O segredo de Hagrid
Hagrid guiou Harry até o lugar mais silencioso que encontrou, o fim de um corredor no segundo andar. Ele ajoelhou pra ficar da altura do rapaz e pela cara do guarda-caça, Harry percebeu que o assunto era sério.
_ Olha, eu... eu não sou um cara comum, você sabe disso, né? – começou Hagrid.
Harry não sabia se devia responder ou não. Por fim, apenas balançou a cabeça, sem dar certeza de sua resposta.
_ E você também sabe que quando eu coloco uma coisa na cabeça, bem, fica meio difícil de tirar.
Harry olhou mais uma vez para o rosto de Hagrid. Não sabia aonde aquela conversa iria chegar.
_ Hagrid, você sabe que pode confiar em mim. Eu nunca contei para ninguém sobre as coisas que você fazia.
_ Eu sei, mas agora é um assunto mais delicado. Tem haver com você, Harry.
_ Comigo?
_ Isso, eu escondi isso de todo mundo. Só Dumbledore me entendeu e me ajudou.
_ Escondeu o quê? Hagrid, eu estou começando a ficar preocupado.
_ Venha comigo, Harry. Preciso lhe mostrar algumas coisas.
O meio-gigante saiu apressado do castelo em direção à floresta proibida. Harry corria atrás tentando manter uma aproximação razoável.
Hagrid embrenhava-se cada vez mais entre as árvores. Caminhava sempre apressado. Parecia que queria terminar logo com aquilo, como se tivesse medo de alguma coisa. Ou pior, medo de desistir.
Harry o seguia de perto e não conseguia imaginar o que Hagrid poderia ter para lhe devolver. Ainda mais um segredo tão bem guardado, afinal, ele sabia que Hagrid nunca fora bom em guardar segredos. O ar gelado doía os pulmões do garoto.
O guarda-caça parou de repente e Harry trombou em suas pernas.
_ Já cheg... – ia perguntar, mas Hagrid o interrompeu.
_ Quieto, não faça barulho! Agora tente se aproximar devagar – pediu sussurrando.
O rapaz obedeceu-lhe o melhor que pode. Quando se posicionou ao lado de Hagrid, pode ver uma mancha escura andando lentamente pela floresta. A criatura não tinha pressa. Parecia que estava a passeio.
Sem querer, Harry deu um passo atrás e pisou em um galho seco, que estalou provocando um eco na floresta silenciosa.
Os dois assustaram-se e ficaram esperando a criatura correr, espantada pelo som do galho.
No entanto, ela levantou a cabeça e quando viu os dois parados caminhou até eles. Farejou os dois e ficou ali, olhando, como se esperasse que falassem alguma coisa.
Harry procurou o olhar de Hagrid, mas não encontrou. O guarda-caça estava paralisado, admirando a criatura, emocionado com a situação.
Não era um dos bichos que Hagrid costumava idolatrar. Parecia totalmente indefeso, pequeno e simples. Nada de espinhos, bicos afiados ou chamas lançadas pela boca. A criatura que encantava o meio-gigante era uma simples cabra.
O jovem bruxo ficou sem saber o que dizer. Por fim, perguntou:
_ Hagrid, que bicho é esse? – imaginando se tratar de um bicho perigoso com aparência inofensiva.
_ Uma cabra, Harry. Vai me dizer que nunca viu uma?
_ Eu conheço cabras, mas queria saber o que essa tem de tão especial?
_ Essa cabra eu ganhei da minha mãe, Harry, antes dela ir embora. Me pediu que cuidasse dela com muito carinho e a mantivesse em segurança.
A cabra, perto do guarda-caça parecia um cachorrinho de bolso. Por que, afinal de contas, Hagrid teria que cuidar de uma cabra? Harry pensou muito e fez essa pergunta ao meio-gigante, que respondeu:
_ Ah, Harry, ás vezes eu esqueço que você não cresceu no mundo mágico. As crianças bruxas aprendem desde cedo uma lenda que diz que existe uma cabra que nasceu junto com o mundo. Essa cabra só deixa ser ordenhada em épocas de guerra, e seu leite alimenta o guerreiro escolhido por uma profecia.
_ Nossa, nunca ouvi nada disso! Mas a Hermione deve saber toda a história dessa lenda. – comentou Harry.
