O primeiro lugar
O silêncio pesou entre todos que estavam presentes na reunião no galpão da Toca. Harry dissera uma verdade que todos ali estavam tentando evitar há algum tempo. Ninguém, após a morte do diretor de Hogwarts, tivera a coragem sequer de lembrar da existência de Snape. Na opinião dos membros da Ordem, ele já havia causado todo o mal de que seria capaz.
Mas a observação do rapaz os fez cair em si e lembrar que Snape, a contragosto de muitos, era um antigo membro da Ordem e como tal poderia realmente entrar a hora que quisesse do Largo Grimmauld.
- Harry, ele não seria tão louco de... – começou a questionar Quim.
- Seria sim! – interrompeu o garoto – ele simplesmente chegou, puxou uma varinha e matou Dumbledore bem na minha frente. Acham que depois de tudo isso ele vai ter medo de alguma coisa? Quem me garante que esse tempo todo ele não foi espião do outro lado? Que se utilizou de todas as informações que tinha acesso?
Aquela era outra pergunta sem resposta. Ninguém queria pensar nisso, com medo de assumir o quanto foram tolos e acreditar em Snape aquele tempo todo.
- Então, para aonde vamos? – perguntou o Srº Weasley.
Ninguém respondeu. Cada um buscava em sua memória um lugar que fosse e fácil acesso, que oferecesse proteção a todos eles e que os deixasse longe dos olhos de curiosos, para que pudessem trabalhar.
- Proponho que cada um pense nisso e amanhã, todos estejam aqui no mesmo horário para que possamos decidir onde será a nova sede da Ordem – disse o Srº Weasley dando a entender que a reunião precisaria ser encerrada.
Um a um eles foram saindo do galpão e aparatando. O “dever de casa” dado pelo pai de Rony era particularmente complicado, já que grande parte do mundo bruxo já estava sendo vigiado pelos comensais de Voledmort.
O dia passou com Rony e Harry discutindo se conheceriam algum lugar interessante.
- Bom, tem a Casa dos Gritos – lembrou Rony – que eu saiba ninguém vai lá até hoje.
- É... é um lugar! – concordou Harry – mas fazer aquele lugar sumir, assim como a casa do meu padrinho, vai ser complicado, pois de um jeito bem mórbido, aquela casa é um ponto turístico.
- Isso é! – admitiu Rony – Nossa, isso vai ser bem mais complicado do que imaginei.
- Pelo menos estamos na Ordem. E se tudo der certo com as nossas corujas, também teremos que encontrar um lugar para nos reunir com a Armada.
- Meninos! – chamou a Srª Weasley – Preciso de ajuda aqui. Enquanto discutem seja lá o que quer que estejam discutindo, que tal procurar uma coisa para mim lá no sótão.
Harry olhou meio assustado para o amigo, lembrando do vampiro que morava naquela casa.
- Ah, já até sei o que está penando – disse a Srª Weasley vendo a cara do rapaz – o Nestor foi embora. Essa confusão toda de luta do bem contra o mal o deixa meio confuso. Sabe como é, os vampiros são seres malignos, mas Nestor acostumou-se com a gente e vez ou outra até me ajudava a manter a casa limpa da presença de outras criaturas como duendes zombeteiros.
- Ah, então, por mim tudo bem - respondeu Harry visivelmente aliviado.
Eles subiram as escadas após as explicações da mão de Rony e abriram a porta do sótão. Era um lugar muito grande e eu Harry confirmaria mais tarde, era encantado para caber todas as coisas que os Weasley guardavam.
Havia móveis de todos os tipos, incluindo berços, escrivaninhas corroídas por cupins e outras tantas completamente cobertas por uma espessa camada de uma substância que assumia cores diferentes.
- São trullis, - explicou Rony – um tipo de mofo que vive aparecendo aqui em casa. E não tem como limpar. Quando pega um móvel, o melhor a fazer é joga-lo aqui no sótão. Dependendo do tipo de madeira usado o trulli fica com uma cor diferente.
