
A voz dos quatro gritando pelo guarda-caça se espalho rapidamente e encheu a catacumba. Logo o meio-gigante subiu em passos apressados e abriu passagem para eles.
- O que fazem aqui tão tarde? – perguntou enquanto desciam.
- Vim trazer um presente para o professor, Hagrid. – explicou Harry.
- Ah, bom! Ele está mesmo precisado de boas notícias.
Quando alcançaram o piso, viram que Dumbledore já estava na sala e num canto mais afastado, sentado ao chão e bebendo de uma caneca bem grande, estava Draco Malfoy.
- Boa noite, meus jovens! – falou Dumbledore tentando aparentar uma saúde que há muito deixara seu corpo.
- Boa noite, professor. – falaram os quatro.
Draco levantou-se dando a entender que sairia da sala, mas Dumbledore o deteve.
- Fique conosco, Draco! Acho que agora que lutamos do mesmo lado, precisamos ficar unidos. Mesmo que ainda não sejamos amigos.
O jovem loiro concordou com a cabeça e voltou a se sentar, sem contudo encarar os outros jovens.
- Mas quais as boas novas que vocês me trazem? – perguntou o ex-diretor – Porque é fácil sentir que as notícias que me trazem são boas.
Harry tirou o medalhão do bolso e esticou a mão para mostrá-lo a Dumbledore. O diretor olhou enternecido para o objeto. Uma expressão de cansaço satisfeito se abateu sobre ele.
- Achei que o senhor mesmo gostaria de destruí-la, depois de tudo... – justificou-se Harry.
- É muito nobre da sua parte, meu rapaz! E muito sábio também! Conhecendo Slytherin e Voldemort juntos, creio que os feitiços dos dois juntos não sejam tão fáceis de desfazer.
Dumbledore segurou o medalhão com a mão sadia. Sentiu seu peso, observou bem seus desenhos e, para estranhamento geral, cheirou toda a peça. Finalmente, com uma voz bem mais animada, ajuntou:
- Nada muito complexo, diante das nossas vantagens. Chegar até o medalhão já seria complicado por si só, mas abri-lo seria relativamente fácil se que o ordenasse falasse as palavras certas.
- Não dá para usar a maldição da morte em objetos? – perguntou Rony lembrando-se do quanto foi relativamente fácil destruir Nagini.
- Até é possível, se levarmos em consideração que esse objeto possui alma. Mas eu não me arriscaria a destruir o objeto em si. A bem da verdade, vamos precisar desse medalhão inteiro. Agora, Harry tenha a bondade de se aproximar.
O rapaz atendeu o chamado e abaixou-se perto de Dumbledore, que lhe falou alguma coisa ao ouvido.
- Será que eu consigo? – perguntou acanhado.
O diretor lhe pedira que falasse alguma coisa em língua de cobra. Harry era ofidioglota, mas muitas vezes que usou esse dom, ele não tinha consciência do que fazia.
- Você só precisa se concentrar e tentar – respondeu o velho.
Harry mordeu o canto direito dos lábios e pensou no que poderia falar. Antes mesmo de se decidir os sibilos já saíam de sua boca. Ele pensava alto no que deveria ordenar ao medalhão para que ele se abrisse, quando as esmeraldas começaram a rutilar. O S assumiu a forma de uma serpente e deslizou para trás do medalhão e ele se abriu.
Diferente das vezes em que destruiu as outras duas horcruxes, Harry não sentiu dor. O brilho, mesclado de branco e verde que saía de dentro do medalhão, buscava as escadas e quando a alcançou, subiu lentamente.
Harry começou a rir, um riso aliviado. Sentia o peito mais leve e lhe parecia que toda tristeza e angústia haviam desaparecido. A cicatriz coçou levemente e ele sentiu um filete de sangue escorrer-lhe pelo rosto. Mas o rapaz não se preocupou, apenas pegou um pedaço da camiseta e enxugou o sangue.
- Menos uma! – declarou animado.
Dumbledore olhou Harry com atenção e falou, um tanto alarmado:
- Agora não temos mais tanto tempo! A medida que os pedaços da alma de Voldemort são liberados a ligação dele com Harry diminui a olhos vistos. Mais a informação que o jovem Draco me trouxe, creio que o confronto final está próximo.
- Mas ainda não destruímos todas as horcruxes, professor! E eu nem sei quais são as outras – desesperou-se Harry.
- Acho que agora só falta uma, meu rapaz. O Diário você destruiu há muito tempo. O anel eu cuidei pessoalmente, depois seu amigo Ronald acabou com a cobra e nós queimamos o testamento. Hoje libertamos a parte que coube ao medalhão. Já foram cinco. Então, só precisamos recuperar a taça e Voldemort será mortal novamente.
- O senhor disse que Draco trouxe uma informação importante. Qual é? – perguntou Hermione.
- Vão tentar entrar no castelo e revirar a floresta – disse o rapaz que se manteve quieto o tempo todo.
- O que eles querem? – ajuntou Gina apressada.
- No castelo, eles querem a espada de Griffyndor e na Floresta eles querem encontrar este lugar – respondeu o jovem.
- Mas eles sabem que Dumbledore está aqui? – perguntou Harry olhando desconfiado para Draco.
- Eles não estão interessados em mim, Harry. – respondeu Dumbledore – Eles estão interessados em reencontrar o corpo de Voldemort que está enterrado sob aquela lápide branca, e mais ainda eles estão interessados em encontrar o Livro dos Segredos.
- O Livro dos Segredos realmente existe? – admirou-se Hermione.
- Que livro é esse? – pergunto Rony sem entender.
- É um livro que, segundo a lenda, guarda todo o conhecimento dos quatro fundadores de Hogwarts – explicou a garota.
- O livro não só existe, como nós estamos debaixo dele – informou Dumbledore.
Instintivamente todos, inclusive Draco, olharam para cima. E foi novamente Hermione que falou, quebrando o silêncio contemplativo dos outros quatro:
- Aquele livro de pedra, lá em cima, entre as estátuas é o Livro dos Segredos?