_ Mas não é uma lenda, Harry. É real. E sou eu quem cuida dela.
_ Quer dizer que essa cabra é tão velha quanto o mundo?
Hagrid deu uma risada sufocada para não assustar o bicho.
_ Não seja bobo, Harry. Nenhum animal vive tanto tempo assim. Ela é uma descendente da cabra da lenda.
_ E por que sua mãe estava com essa cabra?
_ Agora eu não posso lhe contar, preciso fazer uma coisa antes que ela mude de idéia. Depois você pergunta para a Mione. Ela lhe contará tudo!
Hagrid deixou Harry no mesmo lugar, se aproximou cuidadosamente da cabra e ajoelhou-se. Tirou um cantil de couro do bolso do casaco e fez alguma coisa que Harry não conseguia ver.
Depois, virou-se para o rapaz e entregou o cantil.
_ Aí está, o leite de Held. Faça bom proveito!
Harry continuou com a cabeça cheia de dúvidas. Guardou o cantil em seu próprio bolso e seguiu calado, atrás do meio-gigante.
O jovem achou que eles voltariam para o castelo, mas Hagrid se embrenhou ainda mais na floresta. Harry quase não conseguia acompanhá-lo. O adiantado das horas aumentava o frio.
Depois de quase 30 minutos de caminhada, ele chamou pelo amigo:
_ Hagrid, espere um pouco! Onde você está me levando?
_ Eu disse que tinha uma coisa relacionada a você que precisava mostrar.
_ E onde está essa... essa coisa?
_ Logo ali, mais uns 15 minutos, Harry, eu garanto que você vai adorar!
Harry torceu para que a coisa em questão não fosse nada ao gosto de Hagrid. Normalmente, as coisas que o guarda-caça do castelo gostava eram gigantescas e perigosas.
_ Pronto, chegamos! – avisou Hagrid.
Harry viu um galpão, velho, mas bem construído, feito de madeira e sem janelas. Apenas uma porta larga indicava a entrada do lugar.
Havia uma enorme corrente mágica e um cadeado com dentes, caso alguém tentasse arrombar.
_ Medidas de segurança – explicou Hagrid – tive que colocá-las quando os comensais invadiram o castelo.
Ele tirou o guarda-chuva cor de rosa do bolso e fez um aceno suave. Logo as correntes sumiram e o cadeado virou um bichinho parecido com uma borboleta.
_ Agora, ajudaria se você fizesse uma luzinha aí, Harry.
_ Lummus – murmurou o rapaz cada vez mais interessado em saber o que haveria dentro do galpão.
Hagrid abriu a porta larga e Harry pode avistar um objeto muito grande, coberto por um tecido grosso e escuro.
O meio-gigante puxou o pano com um movimento rápido e revelou o que havia debaixo.
_ E então? Gostou? É seu presente de aniversário! – falou Hagrid.
Harry estava boquiaberto.
_ Mas, você já me deu... quero dizer, você me escreveu... e isso deve ser caro... eu... – o rapaz continuou a balbuciar algumas coisas, até que Hagrid o interrompeu.
_ Escuta, esse presente não é meu. É do Sirius. Uma vez ele me pediu que guardasse isto aqui. Que daria a você quando fizesse 17 anos. Ele não teve tempo, mas eu fiz cumprir a palavra dele.
Harry abraçou Hagrid comovido. Agora ele tinha alguma coisa que era realmente a cara de seu padrinho.
Eles voltaram para o castelo muito mais rápido do que o jovem poderia imaginar. Quando chegaram, a festa ainda continuava animada.
Harry correu até os amigos e falou:
_ Venham, venham ver o que meu padrinho deixou para mim!
Gina, Mione, Rony, Luna e Neville o seguiram até o jardim. Lá chegando encontraram uma moto enorme, preta, com detalhes em prata. Sobre a direção havia uma figura de um lobo uivando.
Hagrid explicou-lhes que ela era enfeitiçada e que podia voar. Contou que foi nela que ele levara Harry até a casa de seus tios quando ele derrotou Voldemort pela primeira vez.
A moto era linda e muito bem cuidada. Os assentos eram macios e, como Harry descobrira na volta para o castelo, ela era muito fácil de ser conduzida.
