A Retomada da Ordem
Mal Harry entrou na Toca e ele pode perceber o quanto aquela casa estava mais bagunçada que de costume. Os convites para o casamento de Gui e Fleur estavam espalhados por todo canto.
- Para o caso de lembrarmos de alguém. Assim sempre terá um convite por perto para ser enviado – justificou-se a Srª Weasley.
Além disso, as caixas com os doces que seriam servidos na festa eram amontoadas próximas à escada. E as roupas que os membros da família deveriam escolher para usar ficavam flutuando pela casa em cabides encantados. Vez ou outra, uma delas se perdia e ia parar na cozinha ou até mesmo no banheiro.
Tudo parecia mais engraçado do que antes. E Harry se sentiu muito bem em finalmente poder voltar para o “seu mundo”.
- Vamos, querido – falou a matriarca dos Weasley – venha comer alguma coisa. Afinal, hoje ainda é seu aniversário!
O rapaz sentou-se à mesa e logo ela trouxa um grande pedaço de bolo de chocolate com calda de caramelo e nozes. Também serviu panquecas com geléia de framboesa e um refrescante copo de leite fresco.
- Hummm – falou novamente a Stª Weasley – vou servir um pouco para o Rony também. Quem sabe com você aqui ele come.... Sabe como é, desde a notícia do desaparecimento de Hermione que ele tem perdido cada vez mais o apetite.
Harry olhou para o amigo. Realmente ele parecia mais magro e mais pálido. Os olhos estavam bem fundos, sinal de quem não dormia direito há um bom tempo.
Rony aceitou a sugestão da mãe e comeu um pouco junto com Harry.
- Agora, acho que quero dormir um pouco, se não se importam. Faz um bom tempo que não durmo direito. Estou quebrado...
- Tudo bem querido, o Rony sobe com você e te ajuda a arrumar as coisas.
Os dois subiram as escadas, levando o malão de Harry. Colocaram as coisas de qualquer jeito, como sempre fizeram e Harry se jogou na cama que costumava ocupar quando passava os dias na Toca.
Eles ainda conversaram um pouco, mas logo Rony estava falando sozinho, porque Harry já havia pegado no sono.
Olhando o amigo dormir, Rony, que não tinha mais nada para fazer se deitou e, tendo a certeza que ninguém estava por perto, pegou uma foto que havia saído no Profeta Diário há alguns anos. Originalmente, a foto era de Mione e Krum, mas Rony tratou de se livrar do aluno de Durmstrang.
- Mione, cadê você? – perguntou enquanto olhava a foto.
Aos poucos ele sentiu as pálpebras pesando e acabou dormindo, com a foto nas mãos.
Enquanto Harry, na cama ao lado tinha um sono reparador, do tipo que há dias não tinha devido aos problemas na casa de seus tios, na outra cama, Rony tinha um sonho, que parecia ser o primeiro de uma série que viriam a seguir.
Ele estava num lugar aberto, assustadoramente amplo. O relevo era plano, com leves ondulações, mas nenhuma montanha. Tudo coberto por uma espessa vegetação verde-musgo. Ele deus alguns passos e percebeu que tudo ao seu redor era levemente escorregadio, como se andasse sobre o lodo.
O céu estava nublado. Nenhuma fresta entre as nuvens. Elas pareciam se amontoar umas por cima das outras, de modo que a escuridão ficava mais intensa. Ainda era dia, pois havia alguma claridade.
A sensação de Rony era de que assim que a noite caísse não seria mais possível enxergar um palmo a sua frente. Aquela imensidão era tão assustadora que ele forçou a vista para enxergar alguma coisa no horizonte.
Fez tanto esforço que conseguiu. Lá na frente, bem ao longe, ele pode avistar uma espécie de cerca feita com troncos grossos e pontudos.
- Pelo menos é algum lugar! – pensou ele.
Tentou correr em direção a cerca, mas seus movimentos estavam mais lentos e pesados. Parecia que se movimentava em câmera lenta.
Ele começou a fazer força, mas logo sentiu os músculos doerem. Parou, respirou fundo e fez nova tentativa. Conseguiu dar mais alguns passos e logo descobriu o porquê de não conseguir se locomover com mais agilidade: o musgo do chão prendia suas pernas. Era uma substância bem viscosa e em alguns pontos, revelava pequenos tentáculos com ferrões que acertavam as canelas do rapaz e deixavam suas pernas adormecidas.