- Ele mesmo! E por isso temos pouco tempo. Quero que prestem atenção a uma coisa quando saírem daqui hoje. Vão até o livro e vejam o que há na base de pedra que o sustenta. Para colocar as mãos no livro é preciso que os quatro fundadores estejam em harmonia. - Dumbledore falava com uma urgência angustiante. – O que eu preciso de vocês é que reúnam o máximo de pessoas que puderem, pois vamos ter que estar em três lugares praticamente ao mesmo tempo.
“Precisaremos destacar um batalhão para cuidar do castelo, apesar da Espada de Griffyndor já estar segura comigo. É preciso atrasá-los o máximo possível, pois quando não encontrarem a espada, entrarão com tudo na Floresta. Hagrid está tentando conquistar aliados para o nosso lado, mas não posso garantir que ele consiga.”
“Também precisaremos de um grupo que possa ir até o ministério. Vai ser preciso proteger mais que nunca a Sala da Luz. E outro grupo – disse lançando um significativo olhar temeroso para os cinco jovens – precisará ir até a Fortaleza e recuperar a Taça Hufflepuff.”
- Entrar na fortaleza de Voldemort com ele lá e pegar uma das horcruxes não no mínimo arriscado demais? – ajuntou Hermione assustada com a possibilidade de dobrar um corredor e dar de cara com Lord Voldemort em pessoa.
- Quando vocês forem, ele não estará lá - avisou Draco.
- Como assim? – perguntaram os quatro ao mesmo tempo.
- Hoje o jovem Malfoy vai realizar a parte mais difícil da idéia que eu tive e que nos dará uma chance de chegar até à Taça. – falou Dumbledore – Você fez tudo exatamente como eu pedi, Draco?
- Fiz, professor – respondeu com a voz arrastada.
- Então venha até aqui – chamou erguendo a mão sadia.
Draco se aproximou e Dumbledore pousou a mão sobre os olhos do rapaz e murmurou algumas palavras muito estranhas. Abaixou a cabeça do rapaz e ele saiu sem olhar para ninguém, nem se despedir.
Dumbledore olhou comovido para as escadas e comunicou:
- Esse garoto tem mais coragem do que imagina...
- O que ele vai fazer, professor? – perguntou Gina.
- Vai levar o corpo de Nagini para Voldemort. Quando vocês saíram daqui, depois que ela foi destruída, Hagrid procurou por toda parte. Encontrou os rastros deixados pelos comensais e com um pouco de paciência, encontrou-a enterrada e coberta por umas folhas. Nós cuidamos de manter o corpo preservado, achando que ele poderia ser de utilidade e agora a utilidade se confirmou.
- O que o senhor pensa que vai acontecer quando Draco chegar lá? Voldemort não vai descobrir tudo? Ele é um grande legilimente – comentou Harry.
- Sim, mas eu cuidei de barrar a legilimência nos olhos do Draco. Para se ler a mente de alguém, é preciso um contato visual. E se a visão estiver bloqueada de alguma maneira, a legilimência não acontece.
- Mas ele nunca manteve contato visual comigo e conseguiu... – começou a dizer Harry mas foi interrompido.
- A ligação que vocês têm é bem diferente, Harry. Isso fez ele conseguir penetrar sua mente sem dificuldades.
- Mas como o corpo de Nagini vai ajudar? - perguntou Rony.
- Conhecendo Voldemort como eu conheço, tenho plena convicção que ele vai fazer questão de buscar seus horcruxes para perto de si, ou pelo menos se certificar de que eles estão onde ele deixou. E o primeiro que ele vai buscar é justamente o medalhão.
- Por quê?
- Oras, eu não lhes disse que para retirar o Livro dos Segredos da forma de pedra, os quatro fundadores precisam estar em harmonia?
- Então, ele precisa do medalhão, da taça, da espada e do objeto de Rowena. Mas ele ainda não tem esse objeto – raciocinou Hermione.
- Mas ele pretende consegui-lo no Ministério, quando finalmente entender quem pode entrar na Sala da Luz. Por isso vocês precisam chegar até a Sala primeiro, recuperar o objeto que está lá e conseguir a Taça de volta. Eu sinto muito ter que exigir tanto assim de vocês.
- Como vamos saber onde fica a Fortaleza? E como vamos saber que Voldemort saiu e o melhor caminho para entrar lá? – perguntou Harry sentindo a adrenalina se espalhar pelo corpo.
- Isso é uma tarefa que Draco Malfoy se incumbiu. Ele me avisará e logo vocês terão um sinal. Fiquem tranqüilos, por enquanto! O sinal vai ser rápido e eficiente. Só precisam confiar em mim.
- Nós sempre confiamos, professor! – respondeu Gina.
Eles se despediram de Dumbledore e subiram as escadas com Hagrid, que se mantivera calado o tempo todo. Quando alcançaram o Jardim, Hermione correu a olhar a base de pedra. Passou as mãos pelo tampo de mármore verde e chamou os amigos.
- Olhe isso aqui, há buracos na pedra, feitos para serem preenchidos. Olha, aqui deve ser a espada, – disse apontando para um espaço fino de uns 7 centímetros de largura - este aqui é circular como a base de uma taça, e neste tem o S no fundo. Agora, este último tem a forma de... um coração.
Levantou a cabeça buscando a aprovação dos amigos e todos que olharam, inclusive Hagrid, concordaram que a imagem na pedra era realmente um coração.
- Não vale a pena pensar nisso agora, Mione – falou Rony chamando a amiga para irem embora.
Eles voltaram para casa e encontraram Monstro à espera. Ele não se esqueceu do trato feito com Harry. O rapaz olhou para o elfo, tirou o sapato, pegou a meia e entregou nas mãos da pequena criatura que guinchou satisfeito e sumiu dali imediatamente.
Harry se jogou no banco da cozinha no momento que a Srª Weasley entrava para preparar o jantar.
- Nem vou perguntar onde vocês estavam, porque tenho certeza que não vão me contar – falou aborrecida – mas da próxima vez, deixem um bilhete, está bem?
