As sombras da infância
- Rápido! Vamos sair daqui! Concentrem todas as suas forças agora e corram!
Ao dizer essas palavras, Harry levantou-se do chão de um salto e começou a correr em direção à saída, seguido de perto por Rony e Hermione. O leão, a lontra e o veado continuavam brilhando atrás do trio, espantando os dementadores do contato com os bruxos. A esperança voltou a invadir o peito de Harry quando ele finalmente respirou o ar do lado de fora de Askaban. O salão fedorento e de luzes azuis bruxuleantes havia ficado para trás. Depois de correrem até o início da floresta que circundava a prisão, os três bruxos baixaram a guarda e chamaram de volta seus patronos sem, no entanto, encerrar o feitiço.
- Rony! Rony, você conseguiu! – Hermione pulava de um lado para o outro, as lágrimas escorrendo no rosto emoldurado pelos cabelos castanhos, mais desgrenhados do que nunca.
Rony olhava meio abobado, ora para o patrono que conseguira conjurar, ora para Hermione. Em nenhuma reunião secreta da Armada de Dumbledore ele conseguira tal feito. O máximo que o ruivo conseguira havia sido um pequeno filete de fumaça que saia da ponta da varinha. Além de muito suor, que brotava de sua testa pelo esforço. Mesmo com todo o incentivo de Harry, Rony nunca fora capaz de produzir o patrono, até então. E o ruivo estava tão surpreso consigo mesmo quanto os dois amigos. Mas o que o deixava ainda mais boquiaberto era o formato assumido pelo feitiço: um belo leão, com uma juba prateada e reluzente, patas com garras fortes, e uma cauda comprida. O leão olhava para Rony com uma espécie de carinho e respeito entre criador e criatura. Harry poderia jurar que ambos estavam travando uma conversa íntima, e que muito provavelmente o leão prometia a Rony jamais abandoná-lo.
Foi quando surgiu a Harry uma idéia, iluminando-lhe a mente: “Leão... Grifinória... Rony é o herdeiro de Griffyndor!”. Não era difícil chegar a esta conclusão. Os Weasley eram uma família de bruxos muito antiga e tradicional. Todos os membros que Harry conhecia faziam parte da Grifinória. E ele se lembrava da fala do chapéu seletor ao selecionar Rony no primeiro ano de Hogwarts: ”Hummm... mais um Weasley. Já sei para onde você vai: Grifinória!”. Não era por acaso que Gina também havia sido selecionada para a casa. Não era por acaso que o patrono de Rony era um leão! Mas por que então a espada de Griffyndor havia aparecido para Harry quando ele enfrentou Tom Riddle na Câmara Secreta? De repente, ocorreu-lhe que só podia ser por causa de Gina. Se Rony era o herdeiro de Griffyndor, todos os seus irmãos também o eram. E a espada e o Chapéu Seletor vieram em auxílio de Harry para proteger a vida da herdeira da casa de Grifinória! Será que a presença de Rony na batalha final poderia significar uma ajuda mágica extra para Harry?
Todas essas idéias faziam o cérebro do bruxo trabalhar a mil por hora. Tanto que ele só foi capaz de notar a comemoração de Rony e Hermione depois que os dois estavam se beijando apaixonadamente. Foi quando Harry se deu conta de que acontecia o inevitável a tanto tempo: seus dois melhores amigos assumiam a paixão que sentiam um pelo outro desde a infância. O ruivo segurava os cabelos revoltos de Hermione, que insistiam em voar no rosto da garota enquanto ela depositava em seus lábios o beijo da paixão refreada e guardada durante tantos anos. O beijo que ela julgou nunca poder dar quando viu a alma e a alegria de Rony sendo sugadas pelo dementador. Mas nada disso tinha a menor importância agora. Era como se o dementador fizesse parte de um passado distante. Da tristeza e da luta ficaram apenas a lembrança amarga, a cor e o cheiro da morte. Mas lembranças não são nada diante da força do amor verdadeiro.
As varinhas de ambos continuavam ainda produzindo os patronos. Lontra e leão olhavam atentos seus donos, bruxos poderosos com patronos poderosos unidos por uma magia antiga e profunda. Harry sentia orgulho deles, mas ao mesmo tempo, sentia falta de Gina e da própria magia da ruiva. Poderia estar com ela agora, se as coisas fossem mais fáceis para ele. Se ele não tivesse que carregar um fardo tão pesado quanto aquela profecia, que fazia questão de brilhar em sua mente o tempo inteiro, quase como se ela estivesse escrita com a pena especial para detenções da sapa velha Dolores Umbridge. Inconscientemente, massageou a mão, ainda marcada pela cicatriz produzida pela Alta Inquisidora de Hogwarts.
Hermione foi a primeira a pensar de forma mais racional. Desvencilhou-se do abraço de Rony, mas não sem antes afagar o alto dos cabelos do ruivo, e trouxe o patrono de volta para a varinha. Harry já havia recolhido seu veado, e Rony seguiu o exemplo dos amigos. O trio precisaria de força para enfrentar os próximos desafios que estavam por vir, sendo assim, era bom poupar energia. Resolveram adentrar um pouco na floresta antes de prosseguir a viagem. Harry precisava de um tempo para pensar em tudo o que havia acontecido naquele dia. Não queria mais colocar os amigos e a si mesmo em riscos desnecessários, portanto precisava calcular bem o próximo passo a ser dado. Além disso, as informações que conseguira em Askaban precisavam ser trabalhadas dentro da cabeça do bruxo: Mundungo estava morto. E o medalhão não estava com ele.
