<i>Expecto Patronum</i>
O sol nascia em mais um dia. E agora Harry estava só. Caminhava a passos rápidos e ritmados rumo a floresta, de onde poderia alçar vôo em sua vassoura sem ser visto. Harry pensou em lançar um feitiço da desilusão em si mesmo e na Fibebolt, mas lembrava-se de que não se sentira muito bem da última vez que fizera isso. Então, decidiu apenas sair das vistas de trouxas curiosos para poder voar sem ser incomodado.
Foi quando ouviu uma voz. Estava meio distante, e pareceu a Harry que fosse uma ilusão. Sem dar muita atenção, continuou a caminhada, observando o ar refrigerado que saia de sua boca e encontrava com o ar frio da madrugada. Tentava não pensar em Gina. Tentava, com todas as forças que tinha, não pensar na vida que havia deixado para trás. Os bons momentos em Hogwarts, as noites de brincadeiras, os banquetes, a Seleção das Casas feita pelo Chapéu Seletor, o sorriso de boas vindas de Dumbledore, os fantasmas que insistiam em tentar assustar os estudantes, os jogos de quadribol. Tudo aquilo havia ficado no passado, e Harry seria obrigado a guardar essas lembranças no fundo de seu coração se quisesse sobreviver a batalha que estava por vir.
A voz se repetiu novamente, dessa vez mais alta. Harry não queria acreditar. Mas, ao parar de andar e prestar atenção, ouviu a voz rouca de Rony Weasley discutindo com alguém.
- Eu disse para você... – o garoto arfava, parecia estar correndo ou andando muito rápido. – Que precisávamos ficar espertos com o Harry porque ele ia partir qualquer dia desses.
- É, Rony, mas não fui eu que comi uma dúzia de costeletas de porco e acabei pegando no sono na sala quando deveria ter ficado no quarto, vigiando Harry!
A segunda voz era Hermione. Ah, não! Seus amigos! Seus melhores amigos não podiam estar ali. Ele queria ir sozinho, precisava ir sozinho porque o perigo que teria que enfrentar era grande demais. Não era justo colocar em risco a vida das pessoas que ele amava. Harry já havia perdido gente demais. Não queria mais ver ninguém morrer por sua causa.
- Harry! Ei! Harry! Ah, Por Merlin, Harry, onde você está indo?
Hermione avistara o amigo e corria em sua direção. Ela e Rony carregavam pequenas malas, que Harry também julgou estarem magicamente ampliadas para abrigar o necessário para a longa viagem que teriam pela frente. Eles planejaram seguir Harry. E ele que julgara que estava se escondendo, que não tinha denunciado a ninguém suas intenções. Como fora ingênuo. Afinal, Hermione e Rony já estavam com ele há seis anos. Como eles não perceberiam qualquer intenção diferente do normal em Harry?
- Ron.... Mione.... eu...
- Harry. Nós vamos com você – começou Hermione – E não adianta argumentar. Que espécie de amigos seríamos nós se, no momento em que você mais precisa de nós, simplesmente abandonássemos você?
- É isso mesmo, Harry – continuou Rony – Onde você for, eu e a Mione estaremos com você. Também fazemos parte disso.
Harry não tinha argumentos. Apenas olhou para os dois, com lágrimas nos olhos verdes.
- Eu amo vocês! – era a primeira vez que Harry dizia essas palavras, mas não que isso não fosse algo totalmente subentendido entre eles.
Os três amigos se abraçaram com força. Eles sempre haviam sido um trio inseparável. As causas de Harry eram as causas de Hermione e Rony. Era uma amizade que começara na infância, atravessara a adolescência e viveria eternamente nos corações dos três. Era impossível separar as vidas de Harry Potter, Hermione Granger e Rony Weasley. O destino os uniu e não seria agora, no momento em que Harry mais precisava de alguém, que eles iriam se separar.
A viagem seria longa a pé. Hermione não tinha vassoura, e Rony não havia trazido a sua. Decidiram que caminhariam pela floresta até um local onde tivessem um pouco mais de espaço para aparatar. Harry e Hermione conseguiam fazer isso bem, mas Rony ainda tinha algumas dificuldades. Mas eles poderiam fazer uma aparatação acompanhada e o ruivo não teria problemas. Harry odiava aparatar. Sentia-se como se estivesse sendo enfiado a força dentro de uma mangueira estreita. Mas seria capaz de fazer qualquer coisa por aqueles amigos. Qualquer coisa.
