Na Toca
- Gina! Gina! Acorde! Sou eu, Rony, acorde Gina! ACORDE!!!
Ela acordou com um sobressalto, a testa molhada de suor, o rosto meio amarelado como um pedaço de pergaminho velho. Seu coração ainda palpitava descompassado, e era como se o agouro de morte não tivesse parado de ecoar em seus ouvidos ainda. Quando seus olhos tomaram foco, a ruiva percebeu que estava sendo observada nada mais nada menos do que por seus seis irmãos, e Artur e Molly, seus pais. Gina Weasley era a sétima filha de uma família de bruxos puro sangue, com seis irmãos homens.
- O que aconteceu Gina? – questionou Rony, meio confuso, meio assustado – Você estava gritando como uma louca, dizendo que ele iria pegá-lo, e depois pedindo para parar, para interromper, dizendo que você não poderia mais ajudar. O que estava acontecendo, afinal?
- Ficamos preocupados, filha – disse Molly com aquele olhar que apenas ela sabia dirigir aos seus filhos quando estava, ao mesmo tempo, zangada e preocupada – Por que você não acordou quando a chamamos? Por que demorou tanto para se recuperar?
Eram tantas perguntas, e tudo o que Gina queria era apenas voltar a enfiar a cara no travesseiro. Ela tinha alguns pesadelos estranhos em sua vida desde que encontrara propositalmente o diário de Tom Marvolo Riddle e reabrira a Câmara Secreta, petrificando alguns alunos de Hogwarts, dentre eles Hermione. Eram pesadelos que pareciam verdade, e ela sempre acordava se sentindo enjoada, como se tivesse sido invadida por alguma coisa desconhecida. Pensava que talvez fosse apenas coisa de sua cabeça, já que estava influenciada pelo fato de ter sido possuída por uma lembrança Daquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Mas ela era uma menina inocente naquela época, e julgara que o diário lhe daria um poder. O poder de se fazer ser notada, de se mostrar mais do que apenas a pequena, tímida, calada e rubra Gina Weasley. O motivo da vergonha de Harry Potter, quase tão inconveniente quanto Collin Creevey e sua maldita máquina fotográfica. Ridiculamente humilhada por Fred e Jorge, que chegaram a dizer que a irmã fundaria um fã clube de Harry. O jeito foi mesmo seguir os conselhos de Hermione depois da desastrosa experiência com o diário, quando Harry salvara sua vida na Câmara Secreta, impedindo mais uma vez que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado voltasse à vida apoderando-se de suas forças. Hermione havia dito, com todas as letras, para que Gina aproveitasse sua vida, procurasse olhar para os lados, e esquecer um pouco que o mundo girava em torno de Harry. Mas ele era o seu Eleito, Gina sabia disso, e podia sentir seu coração bombear para cada veia e cada artéria do seu corpo o sangue completamente apaixonado por Harry Potter.
- Ah, gente, não foi nada não, eu estou bem, tá legal? Dá pra sair todo o mundo do meu quarto, agora? Já que eu tenho o privilégio de ser a única menina dessa casa, preciso de um pouco de privacidade!
Os irmãos olharam uns para os outros, de boca aberta. Moly e Artur saíramtambém, todos querendo passar de uma vez pela porta do quarto de uma mal-humorada Gina Weasley. Rony, no entanto, foi se deixando ficar, o quarto dela era o mais próximo do de Gina, e provavelmente foi ele quem ouviu os gritos agoniados da garota e chamara o resto da família. Ela tentou fechar os olhos e ignorar a presença do irmão em seu aposento, afundando mais ainda no travesseiro de penas de hipogrivo a cabeça flamejante, que contrastava com o azul royal da fronha.
- Gina, eu ouvi você chamando o nome do Harry. – disse Rony, com um olhar de irmão mais velho – Eu andava meio desconfiado de que você pudesse estar ainda apaixonada por ele, mesmo com todo aquele fingimento com o Dino. Mas o que vocês estava sonhando, Gina, me conte! Harry está em perigo novamente?
- Ah, Rony! Não enche! Ou você acha que eu existo simplesmente para me preocupar com o que o Potter perfeito faz ou deixa de fazer da vida? Agora me deixe em paz!
Sim, ela sabia que existia simplesmente para se preocupar com o que ele fazia ou deixava de fazer da vida. Sim, ela sabia que ainda se perguntava como Harry foi capaz de se apaixonar justo por Cho Chang,a japonesa cara de pastel da Cho Chang! A garotinha nojenta,nariz empinado, metida você-matou-meu-namorado-Cedrico-e-agora-vai-ter-que-substituí-lo. Sentindo-se um tanto quanto culpada por este pensamento, Gina cobriu a cabeça com o travesseiro, fazendo com que Rony desistisse de qualquer contado com o mundo feminino e saísse do quarto murmurando algo como “mulheres, quem as entende” ou coisa que o valha.