A quantidade de objetos estranhos quebrados ou simplesmente obsoletos era enorme. Brinquedos antigos, roupas velhas penduradas em cabides, sapatos que andavam sozinhos por todo lado. Isso sem contar nas inúmeras teias de aranha que deixavam tudo com um ar muito sombrio.
Havia uma única janela no sótão, e ela não era aberta há mais de 15 anos. Assim, o ar ali dentro era frio e tinha um cheio de velho.
- O que é mesmo que sua mãe quer que a gente encontre? – perguntou Harry.
- Ah, ela quer uma caixa com uns documentos. É a única coisa que falta para concluir o processo de regularização do casamento do Gui. Ele e Fleu decidiram que vão se casar numa cerimônia bem simples. Mas a burocracia é a mesma de um grande casamento.
Eles começaram a revirar as caixas à procura dos documentos. Encontraram todas as cartas deaceitação em Hogwarts, os informes sobre quem seria monitor ou não, todos os bilhetes da escola ou do serviço do Srº Weasley.
- Não está por aqui – disse Rony com poeira até nos cílios.
- Vamos procurar em outra caixa – assomou Harry.
As caixas eram esvaziadas, todos os pergaminhos e cartas observados, mas nenhuma continha o tais documentos. Eles precisavam organizar isso aqui, penou Harry enquanto abria uma enorme caixa de papelão, já meio enrugada e levemente torta, cuja tampa estava meio levantada devido ao imenso volume que a caixa guardava.
- Uau! – exclamou ele.
- O que foi? – perguntou Rony vindo em direção ao amigo.
- Quantas fotos tem nessa caixa! E olha, tem cada uma...
Ele começaram a mexer nas fotos, observando cada imagem. Eram fotos de cada um dos Weasley, incluindo os avós de Rony. Algumas fotos da formatura de Molly e de Arthur quando saíram de Hogwarts.
Também puderam ver fotos da festa de casamento dos dois, do nascimento de Carlinhos, Gui, Percy, Fred e George, Rony e Gina. Aniversários, momentos de família e coisas do tipo.
Rony estava se divertindo muito com tudo aquilo, até que reparou em Harry. O rapaz estava sentado sobre as pernas e segurava uma fotografia emoldurada.
- O que é isso que você tem aí? – quis saber o jovem de cabelos vermelhos.
- Uma foto, em que meus pais aparecem...
- Não sabia que meus pais tinham fotos aqui da sua família.
- São várias pessoas... Olha – chamou Harry – aqui estão os meus pais, este aqui é o meu padrinho, o Lupin, Dumbledore, os pais do Neville...
- É muita gente, o que será que estavam fazendo juntos?
- Espere, eu já vi uma foto assim... É a foto da primeira formação da Ordem da Fênix.
Eles desmontaram a moldura e retiraram a foto. Ali estava realmente escrito o que aquele grupo fazia junto.
O encontro da Ordem – 10º dia
- Uau! Isso tem quase 18 anos! – exclamou Rony.
- Acho que nessa época eles nem pensavam que íamos existir...
O comentário de Harry fez os dois ficarem quietos, observando a foto. Depois de alguns instantes Rony levantou e disse:
- Mas existimos e temos que encontrar essa caixa de documentos se não quisermos ver minha mãe tendo um ataque de nervos. Ela fica absolutamente histérica. Muito mais do que tudo o que você já viu!
Eles voltaram a procurar os documentos e só os encontraram quase duas horas depois, embaixo de um velho cesto de carregar frutas, que estava cheio de pó e teias de aranha.
Esse último detalhe acabou deixando o serviço “sujo” para Harry, visto que Rony ainda sofre com o medo que sente de aranhas.
Quando os dois desceram com os documentos o jantar estava quase pronto e todos os membros da família Weasley, exceto Percy, já se encontravam na sala.
- Olha só para vocês! Totalmente imundos! – falou a Srª Weasley – Vão imediatamente tomar um banho e desçam para comer. Nós vamos esperar.