Caminhavam lado a lado em busca de uma clareira mais espaçosa. Por serem novatos de aparatação, precisavam ainda de um espaço maior. O silêncio era o companheiro do trio. Harry pensava em Gina. O que a ruiva faria ao acordar e perceber que tinha perdido o irmão, uma grande amiga e... e Harry. Ela ficaria zangada porque não pudera ir junto com eles? Harry preferia assim. Pelo menos Gina estava protegida. Voldemort a conhecia muito bem. E poderia usá-la contra Harry em algum momento. Portanto, o mais sábio era deixar Gina na Toca durante essa missão. Que poderia não ter volta, que poderia ser interrompida de forma brusca caso Harry falhasse.
Encontraram uma clareira larga o suficiente para aparatar. Hermione deu a mão a Rony e Harry e, num piscar de olhos, os três já estavam na frente da prisão de Askaban. Harry nunca estivera lá. Não sabia exatamente onde ela ficava, mas para quem aparata, basta pensar no local onde se quer ir e pronto. Enquanto procuravam pela clareira, Harry tinha explicado aos outros dois sobre suas suspeitas em relação ao medalhão de Voldemort.
Fora estranho como Harry se lembrara de um objeto encontrado durante a grande limpeza que promoveram no Largo Grimmauld quando este se tornou a sede da Ordem da Fênix. Um medalhão. Dourado, com uma corrente grossa e pesada e o símbolo de uma serpente incrustado no ouro. Provavelmente tinha espaço para uma foto dentro. Mas não foi possível abrir o medalhão. Molly tinha tentado, mas depois acabou se esquecendo do objeto. O problema era Monstro. Ele havia tentado resgatar o máximo de coisas possíveis da casa dos Black, os supostos “tesouros” que ele achava que estavam sendo difamados pelas mãos imundas de sangues ruins e traidores. Para Harry, RAB era Regulus Black, irmão de Sirius. Isso poderia ser visto como loucura pelos mais sensatos, pois Regulus estava morto. Foi o que Hermione lembrara quando Harry contou a história. Mas nada impedia o bruxinho de acreditar que Regulus talves estivesse vivo. Afinal, Pedro Petigrew não passou anos fingindo sua própria morte para incriminar Sirius? Mas também havia uma confusão de datas. Dumbledore disse que Voldemort protegia suas horcruxes com uma magia que acreditava ser tão poderosa, que talvez não percebesse a ausência de uma delas de forma tão rápida. Regulus poderia tê-la roubado e guardado na mansão dos Black antes de morrer. E mais um detalhe tornava crucial a crença de Harry de que R.A.B era Regulus: a forma como ele tratara Voldemort no bilhete dentro da horcrux falsa. Ao “Lord das Trevas”. Apenas seguidores de Voldemort o chamavam assim, e todos sabiam que Regulus fora um Comensal da Morte. Com todas essas conclusões na cabeça, Harry achou que Askaban era o primeiro lugar a ser visitado por ele para tentar encontrar a próxima horcruxe. Afinal, Mundungo estava lá. E Harry havia pego o bruxo no flagra no ano anterior tentando vender objetos roubados da casa dos Black.
Mas agora os piores pesadelos de Harry estavam se concretizando. Ao se aproximar do local, ele, Rony e Hermione sentiram um frio intenso, gelado de uma forma anormal. Uma névoa estranha estava impregnada no ar, cobrindo as paredes negras de uma imensa construção fixada na encosta de um morro. Por causa das brumas, era impossível saber exatamente onde estavam. Harry queria pensar que isso era um artifício para esconder Askaban dos trouxas, mas sabia que não era. A névoa significava apenas uma coisa: dementadores. Os guardas malignos de Askaban, que tiravam a alegria de qualquer ser vivo que se aproximasse deles, que faziam com que as maiores tristezas de cada um fossem palavras de ordem, até conduzi-los ao desespero total e presenteá-los com o beijo da morte. Ter a alma sugada por um dementador parecia a Harry a coisa mais pavorosa que poderia acontecer a alguém.