Era incrível como o tempo tinha passado devagar. Depois que deixaram as brumas de Askaban, foi possível ver que o sol estava a pino. Portanto, não poderia ser muito mais que meio dia. Era impressionante, afinal, há apenas dez horas o trio ainda estava na Toca. Mas agora tantos acontecimentos já haviam povoado a manhã: o encontro entre os amigos, a decisão de Harry de seguir para Askaban, o procedimento perigoso e ilegal de aparatação, a morte de Mundungo, os dementadores. Para Harry, tudo aquilo parecia uma vida, e não apenas uma manhã. Quantas mudanças! Agora era o momento de respirar, tentar analisar friamente os acontecimentos passados e prever os que estavam por vir.
O trio decidiu de comum acordo acatar a idéia de Hermione de seguirem viagem apenas durante a noite. Era perigoso tentar se locomover durante o dia, pois eles poderiam ser facilmente encontrados pelos Comensais da Morte. O confronto noturno poderia ser mais perigoso, mas pelo menos a escuridão não favoreceria nenhum dos dois lados, como apontara sabiamente a menina.
- Lacarnium Inflamare
Hermione acendia a fogueira, enquanto Rony e Harry dispunham os sacos de dormir do trio em volta dela. Apesar da temperatura amena de uma tarde de verão, os garotos sabiam que a chegada do fim do dia produziria um friozinho gelado. Além disso, precisavam cozinhar a pouca comida que haviam trazido, e isso seria um problema a longo prazo, dependendo do tamanho da viagem. Harry não pensara muito em comida quando deixou A Toca. E agora a preocupação com alimento era evidente, já que tinham gastado muita energia e precisavam recompô-la. Rony retirou da mochila algumas salsichas e um pedaço pequeno de pão, que dividiu em três. Pareceu a Harry que ele estava bem mais adulto que há algumas horas atrás, depois de conjurar o patrono e receber o amor de Hermione.
- Vamos dividir isso bem dividido. Melhor comermos pouco, mas o suficiente para uma viagem maior, do que passarmos fome depois – falava o ruivo enquanto cortava as salsichas e colocava num graveto para assá-las – Tenho aqui uma garrafa de cerveja amanteigada, mas acho melhor deixarmos para tomar em caso de frio extremo. Por enquanto, podemos conjurar um pouco de água mesmo. E enquanto comemos, vocês podem contar o que pensaram para produzir seus dementadores, que tal?
Hermione enrubescera de repente. Harry olhava os pés. Rony percebeu que tocara num assunto delicado. Para encorajar os amigos, começou a falar:
- Eu só consegui produzir o meu patrono quando vi o de Hermione. Fiquei tão feliz que alguém estava fazendo algo para nos salvar, que me senti um inútil se eu nada fizesse e deixasse aquele ser nojento se apoderar da minha alma. Então eu me lembrei do Quadribol. A taça que ganhamos para a Grifinória. Lembrei do time me carregando nas costas, da alegria que eu tive em ouvir todos gritando “Weasley é nosso rei”... – um sorriso saudoso passeou pelos lábios do ruivo – E quando eu me dei conta, lá estava ele, muito brilhante, saindo da minha varinha para ajudar a lontra de Hermione.
- Eu... – começou Hermione, corando novamente – Eu fiquei desesperada quando vi você, Harry, caído e com uma expressão de dor, e você, Rony, com aquele dementador asqueroso por cima de você. Então... então eu.... eu lembrei do momento em que, depois do xadrez de bruxo que jogamos no primeiro ano em busca da Pedra Filosofal, eu percebi que você ainda estava respirando, Rony. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida. E eu não podia deixar você morrer aqui, não dessa maneira estúpida, nas mãos daqueles... desses...
Hermione não conseguiu se conter e começou a chorar. Rony abraçou-a, e Harry deixou que os dois ficassem um tempo juntos. Assim, não precisaria contar sobre Gina, afinal, ainda era desconfortável para o moreno falar sobre isso com Rony, apesar de saber que o amigo não se importava. Ele achava que Rony até preferia Harry do que os outros garotos com quem Gina se envolveu. Mas mesmo assim, aquilo era uma lembrança dele, íntima demais para ser dividida. Era melhor guardar para si.