Pouco depois, os dois voltavam com roupas limpas, sem teias nos cabelos ou poeira velha nas mãos. Os documentos já haviam sido entregues a mãe do garoto e eles se sentavam para jantar.
A Srª Weasley não tivera muito tempo para se dedicar ao jantar e preparou apenas um ensopado de legumes com carneiro e pão branco. De sobremesa apenas frutas carameladas.
Após a refeição, eles se sentaram na sala para ouvir um pouco de música e relaxar, pois o dia seguinte seria decisivo para todos. Inclusive a data oficial do casamento de Gui e Fleur dependeria da reunião da Ordem e das novidades trazidas pelos membros.
Num certo momento, Harry se aproximou do Sr° Weasley e mostrou-lhe a foto que achou junto com Rony no sótão.
- Oh, sim! Esta foto me traz lembranças muito boas, Harry. Eram tempos difíceis, com certeza. Mas foi uma época de grandes bruxos, grandes batalhas e grandes amizades.
Molly Weasley se aproximou do marido e fez sinal para que os filhos se aproximassem também.
- Quase ninguém sabia da nossa existência. Fora da Ordem só alguns informantes de Dumbledore, alguns funcionários do Ministério e talvez os nossos familiares. Como Molly e eu vivíamos por conta da Ordem, minha tia Muriel veio passar uma temporada aqui para cuidar das crianças.
- Ei, - chamou Gui – era por isso então que a gente foi obrigado a tomar sopa de ervilha quase todos os dias?
- Isso mesmo – respondeu o Sr° Weasley entre risos – Ela foi excelente com vocês e Deus sabe o que teria acontecido sem ela por perto.
- Como eram os meus pais? – perguntou Harry sem jeito – Digo, porque vocês nunca falaram deles...
- Seus pais, Harry – começou a Srª Weasley – eram pessoas extraordinárias. Sempre foram!
- Seu pai sempre estava bem humorado e conseguia fazer todo mundo sorrir. Já sua mãe, tinha um olhar tão cativante, tão bondoso que Dumbledore costumava brincar que ela conseguiria amolecer o coração de um dementador.
Cada um na sala ouvia as palavras com o máximo de atenção e não perceberam os olhos de Harry brilharem e encherem de lágrimas.
- Sabe – continuou o Sr° Weasley, olhando para a mulher com carinho – esse foi um dia particularmente especial! Nós até fizemos uma comemoração na reunião. Foi quando a Molly descobriu que o Rony estava a caminho.
O jovem Weasley corou ligeiramente quando todos olharam para ele.
- Foi divertidíssimo – comentou Molly – sua mãe, Harry, ficou eufórica! Ela achou que aquele era um bom presságio! Dumbledore mandou trazer um bolo e algumas garrafas de cerveja amanteigada e suco de abóbora. Acho que foi das poucas reuniões que todos ficaram tranqüilos.
- Onde foi essa reunião? – perguntou Gina.
- Ah, foi no porão do Cabeça de Javali. Nós sempre nos encontrávamos lá, mesmo antes dos problemas começarem. Então Dumbledore sugeriu que as reuniões continuassem lá para não levantar suspeitas. Além disso, ficava bem mais fácil para ele participar sem se ausentar de Hogwarts por muito tempo.
Harry e Rony se entreolharam e depois olharam novamente para o Sr° Weasley.
- O Cabeça de Javali? Eram lá as reuniões? E por que mudaram de lugar? – perguntou Harry.
- Ah, Dumbledore achou melhor nos mudarmos para ter mais segurança, já que ele não poderia colocar aquele feitiço num bar que todo mundo conhece!
A conversa continuou com os pais de Rony contando como as coisas aconteceram na época que Voldemort ascendeu a primeira vez.
Quando os dois amigos foram para o quarto se preparar para dormir Harry tinha muitas idéias na cabeça.