Eles voltavam para a festa quando Harry segurou Gina pelo braço.
_ Vamos passear nela depois da festa? – perguntou com o mesmo ar irreverente de seu pai.
_ Vamos, deve ser uma delícia!
De volta ao castelo, Harry foi pegar sua varinha para brincar com Rony, quando se lembrou que havia algo mais em seu bolso. Tirando o cantil com o leite da cabra Held, ele foi atrás de Hermione.
A jovem estava sentada, comendo uma tortinha de abóbora e rindo das piadas de Luna.
_ Mione, preciso falar com você – disse em tom de quem faz um pedido.
Ela se endireitou na cadeira e respondeu que ele poderia falar.
_ Você sabe alguma coisa sobre a lenda de uma cabra que nasceu junto com o mundo?
_ Sei sim, é uma história que contam para as crianças. Para que elas comam direito.
_ E como é essa história?
_ Por que quer saber? Está tendo dificuldades para comer? – zombou Rony que acabara de chegar e ouvira a conversa.
_ Deixa de ser bobo! – respondeu Harry rindo – Depois eu explico o motivo, agora preciso saber da história.
_ OK. Sente-se então. A lenda diz que, assim que o mundo foi criado, uma cabra surgiu para dar de comer ao primeiro homem. O leite da cabra amamentou esse homem até ele conseguir seu alimento sozinho. Mas o leite da cabra era tão bom, que ele ficou muito forte, desafiou os deuses para um duelo e venceu.
_ Como prêmio, os deuses lhe concederam um desejo. Como muitos outros homens já haviam aparecido e as guerras eram constantes, ele pediu para se tornar mais alto que as árvores e montanhas, para poder enxergar ao longe quando os inimigos se aproximassem.
_ Os deuses concederam o pedido e ele virou o primeiro gigante. Mas havia uma condição: sua força só existiria enquanto a cabra sobrevivesse e suas gerações fossem protegidas. Assim, a cabra é passada de geração para geração, afim de que os gigantes mantenham sua força. – finalizou Mione.
Harry olhava para a garota e segurava o cantil dentro do bolso. Retirou o objeto e colocou na mesa.
_ O que é isso? – perguntou Luna.
_ Leite. Da “tatatataraneta” dessa cabra – falou Harry.
_ Ah bom, pensei que fosse kumkis. Meu pai usa um cantil desse para guardar kumkis, sabe, ele é muito inflamável.
Ninguém assustou com o comentário de Luna. Ela era especialista em fazer comentários em horas impróprias, mas os amigos não importavam com aquilo.
O que todos queriam saber agora era como Harry conseguiu aquilo. E ele teve que explicar que quem cuidava da cabra agora, era Hagrid. Que todos aqueles animais perigosos eram para impedir que a cabra fosse atacada. E que Hagrid deu-lhe o leite sem explicar o que fazer com ele.
_ Acredito que o único jeito de usar um cantil de leite é bebendo – sugeriu Gina.
_ Eu sei, mas tem um lance de hora certa de usar. Quando vai ser a hora certa?
Todos pensaram a mesma coisa. A hora da batalha contra Voldemort. Mas ninguém falou e o assunto morreu.
A festa estava no final, quando Harry chamou Gina para o passeio de moto. Eles saíram sorrateiramente e alcançaram o jardim, onde a moto estava estacionada. Subiram e Harry ensinou a ela como dar partida.
Em poucos instantes a moto deslizava pela grama molhada co castelo.
_ Vamos voar? O céu está lindo e mercê um vôo, você não acha? – perguntou Harry.
Gina só respondeu com um aceno de cabeça e Harry deu o comando para que a moto levantasse vôo.
Eles sobrevoaram o jardim, passaram por cima do salgueiro lutador, pela orla da Floresta Proibida, pelo lago, onde puderam ver o reflexo da moto na água e se viraram para voltar para o castelo.
Já estavam a meio caminho quando Harry ouviu Gina gritar.
Ele olhou para trás assustado. A jovem estava ali, firme na moto voadora, mas seu rosto estava apavorado e suas mãos apontavam para alguma coisa distante.
Harry olhou a direção que ela apontava e também se preocupou. A Marca Negra pairava sobre algum lugar de Hogsmeade.
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