Foi quando a sombra de outras palavras começaram a se formar na cabeça de Harry. Palavras que andaram esquecidas por um tempo, mas que agora afloravam com uma intensidade perversa diante dos últimos acontecimentos. A outra profecia brilhou na mente do garoto, acendendo como se fosse um letreiro trouxa de neón: “Sete vezes o Lord das Trevas irá tentar, sete vezes ele terá a chance de matar. A última pode representar a morte daquele que o desafiar. Do sete ele veio, no rubro ele perecerá. A mistura do alvo e do preto o vermelho resultará. E assim a outra profecia terminará”. As frases se organizavam na mente de Harry e ele deixava os pensamentos fluírem, jorrarem apressados como água de torneira. Black... preto! Sirius fora o primeiro! Alvo... Dumbledore! E o diretor também perecera tentando ajudar Harry! O vermelho resultará! No rubro perecerá! Rubro... Rúbeo Hagrid! Harry entrou em desespero. Ele não seria capaz de perder mais uma pessoa que amava! Não que acreditasse nas profecias de Trewlaney, mas fora uma delas que transformaram a vida de Harry no inferno que ela era. E a forma etérea e desconectada da realidade com a qual a professora havia pronunciado a outra profecia tornavam-na ainda mais real. Ele tinha que fazer alguma coisa, tinha que destruir Voldemort antes que pudesse causar mal a mais pessoas que ele amava. Antes que o Lord das Trevas pudesse causar mal a Hagrid.
Sentado próximo a uma árvore de tronco enegrecido e bastante torta, Harry bufava, lutando contra seus próprios pensamentos. Como se o simples fato de pensar na profecia pudesse causar problemas para Hagrid. Hermione estava aninhada no colo de Rony, ambos levemente adormecidos perto da fogueira, apesar de o sol ainda estar brilhando. Os amigos estavam cansados, mas tinham encontrado um ao outro para se dar força. E Harry? Podia usufruir da força desse amor? Poderia contar com ele para também se sentir protegido? Ou a possibilidade do amor fora deixada para trás quando ele abandonara Gina na Toca? Eram tantas as perguntas... mas Harry não queria e nem podia se deixar levar por elas. Precisava ir em frente, custe o que custar. E o preço poderia ser sua própria vida... e pior... a vida daqueles a quem ele amava. Porque já não se importava mais se ele viveria. O que importava agora era salvar seus amigos e... e o mundo bruxo, uma missão um tanto quanto pesada para um garoto no auge dos seus 17 anos.
Harry se levantou e foi até a mochila, que estava próxima do casal. Rony, atento, abriu os olhos, e levantou os braços sobre Hermione com a varinha em riste numa das mãos, como que para protegê-la de qualquer perigo que pudesse estar ali. Ao ver que era Harry, o semblante do ruivo se desanuviou.
- Tá tudo bem, Harry? – disse o ruivo, esfregando os olhos.
Harry apanhou o medalhão falso na mochila e contemplou o rosto do amigo. Com o movimento, Hermione também abriu os olhos, e agora o casal fitava Harry e o medalhão que ele segurava.
- Essa é a horcruxe falsa, não é, Harry? – disse Rony, contendo a custo um bocejo.
- É sim, Rony. A horcruxe com o bilhete assinado por R.A.B, que penso ser Regulus Arcturius Black, irmão de Sirius...
- É! – disse Hermione, interrompendo a lógica do pensamento de Harry – Eu lembro desse nome escrito na tapeçaria do Largo Grimmauld! Ao lado do pequeno furinho queimado que deveria conter o nome de Sirius. Mas... Harry... Regulus está morto.
- Sim, Mione, era o que eu também pensava. Mas quando encontrei esse medalhão falso no bolso de... hum... Dumbledore – e Harry engoliu em seco ao dizer o nome do diretor – comecei a imaginar se ele não estaria vivo.
- Harry! Eu me lembro de um medalhão parecido com este! – disse Rony, empolgado.
- É! Eu também! – continuou Hermione – Estava no meio daquele monte de tranqueiras que tiramos dos armários quando a senhora Weasley quis fazer aquela limpeza, no mesmo dia que travamos a luta com as fadas mordentes das cortinas!
- Isso mesmo. E foi a suspeita de Regulus e do medalhão estar no Largo Grimmauld que me trouxeram até aqui – continuou Harry - Todos tentaram abrir o medalhão para ver o conteúdo, mas ele parecia lacrado. Acho que foi Monstro quem acabou recuperando-o do lixo que separamos. E minhas suspeitas caiam sobre Mundungo, pois nós o encontramos em Hogsmead tentando vender coisas que tinha roubado da casa de Sirius. Portanto, pensei que ao vir a Askaban, conseguiríamos encontrar ao menos com Mundungo, para saber que fim levou o medalhão original.
- Mas agora Mundungo está morto – completou Hermione, de um modo assombroso que fez os garotos arrepiarem com a simples lembrança do corpo dependurado naquele escuro e fétido corredor de Askaban.
- Sim, Mione, ele está morto. O que me faz ficar em dúvida de qual é o próximo passo que devo dar na busca pelas horcruxes.
Harry passou a mão pela testa, onde a cicatriz brilhava de suor. Era evidente que o próximo passo era como dar um tiro no escuro. Harry pensava nos lugares importantes onde Voldemort poderia ter escondido um pedaço de sua alma. Lugares onde ele tinha lembranças a guardar, que poderiam representar alguma coisa na história de ascensão do bruxo das trevas. E num estalo, Harry se lembrou:
- Claro! Como eu não pensei nisso antes? Vamos para Little Hangleton!