- Da próxima vez vamos todos juntos – resmungou o rapaz que não tirava da cabeça a idéia de que o perigo estava cada vez mais próximo, não só dele, mas de todos com quem ele se importava.
A mãe de Rony não ouviu o comentário e começou a colocar os ingredientes nas panelas, alheia às preocupações que seriam o foco da conversa após a refeição.
Todos reunidos na sala, Harry comentou que havia uma possibilidade do castelo ser atacado. Expôs as suspeitas que tinha e disse que precisariam de grupos para proteger a escola e o Ministério.
- Eu não faço idéia de como você consegue essas informações, Harry – começou o Sr° Weasley – Mas não vou discutir. Acho que precisamos falar com a Ordem.
- Só a Ordem não vai ser suficiente desta vez – ajuntou Rony entrando no meio da conversa.
O resto da noite correu entre especulações sobre a data do ataque e os bilhetes redigidos, convocando os amigos e parentes para oferecerem resistência.
Nos dias que se seguiram, todos no Largo Grimmauld, inclusive os membros da Ordem que começaram a aparecer por lá, estavam mais calados.
Era sempre assim, pensou Harry, sempre que alguma coisa realmente importante estava para acontecer o silêncio falava por todos.
As respostas começaram a chegar trazendo nas patas das corujas horas desânimo, horas alívio. No final de uma semana eles conseguiram reunir pelo menos mais 30 bruxos e bruxas dispostos a lutar contra Voldemort, seja no castelo, seja no Ministério ou em qualquer lugar.
A Armada toda estava pronta para se reunir assim que as moedas de Hermione brilhassem. Todos que participaram dos treinamentos na Travessa do Tranco, sem exceção, carregavam suas moedas prontos para aparatar ao menos sinal de mudança.
Fazia quase nove dias que eles estiveram com Dumbledore, e a demora em dar o sinal fez Harry se impacientar.
- Por que Voldemort está demorando tanto para sair?
- Não sei, Harry – tentava contemporizar Gina – Talvez ele esteja aguardando o momento certo.
- E enquanto isso a gente fica aqui parado? Esperando ele dar as cartas nesse jogo?
- E o que você sugere?
- Que a gente tome a iniciativa. De qualquer maneira vamos ter que ir atrás do objeto da Corvinal. Por que esperar que ele corra para lá primeiro? Vamos começar a agir de verdade.
- Isso é loucura, Harry!
- Não! Isso não é loucura, isso é ser esperto, Gina!
Ele andava de um lado para o outro no quarto e nem Rony, nem Hermione ousavam dizer qualquer coisa. Eles concordavam com os dois. Ao mesmo tempo em que sentiam que todos naquela luta eram muito passivos diante das ações de Voldemort, sempre esperando que ele desse o primeiro passo, a idéia de agir por conta própria era assustadora.
- O que você acha que devemos fazer? – perguntou Rony depois de um longo silêncio.
- Acho que devemos reunir a Armada e entrar no Ministério para recuperar o que está na Sala da Luz.
- E como vamos fazer isso? Metade do Ministério já assumiu que está apoiando Voldemort – falou Hermione lembrando aos garotos a matéria que foi capa do Profeta Diário naquela manhã.
Segundo o jornal, o mundo bruxo entrara em colapso quando O Ministro da Magia declarou que deviam cogitar seriamente a possibilidade de negociar com Voldemort. Screamgeour só não queria perder o seu cargo, mesmo que tivesse que se submeter aos mandos do Lorde das Trevas.
- Mas nós temos conhecimento para entrar no Ministério sem sermos vistos. A Jones nos ensinou todas as passagens do alto escalão, dos aurores e dos inomináveis. Entrar sem sermos vistos é fácil.
- E quanto à Sala? Você se esqueceu que muitos simplesmente morreram só por terem encostado a mão na maçaneta? – falou Hermione com uma voz irônica.
- Não me esqueci disso – retrucou Harry – Mas a gente precisa tentar. Da outra vez em que estivemos lá, Dumbledore me contou o que tem naquela sala. Ele não me explicou como, mas aquela sala guarda a única coisa que Voldemort e todos os seus seguidores não possuem.
- E o que é?
- Amor!
- Amor? – admiraram-se os três amigos que observavam Harry, incrédulos.
- Foi o que Dumbledore disse – justificou-se.
- O amor não mata ninguém, Harry! – falou Hermione.
O menino se largou sobre a cama e, passando as mãos nos cabelos, falou sem encarar os amigos:
- Eu vou até lá. Vocês podem ficar e ajudar a proteger o castelo caso o ataque ocorra antes que eu volte.
- Eu vou com você. Mesmo não concordando 100%, mas eu nunca deixei voe ir para lugar nenhum sozinho e não vai ser agora que eu vou deixar. – avisou Rony pondo a mão sobre o ombro do amigo.
- Até parece que se vocês dois forem eu vou ficar sozinha aqui sentada! – correu Hermione pulando num abraço sobre os dois.
Eles riram divertidos. Era a primeira vez depois da morte dos pais que Hermione dava uma demonstração de carinho.
Gina franziu a sobrancelha, fazendo cara de brava:
- Ei! Desta vez vocês não vão me deixar aqui! – e pulou em cima do grupo.
Os quatro ficaram amontoados na cama de Harry, combinando como fariam. Hermione pegou sua moeda e convocou o resto da Armada de Dumbledore.
- Se formos em mais gente, teremos mais segurança – informou aos amigos.
- Posso pedir uma coisa? – perguntou Gina – Podemos avisar a mamãe desta vez?
No dia seguinte, assim que a tarde caiu, eles se despediram dos outros. A Srª Weasley só concordou com a loucura quando o marido e Tonks se dispuseram a acompanhar os meninos e ter a certeza de que Fred e George os esperariam numa rua próxima a entrada do Ministério.
A Armada inteira compareceu: Fred e George conversavam com Dino, Angelina e Lino. Luna e Neville observavam tudo muito quietos.
- Então, qual o plano? – perguntou Angelina quando viu Harry se aproximar.