- São venenosas! – observou enquanto tirava a blusa, rasgava em dois pedaços e amarrava ao redor dos tornozelos – Assim os ferrões não vão atravessar.
Com os movimentos recuperados, ele agora podia correr. Correu o mais rápido que pode, até sentir o peito doer de respirar aquele ar gelado enquanto se submetia a tão cansativo exercício.
Ele correu um, dois, cinco quilômetros. E finalmente chegou a beira de uma lagoa profunda e cristalina. Havia peixes estranhos nadando ali na margem. Tinham no máximo 20 centímetros e várias nadadeiras. Eram de um bege pálido, quase transparente.
De tanto olhar, Rony se sentiu atraído para perto da água. Ajoelhou e tentou pegar um dos peixes. Mas assim que seus dedos tocaram a água, alguma coisa saltou e agarrou o rapaz pelo pescoço. Eram mãos apodrecidas.
- Inferis! – pensou ele.
Rapidamente tentou agarrar as mãos de seu pescoço e soltá-las para poder respirar. Já estava quase desmaiando quando ouviu alguma coisa. Um grito bem familiar. Uma voz que ele conhecia muito bem. A voz de Mione.
- Socorro! – berrava a garota de algum lugar que Rony não conseguia identificar.
Ele se desesperou ainda mais. Mione estava ali e ele poderia salvá-la. Mas precisava vencer o inferi antes.
Outro grito choroso da amiga foi o bastante para que Rony estraçalhasse os braços do inferi e jogasse os pedaços de volta a água.
Ele correu ao redor da lagoa tentando descobrir onde estava a menina. A cada pedido de socorro ele respondia:
- Estou chegando, Mione. Calma! Já vou tirar você daí!
- Rony, por favor, não demore! – respondia a menina!
- Fale mais um pouco, Mione, eu não sei onde te encontrar – ele berrou de volta.
- Socorro, socorro!!! – ela continuou gritando.
Só então Rony entendeu que ela estava atrás da cerca. A cerca que ele viu ao longe protegia uma pequena ilhota no centro da lagoa.
Como chegar até lá? O que fazer para salvar a amiga?
No alto vários abutres dava rasante em algumas coisas penduradas na cerca. A cada investida, Mione gritava mais alto e mais desesperada.
As coisas estavam postas ali de propósito. Eram víceras, Rony conseguiu ver. E os abutres famintos se lançavam sobre a cerca sem se importar com a garota ali perto. Na verdade, eles esperavam poder devorá-la também.
Um abutre atacou com tanta força um pedaço de carne que o sangue espirrou no braço da jovem. Outra ave que passava por perto investiu contra ela, se orientando apenas pelo sangue escorrendo do braço e o odor que desprendia dele.
- Ai! – berrou a bruxa – Sai daqui!
Ela chorava de dor agora e Rony berrava:
- Se abaixa, Mione. Se abaixa! Eu vou tirar você daí! Eu juro!
Ela não respondeu mais. Rony não conseguia mais ouvir a voz da menina e começou a chamar por ela:
- Mione! Responde! Fala comigo, por favor! Mioneeeeeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!!!
Rony abriu os olhos e todos estavam a sua volta. Harry e Gina olhavam assustados para o rapaz. Sua mãe já entrava no quarto gritando para todos saírem da frente e entregava a ele uma xícara de chá calmante. Até Gui se levantara para ver o motivo dos gritos.
- Ei, cara – chamou Harry – você está bem?
- O quê? – perguntou ele ainda atordoado – O que aconteceu?
- Você teve um pesadelo, só isso – a Srª Weasley procurou acalmá-lo.
Ele olhou para os outros, depois abaixou a cabeça e percebeu que estava sem camisa. Em seus tornozelos, os pedaços de pano ainda estavam amarrados.
- Eu fiz isso de verdade? Quer dizer, eu fiz isso no meu sonho, mas... – falava o garoto sem entender o que tinha acontecido.
- Chega, Rony. Agora você vai trocar de roupa porque a sua está empapada de suor.
A Srª Weasley passou as mãos pelo cabelo vermelho do filho e teve um sobressalto:
- Você está ardendo em febre! Vamos, levante-se e venha para o banheiro. Precisa de um bom banho quente e de se agasalhar bem.