- Olha só – disse chamando Rony – o Cabeça de Javali é uma possibilidade. Afinal, ninguém vai suspeitar que nós vamos nos encontrar num local assim, tão visível!
- Mas é meio longe, não acha?
- Sim, mas o pessoal pode aparatar, pode usar pó de flu...
- E a gente? Como vamos fazer para participar das reuniões? Porque que eu me lembre a gente não passou no teste de aparatação...
- Bom, então entra a segunda parte do que eu estou planejando!
- O que é?
- Vou ter que voltar para Hogwarts!
Rony olhou o amigo com uma expressão de incredulidade no rosto.
- Eu achei que você não quisesse mais ir para lá.
- E não queria mesmo. Mas depois de tudo o que aconteceu, acho que vai ser melhor. Estando no castelo tenho um álibi perfeito. Ninguém vai desconfiar de mim para nada. Além disso, tem alguma coisa errada, alguma coisa que está me escapando e que eu sinto que só vou entender se voltar a Hogwarts.
- Bom, se você vai voltar eu não preciso mais ensaiar o discurso que preparei para explicar pra minha mãe porque ia largar a escola! Isso vai ser um alívio...
- E acho que até a Gina vai poder participar das reuniões mesmo que for escondida. Ela pode usar a capa do meu pai e ir pela passagem da Casa dos Gritos.
- Acho que ela vai adorar a idéia! E estando em Hogwarts fica mais fácil informar a Armada sobre o que estamos fazendo o que cada um pode fazer para ajudar.
- Preciso dormir – comentou Harry – meus olhos estão brigando comigo para ficarem abertos!
- Também estou com sono!
- Boa noite, então! – disse Harry tirando os óculos e afofando o travesseiro de penas para deitar.
- Só mais uma última coisa, Harry.
- Pode dizer – respondeu o rapaz virando-separa tentar enxergar o amigo na penumbra.
- Bom, é que eu pensei, quando meu pai falou que conheceu seus pais e que sua mãe gostou de saber que a minha estava grávida e tals...
- O que é que tem?
- Acho que nós teríamos sido amigos desde pequenos se não levassem você para os trouxas.
- Você tem razão! E nem imagina a falta que me fez esse tempo todo que eu fiquei lá. Agora preciso mesmo dormir! Boa noite, Ron!
- Noite, Harry!
Rony ouviu Harry ressonar logo em seguida. Estava comovido com as palavras do amigo. Pensou o quanto fora injusto sentindo ciúmes dele com Mione. A amizade deles valia mais. E se Mione preferisse Harry, bem, paciência! Harry era realmente um cara legal!
Ele dormiu profundamente, e teve o mesmo sonho com Mione. Mas agora ele estava mais calmo. Sabia o que fazer para andar ali e tentaria avisar a amiga que já tinha ido buscar ajuda e que logo ela estaria salva.
Mas uma visão nova chamou sua atenção. Ele estava pouco atrás do lugar onde apareceu da primeira vez. Agora, a sua frente havia uma pequena cabana de madeira e pedras bastante danificada.
Ele se aproximou devagar e percebeu uma leve iluminação dentro do local. Procurou uma fresta de onde pudesse enxergar quem estava lá dentro.
Para seu completo espanto, Mione agora estava lá e parecia bem cansada e doente. Um homem alto, de voz arrogante falava com outro que estava ajoelhado ao lado da menina.
- Eu disse que você deveria ser mais cuidadoso! Ela não pode morrer! Pelo menos por enquanto, temos que mantê-la viva.
- Só fiz o que mandaram. Era para deixá-la apavorada, fazê-la sangrar e gritar muito!
- Não estou dizendo que não apreciei o seu trabalho. Eu mesmo queria dar cabo dessa sangue-ruim metida a sabe-tudo.
- É você deve odiá-la mesmo. Eu também a odiaria se ela tivesse me deixado uma marca tão feia quanto essa no seu olho – respondeu o bruxo que cuidava de Mione parecendo se divertir com a imagem do bruxo machucado.