Joel Carter não era uma criança comum. Perdera os pais desde muito cedo, e a única coisa que sobrara deles era uma vaga lembrança e uma pequena taça de latão vagabundo guardada no armário do orfanato onde ele vivia desde que se conhecia por gente. Joel sabia que seu avô ainda estava vivo em algum lugar não muito distante dali, mas o ancião não tinha condições de cuidar dele. Os médicos diziam que o velho Carter tinha uma estranha doença. Apesar de suas faculdades mentais não estarem alteradas fisicamente, era considerado louco e tinha alucinações. Joel não entendia nada disso e nem se esforçava para tal. Não gostava do avô, um homem estranho, amargurado e trancado em suas próprias angustias.
O garoto de olhos cinzentos e cabelos muito pretos, contando agora com 15 anos de idade, era o mais quieto de todo o Orfanato. E também o maior e mais alto para a idade que tinha. Era considerado estranho por muitos internos e tutores, não se misturava aos outros para as brincadeiras, gostava de comer quando todos haviam deixado o refeitório e sua maior diversão era a leitura de livros doados aos internos.
Joel dividia o quarto com mais dois órfãos, mas instalara uma cortina em volta de seu espaço para ter mais privacidade. Seus pertences consistiam em uma cama, encostada na parede próxima a janela, um armário, onde o garoto guardava as poucas roupas que possuía, uma escrivaninha para estudos e a taça. Era uma herança de família que ele considerava um lixo, mas guardava movido por um ímpeto que parecia não ser seu. Muitas vezes pensara em se livrar do objeto, jogando-o fora durante algum mutirão de limpeza promovido pelo Orfanato. Mas o objeto dourado, produzido em latão como acreditava o menino, parecia exercer um estranho fascínio sobre ele cada vez que Joel tentava jogá-lo fora. Era como se uma voz sussurrasse em seus ouvidos que deveria guardar aquilo por mais um tempo. E ele se pegava indo atrás do lixo para recolher novamente para si a taça. Não gostava de admitir que ouvia essas vozes. Não queria ser considerado louco como o avô. A vida já não era agradável trancafiado num orfanato, mas Joel julgava que seria muito pior num hospício.
No entanto, aquela manhã havia sido inusitada para o garoto. Ele acordara com um estranho pressentimento, depois de um pesadelo nada agradável. Foi tomar um banho para tirar aquela sensação ruim, mas a imagem dos sonhos não abandonava seus pensamentos. Um homem muito branco, de feições que poderiam um dia ter sido belas, desprovido de nariz e com uma boca sem lábios, havia conversado com ele. O desconhecido usava uma capa preta e segurava nas mãos um estranho pedaço de madeira esculpido, que aparentemente parecia não ter utilidade alguma, pelo menos não era conhecida pelo menino. O homem disse que Joel precisava proteger aquilo que fora confiado aos seus antepassados. Caso falhasse, pagaria com a morte. A mera lembrança do pesadelo fazia o garoto engolir em seco.
- Que bobagem. Só me faltava essa, ter medo de um sonho, como esses bestas que vivem nessa espelunca. Acorde Carter, você é um homem ou um saco de batatas? – murmurava o garoto, enrolando a toalha em volta do corpo.
Ao sair do banheiro coletivo, percebeu que os corredores estavam anormalmente vazios aquela hora da manhã. Não era tão cedo que as pessoas não tivessem ainda se levantado. Onde estavam todos? Foi quando o garoto divisou no fim do corredor uma sombra, e o farfalhar de uma capa roçando de leve o piso de madeira carcomido pelo tempo. Joel se lembrava de que parecia estar saindo sol quando se levantara da cama para tomar banho. No entanto, agora, as janelas deixavam transparecer uma estranha névoa, algo não muito habitual para a época do ano. E por que raios alguém estaria usando uma capa comprida em pleno verão?
Joel continuou andando rumo ao quarto que ocupava, esperando encontrar o dono da capa ainda no corredor. Mas parecia que a pessoa tinha passos realmente compridos, pois apesar do comprimento diminuto do local, Joel não conseguira alcançá-lo antes de entrar no primeiro quarto. No seu quarto. A porta entreaberta não deixava dúvidas, pois Joel a havia trancado.
O menino empurrou a porta, que rangeu ao leve toque da mão humana. Um homem estava parado diante da cortina que envolvia a cama de Joel. Usava uma capa preta muito longa e luvas pretas de couro nas mãos. Tinha os cabelos muito bem penteados, loiros de um jeito quase prateado e muito curtos. Joel não conseguiu ver o rosto do estranho quando ele se virou, escondido por uma máscara de aspecto pavoroso. Não teve tempo nem de perguntar quem era. O estranho apontara para ele um objeto semelhante ao que ele vira o homem dos sonhos portar, a estranha ripa de madeira que parecia inútil aos olhos de um trouxa. Mas o que ele estava dizendo?
- Imperius!
O menino trouxa não teve tempo para pensar. A partir daquele momento, já não era mais comandado por si mesmo.