Rony se deixou levar pela mãe. Gina entrou no quarto e sentou na cama do irmão.
- Bom, e aí? Como foi lá com a Mione? – perguntou fingindo uma curiosidade sadia.
- Ah, foi normal. Digo, até que estava tudo bem, mas ela não consegue esconder nada de ninguém, não é mesmo?
- Como assim? – perguntou Gina com um aperto no peito.
- Sobre os pais dela, no mesmo dia que a gente chegou ela acabou me contando a verdade e eu não tive como não ficar do lado dela.
- Ah... – respondeu Gina meio desapontada – Imaginei que as coisas aconteceriam assim mesmo. Agora, eu preciso ir. Fiquei de ajudar minha mãe!
Ela saiu correndo antes que Harry pudesse responder qualquer coisa.
Rony voltou para o quarto de banho tomado e envolto num enorme xale de lã.
- Você se parece com uma bruxa velha! – zombou Harry – Se estivesse com pantufas de coelhinho eu poderia jurar que é a Srª Figg.
Rony sorriu e se jogou mais uma vez na cama. O corpo todo doía e ele tinha a sensação de que as pernas ainda formigavam.
- Quer me contar o que aconteceu?
- Ah, foi só um sonho bobo – respondeu meio sem graça.
- Olha, cara, eu sou a pessoa que mais teve sonhos bobos a vida toda. Pode crer! O que quer que tenha sido eu vou entender.
O jovem Weasley criou coragem e contou tudo para o amigo. Todos os detalhes. O tanto que ele queria salvar Mione, era evidente. Mas o desespero dele quando acordou foi bem maior que Harry esperaria dele.
- Então, pelo que você sonhou – Harry procurou desviar os próprios pensamentos – Mione está presa numa ilhota no meio de uma lagoa?
- Exato!
- Isso é realmente muito estranho...
- Por quê? O que tem de tão estranho nisso?
- Eu sonhei a mesma coisa que você há uns dias... Antes de vir para cá. Aconteceram muitas coisas lá na casa dos meus tios, cara! Você nem faz idéia.
Então Harry começou a contar tudo o que passou na Rua dos Alfeneiros. Falou da briga com Duda, o feitiço que convocou os dementadores, o ataque, as notícias nos telejornais trouxas.
Falou também o que descobriu de seu primo e o que sua tia havia feito. Falou das fotos e dos presentes de aniversário. E por fim, falou do sonho.
- Mas você tem certeza que o lugar era o mesmo? – perguntou Rony ainda incrédulo.
- Tenho, certeza absoluta!
- Como é que pode isso, Harry? Digo, a gente sonhar a mesma coisa?
- Não sei, Ron. Mas desconfio que nós sabemos exatamente onde Mione está. Só não sabemos como chegar até ela.
Os dois ficaram em silêncio. Estudavam cada palavra dita e tentavam encontrar qual seria esse lugar tão amplo e assustador.
Harry pensou o quanto era parecido com a caverna em que estivera com Dumbledore. Um lago de inferis cercando uma ilha. Se isso era obra de Voldemort, certamente ele não era tão criativo assim.
- Bem, acho que devemos contar isso para alguém que possa fazer alguma coisa – disse Rony meio cabisbaixo.
- Do que você está falando?
- Oras, precisamos de alguém que possa procurar onde Mione está!
- E por que nós mesmos não podemos resolver isso?
- Mas por onde começaríamos? Digo, vamos simplesmente sair de casa e ir para qual direção?
- Não precisa ser exatamente desse jeito. Mas a gente tem como fazer alguma coisa além de reportar tudo ao Ministério.
- O que você sugere?
- Pelo que eu vi hoje de manhã, o Ministério está muito cheio de trabalho e problemas por causa desses ataques. Eles não iriam dispor alguns aurores para procurar um lugar que nós só vimos em sonhos.
- Isso óbvio!
- Então, que tal se reunirmos os nossos próprios aurores?
- Você fala de reunir mais uma vez a...
- Exato a Ordem da Fênix!
A idéia era extremamente excitante. Reunir os membros da Rodem, explicar tudo o que aconteceu, o sumiço de Mione, precedido pelo ataque sofrido pelos pais da jovem bruxa.
