Gente nova na Ordem? (editado)



Na manhã seguinte, Sarah de repente se viu pensando que, afinal de contas, não importava se era primeiro de setembro ou dois de janeiro. Partida para Hogwarts era partida para Hogwarts. E, isso significava que, se Molly Weasley tinha que dar conta do café e de mais de uma criança... confusão à vista!
Divertida, ela observou a mãe do melhor amigo de Harry Potter se desdobrar em mil, varinha a todo vapor, para que tudo ficasse pronto a tempo. Nem Snape parecia escapar impune da correria e agitação.
Mas, ao contrário do que imaginou a princípio, às 10:30 já chegavam todos sãos e salvos a Kings Cross, por meios “normais”. Prontos para atravessar a famosa barreira entre as Plataformas 9 e 10...
Molly se adiantou com Lucy e Peter, os outros “moradores” do Lar de Elizabeth que também já estavam em Hogwarts. E eles passaram pela barreira, sumindo na parede de tijolos ante o olhar espantado de Sarah.

Os livros, e mesmo os filmes, não a prepararam convenientemente para este momento, tinha certeza.
Alan, o único que ficara para trás, olhou para os dois. Snape lhe fez sinal com a cabeça, e ele seguiu em frente com seu carrinho, atravessando a parede sem pestanejar. Então, Snape segurou Sarah pelo braço e conduziu-a sem lhe dar chance de pensar no que ia fazer. A ela só restou fechar os olhos para não se assustar com a visão de tijolos, cimento e areia à sua frente.
E o som alegre de um apito de trem fez com que percebesse que já estava lá..
Na manhã rigorosa de inverno, o trem mais parecia uma grande serpente de fogo que fumegava, impaciente, louca para se colocar em movimento, soltando baforadas de vapor.
No movimento intenso à sua volta, Sarah só tinha olhos para aquela preciosidade, ainda mais linda do que o primeiro filme sugeria.
Alan e Snape se fitaram, sorrindo, com uma expressão cômica de quem considerava-a como uma criança maravilhada e tola, mas Sarah nem ligou pra eles. O espetáculo era inesquecível e único.
- Com licença, Professor Snape? – o tom indeciso e o tratamento inesperado fizeram o trio se voltar. Snape, principalmente, estava espantado.
À sua frente, Colin Creevey e sua inseparável máquina fotográfica. O rapaz sorriu timidamente, antes de pedir:
- Creio ser esta a primeira oportunidade que surge de... bem... Gostaria de tirar uma foto de vocês. Posso?
Snape chegou a abrir a boca para replicar negativamente, mas Alan pegou em seu braço, aflito:
- Eu gostaria de uma foto nossa, pai.
- Não sou... – mas a mão de Sarah em seu outro braço e seu sorriso de “pega leve” o fizeram mudar de idéia.
Percebeu que o seu ex-aluno tinha a respiração suspensa, e manteve-se calado por alguns segundos, num suspense intencional. Então, abraçando Alan por um lado e deixando que Sarah abraçasse o garoto pelo outro, exclamou:
- Bem, meu filho. Acho que você tem razão. Já é hora da Família Snape dizer ao mundo bruxo a que veio. Pode fazer o seu trabalho, Sr. Creevey.

Sem conseguir acreditar no que ouvia, o rosto de Colin se iluminou como se ele ainda fosse o primeiranista da Grifinória pronto a clicar qualquer novidade. E ele tratou de tirar a foto, antes que Severus Snape mudasse de idéia a respeito.
Por um segundo, focalizou em sua objetiva o trio sorridente. Sim, Snape sorria, abraçando o filho, e este não cabia em si de contente, enquanto a jovem mulher com um cachecol com as cores da grifinória esvoaçando à leve brisa que soprava, se inclinava para o garoto e beijava-lhe a face, também sorrindo e visivelmente emocionada.
Quem seria ela? Sanpe dissera ser a sua família... Mas Colin decidiu que aquilo ele deixaria a cargo de Luna descobrir, ela era a repórter, e tratou de caprichar. Esta seria uma foto e tanto! Digna de primeira página!