- Só precisamos entrar e pegar uma coisa no Departamento de Mistérios – explicou.
- Simples, rápidos e sem sujeiras? Isso não vai ter graça – brincou Fred.
- Definitivamente, não vai ter graça nenhuma – concordou George.
- Vocês falam isso porque não conhecem aquele lugar – comentou Neville.
- Por onde vamos entrar? – perguntou Dino – Não temos como passar pela entrada sem chamar atenção.
- Eu arriscaria entrar pela passagem do poste, vamos dar direto na única sessão que ainda não tem seus agentes duplos, que é o Departamento de Aurores.
- Perfeito! – exclamaram os gêmeos ao mesmo tempo.
Eles foram até o poste enferrujado e torto no beco a uma quadra dali e fizeram como Jones e Tonks ensinaram. Uma porta pequena apareceu entre as tábuas encostadas num canto do beco.
Todos entraram concentrados, com as varinhas em punho, listando mentalmente os feitiços que aprenderam no treinamento.
A sessão de aurores àquela hora estava completamente vazia. Mas o Ministério não estava tão quieto como de costume. Havia uma movimentação apressada no fim do corredor e assim que eles chegaram mais perto entenderam que o ataque havia acontecido.
As capas pretas dos comensais esvoaçavam entre os corpos dos que entraram no caminho deles. Corriam em direção ao Departamento de Mistérios e Harry puxou os amigos para voltarem pelo corredor.
- Tem uma passagem mais rápida que leva até lá, venham por aqui!
Quando eles alcançaram um quadro de um velho deformado, que foi sem dúvida o primeiro auror do Ministério, é que o grupo se lembrou. Aurores e Inomináveis trabalhavam juntos muitas vezes. E se comunicavam através de uma porta em comum.
Eles atravessaram o quadro com a senha que Jones passou nas aulas e logo chegaram à sala circular do departamento de Mistérios.
Hermione ia conjurar o X para marcar a porta por onde passaram, mas Rony pediu:
- Em vez disso, tranque a porta por onde eles devem vir.
Ela balançou a cabeça afirmativamente e virou-se para a porta que agora ela sabia ser a que dava para o corredor.
- Ótimo! – exclamou Harry – Isso vai atrasá-los um pouco.
- E qual a sala que precisamos entrar? – falou Luna.
Um baque na porta que Hermione trancou fez todos se sobressaltarem. Os comensais alcançaram a porta e agora tentavam a todo custo desfazer o feitiço que bloqueava a entrada.
Harry olhou para todos os lados, até que se esforçou para identificar no mapa que havia memorizado, qual era o número da porta a partir da entrada.
Um novo baque fez o coração de todos dispararem e logo eles estavam juntos, de frente para a porta com as varinhas apontadas.
- É esta! – falou Harry apontando para a terceira porta.
Nesse instante, o feitiço de Hermione foi quebrado e 11 comensais entraram na sala. Entre eles estava Bellatriz Lestrange. Os dois grupos começaram a duelar. Eles estavam em igualdade numérica e bem mais preparados que da última vez que se enfrentaram naquele mesmo lugar.
Entre os jatos de luz colorida que indicavam os tipos de feitiços usados, um ou outro de ambos os lados tentava escapar e alcançar a porta que levava à Sala da Luz. Mas um feitiço atingiu a porta de entrada, fazendo com que ela se fechasse e a sala começou a rodar. Agora, aumentava a dificuldade. Um grupo teria que exterminar outro para poder testar as portas e alcançar a Sala.
Fred foi seriamente atingido por um feitiço que lhe cortou o peito de cima a baixo. George vendo o irmão ferido, partiu com toda agressividade para cima dos comensais buscando um jeito de se aproximar do irmão. Agachou-se ao lado de Fred e ficou ali, defendendo-o para que ninguém tentasse “terminar o serviço”.
Se continuassem ali naquela sala, todos acabariam mortos – pensou Harry – Ele precisava encontrar uma solução. Precisava tirar o duelo dali.
Olhava para cada amigo, duelando, o suor escorrendo pelas testas franzidas de preocupação. Hermione conseguira conjurar uma barricada mágica, do mesmo modo que conjurou o disco na caverna de gelo.
Vez ou outra, um dos amigos corria até lá para respirar fundo, retomar o fôlego e voltar para a batalha.
No meio de tanto perigo uma palavra apareceu na mente de Harry e ele não sabia por que, mas ela continuava ali, insistente, cada vez maior, cada vez mais alta, como se gritasse para ele.
Não resistindo à curiosidade, ele berrou, a plenos pulmões:
- Bonafidde!
Da varinha de Harry surgiu um grande raio prateado que se dividiu em pequenas flechas. Cada uma delas correu para uma porta que foi imediatamente aberta. Só a porta que dava passagem para a Sala da Luz permaneceu trancada.
- O feitiço dos inomináveis – murmurou para si mesmo – Havia esquecido dele.
Héstia Jones conseguiu importantes informações para eles com um amigo inominável que aceitou contar alguns segredos sabendo que aquele momento era delicado demais para manter as formalidades de sempre. Numa guerra, ela explicou ao grupo de amigos, muitos conceitos caem e muitos novos são erguidos.
O feitiço atraiu a atenção dos comensais que logo foram cercados pelos membros da Armada. Cada um empurrava um comensal em direção a uma das salas. Pensavam que se duelassem sozinhos, poderiam usar os recursos de cada sala a seu favor.
Ninguém tirava a atenção da porta da Sala Luz, mas logo foram envolvidos em suas batalhas e deixaram a sala de lado. Acabar com o adversário era mais importante. Apesar da pouca possibilidade de um dos comensais conseguir abrir a porta, a Armada não queria arriscar.
Harry encurralou Aleto na Sala da Mente. A mesma sala em que Rony fora atacado pelos cérebros. Ele não queria abusar de uma arma assim, mas se fosse preciso, daria um jeito de quebrar o tanque e lançar os cérebros para cima do comensal.
- Você não vai levar a melhor desta vez, pirralho! – grunhiu Aleto.