Eles não precisaram descer para jantar, pois a Srª Weasley achou melhor Rony fazer repouso. A febre já havia baixado um pouco, mas ele ainda estava visivelmente debilitado. Os dois comeram no quarto e logo em seguida deitaram novamente, ainda fazendo planos para o dia seguinte, quando falariam com o pai de Rony sobre convocar uma reunião com os membros da Ordem.
A manhã chegou levemente nublada e o vento que entrava pela janela avisava a possibilidade de uma pancada de chuva em breve.
Harry e Rony desceram para tomar café e encontraram o Sr° Weasley quase de saída para o trabalho.
- Ei, pai, podemos conversar uns cinco minutinhos? É importante!
O pai do garoto e concordou e logo estava a par de tudo o que aconteceu.
- Eu não sabia do ataque aos pais de Mione – comentou ele.
- Mas, eu mandei um bilhete a Rony explicando tudo – justificou-se Harry.
Rony ficou mais vermelho que seus cabelos e tratou de explicar:
- Olha, eu não sei o que me deu. Só sei que não conseguia tocar no assunto com ninguém. Achei que poderia estragar o clima ou sei lá...
- Tudo bem, Rony. Mas essa informação é importante para o Ministério. Vou reportá-la assim que chegar lá. Quanto reunir a Ordem novamente, Harry, nós podemos fazer isso. Hoje eu entro em contato com todos os que eu puder e amanhã a gente se vê no galpão daqui de casa, logo após o almoço.
Ele se despediu dos meninos e foi para o serviço.
- Agora – falou Harry – vamos para a segunda parte.
- Que segunda parte? Disso você não me falou ontem!
- Acabei de pensar nisso. Vamos chamar a Gina e ir lá para fora.
A menina os seguiu de imediato, mas evitava ficar perto de Harry ou olhar para ele.
Quando se viram num local mais afastado da casa, Harry expôs sua idéia.
- Vamos reunir toda ajuda possível! Vamos usar Edwiges e Pitchi para escrever algumas cartas e trazer de volta a ativa não só a Ordem da Fênix, mas também, a Armada de Dumbledore.
Os dois irmãos se mostraram ainda mais animados com a possibilidade. Reunir os amigos que, assim como eles, se sentiam preparados para lutar, era realmente uma idéia incrível.
A tarde foi dedicada a escrever as cartas. Eles mandaram bilhetes para Neville, Luna, as irmãs Patil, Dino Thomas, Simas Finnigan, Lino Jordam, Angelina Johnson. Além disso, também informaram aos gêmeos Weasley, Fred e George, a retomada das atividades.
O tempo passou voando e quando eles perceberam, a mãe dos meninos já os chamava para tomar banho e jantar.
- Amanhã vamos ter alguma ação! É impossível que não nos deixem participar da reunião – comentou Rony.
- Assim espero, pois fomos nós que tivemos a idéia!
Pouco depois eles estavam deitados, torcendo para que as corujas achassem todos os remetentes.
A manhã do dia seguinte passou rápida demais. Apesar da ansiedade que costuma fazer o relógio andar em câmera lenta, as atividades relacionadas ao casamento de Gui deixava a todos ocupados.
A reunião da Ordem seria dentro de duas horas, mas Harry e Rony se mostravam cada vez mais ansiosos. Quando Lupin chegou Harry correu a abraçá-lo e perguntar as novidades.
- Não há muito além do que você já sabe, Harry – respondeu ele desanimado.
- E Tonks? Ela vem, não é mesmo?
- Claro, já deve estar chegando, junto com o Arthur. Ela estava de serviço desde sexta-feira.
- Nossa, deve estar exausta então!
- Ah, bem, você conhece a Tonks. Ela não se cansa muito fácil – respondeu ele com um tom de carinho na voz.
Desde o funeral de Dumbledore que Tonks e Lupin assumiram um romance. Todos sabiam o quanto eles se gostavam há anos. Mas Lupin insistia em não ser o par ideal para a jovem auror. Ela não desistiu e agora eles estavam juntos!
Lupin parecia até mais remoçado. Mais vigoroso, como diria a Srª Weasley depois que fosse para o galpão.
Os membros da Ordem começaram a chegar. Um a um eles se dirigiam até o galpão e ficavam conversando. Quando Arthur Weasley e Ninfadora Tonks chegaram, a reunião teve início.