A noite caiu e pegou Harry ainda sem adormecer. Hermione e Rony resolveram tirar mais um cochilo antes de partirem, para recuperar as energias. Eles teriam uma pequena caminhada pela frente, já que não poderiam aparatar em pleno vilarejo trouxa. Harry não tinha certeza de onde ficava o Orfanato, mas sabia que deveria ser próximo a casa dos Riddle, em Little Hangleton. Não havia movimentação de bruxos por lá desde que os Riddle foram mortos, supunha Harry. Os Gaunt foram a última família bruxa que habitara o local, portanto, não era fácil aparatar por lá sem chamar a atenção dos trouxas que pudessem estar por perto. E a vassoura continuava sendo um problema: Hermione tinha náuseas só de pensar em voar. Além disso, só tinham a Firebolt de Harry, pois Rony não havia trazido a Cleensweep. Uma vassoura só para três era inviável, o que só deixava como opção para o trio caminhar com os próprios pés.
Os pensamentos do bruxo estavam longe dali. Harry observava Rony e Hermione adormecidos e duvidava que algum dia voltaria a dormir tranqüilamente. Não antes de acabar com Voldemort. Só depois disso ele poderia ter paz. E poderia voltar para Gina. A imagem da ruiva flutuava nos pensamentos de Harry, como um borrão vermelho que havia sido deixado no passado. Mas algo mais urgente a se pensar era uma maneira de proteger Hagrid. Harry não fazia a menor idéia de onde o meio gigante poderia estar. Talvez ainda com o irmão Grope, numa segunda tentativa de recrutar para as fileiras da Ordem da Fênix os gigantes que restavam no mundo bruxo. Mas onde eles estariam? Harry prometeu a si mesmo que faria uma pausa depois da busca no Orfanato para encontrar Hagrid e garantir que ele ficaria em segurança.
- Rony... Mione... – Harry murmurou próximo aos amigos, que acordaram sobressaltados. – Precisamos partir. Já escureceu e é melhor começarmos a caminhar. Executei um Feitiço das Quatro Pontas e sei que temos que seguir para o norte. Little Hangleton não é tão longe daqui, vamos caminhar mais ou menos uns dois dias, de acordo com meus cálculos.
- Mas Harry... – começou Hermione, já bastante desperta e cutucando um Rony de olhos abertos, mas ainda adormecido – Só podemos andar durante a noite, não tínhamos combinado assim?
- Sim, Mione. Vamos caminhar durante a noite. Em quatro noites, acredito que teremos cortado a distância necessária.
- Posso dormir mais cinco minutos? – Rony murmurava, os olhos fechados novamente.
- Quando eu digo que ele tem a amplitude emocional de uma colher de chá, ele reclama, Harry – murmurou Hermione, de maneira que o ruivo não pudesse ouvir, mas sem nenhum traço de maldade na voz.
Harry sorriu. Olhava para Hermione com um carinho especial. Sabia que ela estaria ao seu lado para o que desse e viesse agora. Rony também, apesar do sono. Depois de lavar o rosto com um pouco de água conjurada por Hermione, o ruivo parecia bem mais desperto e eles iniciaram a caminhada. Foram circundando a floresta e encontraram uma estrada de terra batida, provavelmente pouco utilizada pelos trouxas. Harry fez de novo o Feitiço das Quatro Pontas para que não perdessem o caminho certo. Percebeu que aquela estrada os conduziria exatamente ao destino pretendido, portanto, não poderiam se desviar dela. Apesar disso, não queriam caminhar na estrada e correr o risco de se encontrar com alguém, por isso margeavam o caminho embrenhados na vegetação. Era mais difícil, mas pelo menos eles se arriscariam menos. E aquela não era uma floresta bruxa, mas sim uma floresta trouxa, portanto os perigos oferecidos por ela eram mais fáceis de serem contornados por aqueles que possuíam poderes mágicos.
Nada aconteceu nos dias que se seguiram. A não ser o fato de que a comida do grupo diminuía drasticamente, parecendo acompanhar o animo de cada um. A esperança de Harry ao deixar Askaban já o havia abandonado, como se os dementadores estivessem atacando sua alma de longe. No entanto, Harry sabia que aquilo nada tinha a ver com as malignas criaturas. Tinha a ver com o fato de que ele não possuía um plano para adentrar o Orfanato. Aquele era um local trouxa, como ele poderia simplesmente chegar e revistar tudo? Sim, ele tinha a capa da invisibilidade, mas teria que fazer tudo sozinho, se quisesse usá-la. A capa já não era capaz de comportar a estatura de Rony, que tinha se tornado algo perto de um poste. Harry ainda não dissera aos amigos que pretendia entrar sozinho no prédio, e nem sabia o que encontraria por lá. Mas, apesar de todo o pessimismo, uma vozinha lá dentro da cabeça de Harry dizia que uma das horcruxes de Voldemort estava ali. Ele só não sabia qual.