Harry não respondeu. Continuou a bloquear os feitiços que o comensal insistia em lançar, sempre os piores possíveis. Estava cada vez mais difícil impedir o homem de acertá-lo. E só quando um crucciatus atingiu-o bem no peito, é que ele se decidiu. Seria uma manobra arriscada, mas ele teria que fazê-lo.
Pôs-se de pé, desviou de mais alguns feitiços e foi atraindo Aleto para perto do tanque. Quando achou que ele estava perto o suficiente, lançou um feitiço contra o vidro que retinha o líquido esverdeado onde os cérebros ficavam flutuando.
Uma enorme rachadura apareceu e logo o peso da substância fez o tanque romper. Harry saltou para cima da única mesa na sala e os cérebros rolaram de encontro aos pés de Aleto, envolvendo-o com seus tentáculos.
O comensal tentava de todo jeito se desvencilhar. Utilizou todos os feitiços que conhecia, inclusive maldições imperdoáveis. Mas nada fazia os tentáculos se desvencilharem. Harry saltou da mesa, e já chegava até a porta quando sentiu um tentáculo segurar seu pé.
Na sala ao lado, Hermione enfrentava McNair com muito sufoco. A sala, aparentemente não oferecia nada que ela pudesse usar contra ele. Tudo dependeria exclusivamente dos talentos dela.
Bloqueava e repelia os feitiços com certa facilidade, mas não conseguia tempo para conjurar nada que detivesse o comensal tempo suficiente para que ela voltasse para a sala redonda.
Ainda conseguia se esconder atrás das estantes de livros e das cadeiras de estudo espalhadas pela sala. Enquanto corria, ela ficava imaginando o que seria aquele lugar. De todas as salas que sabia do Departamento, não lembrava de uma única que fosse simplesmente uma biblioteca.
Era difícil se concentrar e lembrar das aulas de Héstia Jones, com dezenas de raios verde-esmeralda cortando o ar em sua direção. Se conseguisse se lembrar do que aquilo tudo significava, teria uma chance de escapar dali com vida.
McNair foi empurrando a jovem para o fundo da sala, e agora ela teria que vencê-lo se quisesse sair dali. Olhou desesperada para todas as estantes à sua volta. O que aquilo tudo significava?
- Sabedoria? Inteligência? – pensava rapidamente – Não... Isso não se encontra em livros. Em livros a gente encontra... Conhecimento! Grande, de que adianta isso agora?
Ela se virou para correr para o lado da sala, mas um feitiço a jogou de cara contra uma estante e uma avalanche de pesados livros caiu sobre ela. Mas os volumes, apesar de acertarem a garota, passavam por ela como se fossem etéreos, feitos de ar.
À medida que caíam, seus conteúdos passavam a flutuar na mente da jovem e quando ela se levantou, não mais bloqueou os feitiços de McNair. Uma única idéia dominava seus sentimentos:
- O conhecimento é sempre um. O que muda é o princípio da ação. A mesma força que tira a vida é a responsável por preservar a vida.
E essa idéia a fez conjurar um escudo. Um escudo transparente, de luz amarelada. E era ele que absorvia toda a energia dos ataques de McNair. Hermione agora se aproximava do comensal, os olhos quase cobertos pelo escudo que aumentava de tamanho a cada feitiço lançado.
Era muita energia para ela conseguir manter. Estava sentindo que o escudo consumia não só a energia dos feitiços de McNair, mas a energia dela própria. Ela só queria ter forças suficientes para chegar até onde o comensal estava.
McNair ainda tentou correr para a porta e sair de perto da garota e seu estranho escudo energético, mas Hermione apressou o passo e o alcançou. Fez um suave gesto com as mãos e empurrou o escudo para cima dele. O choque do encontro foi enorme. Um brilho intenso se desprendeu e o comensal caiu morto, como se tivesse recebido toda a carga dos feitiços armazenados no escudo.
Hermione sorriu e assim que alcançou a porta caiu desmaiada, antes de ver a cena que realmente marcaria aquela noite para sempre.
Enquanto a jovem travou sua luta com o comensal, Rony também batalhava contra Amico. Caíram na Sala do Universo, que dificultava todo o processo. A falta de gravidade impedia que os movimentos fossem mais rápidos, e assim, tanto Rony quanto Amico ficavam mais cuidando de se protegerem.
Os planetas e estrelas eram grandes, mas eram apenas maquetes bem feitas. Rony conseguiu se esconder atrás de um deles, escapando por pouco de um Avada Kedavra que explodiu a maquete de Marte.
Quando os destroços do planeta começaram a se locomover por aquele espaço, parecia que uma enorme chuva de meteoros estava fustigando os dois inimigos. A sala funcionava como uma réplica do Universo. E qualquer alteração feita na disposição dos planetas, repercutia mostrando o que aconteceria na vida real.
Um grande solavanco, provocado pelos planetas do Sistema Solar se readaptando para equilibrar a ordem de tudo no Universo, empurrou Rony para fora da cobertura do planeta e o deixou a mercê de Amico e da chuva de meteoros.
Uma pedra incandescente, do tamanho de um balaço, atingiu o rapaz bem na nuca. Ele caiu desacordado. Amico riu da sua sorte. Aquele menino deu muito trabalho na Floresta e agora seria fácil se livrar dele. Puxou a varinha e começou a pronunciar a maldição da morte quando também foi atingido por um meteoro ainda maior que uma goles.
Os dois ficaram flutuando naquela maquete gigantesca, sem se darem conta de tudo o que aconteceria dali em diante.
Fred continuava muito machucado e por isso, George não saiu da sala. Preferiu encarar Stroke, um comensal muito alto e arrogante ali mesmo. Assim, poderia cuidar do irmão.
Enquanto o comensal teimava em lançar feitiços, George só cuidava de bloquear e retirar do bolso inúmeras bolinhas que tacava na direção do sujeito mal-encarado. Cada bolinha que explodia liberava uma fumaça fedorenta, que fazia arder os olhos. Ou ainda, espirrava gotinhas na pele do homem, onde logo apareciam pequenas bolhas de sangue.