Depois que Colin Creevey se despediu, o apito insistente do trem os fez se apressarem. Alan subiu a bordo e, conseguindo rapidamente uma cabine, foi para a janela se despedir.
O garoto parecia imensamente feliz por esse simples gesto: acenar em despedida da janela do trem, e Sarah se emocionou muitíssimo. Disfarçadamente, enxugou as lágrimas com a ponta de seu cachecol, enquanto Snape mantinha-se sério ao seu lado, subitamente consciente de quanto haviam chamado a atenção.
Claro, ele tinha um rosto conhecido na comunidade bruxa. E vê-lo em Kings Cross era algo muito, mas muito inusitado mesmo. Um ex-comensal, um assassino procurado por muitos anos... despedindo-se do filho no embarque para Hogwarts? E com uma mulher ao seu lado? Definitivamente, aquilo era assombroso!
Ela ria disfarçadamente, pensando em como as pessoas se incomodavam por “tão pouco”, quando Molly chegou até eles, também chorosa.
- Isso nunca muda! Sempre estamos vendo-os partir, não é mesmo? Os filhos... Daqui a pouco, serão meus netos que estarão a caminho de Hogwarts...
Sarah se adiantou para confortá-la, e os três deixaram a plataforma, Snape mantendo-se em silêncio, apenas observando as duas mulheres, unidas um abraço de total cumplicidade e entendimento.
Do lado de fora, despediu-se de Molly Weasley, dizendo que dali a pouco estariam “lá”.
Ela aquiesceu, séria de repente, aparatando lodo depois, em uma esquina deserta.
- Lá... onde? – Sarah perguntou.
- Bem... se você souber onde fica.
- Onde fica... o que?
- Leia isso e memorize. - ele estendeu para ela um pequeno pedaço de pergaminho velho - Aquele velho... mandou que eu guardasse esse. Como se soubesse que um dia teríamos um novo membro.
- Meu Deus! - Sarah leu o papel sem conseguir acreditar - É... o segredo!
Snape sorriu, concluindo com satisfação:
- E agora você está sob o feitiço de segredo também. Vamos?
Sem entender muito bem como isso seria possível que Dumbledore prevesse isso sem conhecê-la – e isso trouxe uma branda tristeza ao seu coração – ela respondeu, titubeante.
- Claro, mas... podemos ir por meios trouxas mesmo? Ainda não me acostumei com esse negócio...
Ele lhe estendeu o braço num gesto galante, enquanto se dirigiam para a estação do metrô.