- Essa maldita! Ainda vou acabar com ela pessoalmente. E isso não é uma ameaça, é uma promessa!
Havia tanto ódio na voz do homem que Rony sentiu que se não resgatassem Mione logo, ela acabaria vítima dessa raiva.
- Ande – falou o outro mais uma vez – termine logo com isso para devolvermos a garota à ilha. Os Inferis precisam se alimentar.
- Ela não pode voltar para lá hoje! A energia vital dela está no fim. Se sugarem mais alguma coisa, ela pode morrer e o ritual será totalmente desperdiçado.
- Então, quem vai cuidar dela? Eu tenho mais o que fazer.
- Eu também preciso sair, mas pode ir sossegado! Vai ser impossível alguém achá-la aqui. E mesmo que ache, como vai conseguir sair? Só nós podemos aparatar aqui, esqueceu do tributo?
Os dois deram uma forte risada e aparataram em seguida. Rony correu para dentro da cabana, pegou a mão de Mione e viu o quanto a amiga estava ferida.
- Foram os abutres, eu aposto!
Mione apresentava marcas de bicada pelos braços e pernas. As vestes dela estavam muito rasgadas e quase apodrecidas. O cabelo estava encharcado e cheio de penas que certamente caíram das aves quando Mione tentava se defender. Ele pôs a mão sobre a testa da garota e constatou que ela estava febril.
- Por favor, - pediu Rony – melhora, vá? Eu preciso de você viva e bem, ta? Mesmo que for para ficar com Harry...
A garota se mexeu um pouco e abriu os olhos.
- Ron? – disse com a voz fraca – É você que está aqui?
- Sim – respondeu emocionado – sou eu sim! Eu vim te avisar que vamos arrumar um jeito de tirar daqui, ok? Fica tranqüila. Eu não vou deixar você sozinha!
Ela fez um aceno com a cabeça e começou a fechar os olhos de novo. Deu um leve sorriso e voltou a dormir.
Nesse momento Rony acordou. O sol estava quase nascendo e ele se levantou e foi para a janela. Ele ainda sentia as mãos de Mione entre as dele e podia ouvir a voz enfraquecida e sussurrada da garota.
- Até assim ela consegue ficar bonita – disse para si mesmo.
- Ela quem? – perguntou uma voz atrás dele fazendo ele quase desequilibrar do móvel em que estava sentado.
- Que susto, Harry! Você devia fazer barulho quando anda na casa dos outros de madrugada!
- E você devia fazer menos barulhos quando divide o seu quarto com alguém! Mas de quem você estava falando?
Rony procurou uma resposta rápida. Não queria que Harry pensasse que ele poderia atrapalhar seu relacionamento com Mione. Olhou pela janela e encontrou a desculpa que precisava.
- A lua. Está linda, coberta pelas nuvens, só deixando uma marca de luz!
- E desde quando você curte olhar a lua? – estranhou Harry.
- Eu não curto olhar a lua, só olhei e achei bonita! – respondeu tentando desconversar – Mas me diz aí por que está acordado? Eu fiz tanto barulho assim?
- Na verdade não, só que eu perdi o sono... E você?
- Ah, eu tive um daqueles sonhos malucos com a Mione, sabe?
- E como foi?
Rony narrou detalhadamente o sonho para Harry e ele concordou que aquele deveria ser o primeiro assunto da reunião.
- O que vamos fazer até a hora chegar? – perguntou Rony – Eu não estou com nenhuma vontade de voltar a dormir.
- Também não... Acho que a gente poderia deixar tudo arrumado, não é? Digo, lá no galpão, para não perder tempo quando o pessoal chegar.
Eles desceram as escadas o mais silenciosamente que conseguiram e correram em direção ao galpão. Rony ajeitou as cadeiras em um semi-círculo enquanto Harry ajeitava caixotes e tábuas na frente para formar um pequeno púlpito.