Aproximaram-se do povoado de Little Hangleton no alvorecer do quarto dia de caminhada. Do alto de um morro que circundava o pequeno vale onde o povoado se localizava, o trio avistou o Orfanato. Era a segunda maior construção do local, perdendo apenas para a igreja da praça central. Harry olhou pensativo para Rony e Hermione, que pareciam aguardar as próximas instruções agora que estavam ali. O menino sentiu o peso daquela liderança dentro de si. No final, era ele quem precisaria enfrentar o Lord das Trevas, como em todas as outras vezes. Rony e Hermione estavam ao seu lado, mas até quando poderia contar com os amigos? Era uma pergunta pesada demais e sombria demais para povoar a cabeça de Harry agora, num momento em que ele precisava ser racional para decidir.
- Eu tenho um plano que não precisa esperar a noite para ser executado – começou Harry, como que para responder aos olhares ansiosos dos amigos. – Vou usar a capa da invisibilidade, entrar no orfanato e revistar os quartos a procura de algo que possa ter pertencido a Voldemort (Rony ainda estremecia ao escutar o nome).
- E se alguma coisa acontecer com você, como vamos saber? – indagou Hermione.
- Eu farei um sinal. Lançarei um jorro de luz vermelha como aquele pedido de socorro do Labirinto Tribruxo.
E ao se lembrar do Torneio, a imagem de Cedrico Diggory apareceu em sua mente. A morte do companheiro da Lufa Lufa pesava no coração do garoto todos os dias de sua vida. Cedrico não tivera tempo para se defender, na verdade não pôde nem entender o porquê fora assassinado. Como ele poderia? Como entenderia a amplitude da história de Harry se mal o conhecia? Como...
- Nós estaremos aqui, no mesmo lugar, e atentos para o seu sinal, Harry. Prometo que não vou cochilar – e dizendo isso, Rony piscou o olho para o amigo, como que na esperança de que uma brincadeira pudesse desanuviar a cara amarrada de Harry e lhe trazer mais coragem.
- Certo. Eu vou então.
Dito isso, vestiu a capa da invisibilidade e se dirigiu ao orfanato sem olhar para trás, apesar de ter visto o rosto de Hermione censurar Rony pela brincadeira. Harry caminhou pela encosta e foi pego de surpresa quando, já na porta do local, várias crianças começaram a sair conversando animadas, algumas correndo, outras caminhando ao lado de alguns adultos, em menor número que os pequenos. Harry supôs que eles estavam indo para algum passeio, e agradeceu a Merlim por sua sorte. Parou diante do portão, que um dos adultos fechava a chave. Pensando no fato de não ser um fantasma e em como atravessaria aquele sólido portão depois que terminasse o que quer que fosse fazer ali, Harry deu uma boa olhada no local. Não era uma construção bonita, mas estava conservada. As paredes, ligeiramente descascadas dos lados, eram brancas e compridas, recortadas por janelas de madeira levemente envelhecidas. O jardim não era primoroso, mas também não estava mal cuidado. Aqui e ali se viam brinquedos espalhados, principalmente perto de um pequeno parquinho, onde um balanço ainda se movia para a frente e para trás, como se alguma criança tivesse acabado de saltar dele. O barulho produzido pelo brinquedo era agourento, visto que não havia mais nenhum som na propriedade.
Harry caminhou devagar pela alameda que levava à porta de entrada do orfanato, que estava apenas encostada. Mesmo empurrando de maneira suave, a porta rangeu com a passagem do garoto. Segurando a respiração, Harry olhou ao redor para ver se não havia ninguém na sala de entrada da casa. Não havia. Aquilo começou a ficar muito estranho. Todos saíram, mas trancaram apenas o portão, e não a porta da frente? O bruxo pode ver um corredor extenso, bifurcado entre esquerda e direita, e resolveu tomar o rumo da esquerda, que parecia ser o menor corredor. Realmente era. Só havia três cômodos: uma sala que parecia abrigar vários brinquedos e um único aparelho de televisão velho, uma porta trancada e a cozinha. Lá, Harry se sobressaltou ao encontrar duas mulheres adormecidas. Uma delas havia deitado a cabeça sobre uma tábua onde deveria estar cortando batatas. Os cubos se espalharam pela mesa. A outra ressonava próxima do fogão aceso, como que para se aquecer. Mas que estranho! Por que elas estavam dormindo assim? Pareciam... pareciam estar sob o efeito de alguma poção ou feitiço. O moreno sacudiu a cabeça, como que para espantar a idéia e forçar o cérebro a lembrar que, apesar de aquele ser o antigo lar de Voldemort, ainda era um orfanato trouxa.
O corredor da direita era mais extenso. Nele, todas as portas estavam trancadas com exceção de uma no fim da parede da esquerda, de onde escapava uma luz frívola que chamou a atenção de Harry. O garoto andou até lá, protegido pela capa, mas com a varinha na mão. Um estranho pressentimento fez o garoto estremecer de forma anormal, e ele sabia que isso não era frio. Ao olhar para dentro do quarto pela fresta aberta, Harry viu um menino de cabelos negros e espetados como os seus próprios. Sua cabeça estava abaixada, apoiada numa mesinha de estudos, e ele parecia dormir como as mulheres que Harry encontrara na cozinha.
- Abaffiato!