Harry prometeu a si mesmo que não desmaiaria. Suas experiências com dementadores não haviam sido nada agradáveis. Ele se lembrava dos primeiros episódios, em seu terceiro ano, quando as criaturas permaneceram durante todo o ano letivo em Hogwarts a procura de Sirius Black. A queda da vassoura durante o jogo de quadribol perdido também não deixava Harry descansar. Depois, o evento com seu primo Duda Dursley em plena Londres. Mesmo julgando que agora seu Patrono era mais poderoso devido a constantes necessidades de utilizá-lo, Harry temia pela segurança de Rony e Hermione. A menina só havia produzido a lontra que representava seu patrono durante as aulas da Armada de Dumbledore. Rony não conseguira mais do que fiapos brancos saindo pela ponta da varinha. Então, era complicado exigir dos amigos que tivessem um patrono tão forte quanto o de Harry para enfrentar um número de dementadores muito maior que qualquer um deles já havia enfrentado na vida. Mesmo assim, Harry precisava entrar lá. Rony resolveu quebrar o silêncio:
- Harry, como você pretende fazer... é... o que tem que ser feito aqui? Estou sentindo esse ar gelado de longe, e sei que isso não cheira bem.
Rony e Hermione pararam por um breve momento para encarar os olhos muito verdes de Harry. Hermione lembrava de ter ouvido muita gente falar que os olhos de Harry eram idênticos aos de Lilian. A menina estremeceu. Por que a vida de seu amigo precisava ser tão intensamente marcada por eventos malignos como aqueles? Ela mesma não se dera conta que sua vida também estava assim, entrelaçada pela maldição que recaíra sobre o mundo bruxo com a volta de Voldemort.
- Vamos entrar. Os dementadores se orientam pelo calor que emana de nossos corpos. Hermione, Rony, quero que vocês me ajudem a produzir um bloco de gelo que possa nos cobrir e dar passagem até a cela onde encontrarei Mundungo. Depois que estivermos dentro de Askaban, podemos despistar os dementadores para fazer as buscas.
- Harry, isso é loucura! – Hermione começou. – Vamos precisar de uma energia descomunal para manter esse feitiço até atravassar as portas desse lugar!
- Mas vamos ter que tentar, Mione. Esse é o único jeito de conseguirmos entrar lá. E eu não vim até aqui para ir embora sem falar com aquele ladrãozinho de meia tigela. E se ele estiver com a horcruxe? Preciso destruí-la!
Rony preferiu não comentar e engoliu seco. Ele pensava a mesma coisa que Harry: não sabia conjurar um patrono. O que seria dele se os dementadores resolvessem atacá-los. Rony não conseguia imaginar em algo realmente feliz para pensar. O que poderia ser? Ele já sentia um bolo no estômago e o tradicional pessimismo que o dominava antes das partidas de quadribol começava a invadi-lo.
Hermione conjurou gelo com sua varinha e conseguiu cobrir o corpo. Harry fez o mesmo. O frio já intenso conseguiu piorar. Rony veio andando mais atrás, perdido em pensamentos, e conjurou o gelo ao redor do corpo com alguns segundos de atraso em relação aos amigos. Foi o momento exato em que um dementador cruzou o caminho dos três. Parados, sem respirar, com o gelo ao redor do corpo, a criatura maligna passou reto. E a ela se seguiram outras, e outras, e quanto mais o trio se aproximava das portas da prisão, mais intensa ficava a movimentação de dementadores. E os pensamentos de Harry também se intensificavam. Sem poder conversar com os amigos por conta do espesso bloco de gelo, sua cabeça trabalhava a mil. Como fazer para passar pelos portões de Askaban? E depois, como encontrar Mundungo? Harry ia precisar contar com a sorte para esta missão. E não sabia se ela estava exatamente ao seu lado.
O portão estava fechado com um grosso e pesado cadeado. Hermione murmurou um Alohomorra e, com um estalo, o cadeado cedeu. Harry não entendeu, e ao mesmo tempo não gostou do que aconteceu. Porque estava tão fácil entrar na maior prisão bruxa, de segurança máxima? Algo não estava certo, e Harry tentava imaginar se a rebelião de dementadores tinha algo a ver com isso. Ele sabia que as criaturas não obedeciam mais as ordens do Ministério da Magia. E haviam acontecido diversas fugas em massa nos últimos tempos. Talvez esse cadeado explicasse algumas destas fugas, enquanto o Ministro da Magia insistia em dizer que tudo estava sob controle em Askaban. Mas Harry já se acostumara a não acreditar em nenhuma palavra do Ministério.