Ainda trataram de varrer um monte de folhas secas e amontoar as tralhas de trouxas que o Sr° Weasley colecionava.
A manhã finalmente chegou e eles acharam mais prudente voltar para casa antes que a Srª Weasley tivesse um surto acreditando que os dois haviam sumido. Eles entraram na cozinha e já encontraram a mãe do garoto preparando o café da manhã.
- Onde estavam? – perguntou curiosa e preocupada.
- No galpão, arrumando as coisas para a reunião de hoje a tarde – respondeu Rony.
- Muito bem, então sentem e comam alguma coisa.
Eles começaram a comer quando Gina desceu ainda de pijama. Harry ficou vermelho vendo o quanto ela ficava bonita naquela roupa tão diferente dos uniformes da escola. Era apenas um camisetão rosa estampado com vassourinhas e um short curto de um rosa mais escuro.
Harry desviou o olhar para o prato antes que ela pudesse perceber alguma coisa, mas não foi rápido o bastante para disfarçar do olhar atento de Rony.
O irmão de Gina, por sua vez, não gostou nada do que viu. Era um desrespeito com Mione, pensou.
Ele saiu da mesa antes que Harry acabasse de comer e o resto do dia evitou ficar com o amigo, a quem passou a considerar um cara meio “sacana”.
Harry não entendia o que estava acontecendo, mas decidiu pensar nisso depois. Suas atenções estavam todas voltadas para a reunião.
Os bruxos começaram a chegar e todos paravam na cozinha para fazer um lanche rápido. Depois iam para o galpão e esperavam sentados em grupos conversando sobre o que tinham conseguido apurar.
Basicamente, nada mudara. Os ataques continuavam e o chamado dos dementadores era cada vez mais comum. O ataque aos pais de Mione foi confirmado, mas o paradeiro dos pais da garota havia se perdido com Dumbledore.
Quando a reunião foi oficialmente começada, o Sr° Weasley passou a tomar nota dos tópicos levantados pelos membros. E mais uma vez Rony pediu atenção com a mão levantada como se ainda estivesse na escola.
- Sim, Ron, o que quer falar? – perguntou o pai do rapaz.
- Mione foi retirada da ilha.
Um silêncio brutal tomou conta do lugar.
- Quero dizer, eu tive outro sonho e nele Mione estava numa cabana que existe lá. Ela estava muito mal, ferida e com febre. Pelo que eu entendi, tem dois comensais cuidando dela. Não entendi muito bem o que isso quer dizer, mas eles estão usando Mione para alimentar os inferis. E quando eles estiverem prontos, Mione vai ser morta.
Rony fazia um esforço sobre-humano para conseguir passar as informações sem revelar o quanto aquela possibilidade lhe doía.
- Além disso, - continuou – é impossível sair de lá. Só os comensais conseguem aparatar graças a um tributo.
- Tributo? – perguntou Moody.
- Sim, isso é muito comum – explicou Lupin – As antigas forças das trevas sempre utilizaram o recurso do tributo. É um jeito de identificar quem é bem vindo e quem não é bem vindo. Você precisa deixar uma parte de si mesmo, como um pouco de magia, sangue ou qualquer coisa que prove quem esteve lá e quem não esteve.
- Eu sei o que é um tributo – ralhou Moody – só achei estranho utilizarem isso.
- Provavelmente, o que estão fazendo com Mione é muito importante e eles não querem sofrer interrupções – assomou Tonks.
- Bem, então temos mais um problema. Vamos nos concentrar nisso depois. No momento é preciso que a gente determine onde serão as próximas reuniões. Aqui é um lugar muito arriscado – falou o Sr° Weasley.
- Posso dar uma sugestão? – pediu Harry.
- Claro!
- Acho que o melhor lugar seria o último em que pensariam em nos procurar. Um lugar de fácil acesso para todo mundo, onde se possa aparatar e entrar e sair sem levantar suspeitas.
- Isso é óbvio – comentou a professora McGonagal.
