cap. 2 (ok, não consegui dar n



Nunca, mas nunca, Snape se imaginara cuidando de uma criança pequena. Por isso, não fazia nem idéia de por onde começar. Tendo apenas sua própria infância como referência, ficava muito difícil...
Mas estava num beco sem saída. O joelho voltara a infeccionar, apesar de todas as poções que tentara. Nagini tinha um veneno incomum...
Assim, não se arriscara a aparatar levando o garoto, novamente. Quase não conseguira chegar em casa com ele. E, também, para onde mais o levaria? Não podia simplesmente abandoná-lo em algum lugar...
Pedir ajuda também era impraticável. Estava sem uma coruja pessoal e era o único bruxo naquele vilarejo miserável. Restava-lhe a lareira... mas a quem recorrer?
Por várias vezes, tentou uma antiga parenta, que lhe era pessoa de confiança, mas a sala da mulher permanecia vazia e fria, sem resposta.
Sempre fora auto-suficiente, não tinha amigos... nem passara pela sua cabeça recorrer a alguém da Ordem, simplesmente por não pensar neles como “amigos”.

Assim, a noite chegou e foi encontrá-lo sentado em uma velha poltrona, observando o garoto, que dormia em sua cama.
O pequeno mal abrira a boca, desde que haviam chegado. Snape lhe dera um pouco do que tinha em casa para comer, mas sabia que não teria nada que oferecer no dia seguinte. Nada do que tinha na despensa era apropriado para um garotinho.
- Merlim, onde eu fui me meter? – ele rosnou, enquanto tentava se erguer, mas uma fincada no joelho o fez quase urrar de dor.
O garoto abriu os olhos, assustado, e Snape se censurou por tê-lo acordado.
Mas o menino apenas o fitou por alguns segundos, antes de perguntar:
- Está doendo muito? O seu machucado?
- Sim. – Snape murmurou
- Mamãe sempre cantava pra mim, quando eu sentia dor. Posso cantar pra você?
O inusitado da pergunta fez Snape encará-lo, primeiro sem entender, depois, com um ar divertido, ao responder:
- Acho que só funciona quando são as mães que cantam...
- Sua mãe cantava pra você, também?
Snape respirou fundo, tentando se lembrar de sua mãe... mas só conseguia visualizar uma mulher magra, pálida, de feições sempre consternadas, chorando ou brigando com alguém...
- Não. – ele disse, por fim – Mas é melhor você dormir. Vou lá embaixco ver se consigo preparar uma poção.
- Eu gosto de fazer poções...
- Mesmo? Que bom. Então, amanhã, você pode me ajudar. Por hora, apenas durma.
- Boa noite...
- Boa noite.
Snape observou-o se virar para o outro lado, puxar a manta com suas mãos pequeninas e, em poucos segundos, voltar a dormir.
Então, deixou o quarto, caminhando com dificuldade e pensando que só podia estar louco... este fora o diálogo mais longo que tivera com uma criança, sem tirar pontos ou proferir ordens de detenção...
Mas nem era mais professor... pensou, com amargura. Sua vida estava, agora mais do que nunca, completamente sem sentido...
Mas não ia pensar no sentido de sua vida agora. Tinha que dar um jeito naquela dor e, mesmo que sob efeito de alguma poção forte, também dormir.

Na manhã que se seguiu, e várias outras depois dessa, Snape se viu saindo em busca de leite e outros alimentos adequados para uma criança. Precisou dar uma ajeitada no interior de sua velha casa, temendo que o garoto se ferisse. O único problema foi tentar usar o mínimo possível de magia, e ainda por cima sentindo dor.
Mas os dias se transformaram em semanas, e cada vez mais Snape se viu acostumado com a presença do pequeno Alan, que era, como ele mesmo, de poucas palavras – embora de vez em quando resolvesse despejar uma torrente de informações ou perguntas.
Assim, Snape ficou sabendo sobre a família do garoto, dois pais já avançados em idade, que tinham recebido seu nascimento como um verdadeiro milagre, e por isso, tudo faziam paraq protegê-lo. Era de se esperar que fosse mimado e reclamão, mas não. Parecia ter até mais do que apenas quatro anos, tamanha a seriedade com que conversava e os conhecimentos que já demonstrava.
Snape tinha certeza de que ele seria um grande bruxo, se conseguisse sobreviver àquela temporada aos seus cuidados.
Aos seus cuidados... até para ele aquilo soava antinatural... Quem acreditaria nisso?
Mas Snape estava cansado, ferido, esgotado de todas as formas, e a presença do menino lhe trouxera... esperança?
Talvez.
Ele só sabia que era bom se sentir necessário de novo, e agir como se não fosse quem era. Severus Snape, o ex-comensal, ex-professor de Hogwarts... e um assassino confesso.
Era bom sentar-se à noite, ao lado da lareira, e contar histórias ao garoto, enquanto aplicava poções no joelho ferido. Era agradável ver como o garoto observava seus movimentos, perguntava sobre as poções que preparara, indagava sobre feitiços e azarações, bruxos e criaturas mágicas.
O garoto tinha sede de conhecimento e Snape gostava de ensinar daquela forma, sem compromisso notas ou prêmios, apenas pelo prazer de repassar o que conhecia.
Sim, a presença do garoto lhe proporcionava um prazer que lhe parecia até... vergonhoso.
Ele, Snape, não tinha o direito de dividir seu teto e sua vida com uma criança inocente... com certeza em breve o estaria contaminando com os horrores que trazia dentro de si...
Mas Alan lhe sorria ao dizer que estava com sono, e desejar boa noite... subindo depois em silêncio para o quarto e deixando-o só com seus pensamentos e fantasmas do passado.

Sim, fantasmas. Especialmente aquele...
Não que Dumbledore fosse um fantasma verdadeiro... Não, quem via na morte uma passagem para a aventura seguinte, não permaneceria nunca como um fantasma..
Não. Dumbledore era uma presença quase tão tangível como quando estava vivo, e ainda mais perturbador por isso. E quase todas as noites aparecia para perguntar como estava se saindo como “pai”...
- Não sou pai dele! – ele gritava, mas o velho apenas sorria.
Nesta noite, porém, o velho estava sério, ao dizer:
- Você precisa confiar em alguém, pra te ajudar com o garoto. Em breve, não poderá mais mantê-lo aqui.
- O que você quer dizer como isso? – Snape indagou, mas a figura desaparecera – Diabos, será que nem morto você vai deixar de interferir em minha vida? O que eu preciso fazer, pra ficar livre de você? Matá-lo de novo?
- Não – a voz inconfundível soou em sua mente – Você só precisa... Viver!

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