Os corredores de Askaban eram doentios. O cheiro de dejetos humanos se misturava à atmosfera densa e pesada de um lugar que nunca recebia a luz do sol. Era fácil imaginar porque o controle dos dementadores sobre os prisioneiros era total. Não era difícil ser infeliz ali. Harry murmurou Finite Encantatem, seguido de Hermione e de um Rony totalmente abobado. O ruivo tinha os cabelos molhados pelo frio e os lábios haviam rachado na parte de baixo. Hermione tinha o rosto meio azulado, e Harry não queria nem imaginar como estaria também. Sua vontade era produzir uma grande fogueira, mas jamais poderiam fazer isso. O calor chamaria a atenção dos dementadores e colocaria o plano em risco. A única coisa que foi possível fazer foi murmurar um feitiço secante para que as roupas molhadas não os deixassem resfriados. O labirinto parecia não ter fim. Parados diante daquilo que parecia ser um saguão de entrada, o trio não sabia exatamente para que lado seguir. Archotes brilhavam fracamente nas paredes, uma luz azulada que parecia secular. Deveria ser mantida por meio de magia antiga, talvez desde que Askaban fora erguida para abrigar os insurgentes do mundo mágico.
Harry escolheu o corredor da esquerda, como que movido por uma intuição qualquer. Rony e Hermione seguiram-no sem pestanejar. Era claro que o líder deveria ser Harry, e os outros dois estavam ali para ajudá-lo. A missão era dele. Mas nada poderia impedir os amigos de seguí-lo e fazer o que fosse necessário para que ele conseguisse destruir as horcruxes. Ambos sabiam que aquela era, sem dúvida, a mais perigosa de todas as aventuras já vividas por eles. Lidava-se com o mal absoluto agora. E a única possibilidade de viver era fazer o outro morrer. A morte é algo complicado na cabeça de adolescentes de 17 anos, mas o trio precisava aprender a lidar com ela depois dos últimos acontecimentos. Principalmente Harry, que vira Cedrico, Sirius e Dumbledore perecer por ele.
- Lumus!
A varinha de Harry se acendeu e o corredor ficou pouco mais claro. Não havia archotes lá. As celas tinham pequenas portas, algumas marcadas com um x vermelho que os amigos não entendiam o que significava. As portas pareciam ser feitas de ferro, mas ao mesmo tempo eram recobertas por uma substância que lembrava limbo, e não ferrugem. Talvez aquele fosse um tipo especial de madeira, magicamente modificado para proteger melhor o prisioneiro e evitar uma fuga. Algumas das portas marcadas traziam logo abaixo o nome dos possíveis ocupantes, e Harry se surpreendeu ao encontrar o nome de Sirius ainda ali. O x vermelho brilhava na porta e parecia ter sido feito com um tipo de sangue que nunca se apaga. Talvez fosse sangue do próprio padrinho de Harry. A marca de anos a fio perdidos dentro de um lugar como aquele. Harry sentiu ódio de Voldemort por ter matado seus pais e por ser indiretamente o causador da morte de tantos outros que ele queria bem. O ódio era o alimento da alma de Harry para que ele continuasse buscando fazer o que tinha que ser feito.
Mais a frente o corredor se dividia em dois. Viraram a esquerda novamente, e um grito gélido invadiu os corredores:
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!
- Hermione! O que houve? – exclamou Rony, que vinha logo atrás e trombou com a amiga quando esta parou abruptamente e soltou o grito.
Harry e Hermione saíram da frente de Rony. E o que ele viu faria qualquer um arrepiar da cabeça aos pés e perder toda a coragem: um corpo, pendurado no meio do corredor, enforcado por uma corda que flutuava magicamente: era Mundungo. Morto. Inchado, a língua de fora e a barba embaraçada e escura cobrindo praticamente todo o rosto. O pesado casaco que ele costumava usar estava todo rasgado, e o rosto já dava sinais de decomposição. O cheiro era insuportável, pior ainda que os outros locais da prisão.
Rony levou a mão a boca para tentar evitar um espasmo estomacal. Hermione não suportou, virou-se para o lado e vomitou. Harry tentava entender o que estava acontecendo, mas agora era tarde demais. O grito havia atraído a atenção de todos, e alguns prisioneiros gritavam de dentro das celas. Foi quando Harry sentiu que qualquer possibilidade de ser feliz na vida estava se esvaindo. Lentamente ele virou de costas e já não sabia mais qual cena daquele dia era mais chocante: No fim do corredor, vultos cobertos com capaz pretas até a cabeça e mãos a mostra, cheias de feridas, denunciavam que os dementadores já sabiam da presença deles. Hermione se apoiara na parede para vomitar e não tinha visto a cena aterradora. Harry agarrou o braço da amiga e gritou:
- Corram!!!
