Vida nova, enfim (sim, este te




Snape olhava para o fogo que quase se extinguira na lareira, absorto em suas lembranças, até que por fim soltou um longo suspiro e olhou para a irmã.
- Foi assim. Agora você sabe como foi.
Sarah concluiu que lhe fizera bem, relembrar aquelas coisas, mas ainda assim comentou:
- Sei... e não sei, né? Este ano todo que estivemos separados... você não me contou.
- Ah, nada de mais. Apenas ter que me apresentar de novo ao Ministério, e ter uma nova “guardiã”, a partir daí... A Ana Weasley – ele explicou ao ver o levantar de sobrancelha curioso – e brigar com aqueles... como é o nome mesmo? Ah, burocratas. Brigar com eles pra conseguir a guarda definitiva de Alan e... convencer Potter e os outros de que a idéia desta casa era viável. Claro que, mais uma vez, o apoio veio de quem eu não esperava: Lupin. Ele tinha adotado um garoto, e achou mais do que justas as minhas “aspirações”...
Sarah sentiu que ainda haviam diferenças e mágoas a serem vencidas, mas os antigos inimigos de escola já haviam superado muita coisa. E sorriu.
Mas, Snape fez as xícaras sumirem com um movimento de varinha e perguntou:
– Sabia que uma das razões de ter você aqui foi o garoto? Se não fosse a incrível circunstância do casamento de seu irmão com uma bruxa, eu a buscaria pessoalmente. Já tinha tudo planejado. Ele precisa de uma mãe.
- Epa... eu sou TIA dele, não mãe!
- É mesmo... tinha me esquecido disso. – ele sorriu de maneira maliciosa, relembrando sua brincadeira de pouco antes – Sabe que muita gente pode não engolir essa nossaa história maluca, não sabe? Achar que você é minha esposa... ou coisa parecida. – ele piscou.
Quando estavam a sós, ele se sentia outro, como nos tempos em que nem ao menos sabia seu próprio nome... Gracejar e sorrir pareciam quase... ser coisa natural.
- Você não presta, Snape – ela fez cara de brava, mas não o convenceu.
- E você não consegue mesmo me chamar de Severus... – ele pareceu triste.
- É mais fácil te chamar de John... mas tudo bem, vou me acostumar logo. Difícil vai ser mudar de Sarah pra Serenna... – ela soltou um suspiro e Snape a fitou, preocupado.
- Se isso está incomodando muito, podemos deixar como está. Ou você usa os dois nomes. A menos que...
- O que foi? – ela agora que é que se preocupava com seu repentino ar de indiferença forçada.
- Talvez... você prefira não ser conhecida como a irmã de um assassino.
- Severus Snape, não diga outra bobagem como esta! Tenho sim, muito orgulho por ser sua irmã. O único problema disso é que...
- O que? – ele a olhou, desconfiado, enquanto ela se levantava e vinha até onde ele estava sentado.
Sorrindo, Sarah mexeu em seus cabelos, e beijou-lhe a face.
- Seria mesmo incrível ser sua... namorada ou coisa parecida. – ela piscou, travessa – Ainda mais que o fato de ser sua irmã talvez espante qualquer pretendente bruxo de respeito... Bem, acho que agora vou me deitar. O dia será longo, amanhã. Boa noite, "maninho".
- Boa noite... "Maninha"!

Depois que ela deixou a sala, Snape ficou ainda algum tempo, olhando as chamas da lareira, pensativo.
Achara desnecessário contar a ela como ficara abalado ao retornar e descobrir que o Ministério não permitira que o garoto permanecesse com os Weasley. Haviam teimado em conseguir uma nova família para ele, já que os Goldman não tinham nenhum parente vivo.
O garoto passara por três casas diferentes, numa tentativa de adoção, já que enviá-lo para um orfanato trouxa estava fora de questão, pois ele já manifestara várias capacidades mágicas.
Snape não dera notícias por vários anos, mas Alan insistia em repetir que ele voltaria, porque prometera, e já não aceitava ser chamado de Alan Goldman... era Alan Snape. Isso causava ainda mais transtornos, quando ele afirmava ser filho do ex-comensal que matara Dumbledore... e o Ministério se irritara com o menino.
Já estavam completamente perdidos, sem saber o que fazer com um aspirante a comensal de seis anos de idade (por mais que Molly afirmasse que o menino era adorável quando estava com eles) quando surgiu alguém disposto a ficar com ele, e que o garoto aceitou: Lady Marjorie, parente de Snape “por afinidade” (fora casada com seu falecido avô trouxa).
Molly Weasley é que não gostou da idéia de perder o posto de “avó”. Mas Alan, com seu jeito doce convenceu-a de que estava muito feliz em ter duas avós agora, mas ela seria sempre a primeira. Ela o abraçou, emocionada, no dia em que Lady Marjorie foi buscá-lo na Toca.
Molly examinou com atenção e desconfiança a velha bruxa. Cabelos louros, roupas em estilo indiano extravantes até para uma bruxa, ela tinha a postura elegante de uma dama exilada, o riso franco de alguém que enfrentava tudo com cabeça erguida e bom humor, seu jeito aberto conquistou a matrona dos Weasley, que ainda vacilava em deixar o garoto ir. Mas, se rendeu ao seu olhar igualmente maternal, e elas em poucos minutos se entendiam como amigas de muito tempo. Ainda mais quando disse ter sido colega de Minerva McGonagall e Alice Longbottom em Hogwarts.
O Ministério permitiu que ele ficasse sob sua guarda, até achar um lar que quisesse recebê-lo, mas os anos se passaram sem que isso acontecesse. Alan visitava os Weasley com freqüência, em companhia da “avó”. E a cada nova visita, eles se espantavam com uma coisa: o menino cada vez mais se parecia com Snape. Insistia em usar negro, mantinha os cabelos negros mais compridos, além da aptidão natural para poções e artes das trevas, o que assustava a todos... Lady Marjorie relatou sua facilidade em aprender e a dificuldade que ela tinha em esconder dele os livros antigos que tinha em casa. Ele, aos 8 anos, lia tudo que encontrava pela frente com velocidade espantosa, além do avanço nos estudos comuns a crianças de sua idade.
Rony, presente na casa da mãe numa dessas visitas, chegou a brincar:
- Se eu não tivesse certeza disso, diria que é filho é da Hermione! Nunca vi ninguém que estudasse tanto quanto ela, e ele ainda nem tem idade pra isso! Mas... como ele parece tanto assim com o Morcegão?
Molly o repreendeu, enquanto Alan o fitava, desafiador.
E, a partir dali, uma diferença sutil começou a surgiu na personalidade do garoto: tornou-se desconfiado e silencioso, principalmente entre estranhos, apesar de continuar a demonstrar grande carinho e afabilidade entre aqueles a quem já se afeiçoara. E isso o fez se parecer ainda mais com o “pai”...