Uma hora depois, estava sentada ao lado de Snape, na velha sala de jantar do Largo Grimmauld, fitando todos aqueles rostos. Alguns, já conhecia, pois os vira na festa de casamento de André ou na Toca, no almoço de Natal. Outros, como Olho Tonto, Lupin e Tonks, assim como Minerva McGonagall e Hagrid, via pela primeira vez.
Antes de começarem a relatar as últimas informações (1), alguns estavam muito curiosos sobre aquela desconhecida ao lado de Snape. Mesmo os que já a conheciam, como exceção de Harry, Ana, Arthur e Molly, a olhavam com certa estranheza, desde que chegara, mas ninguém havia se encorajado a perguntar alguma coisa.
Quando Snape pediu a palavra, todos se asserenaram quase que instantaneamente e o encararam. Sarah pode notar que nem todos faziam isso com naturalidade ou sem uma postura defensiva e desconfiada, e imaginou que ainda haveriam resquícios do velho rancor e mágoa.
- Aqueles que estiveram presentes ao casamento de Susan Bones com certeza já conhecem a Srta Sarah Laurent e sabem que ela é irmã do noivo. – Snape começou, sem demonstrar qualquer emoção – E alguns já estão cientes de que, em virtude de suas qualificações profissionais e experiência, ela foi convidada para trabalhar conosco na Fundação Fênix, mais especificamente nos contatos com instituições e autoridades trouxas.
Alguns deixaram escapar exclamações de surpresa, outros a cumprimentarem discretamente. Ela se sentiu levemente desconfortável.
- Tudo bem, ninguém vai estuporá-la – Harry, que estava mais próximo, brincou, em voz baixa.
Ela o fitou, alarmada, e sorriu, tentando relaxar.
Snape, num gesto inesperado para todos, enlaçou seu braço, antes de se voltar para os outros e acrescentar:
- Alguns já sabem também que ela está nos ajudando atualmente, escondendo e vigiando Draco Malfoy nas dependências do Lar de Elizabeth. - Snape aguardou que um novo burburinho cessasse, o que aconteceu com um simples olhar seu pela mesa. - O que a maioria desconhece, entretanto, é que Sarah faz parte da família Snape. Mas... – sua voz se elevou aos burburinhos que surgiam, demonstrando as interpretações diferentes de cada um para sua fala.
- Fale de uma vez, homem! Olho Tonto exclamou – Não vê que a pobre moça está quase indo parar debaixo da mesa?
Sarah, ficou vermelha. Era uma pessoa segura, que não se intimidava com quase nada, mas aquela situação era por demais embaraçosa para ela. Forçou-se a respirar fundo e fitou Snape, demonstrando que concordava inteiramente com o velho auror.
Intimamente, já estava preparada. Tinha certeza de que a simpatia nos rostos da maioria desapareceria assim que soubessem a verdade...
- Potter e... Smith – ele esperou, mas Ana desta vez não reagiu como sempre, mais preocupada que estava com Sarah – já sabem. Assim como Arthur e Molly. E logo, estaremos regularizando totalmente a nossa situação junto ao Ministério da Magia.
Suas palavras não poderiam ter causado maior alvoroço.
- Caramba, Snape vai casar? Nunca pensei que acharia alguém louca o suficiente... – Jorge comentou, nada discreto
- É aquele velho ditado: tem gosto para tudo. Bem... Parabéns, então... Eu acho! – retrucou Fred e, olhando para a Sarah, sussurrou - Se quiser ajuda para fugir do país...
- É. Ainda há tempo – Jorge completou, com uma piscadela.
- Meninos! – a voz escandalizada de Molly sobressaiu-se ao burburinho formado, enquanto Snape os fitava com seu costumeiro sorriso irônico, quando Sarah o cutucou:
- Você fez de propósito! Precisava fazer isso? Você é incorrigível!
- Ora, minha querida. Há muito não me divirto assim, desde... aquela invasão de suas amigas para conhecer “seu amigo inglês”...
Ele sorria, tal qual naquele dia, e Sarah por um instante o viu como naquela tarde tão longe: o desmemoriado John Smith
À volta deles, todos já haviam silenciado. Percebendo isso, Snape apenas sorriu para ela e voltou-se para os demais, novamente sério.
- Sinto desapontá-los, garotos, mas não. Não vou me casar. Mas Sarah vai passar a assinar Snape, sim. Porque é seu direito fazê-lo. Direito de nascença. Ela é minha irmã. Minha irmã gêmea.
Se Voldemort em pessoa tivesse aparatado sobre a mesa, o susto não teria sido tão grande. Os gêmeos praticamente caíram de suas cadeiras, e exclamações de espanto foram ouvidas por toda parte. Snape continuou, ignorando o efeito de suas palavras.
- Seu nome de batismo é Serenna Snape, nome pelo qual passará a atender a partir de hoje, em nosso meio. Claro que continua tendo vínculos com a família trouxa que a criou, e temos alguns... procedimentos legais para ver. Mas ela tem o direito de ser reconhecida como a bruxa que é, e respeitada como tal. Mesmo... – ele deixou transparecer uma certa mágoa – sendo uma Snape.
Após o choque dos primeiros instantes, todos agora falavam sem parar, e vinham cumprimentá-la.
- O Morcegão tem uma irmã! Cara, dá pra acreditar? – Rony comentou em voz alta, e Hermione puxou-o pelas vestes. Snape o encarou feio, e o ruivo sentiu-se mais uma vez como se estivesse em plena aula de poções no primeiro ano, ficando rubro até as orelhas.