Os tênis de passos apressados derrapavam pelo corredor em que os três amigos haviam passado antes, dirigindo-se de volta ao saguão de entrada de Askaban. Não era preciso olhar para trás para saber que continuavam sendo seguidos de perto pelos dementadores, e à tristeza somava-se o pessimismo de não conseguir fazer nada. Ao chegar ao saguão, perceberam estar cercados. Os dementadores afloravam, esvoaçantes, tanto do corredor quanto da porta de entrada da prisão. Harry começou a ficar atordoado. Sabia que era capaz de conjurar o Patrono para salvá-los, mas não conseguia pensar em algo suficientemente feliz para produzi-lo. Olhar para os rostos assustados e arrasados de Hermione e Rony não ajudava muito. Mas ele precisava fazer alguma coisa antes que... tarde demais. Os gritos começaram a ecoar na cabeça do bruxo. Seu pai, orientando Lilian para que fugisse. Sua mãe, suplicando para que Voldemort poupasse Harry. A tristeza dominava todos os seus sentidos, e ele sentiu como se nunca mais fosse ser feliz na vida.
Rony não estava em melhor situação. O rosto pálido do ruivo deixara os cabelos ainda mais vermelhos, e as sardas ainda mais aparentes. A boca estava aberta como num meio grito que nunca saia, e os olhos haviam perdido o brilho, ficando acinzentados. Um dementador se aproximou do trio, e parecia se concentrar especialmente em Rony, talvez o mais fraco dos três naquele momento. Harry sentia que não podia deixar aquilo acontecer, mas estava triste demais. Hermione olhava de Harry a Rony e vice-versa, sem saber exatamente como agir. A mesma sensação de infelicidade que acometia os garotos também a atingia, mas sem tirar a consciência. Ela procurava inutilmente uma lembrança feliz, lembrando-se das aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas e murmurando baixinho:
- Preciso me lembrar, preciso me concentrar, Expecto Patronum, Expecto Patronum.
E o que ela viu a seguir fez com que seus pensamentos esvaziassem por alguns segundos: um dementador agarrara Rony por uma espécie de linha fria de ar. Hermione sabia que ele estava sugando a alma do ruivo, preparando-se para dar o beijo de adeus. E então, o grito ecoou com toda a força que os pulmões de Hermione podiam aguentar:
- Expecto Patronum!!!
Uma lontra perfeita e bem definida irrompeu da varinha da bruxa, iluminando as paredes negras e os archotes azuis de Askaban. Os dementadores ficaram assustados, recuaram por alguns instantes, mas não demoraram a investir novamente para o trio. Harry sabia que Hermione não poderia mantê-los afastados por muito tempo. Mas ele não conseguia pensar em algo feliz para conjurar o patrono. A lontra de Hermione vacilava e dava sinais de cansaço, eram dementadores demais para serem enfrentados apenas por uma bruxa, mesmo que ela fosse poderosa como Harry não duvidava que Hermione era.
Foi quando ele se lembrou: Gina. A noite que tivera com Gina a poucas horas atrás fora um dos momentos mais felizes de sua vida. Ele amava aquela mulher, de verdade, e queria dividir sua vida com ela. O amor e a magia que eles compartilharam naquela noite dava a Harry forças para vencer um milhão de dementadores. Ao pensar em tudo isso, Harry simplesmente não se deu conta do que acontecia ao seu redor. Só percebeu quando um leão prateado e brilhante rugiu ao seu lado e expulsou três dementadores que tentavam se aproximar dele. Assustado, Harry olhou para o patrono, seguindo a linha que o conduzia a varinha. E viu um Rony, lívido, branco como papel, mas com uma força descomunal. Ele mantinha o patrono do lado oposto ao de Hermione, ambos defendendo o trio. Harry sentiu-se inútil ao perceber o quanto fora egoísta. Queria fazer a jornada sozinho. E agora sabia que, se não fossem seus amigos, poderia não estar vivo neste momento. Ao pensar nisso, somado ao amor de Gina, Harry deixou explodir do fundo de seu coração a força que os salvaria em definitivo:
- Expecto Patronum!!!
Veado. Leão. Lontra. Unidos pela força do amor. Um sentimento que o mau desconhece.
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