- Nos livros que eu costumava ler quando freqüentava a escola trouxa – continuou Harry – os vilões nunca se lembravam de procurar seus inimigos em locais que eles já tinham estado antes.
- O que quer dizer, Harry? Seja mais explícito – pediu Quim.
- Estou querendo dizer que ninguém vai suspeitar de nada se a Ordem se encontrar num lugar público. Num bar, como o Cabeça de Javali. Já foi sede da Ordem, todos sabem onde fica e ninguém vai imaginar que estaríamos planejando qualquer coisa em um bar a que todos têm acesso.
- Bela idéia, Potter – elogiou Minerva – e para mim fica muito melhor, já que não terei que me distanciar muito de Hogwarts.
- E nós – adiantou-se Rony – também poderemos participar sem que ninguém saiba.
- Então, se todos concordarem, temos que falar com Abeforth e ver se ele permite – disse Lupin.
- Deixem que eu cuido disso – pediu Moody – Abeforth e eu já fomos muito amigos, até ele começar com as esquisitices de sumir no meio do nada. Vai ser uma boa oportunidade de retomar essa amizade.
- Quanto à Mione – disse Tonks, voltando ao assunto – o que iremos fazer?
- Isso é que é complicado! Porque mesmo que encontremos o local, como vamos saber que tipo de tributo é esse que deve ser pago? - raciocinou Minerva.
- Acho que não dá para saber - observou o Sr° Weasley.
- Será que aqueles abutres também tiveram que pagar tributo? – brincou Harry tentando descontrair um pouco.
Lupin olhou para Harry com uma expressão bem estranha no rosto.
- O que foi? – perguntou o rapaz assustado.
- Os abutres... É essa a chave, Harry! – falou bem entusiasmado.
- Do que está falando, Lupin? – perguntou Rony.
- É simples! Uma barreira mágica só exige tributo de seres mágicos.
- Lógico! – exclamaram Quim e Moody ao mesmo tempo.
O primeiro continuou:
- Olha, Harry, uma barreira mágica identifica seres mágicos. Se ela for feita através de magia negra vai exigir um tributo para ser atravessada. Se for uma magia branca, apenas registra a presença de quem quer que a tenha atravessado.
- No entanto, - interrompeu Moody – animais não possuem aura mágica e por isso não são detectados. Assim, qualquer bicho que não seja dotado de poderes, ou seja tido como criatura mágica, pode atravessar a barreira sem sofrer dano.
- Então, é mais ou menos como funcionavam as barreiras de Hogwarts, que, a propósito, devem estar refeitas até a próxima segunda-feira para que possamos retomar as aulas – ajuntou a professora Minerva.
- Mas onde vamos arrumar um animal que seja treinado para conseguir tirar Mione de lá? E como fazer para pagar o tributo por ela, já que ela está tão fraca? – perguntou Rony.
- Eu sei quem vai nos ajudar. Mas preciso falar com essa pessoa primeiro antes de comentar qualquer coisa – disse Lupin – Espero ter a resposta até amanhã cedo, no máximo! Enquanto isso, seria bom se algum de vocês dois aí fosse estudar um pouco para descobrir onde ficam os campos de Zingiba. Mione não pode esperar mais.
Antes de qualquer outra conversa, Lupin se levantou e partiu apressado. Nem se despediu de Tonks direito.
Todos decidiram esperar a próxima reunião que, se Moody tivesse sucesso, seria no Cabeça de Javali.
Rony saiu sem esperar por Harry e correu para o quarto. Harry foi atrás do amigo, mas achou a porta fechada. Tentou forçar a maçaneta, mas a porta fora trancada. Bateu com força chamando:
- Ron, que foi?
O jovem Weasley não abriu e Harry puxou sua varinha.
- Alorromora! – disse apontando para a fechadura e abriu a porta.
Rony estava sentado na cama com a foto de Mione na mão. Olhou para Harry com um misto de vergonha e raiva.