Ao ficar novamente sozinha, ela voltou a pensar no sonho que acabara de ter. Estava conversando com Sirius Black. Ele estava num lugar estranho, cheio de véus e sombras, e Gina achava que era o mesmo véu por onde ele havia caído naquela noite no Departamento de Mistérios. Depois, Sirius se transformava em Arthur Weasley e a cobra o atacava no Ministério. Não contaram a ela o que aconteceu de verdade naquela noite em que Harry viu seu pai ser mordido enquanto tudo acontecia. Mas Gina sabia o suficiente para temer por seu pai, caso ele sofresse um novo ataque, por seus irmãos, por seus amigos, e, principalmente, por Harry. O que poderia acontecer com ele agora que Voldemort estava reunindo novamente seu antigo exército de fiéis Comensais da Morte? Mas ainda havia a Ordem da Fênix, talvez desfalcada sem a presença de um membro tão importante quanto Sirius e sem poder contar com sua sede no Largo Grimmald, que desde sua morte não podia ser mais utilizada pelos membros da Ordem. Aliás, Gina ouvira, pelas orelhas extensíveis de Fred e Jorge, uma conversa em que Artur explicou a Molly que o Largo Grimmald se tornou um problema para a Ordem e para Dumbledore. O que fazer com uma casa amaldiçoada pela fixação dos Blacks, por serem bruxos puro-sangue, mas ao mesmo tempo cheia de segredos da Ordem? E, principalmente, o que fazer com Monstro, o elfo-doméstico, que continuava a rondar a casa e a repetir que o que queria, de verdade, era matar a escória que acabava com a lembrança de sua senhora, tão bem conservada naqueles objetos mágicos e valiosos da casa? Gina ouviu que Dumbledore planejava fazer um teste simples com Harry para saber se ele seria o herdeiro legítimo da casa de Sirius ou se ela ficaria para o único Black ainda vivo: Belatrix Lestrange, a prima de Sirius que o jogara para o véu da morte. Depois disso, Molly teve a impressão que estavam sendo ouvidos e lançou um Abbafiato para a porta, impedindo a ação das orelhas extensíveis.
No sonho, Sirius tentava avisá-la de que Harry estava em perigo, e apenas Gina poderia ajudá-lo. A menina ficou confusa, sem saber como ela, uma simples quintanista, poderia ajudar Harry Potter, o menino eleito, aquele que conseguira escapar com vida de uma maldição da morte imperdoável e que já havia resistido diversas vezes Àquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Gina sabia porque estava na Grifinória. Não era apenas um vício familiar, algo herdado pelo sangue. Ela era corajosa e astuta. Se tivesse que se definir, estas seriam as palavras ideais para ela. Talvez modesta também, pensara com um pouco de ironia. Está bem, vamos pular esta parte. O chapéu seletor quis colocá-la na Sonserina. Ninguém sabia desta história. Ela simplesmente travara uma batalha silenciosa com o chapéu-seletor no dia em que chegou a Hogwarts, convencendo-o de que ela se daria muito melhor na Grifinória, e que sua coragem era muito maior do que sua astúcia e sangue-frio. O chapéu chegou à conclusão de que ela era uma Weasley, e portanto deveria ir para a Grifinória. Mas Gina sabia, secretamente, que poderia ter ido para a Sonserina um dia, e talvez entendesse porque o diário de Tom Riddle viera parar em suas mãos. Nada é por acaso, e ela acreditava de verdade nisso.
Mas o sonho foi interrompido. E veio o grito. O grito ensurdecedor. O grito que parecia encerrar tanta dor dentro de si que poderia matar um homem facilmente. Um grito que ela não sabia de onde viera. E tudo ficou muito escuro, de um jeito perturbador. De um jeito que até agora ela estava tentando entender.
“Vou sair desse inferno de cama e descer para comer algo. Talvez o estômago cheio me ajude a pensar de onde surgiu essa loucura toda. Se ao menos eu pudesse enviar uma carta a Harry, mas estou proibida de usar corujas. E Harry também acharia muito estranho que eu estivesse escrevendo para ele. Ah, esquece, Gina Weasley, foi só um sonho” – pensou ao se levantar da cama e começar a se trocar.
Mas o que Gina Weasley não sabia é que, bem longe de sua casa, no mundo dos trouxas, na Rua dos Alfeneiros, número 4, Harry Potter também ouvira o grito mortal.
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