Harry murmurou o mais baixo que pode o feitiço para silenciar, e empurrou a porta, que não fez nenhum barulho. O menino dos cabelos pretos não se moveu. Harry olhou ao redor: era um quarto amplo, com algumas camas dispostas sem ordem aparente, uma delas escondida por uma cortina. O estranho menino estava na mesinha que ficava próxima a esta cortina, no fundo do aposento. Harry se dirigiu para lá sem tirar a capa. Sabia que não poderia se arriscar. No entanto, ao chegar perto o suficiente para ver o rosto abaixado do garoto, Harry levou um susto e deu um passo para trás, pisando na capa e deixando-a cair ao chão.
- Harry Potter.
O menino havia se levantado e agora encarava o bruxo com um olhar cinza e sem vida, fixado na cicatriz. Mas o que significava aquilo? Como aquele garoto sabia o nome de Harry? Não era possível que ele tivesse ficado tão famoso que até o mundo trouxa sabia da sua existência.
- Quem é você? Como sabe o meu nome?
Harry apontava a varinha para o menino de cabelos negros, que parecia não estar com medo. Pelo contrário, agora ele ria alto, mostrando uma boca cheia de dentes muito brancos e uma pretensão estranha no olhar.
- Eu sei quem você é, Harry Potter. E estava te esperando. Por isso todos foram embora. Por isso eu fiz com que eles saíssem para um passeio surpresa. Foi fácil convencer a tutora, mulher que se deixa dominar sem resistência. Detesto pessoas sem força. Detesto pessoas diminutas que não conseguem perceber as reais intenções daqueles que detém o poder. Mas é inegável que elas sejam extremamente úteis para os propósitos das pessoas que não medem esforços para alcançar o que querem. Pessoas como eu.
A cabeça de Harry estava prestes a entrar em parafuso com as declarações do menino. Com vontade de soltar as tais fagulhas vermelhas com a varinha e pedir a ajuda dos amigos, o bruxo precisou se segurar, afinal, não sabia ainda do que se tratava tudo aquilo. O ar ao redor parecia etéreo, e fez Harry se lembrar das aulas de Trelawney em Hogwarts. O menino continuava olhando para o rosto de Harry com o mesmo sorriso impassível, sem se incomodar com a ameaça que a varinha representava.
- Meu nome é Joel Carter, Harry Potter. Mas não tente procurar nos arquivos de sua mente ridícula. Você nunca ouviu falar de mim, mas eu sei tudo o que preciso saber sobre você. E abaixe essa varinha, você não me mete medo. Agora, diga porque está aqui.
Era claro que Harry não diria. E o cérebro do bruxo começou a trabalhar de forma frenética para descobrir um jeito de sair dali. Não lançaria as fagulhas vermelhas. Não ainda. Ia conversar com Joel o tempo que fosse preciso para pensar num jeito de sair sem precisar pedir ajuda.
- E por que eu deveria dizer isso a alguém que mal conheço?
- Porque eu sei o motivo que te trouxe até aqui. E eu tenho o que você procura. Mas pagará com sua vida se tentar pegar.
- Como assim? – os dedos de Harry começaram a tremer ligeiramente. Joel sabia o que Harry estava procurando? Ele sabia sobre as horcruxes? Sobre Voldemort? Não era possível, algo estava muito errado.
- NÃO ME ENROLE, POTTER! – por um momento, Joel se descontrolou e aumentou o volume da voz, para depois voltar a conversar num tom de amigável fingimento e ironia. – Nós dois sabemos muito bem quais são os motivos de você ter aparecido no pequeno povoado trouxa de Little Hangleton. Ou você acha que eu nunca ouvi a história dos Riddle? Ou você acha que não cresci sabendo o que aquela casa significava, sabendo da morte dos pais e de Tom Riddle, e mais recentemente do jardineiro trouxa? Ora, Potter, não me subestime. Fui recrutado para isso. Só estava esperando o momento certo de agir. E finalmente o momento chegou.
Recrutado para isso? Recrutado por quem? A confusão na cabeça de Harry aumentava a cada nova colocação de Joel. Tentando pensar de forma rápida sem confundir mais ainda as informações que recebia, Harry se lembrou de um detalhe que poderia fazer toda a diferença: fosse o que fosse, Joel não era um bruxo.
- E o que você pretende fazer para me impedir de alcançar meu objetivo? – Harry continuava com a estratégia de enrolar Joel para ganhar tempo agora mais confiante. – Você não pode me lançar um feitiço, pelo que vejo é tão trouxa quanto os Dursley (e ao se lembrar deles, sentiu um lampejo de curiosidade: como eles estariam?).
O menino dos cabelos negros pareceu ficar confuso. Seus olhos reviraram nas pálpebras, como se lutassem contra algo que ele não queria. No entanto, depois de piscar demoradamente os olhos cinzentos, voltou a falar em tom irônico.
- Sim, Harry Potter, sou trouxa. Mas você desconhece a força física que um trouxa pode ter quando quer alcançar o poder. Para mim, só existem dois tipos de pessoas: aquelas que tem o poder, e aquelas que são fracas demais para isso.