- O que é que está acontecendo, você pode me dizer? Ficou desse jeito o dia todo, mal falou comigo depois do café e agora tranca a porta e fica aí com essa cara?
- Por que é que você não me diz o que está acontecendo? – respondeu Rony se exaltando.
- Do que você está falando?
- Com qual delas você quer ficar afinal? Com a minha irmã ou com a Mione? Porque eu não acho isso justo. Primeiro você fica com a minha irmã, depois quando Gina não está por perto você fica com a Mione e agora que a Mione está longe e em perigo você volta a olhar para Gina daquele jeito?
Harry ficou atônito. A boca entreaberta e o olhar incrédulo.
- E não me olhe com essa cara de desentendido. Só escolhe uma das duas e pronto.
Harry não agüentou e começou a rir.
- De onde você tirou que eu fiquei com a Mione?
- Como assim? De tudo, ué! Vocês ficaram morando juntos durante três semanas e fizeram compras, passearam e tudo o mais.
- Bom, nó moramos na mesma casa, fizemos compras e passeamos. O “tudo o mais” só aconteceu na sua cabeça!
Rony ficou sem graça. Não sabia o que dizer para o amigo.
- Poxa, até parece que você não me conhece! A Mione é minha melhor amiga! É como se ela fosse minha irmã! Só isso! Eu e Mione juntos seria o mesmo que você casando com a Gina.
- Credo, para com isso!
- Ta vendo! É essa a minha reação! Não dá pra me imaginar junto com ela.
- Mas ela se imagina junto com você – respondeu meio entristecido.
- Não entendi!
- Ah, é que no trem ela veio me perguntar se ia pegar mal ficar com você lá na casa e se a Gina ia ficar com raiva dela.
- Ela não me disse nada sobre isso. A não ser que... – Harry parou de falar lembrando a última discussão que tiveram na casa.
- A não ser o quê?
- No último dia ela discutiu comigo. Eu disse que nós três éramos como irmãos e ela se ofendeu e disse que as coisas já não eram bem assim. Será que ela gosta de mim?
Harry tinha o olhar meio atordoado. Balançou a cabeça para tirar aquela idéia de seu pensamento. Ele gostava de Gina. Mas se Mione gostasse dele, ia ser muito confuso. Magoar sua melhor amiga era a última coisa que ele queria.
Nesses pensamentos ele abaixou a cabeça e viu a foto na mão de Rony.
- Que foto é essa? - disse enquanto pegava o pedaço de jornal da mão distraída do amigo.
- Não, Harry, devolve – pediu Rony assustado.
- É uma foto da Mione! O que você estava... – ele parou de falar assim que entendeu o que estava acontecendo.
Rony ficou vermelho como há muito tempo não ficava. Tomou a foto das mãos de Harry e guardou na gaveta da cômoda ao lado da cama.
- Nossa – comentou Harry – então você gosta da Mione. Uau! Isso é incrível!
- Não é pra tanto – respondeu sem graça.
- Claro que é... Nunca ia imaginar... Há quanto tempo?
- Não quero falar sobre isso.
- Ah, qual é Rony? Eu sempre te contei tudo...
- Ta bem... desde o segundo ano!
- Uau! E por que você nunca falou nada com ela?
- Eu não tinha coragem. E se ela se chateasse? E se deixasse de falar comigo? E agora, depois de tudo, bem, tem você na vida dela.
- Mas eu não sei se ela gosta mesmo de mim. A gente só supôs...
- Olha, isso é o menos importante. Eu só quero vê-la bem e longe daquele lugar. Depois disso, ela pode ficar com quem quiser que eu não vou me importar!
- Está certo! Vamos mudar de assunto, então!
Eles conversaram sobre a demora das corujas, da volta as aulas na próxima semana e da possibilidade de se reunirem no Cabeça de Javali.
Jantaram muito pouco aquela noite e foram dormir. Levantar antes do sol nascer não os deixou muito bem dispostos e antes mesmo das 21 horas eles estavam dormindo.
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