- Bem, vocês sabem perfeitamente o estado em que as coisas estão. Ninguém pode negar que a morte de Dumbledore abalou todas as estruturas do nosso mundo. Além disso, o mesmo fato deu às forças das trevas uma idéia de superioridade. Eles não respeitam mais nada e atacam em plena luz do dia. O próprio Harry aqui presenciou um ataque numa zona totalmente trouxa – explicou o Sr° Weasley.
Todos olharam para Harry pedindo que ele explicasse o que havia acontecido. Logo ele colocou todos a par do ataque e ainda explicou detalhadamente o feitiço que convocou os dementadores.
- Mas isso é um absurdo! – revoltou-se Quim Shackelbolt.
- Assim, no meio da rua? Isso está muito parecido com o que passamos na primeira ascensão de Voldemort – assomou Lupin.
- Por isso – retomou a conversa o Sr° Weasley – precisamos decidir o que vamos fazer.
Choveram sugestões de atividades, de como reunir mais aliados e quais as primeiras providências a serem tomadas.
- Mas antes – chamou Harry – gostaria da atenção de vocês para um fato especialmente importante para nós.
Todos deixaram a conversa de lado e se puseram a prestar atenção. A voz de Harry estava bem mais solene e séria que a que todos ali conheciam. Ele costumava ser mais jovem, era essa a palavra que melhor definia a mudança na voz do rapaz. Nem mal acabara de atingir a maioridade bruxa e ele já assumia uma postura mais madura e confiante.
- Não sei se todos estão a par, mas a nossa amiga Hermione Granger desapareceu há mais de um mês.
Muitos se entreolharam e cochicharam. Harry continuou:
- Acredito que a maioria pense que talvez ela tenha viajado com os pais ou mesmo fugido da guerra, já que ela é uma nascida trouxa! No entanto, as circunstâncias em que Mione desapareceu são muito suspeitas. A princípio, é bom explicar-lhes que ela não teria como estar com os pais.
Mais um burburinho de comentários estranhando a situação.
- Dois dias antes de Hogwarts ser atacada, os pais de Mione foram cruelmente torturados por comensais, que inclusive assassinaram dois amigos da família. Por esse motivo, Dumbledore tratou de escondê-los do mesmo modo que fez com meus pais. E para evitar que qualquer tipo de traição ocorresse, optou por ele próprio ser o fiel do segredo dos Grangers.
- Mas ele não mencionou nada para a menina? – questionou McGonagal que até aquele momento permanecia quieta.
- Infelizmente, ele não teve tempo, professora – respondeu Rony saindo de trás do galpão, dando a entender que estivera ali o tempo todo e assumindo um ar desafiador que impedia qualquer um, até mesmo seu pai, de impedir que ele permanecesse na reunião.
- Mione se refugiou comigo na sede da Ordem, no Largo Grimmauld, durante o mês excedente de férias que fomos forçados a ter. O combinado era de que ela ficaria no colégio, sob a proteção de Dumbledore. Mas os últimos acontecimentos na escola a deixaram sem ter para onde ir.
Ninguém se atrevia a dizer mais nada.
- Durante a estadia na sede da Ordem, nós saímos para fazer algumas compras e fomos seguidos durante um bom tempo. Aprontamos uma correria para despistar quem quer que estivesse atrás de nós. E no fim das contas, nem demos a importância devida, acreditando ser um ladrão qualquer. Acontece que no dia que oficialmente começaram as férias, Mione ficou de se encontrar com o Sr° Weasley.
- Mas ela não apareceu – emendou o pai de Rony.
- É muito suspeito justamente ela ter sido seqüestrada, afinal os pais foram atacados há pouco tempo – comentou Tonks como se falasse aquilo para que seus próprios pensamentos conseguissem se organizar.
- Há alguma pista de onde ela pode estar? – perguntou Moody.
Rony e Harry se entreolharam. Chegara a hora de revelar a única informação que eles tinham e que, provavelmente, não seria levada tão a sério.
- A única pista que temos – começou Rony – é algo bem complicado de explicar e acredito que a maioria aqui vai desconfiar da veracidade das informações.
Ele estudou a reação dos demais. Mas como ninguém riu ou fez cara de desaprovação, ele continuou:
- Ao que tudo indica, Mione está presa numa ilhota, que fica numa lagoa muito extensa, porém dominada por inferis.