Quando Snape reapareceu, sua primeira preocupação foi reencontrá-lo. Justamente naquele dia, o garoto fora mais uma vez levado da casa de Lady Marjorie para um possível lar adotivo, e ele ficou possesso. Por seis meses, brigou e esbravejou no Ministério da Justiça, pondo em risco sua condição de “liberdade vigiada”.
Mesmo com o apoio de Arthur e Molly Weasley, e até a influência de Harry Potter, ele nada conseguia. Afinal, não tinha endereço fixo conhecido, era um assassino conhecido, comensal confesso, sem família alguma. Que tipo de lar daria a uma criança?
Alan já estava em Hogwarts, sim, já completara onze anos, e causara um verdadeiro caos na escola ao se recusar a usar o nome paterno, trocando-o por Snape. Por um ano inteiro, o garoto aguentara toda espécie de comentário maldoso e ofensivo que seria possível. Mesmo entre os sonserinos, permanecia a parte dos outros, com exceção de um ou dois apenas. Sua dignidade tranqüila, porém, acabara por surpreender a todos, e sua dedicação aos estudos conquistara a admiração de professores e colegas. A fama de garoto levado que ganhara nos vários anos de tentativas de adoção se desfez, já que ele amadurecera e se dispusera a “mudar de estratégia”. Provaria que era tão grande quanto o “pai” e que só tinha motivos para se orgulhar dele.

Tudo isso, Snape ouviu da boca de Lupin, um inesperado aliado em sua luta. Lupin e Tonks também adotaram um garoto, que estava em Hogwarts. Haviam enfrentado preconceitos para isso também, embora não tivessem que travar uma guerra como Snape estava sendo obrigado. E sua solidariedade tocou Snape, e eles passaram a um relacionamento, se não amigável, pelo menos mais respeitoso a partir daí.
Quando encontrou no Beco Diagonal sua ex-aluna, Susan Bones, e reconheceu o rapaz que ela apresentou como seu noivo, Snape finalmente descobriu o que tinha que fazer: trazer sua irmã para perto. Criar um lugar para receber não apenas Alan, mas outros que, como ele, eram órfãos da guerra no mundo mágico, vítimas inocentes da loucura do Lord das Trevas e seus comensais.
Então, seu foco passou a ser este. As férias de verão chegaram, e Alan não pode estar com ele, não o tempo todo. Permanecia sob a tutela de Lady Marjorie.
E foi justamente ela quem proporcionou a Snape a forma de realizar seu sonho: a velha senhora possuía uma casa em Londres, que não tinha intenção alguma de ocupar novamente, amante que era da tranqüila vida no campo. Passou a propriedade para o nome de Snape, e a Ordem da Fênix decidiu bancar o projeto.

Em agosto, tudo estava praticamente pronto, mas o Ministério ainda se recusava a legalizar a adoção de Alan por Snape, e ele cada vez mais parecia novamente o homem sinistro e mau humorado dos tempos de Hogwarts. Recusava-se a buscar a irmã antes de deixar tudo a contento, indiferente ao fato de que a presença dela poderia facilitar as coisas, dando mais estabilidade á sua vida familiar. Nesse particular, a presença da ex-madrasta de seu pai não era de tão grande ajuda assim, ainda mais que ela tivera um irmão preso em Azkaban por longo tempo, um conhecido vigarista...

Agora, depois vários meses de lutas e embates, Snape se sentia vitorioso, afinal. Tinha a casa montada e com as crianças acolhidas e em paz, Alan sob sua guarda permanente e sua irmã, ali, ao seu lado, pronta para ajudá-lo naquela batalha completamente nova para ele.

Então, sorriu pra si mesmo e também foi para seu quarto. O destino lhe pregara uma boa peça, fazendo-o se encontrar com Sarah Laurent... Se não tivesse encontrado aquela irmã perdida no tempo e no espaço, não teria conseguido se reerguer, não teria sequer se mantido vivo...

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