Harry se lembrava muito bem sobre a primeira vez que ouvira aquela frase, saindo da boca sem lábios de um bruxo renascido das cinzas. Voldemort. Aquele garoto só podia estar sob o domínio do Lord das Trevas. Mas foi impossível pensar em mais alguma coisa. Ele avançou sobre Harry, que foi pego desprevenido e se estatelou no chão. A queda fez a varinha do bruxo voar pelo quarto e parar próxima a porta, deixando a ele apenas os próprios punhos para se defender de Joel. Foi quando ele percebeu o que o menino tentara esconder no canto da mesa de estudos, quando estava de bruços sobre ela: uma taça. Ela parecia feita de um material acobreado, mas a inscrição que havia nela brilhava como ouro recém polido. E Harry divisou aquilo que fez seu coração se desmanchar: o brilho dizia Hufflepuff. O sobrenome da fundadora da casa Lufa Lufa. A taça que Voldemort roubara quando ainda trabalhava na Burgin & Burkes e apenas planejava seu reinado de horror. A taça que Harry vira na penseira de Dumbledore, nas lembranças recolhidas de um elfo doméstico muito velho. A taça que era uma possível horcruxe.
A visão deu a Harry uma energia renovada. Mas no momento em que tentou se levantar, um golpe atingiu seu queixo de forma violenta, fazendo sangue voar. Ele bateu com força a cabeça no chão. Joel, apesar de ser mais novo que Harry, parecia ter uma força descomunal dentro de si. Harry não podia acreditar que depois de tanto lutar contra feitiços poderosos e azarações de todos os tipos, fosse perecer pelas porradas de um trouxa. Mas era o que parecia quando mais um soco atingiu o rosto do bruxo, deixando-o tonto e fazendo as paisagem a sua volta ficar desfocada.
E tudo o que Harry conseguiu ver antes de desmaiar foi que alguém com cabelos muito coloridos havia adentrado pela porta com a varinha em punho.
- Enervate
A dor no rosto machucado voltou com força total. Era como se um caminhão tivesse passado por cima da cabeça de Harry e ele não tivesse nem sequer conseguido anotar a placa.
- Rápido, Harry, precisamos sair daqui antes que cheguem os Comensais da Morte! Rony e Hermione estão nos esperando do lado de fora do Orfanato. Já apanhei a taça. Vamos!
Era Ninfadora Tonks.
Um alívio percorreu o rosto machucado do bruxinho. Apesar da dor que dominava todo o seu corpo por conta da surra, Harry se levantou rapidamente, olhando ao redor.
- Onde está Joel? O menino que estava aqui?
- Ele correu ao me ver. Parecia bem transtornado. – respondeu Tonks, passando a mão nervosamente pelos cabelos verde-limão. – Agora vamos, Harry!
Os dois se dirigiam ao corredor que levava à entrada principal do Orfanato. Apesar de ter passado um bom tempo dentro da construção, ainda não havia ninguém por lá. E para a surpresa de Harry, Joel apareceu novamente, parecendo mais altivo do que antes e muito mais irritado.
- Onde vocês pensam que vão? Não vai contar com ajuda desta vez, Potter!
- Ah, ele vai sim! Será que vou ter que estuporar você de novo? Lembre-se, eu tenho uma varinha! – Tonks disse ao menino, que devia ser quase uma cabeça mais baixo do que ela.
- Por favor, não leve embora. – Joel tinha os olhos marejados de lágrimas, como se estivesse arrependido. Parecia travar uma batalha consigo mesmo, um lado era apenas uma criança, o outro era alguma coisa poderosa que dominava os desejos do garoto.
Joel olhava para a taça nas mãos de Tonks de modo suplicante. A bruxa apontava a varinha de maneira ameaçadora, e Harry sabia que se Joel fizesse o menor movimento, a experiente auror lançaria nele um novo feitiço.
- Tonks, deixa ele. Não pode mais nos fazer mal. Agora temos varinhas.
Num acesso de loucura, Joel avançou para Tonks com os olhos cinzentos brilhando malignamente.
- É meu! Meu precioso, é meu! DEVOLVA!
- Estupore!
- Sectumsempra!
A azaração de estuporamento e o feitiço que Harry aprendera no livro de Poções de Snape explodiram em Joel, que caiu duro como pedra, de olhos fechados. Sangue escorria por todo o peito do garoto, provocado pelos ferimentos que Harry causara. A força do feitiço fora tão grande que Joel não resistiu. Estrebuchou no chão e parou abruptamente de respirar. Morto.
- Eu... eu... Tonks! Eu...
- Vamos, Harry, depressa!
Rony e Hermione aguardavam os dois próximos do portão do Orfanato. A rua já estava movimentada de trouxas que faziam seus afazeres diários pelo povoado. Harry chorava, o rosto ensangüentado, urrava de dor, raiva e culpa. Os bruxos já não se importavam mais se chamariam a atenção ou não. No momento, o importante era sair dali o mais rápido possível. Tonks agarrou as mãos de Rony, que já seguravam as de Hermione, e tentava sustentar um Harry a beira de um colapso nervoso. De repente, Harry sentiu aquela mesma sensação incomoda que ele já conhecia tão bem: a de ser espremido dentro de uma mangueira fina e que, naquele momento, parecia sem fim. Tonks e os três amigos aparataram de Little Hangleton rumo a sede da Ordem da Fênix.
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