A menção das abomináveis criaturas que obedeciam às forças das trevas mesmo depois de mortas provocou uma reação inesperada: revolta!
- Mione está cercada de Inferis? – falou Tonks muito nervosa, pois considerava Mione uma amiga íntima.
- Isso é um absurdo! Ela é apenas uma menininha – comentou Moddy que ainda pensava em Mione como uma aluna de Hogwarts.
- Por favor – chamou a professora Minerva – vamos deixar que o Weasley termine de nos contar todos os detalhes do lugar.
Eles silenciaram e então Rony falou:
- Além disso, a planície que cerca a lagoa é coberta por um tipo de musgo dotado de tentáculos levemente venenosos, que atacam quem se movimentar e injetam seu veneno nos tornozelos deixando as pernas dormentes.
- Zingibba Fóllus – murmurou Lupin.
- O que disse? – perguntou Harry que prestava atenção a tudo o que acontecia naquele lugar.
- Ah, apenas mencionei o nome de uma planta que faz isso. É a Zingibba Fóllus. É de um verde muito escuro, até parece mofo. E costuma ser muito escorregadia.
- É isso, exatamente isso que cobre aquele lugar – falou Rony exaltado com a possibilidade de saberem onde Mione está – Onde tem dessa planta?
- Essa informação eu não vou poder lhe dar, Rony. – desculpou-se Lupin – Estudei sobre ela em Hogwarts, nas aulas de Herbologia.
- Pelo menos poderemos perguntar a professora Sprout – disse Harry mais aliviado.
- Sim, sim! Quando ela voltar das férias que tirou. Foi visitar umas primas na Ásia menor – explicou McGonagal.
- Tudo bem! Já temos uma coisa a se pensar! Assim que soubermos onde ficam os campos de Zingibba poderemos procurar. Mas o que mais quero saber no momento, é onde vocês conseguiram essa informação – ajuntou Quim, sempre muito atento a todos os detalhes.
Os dois amigos respiraram fundo. Chegara a hora da verdade. Naquele momento ou eles seriam motivos de irritação para os demais ou se veriam apoiados, apesar da primeira opção parecer a mais lógica.
- Nós vimos Mione, num sonho – disse Rony com toda sua coragem que ainda restava.
- Exato – disse Harry apoiando o amigo – sei que parece estranho, mas nós dois tivemos o mesmo sonho, isto é, vimos Mione no mesmo lago. E nem conversamos sobre isso antes. Apenas quando Rony mencionou o sonho que teve que eu me lembrei do meu sonho.
Harry parou de falar, sentou-se ao lado de Rony que havia encontrado um lugar junto a um monte de caixas de madeira, e esperou.
O silêncio tomou conta do lugar e a expressão de dúvida no rosto dos presentes ficou muito evidente na opinião dos garotos.
- É, foi bobagem pensar que eles acreditariam – murmurou Rony.
- Eu acredito – falou a pessoa que ele menos esperava.
- Pai?
- Claro! Claro que eu acredito. Foi o sonho de Harry que me salvou quando fui atacado há dois anos. E sabendo que vocês dois têm uma ligação muito especial com Hermione, bem, é totalmente possível que ela tenha criado um laço psíquico com vocês.
O apoio do Sr° Weasley foi fundamental, pensou Harry. A sensação de dúvida ia pouco a pouco sumindo dos olhos dos membros da Ordem.
- Então, se me permitem uma sugestão – interrompeu a professora Minerva – acredito que o melhor agora é descobrir a possível localização desse terreno e quais os obstáculos que poderemos enfrentar para atravessá-lo. É óbvio que não serão apenas inferis e plantas venenosas. Os meninos só enfrentaram isso porque não estavam presentes realmente no local. Apenas suas essências energéticas, ou suas almas como quiserem chamar, estavam no local.
- Eu sugiro que a gente reúna as informações e se encontre novamente dentro de dois dias. De preferência na Sede da Ordem – falou Moody.
Todos concordaram e estavam quase saindo quando Harry gritou:
- Esperem!
Eles se voltaram e olharam o jovem bruxo ali de pé.
- Não podemos fazer a reunião na sede do Largo Grimmauld.
- E por que não, Harry? – perguntou Quim.
- Porque Snape tem livre acesso a ela – respondeu o jovem com a voz um tanto amargurada.
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