Stroke se irritou com o excesso de coisas estranhas que apareciam em sua pele e lançou um feitiço com tanta força que George não conseguiu bloquear e foi lançado contra a parede, batendo com as costas e caindo sobre George.
O comensal sorriu satisfeito e deu dois passos em direção aos gêmeos, dizendo para si mesmo:
- Será que consigo exterminar dois com um único feitiço?
Molhou os lábios com a ponta da língua, como se a imagem o deliciasse e empunhou a varinha. Um jato laranja acertou-lhe o rosto e logo ele se viu em chamas, enquanto ouviu uma voz feminina berrando:
- Na minha família ninguém toca!
Gina saía da sala onde tinha exterminado seu comensal com uma série de feitiços envolvendo sua especialidade, incedius, e repetiu o feito com Stroke.
Com o rosto em chamas, ele caiu pela porta mais próxima, que dava diretamente para a Sala das Profecias e sumiu lá dentro. A ruiva só ouviu o barulho de inúmeros vidros se quebrando e prateleiras desmontando enquanto correu para socorrer os irmãos.
Luna também se aproximou da menina, com a mesma expressão de quem acaba de deixar uma colônia de férias. Aparentemente, só precisou acertar uma transfiguração múltipla e espalhar os objetos na Sala do Tempo.
Dino e Angelina não tiveram tanta sorte e travaram batalhas extenuantes com os comensais que eles encurralaram em outras salas do Departamento. Angelina alcançou a porta a muito custo, logo depois de Luna, muito machucada, com marcas roxas pelo braços e cortes horríveis no rosto moreno.
Dino Thomas acabou caindo na Sala dos Tormentos, onde ficavam contidas para estudo as maiores aflições da humanidade. Inscrições nas paredes davam a entender que todas as pragas que assolaram o mundo saíram daquela sala.
Frascos com essência do desespero, urnas que guardavam espíritos augorentos e muitos livros de feitiços que convocariam as bestas dos sete níveis do inferno estavam espalhados por todos os cantos.
O excesso de poeira sobre cada coisa, indicava que quase ninguém entrava naquela sala há muito tempo. Ele procurava tomar cuidado para não derrubar nada no chão. Mas o comensal que ele combatia não havia percebido o lugar em que estavam e sem nenhum problema atingiu uma grande caixa de madeira, que lembrava um sarcófago.
A porta da caixa caiu ao chão e de dentro dela surgiram diversos dementadores. Diferentes dos dementadores conhecidos até então, e que estavam declaradamente do lado de Voldemort, esses eram mais claros. Seus corpos eram envolvidos por um alo azulado e a tristeza que se sentia na sala era 100 vezes pior.
O grupo de 7 dementadores libertados pelo comensal fazia parte dos Imortais. Criaturas que existem desde muito antes do Universo. Eles que deram vida aos outros dementadores e que ensinaram a arte de espalhar a tristeza.
O feitiço do patrono, conjurado por Dino não tinha tanto efeito quanto nos dementadores comuns. Ele estava com problemas e precisaria de ajuda. Apesar do outro comensal já ter sido atacado e ter sua alma sugada em poucos segundos, as criaturas impediam a passagem pela porta e faziam força para investir contra o menino.
Numa das investidas, Dino fez a única coisa que poderia: gritou. Gritou alto por socorro. Gina olhou assustada para a porta de onde o gritou saiu. Luna segurou a mão da garota e falou:
- Vá! Eu cuido deles por você!
Angelina também se levantou, secou o sangue que escorria de um dos machucados e seguiu Gina. Quando sentiram o frio que só os dementadores causam, já entraram na sala com os patronos conjurados.
- Isso não basta! – berrou Dino do ouro lado da sala.
- Só precisamos retardá-los para você poder sair – respondeu Angelina.
- Não! Eles vão nos seguir de qualquer jeito. Precisamos prendê-los de volta. Dino, de onde eles saíram? – gritou Gina.
- Do sarcófago, do outro lado da sala.
Gina avistou o objeto a que o rapaz se referia e reforçando cada vez mais o seu Patrono, alcançou o local. Respirou impaciente pensando o quanto seria mais fácil se Hermione estivesse ali. Mas a amiga não estava e ela teria que se virar sozinha.
- Não demora, Gina! – pediu Angelina já com um fio de angústia na voz.
Gina olhou por toda parte do sarcófago. Até que seus olhos caíram sobre uma figura em que um bicho verde, rastejante, de quatro patas, abria a boca ameaçadora e os seres voltavam para a caixa.
- Um crocodilo! – exclamou aliviada – Angelina, Dino, vocês sabem conjurar bicho?
- Eu sei, berrou Dino no canto! Aprendi com meu avô!
- Então conjura o maior crocodilo que você conseguir imaginar – tornou a ruiva.
O menino se concentrou. Precisaria desfazer o patrono e conjurar o animal. Sentiu o pânico aumentar dentro de si e por instantes se achou incapaz de conjurar sequer uma lagartixa, quanto mais um crocodilo.
- Dino, por favor! – pediu Angelina chorosa.
O menino fez dois gestos rápidos com a varinha e a sua frente apareceu um imponente crocodilo de quase 2,5 metros de comprimento. O bicho fez um barulho seco com a boca, batendo os dentes um contra o outro.
Os dementadores guincharam. Um guincho horrível e fino que machucou os ouvidos dos jovens e correram para o sarcófago. Gina tirou as mãos dos ouvidos e prendeu a porta de volta com mágica.
Eles saíram da sala completamente pálidos, suando frios e tremendo. Juntaram-se a Luna, Fred e George. Angelina avistou Hermione caída na porta e correu para puxar a garota para perto deles.
Quando Lino caiu porta afora, lançado pelo último feitiço que seu oponente lançou antes de passar pelo mesmo véu em que Sirius caiu, todos se sobressaltaram. O garoto ficou inconsciente, mas estava vivo e isso era muito bom. De alguma maneira, apesar do estrago feito, eles estava ganhando.