Em pouco tempo, porém, a conversa já se normalizara. A pergunta que pairava no ar era: como?
Snape explicou rapidamente os fatos ocorridos, e as circunstâncias que o levaram a reencontrá-la.
Após alguns minutos, Lupin comentou:
- Quem sabe como seria a sua história, Snape, se sua irmã tivesse ido a Hogwarts com você? Talvez... tudo fosse diferente.
- Com certeza – Snape exclamou, sorrindo para a irmã.
Ele também já pensara no assunto. Tendo Sarah, ou melhor, Serenna ao seu lado, talvez ele tivesse crescido menos arredio, menos arrogante, menos solitário...
Ela, por sua vez, nem sequer cogitara do assunto, e fitou Lupin, assustada.
- Sinceramente... eu... nem faço idéia. Nem sei pra qual casa iria...
- Ora, Sonserina, claro! – Rony exclamou, impulsivo e sutil como sempre.
- Você está enganado, Weasley, Serenna não seria uma sonserina – a convicção com que Snape disse isso os surpreendeu mais uma vez.
- Pra que casa, então? Corvinal... ou Lufa-Lufa? – Ana indagou.
- Não se iluda, Smith – Snape lhe sorriu de forma estranha – Mesmo que vocês duas tivessem a mesma idade, o que, graças a Merlim, não têm, vocês não estariam na mesma casa, confabulando sobre novas maneiras de me atormentarem... Serenna seria Grifinória, com certeza.
- Como pode saber com tanta certeza? – Harry retrucou. O tom calmo com que Snape dizia isso não podia ser normal.
- Ora, Potter. Você ainda duvida? Você a viu em ação por duas vezes, tentando me salvar...
Lupin, que examinava o rosto de Sarah com atenção, exclamou:
- Era ela? Aquela noite, no Caldeirão Furado? Quando você desapareceu?
- Sim – Snape confirmou – E, quando Potter foi me buscar, ela se atirou entre nós, pensando que eu seria atacado.
- Por Merlim! – Olho Tonto exclamou.- Que temeridade! Se fosse verdade, poderia ter morrido!
- Concordo, Moody. Aliás – Snape sorriu de maneira estranha – Talvez seja mais aconselhável convencer o Chapéu seletor a abrir uma nova casa em Hogwarts.
- Do que você está falando, Snape? Que história é essa?
- Bem, mesmo não levando em conta que doar o próprio sangue para um desconhecido não é exatamente...
- Doar o sangue? Molly o interrompeu – O que é isso? Você por acaso...
O terror em sua voz não passou despercebido.
- Não, Molly, não sou um vampiro. – ele respondeu rispidamente, olhando de relance para Ana, mas continuou com um tom mais calmo, quando a própria Sarah lhe deu um leve cutucão de reprimenda - Apenas... os trouxas não conhecem poções de reposição do sangue, e eu estava quase morto. Fizeram o que chamam de “transfusão”.
- Que interessante! – Arthur não se conteve – Como funciona?
- Depois, Arthur, depois – Molly o fez quietar-se.
- Ela ainda me acolheu em sua casa, sem saber nada de mim. E mesmo quando soube quem eu era, quando comecei a recuperar a memória... acreditava em minha... inocência mais do que eu mesmo.
Esta afirmativa pareceu lembrar a todos que ele ainda era o assassino de Dumbledore, e um pequeno mal estar invadiu a sala. O próprio Snape pareceu triste e distante, absorto em lembranças desagradáveis. Após alguns minutos, completou:
- Ela confiava em mim acima e apesar de tudo, e me deu coragem para achar um jeito de voltar e enfrentar o que me esperava por aqui, fosse Azkaban ou... coisa pior. – ele olhou para Harry por um momento, e continuou - Tratou-me sempre com a mesma consideração e respeito e, ouso dizer, carinho, que devotava aos seus irmãos trouxas, mesmo sem saber dos laços que nos uniam, e nunca receou minha presença. Tinha um assassino dormindo no quarto ao lado, e se preocupava com o presente de Natal que compraria pra mim...
Após pequena pausa, ele continuou em voz solene:
- Talvez seu lugar não seja na Grifinória, afinal, mas numa casa que abrigue aqueles que amam incondicionalmente, confiam acima de tudo e dão a própria vida em nome desse amor e dessa confiança...
- Do que você está falando, Snape? Que idéia absurda é essa? – Minerva o fitou, aturdida.
- Falo da criação de uma 5ª casa em Hogwarts. A Casa de Dumbledore. (2)
Ninguém conseguiu falar nada. A emoção dominou a todos. Sarah, incapaz de dizer alguma coisa, apenas se atirou nos braços do irmão, abraçando-o como nunca se atrevera antes, e seu gesto pareceu despertar a todos.
Logo, estavam todos falando ao mesmo tempo, vindo cumprimentá-la, desejando-lhe boas vindas, enquanto Snape apenas os olhava, sorrindo levemente. Tinha certeza de que sua irmã conquistaria a todos, como conquistara a ele mesmo.
Do outro lado da sala, Ana lhe sorriu também, como a dizer que afinal não fora tão difícil como imaginara.

*****************************
(1) Harry Potter e o Retorno das Trevas - Sally Owens
http://www.floreioseborroes.com.br/menufic.php?id=7942

(2) A idéia, excelente, não é minha, gente. Está na fic “Hermione Granger e o Ex-Comensal da Morte” – autora: Natália GAG
http://www.floreioseborroes.com.br/menufic.php?id=10143

*****************************
amanhã, posto mais um (infelizmente, o último)

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.