Faltava apenas Rony, Harry e Neville voltarem para que tudo estivesse resolvido. Mas Rony não saía e a sala em que Neville entrou estava quieta demais.
A Sala da Mente é que ainda fazia barulho. Aleto estava praticamente sufocado pelos tentáculos e Harry lutava com um único órgão que resolveu ir atrás dele. Já descobrira que quanto mais se debatia, mais força os tentáculos faziam contra ele. Eram como o visgo do diabo. Ele tentou usar Lummus, mas não fez nenhum efeito.
A única idéia que sobrou, foi a mais radical. Ele teria que cortar o tentáculo. Apontou a varinha para a parte mais afastada de sua própria pele e murmurou com raiva:
- Sectumsempra!
O corte foi suficiente para separar o tentáculo de seu dono e Harry pode finalmente correr para fora da sala, trancando a porta atrás de si. O pedaço de cérebro ainda estava preso à sua perna e foi com muita frustração que Harry se deu conta que não conseguiria soltá-lo sem uma faca de verdade.
- Onde estão Rony e Neville? – perguntou preocupado.
- Ainda não voltaram – disse Gina, que agora tentava acordar George com um feitiço revigorante.
O ruivo gemeu um pouco e abriu os olhos, fazendo uma careta de dor.
- Cadê o Fred? – disse tentando se levantar.
- Está aqui! Nós estamos cuidando dele – falou Luna – Fique tranqüilo, isso não é nada comparado a um ferimento de Ripicurt. Não cicatrizam nunca!
Eles deram uma risada abafada. Não que comentário da garota fosse realmente engraçado. A questão é que naquele momento, qualquer coisa que desanuviasse a mente deles, seria um ótimo jeito de renovar as forças.
Quis o destino que Neville ficasse para encarar Bellatriz. A melhor seguidora de Voldemort, contra o pior aluno de Hogwarts. Ela riu reconhecendo o jovem rapaz. Era muita ironia e muita sorte, pensava a mulher, que ela pudesse ter a chance de fazer aquele menino o mesmo que fizera com seus pais 16 anos antes.
Andava suavemente na sala, que parecia vazia e escura. Revelava um porte majestoso e queria fazer tudo com muita classe. Lançava os feitios sem nem ao menos piscar. E ficou surpresa em vê-los bloqueados, mesmo que ela não indicasse quando iria executá-los.
Neville continuava calmo. Sentia o suor escorrendo pelas mãos, fazendo a varinha escorregar um pouco. E no entanto não tinha medo do que poderia acontecer. Ele não queria provar nada para ninguém.
Passou a vida inteira tentando provar que era um bruxo valoroso como o pai, para que a avó se orgulhasse dele. E no entanto, quando a moeda de Hermione brilhou naquela manhã e ele se preparou para sair é que viu, refletido no espelho não a imagem do rapaz inseguro de sempre, mas de um bruxo adulto.
Um bruxo adulto que descobriu sua capacidade nas reuniões da Armada, entre amigos que deixavam claro não só a confiança que tinham nele, mas importância que ele tinha para o grupo. Um bruxo que descobriu nas cartas trocadas com a garota mais estranha, e por isso mesmo na opinião dele mais encantadora, de Hogwarts, que ele era exatamente o adulto que sempre quis ser. Calmo e tranqüilo, pronto para passar a vida inteira numa estufa estudando a natureza e ouvindo, deliciado, as histórias dos animais fantásticos que só Luna Lovegood conhecia..
Nada de ser um herói como seu pai. Queria ser um cara comum. E foi esse pensamento que o manteve sereno durante toda a noite. E misteriosamente protegido quando se viu na sala com a responsável pelo estado de saúde de seus pais.
O jovem sorriu nervoso, imaginando que se a avó soubesse o que se passava em sua mente, com certeza o desaprovaria. E ele pouco se importava com aquilo. Só pensava que era esse sentimento que o deixava em paz consigo mesmo.
Lembrou-se de como Luna o fez ver cada coisa boa em sua vida. Como ela, com aquele jeito avoado de falar e com a capacidade única de enxergar as verdades mais incômodas, conseguiu mostrar que ele não vivia para si. E aos poucos, foi ajudando e permitindo que ele se deixasse amadurecer mais naqueles últimos meses do que se permitiu a vida inteira.
Olhou a mulher altiva a sua frente lançar-lhe feitiços horríveis e nenhum deles o acertar. Quando começou o treinamento com a Armada, Moody o chamou a um canto e falou, se não souber atacar, saiba defender.
E ele treinou muito para conjurar um feitiço escudo poderoso. Um feitiço que durava tempo suficiente para que ele pudesse observar Bellatriz em cada uma de suas ações. E quando eles cruzaram o olhar, a comensal viu a oportunidade que precisava. Já que não podia acertá-lo com um feitiço, pelo menos conseguiria invadir a mente do garoto e descobrir seus pontos fracos.
Sorriu vitoriosa quando percebeu que o rapaz não apresentava resistência e entrou em seus pensamentos, pronta para destruí-lo, sem saber que o que veria ali perturbaria mais a ela do que a ele.
Não encontrou lembranças dolorosas do tempo sem os pais, nem viu o menino chorando sozinho no quarto. As lembranças de Neville eram sempre de quando visitava os pais no St. Mungus e voltava para casa feliz, com um papel de bala que ganhara da mãe.
Lembranças das brincadeiras com os tios, que sempre o trataram muito bem. E apesar das constantes exigências da avó, Neville guardava a imagem dela com carinho. Era uma bruxa valorosa, que o amava acima de tudo.
Bellatriz cambaleou para trás sem saber como agir. Seu coração deu sinal de que ainda existia dentro do peito e ela o sentiu apertar. Não viu na alma do rapaz a raiva por ela, que imaginou estar contida há anos naquela alma. Em relação a ela, a única sensação que havia restado no coração do rapaz, era pena.
- Não preciso que tenha pena de mim! – bradou furiosa.
- Eu sei – respondeu Neville, sentindo a pulsação aumentar – Mas eu sinto... Sinto pena de qualquer pessoa que não tem com quem contar.
Ignorando o perigo que era dar as costas a um comensal, ele saiu da sala. Bellatriz apenas acompanhou com os olhos o jovem se afastando. Como ele poderia resumir a vida dela em tão poucas palavras?
A porta se fechou automaticamente quando Neville passou e Bellatriz ficou ali trancada, na Sala da Solidão.
Todos olharam para o único do grupo que não apresentava sinal de lutas. Neville se sentou ao lado deles e olhou para a porta trancada. A porta da Sala da Luz.
- É ali que está o que você precisa encontrar, Harry?
- É, mas ainda não sabemos... Ei, o que está fazendo? – perguntou assustado quando Neville se levantou e foi até a porta – Não faça isso, Neville, pode ser perigoso!
O rapaz não deu atenção aos berros e advertências do amigo. Pôs a mão direita sobre a maçaneta e girou.
Os companheiros acompanhavam tudo numa ânsia muda e temerosa. Sabiam que muitos que fizeram aquilo morreram instantaneamente.
A porta soltou um estalido seco e Neville a empurrou. Uma luz quente e agradável saiu da porta entreaberta e o rapaz entrou.
Os demais estavam emocionados. Não sabiam o porquê de tal sentimento, mas deixaram as lágrimas escorrerem. Harry foi o primeiro a se levantar e seguir atrás de Neville.
Com a porta aberta, ficava fácil entrar na sala. Era um ambiente estranho. Tinha piso, mas não tinha paredes nem teto. Pareciam suspensos no último andar de um prédio, e se não fosse pelo céu claro e levemente lilás, Harry juraria que estavam do lado de fora do Ministério.
Mais à frente, ele divisou um pequeno pedestal de pedra ricamente trabalhado e sobre o pedestal flutuava graciosamente um cordão delicado, com um pingente de cristal em forma de coração.
Os dois rapazes se aproximaram respeitosos do objeto. Apreciaram a delicadeza do colar por um instante e Harry falou:
- Pode pegar, Neville!
- É você quem precisa do objeto – retornou o garoto.
- Eu sei, mas só você conseguiu abrir a porta e acho justo que você pegue o colar.
Neville hesitou. Olhou de Harry para o colar e do colar para as próprias mãos. Limpou-as no blusão e esticou o braço em direção ao pedestal.
O colar balançou e caiu sobre as mãos estendidas do garoto que continuou com o olhar parado, até prorromper em lágrimas e soluços.
Sem saber ao certo o que fazer, Harry passou o braço sobre os ombros do amigo e esperou ele se acalmar. Após alguns instantes, vendo que ele se acalmava, perguntou:
- Está tudo bem?
- Está... – respondeu vagamente – Vamos sair daqui?
Harry concordou e eles voltaram para a sala circular mostrando o colar que havia dentro da Sala da Luz.
- Ainda não podemos ir – avisou Gina preocupada - Rony ainda não voltou.
- Em que sala ele entrou? – perguntou Harry.
- Naquela sala – apontou Luna para uma porta adiante que estava fechada.
Harry, Dino e Lino, que já havia recobrado os sentidos, foram para a sala. Esperavam encontrar o jovem ruivo duelando intensamente com o comensal, mas assim que abriram a porta, avistaram o corpo de Rony flutuando.
Lino lançou um feitiço e conseguiu trazer o corpo de Rony para perto da porta, onde esticou os braços e o puxou para fora.
Todos do grupo se uniram para sair dali. Fizeram os feridos flutuarem em padiolas mágicas e foram para a porta que dava para o corredor. O caminho que fizeram, pela sessão de aurores era muito estreito para passarem com os amigos feridos.
Quando Harry deu a senha para a porta se abrir, ninguém passou. Por um instante, o rapaz acreditou que Voldemort estava ali, pessoalmente. Mas o que barrou o caminho deles foi um outro Weasley. O único Weasley que era um verdadeiro traidor.
- Percy! – bradou George.
- Vocês não vão passar! – tornou o outro com a voz autoritária de sempre.
- E você acha que pode impedir a gente? – desafiou Gina.
- Acho! Ou melhor, tenho certeza absoluta disso! Eu só preciso atrasá-los um pouco para o resto chegar...
- Que resto? Você está sozinho agora! E aposto que sozinho não passa do mesmo covarde puxa-saco de sempre, não é? – falou George irritado – E acho bom sair logo da frente, Fred está ferido e precisa...
- Bem feito para ele! Quem mandou ficar do lado do velhote caduco?
Um jato amarelo explodiu no peito do rapaz, fazendo os óculos de aro de tartaruga voarem longe e ele cair sentado a dois metros de onde estava. Gina, que tinha passado aa frente, apontou a varinha para a cara do irmão e falou:
- Da próxima vez, eu vou esquecer que você é da minha família e fazer o que fiz com os comensais de verdade lá dentro.
Virou-se jogando os cabelos ruivos para trás, apontou a varinha por cima do ombro e sem olhar estuporou o irmão.
Eles alcançaram o átrio e agora precisavam decidir para onde iriam. Dino avisou que voltaria para casa, no que foi apoiado por Angelina e Lino. Eles partiram e deixaram os outros decidindo.
- Preciso levar o Fred logo – impacientou-se George – ele já perdeu muito sangue e o pulso está fraco.
- Vamos todos para o St. Mungus – chamou Harry.
Eles aparataram lá e logo foram atendidos. Rony, era o que corria menos risco. Logo recuperou os sentidos e pôde ir atrás dos amigos. Fred ainda precisaria de muitos cuidados. Enquanto isso, Hermione também tomava muito remédios para recuperar a força.
O tentáculo preso na perna de Harry foi rapidamente removido e os quatro amigos, mais Luna e Neville, se encontraram na sala de esperas que se encheu quando os Weasley foram avisados.
Luna chamou Neville para irem embora e antes de sair o rapaz se aproximou de Harry e entregou o colar.
Hermione, que não tinha visto nada disso, olhou admirada para o objeto e falou:
- É esse o objeto! É o Coração de Ravenclaw, a última peça para liberar o Livro dos Segredos!

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