O presente de casamento



Diante de todos os acontecimentos, Harry adiou sua ida para A Toca. Ele queria organizar tudo direito. Àquela tarde iria visitar a Srª Figg e lhe contar o que mais descobrira. Ela gostaria de saber.
O rapaz não entendia exatamente o que havia acontecido, só tinha certeza que a voz de sua mãe o deixara mais emotivo. Por isso havia presenteado a tia e agora ia até o centro da cidade comprar uma bela caixa de bombons para a vizinha doente.
Tudo transcorreu muito bem e Harry voltava para casa com aquela enorme caixa de bombons finos quando percebeu uma movimentação de pessoas estranhas na Rua dos Alfeneiros. Pareciam bruxos e bruxas vestidos com roupas trouxas.
Ele apressou o passo e percebeu que o reboliço acontecia na casa da Srª Figg. Harry chegou a tempo de ver o caixão verde florido ser retirado da casa. Muitos amigos choravam e ele encontrou mais uma vez com a Professora.
_ Arabella já estava bem velha e não resistiu aos ferimentos. Ela deveria ser levada ao St. Mungus, mas disse que se fosse ninguém tomaria conta de você – lhe contou a professora.
Harry não quis ir ao enterro da vizinha. Deixou a caixa de bombons na sala de visitas dela, para quem quisesse pegar. Voltou para casa e teve a desagradável surpresa de ver que seu tio e seu primo já haviam voltado da praia.
Duda parecia mais com um javali do que antes. Emagrecera um pouco, é claro, graças à dieta forçada a que era submetido na casa dos pais. Mas seus olhos estavam fundos e a pele macilenta e amarelada, comum as pessoas viciadas em álcool e em coisas mais perigosas.
Quando ele viu Harry já veio com jeito de quem queria arrumar confusão. Mas Harry só queria ficar sozinho. Então, quando o primo se jogou pra cima dele, ele apenas desviou e o corpo gordo e lento de Duda caiu no chão.
Antes que alguém pudesse falar alguma coisa, Harry foi para o quarto. Escreveu um bilhete para a tia dizendo que estava indo embora, de vez. Agora ele era adulto e poderia se cuidar. No final do bilhete, ele escreveu que se ela mudasse de opinião que o mandassem avisar. Ele a ajudaria.
Harry colocou todos os presentes no malão, as cópias dos testamentos e a carta de Dumbledore. Soltou Edwiges e disse que o encontrasse na Toca. Mas na hora de sair, lembrou-se de que ainda não comprara um presente de casamento para Gui. Resolveu, de última hora, ir para o Beco Diagonal e aparatou na porta do Caldeirão Furado.
O beco parecia mais vazio, mas ainda assim as lojas estavam abertas e Harry achou melhor guardar seu malão em algum lugar. Entrou no bar e pediu um quarto. Guardou suas coisas, lançou um feitiço antiarrombamento nas portas e janelas e saiu.
A primeira coisa que fez foi ir até o Gringotes. Levou a chave consigo e o testamento de seu avô. Autorizou o duende a ler o trecho com os bens que possuía e logo teve acesso ao cofre. O de seu avô tinha ainda mais dinheiro que o de seus pais. Além disso, haviam pedras preciosas e barras de ouro inteiras. Harry retirou uma boa quantia. Mais que o suficiente para mantê-lo com um certo luxo durante uns dois anos (ele não sabia quando teria tempo de retornar ao banco). Depois visitou o outro cofre com as coisas de família.
Esse segundo cofre conseguia ser mais surpreendente que o primeiro. Havia uma foto com seus avós e sua mãe e sua tia ainda pequenas. Alguns móveis antigos, muito bem conservados, livros de receitas, pratarias, jogos de xícaras, louças importadas e finíssimas.
Harry pensou o que faria com tudo aquilo. Eram coisas de sua família, mas todos, ou melhor, quase todos estavam mortos. Só ele e sua tia restavam. Mas Harry não usaria nada daquilo e sua tia deixara bem claro que não queria nada também.
Então ele teve uma idéia. Quem mais, além dos Weasley, representava para Harry uma família? Ele usaria aquilo como presente de casamento para Gui e Fleur. Ficou ali, sem saber qual peça escolher. Já se passavam mais de 1 hora quando Harry finalmente decidiu o que fazer. Seria uma surpresa para os noivos. Ele torcia para que ninguém recusasse seu presente.
Já ia sair do cofre quando uma caixa preta a um canto chamou sua atenção. Ele se abaixou, pegou a caixa do chão, colocou sobre um dos móveis e abriu. Lá estava ela. A famosa Jóia de Andriax. Um belo colar de ouro branco, com um pingente em forma de estrela cadente. A cauda da estrela era formada por pedras vermelhas que lembravam a Harry os rubis da ampulheta da Grifinória. Dentro da estrela uma pequena fada parecia flutuar enquanto dormia, e de seu corpo frágil emanava uma suave luz branca.
Harry fechou a caixa. Guardou-a no bolso e saiu do cofre. Ia mostrar a jóia a Hermione. Talvez ela soubesse do que se tratava a peça.
O rapaz falou com alguns duendes antes de deixar o banco e se dirigiu a uma loja para procurar uma embalagem de presente. Embrulhou o que havia escolhido e voltou para o Caldeirão Furado. Comeu alguma coisa e foi descansar para viajar no dia seguinte.
Logo pela manhã ele juntou suas coisas e aparatou no portão de entrada da Toca. Não queria matar ninguém engasgado com mingau de aveia, aparecendo do nada às 8 da manhã.
Certificou-se de que tudo estava direito, convocou um feitiço para levitar o malão e entrou pelo jardim. Tudo estava como sempre. Nenhum sinal de que dentro de dois dias um casamento aconteceria bem ali. O rapaz andou mais um pouco e parou na soleira. Bateu na porta e esperou que alguém abrisse. Ninguém veio. Ele deu a volta e foi até a porta da cozinha. Lá ouviu vozes. Então chamou mais uma vez.
Todas as vozes silenciaram e a cabeça do Sr° Weasley apareceu na janela. Ele ficou muito feliz ao vê-lo parado ali e logo abriu a porta o puxou para dentro assim como o malão.
A srª Weasley correu a abraçar o menino ao mesmo tempo que convocava mais um prato a mesa, apesar do garoto afirmar que já havia comido.
Todos ficaram muito felizes e foram cumprimentá-lo.
_ Já estávamos preocupados, Edwiges chegou ontem a hora do almoço e você não apareceu. Estávamos discutindo quem deveríamos chamar para procurá-lo – explicou o sr° Weasley.
_ Ah, bom, desculpem... eu precisava resolver umas coisas pessoais e comprar um presente de casamento para Gui e Fleur.
_ Que é isso, meu querido, não precisava se incomodar – respondeu corada a mãe de Rony.
_ Mas não foi incômodo nenhum, eu quis, e me diverti muito fazendo isso – respondeu o rapaz, torcendo para que ninguém ficasse chateado com seu presente.
_ Tudo bem, Gui e Fleur saíram para buscar algumas coisas que precisamos para terminar os enfeites, mas devem estar de volta antes do fim da tarde. Aí você entrega seu presente a eles, ok? Agora coma um pouco de mingau...
Harry não teve alternativa a não ser comer o mingau que a mãe de seu melhor amigo lhe servia. Assim que ele acabou, pediu a Rony que o ajudasse com o malão e foram para o quarto do rapaz.
Já instalado, Harry perguntou ao amigo onde estava Hermione.
_ Sei lá... ela escreveu um bilhete curto e grosseiro, dizendo que demoraria mais que o esperado. O “Vitinho” veio passar férias com ela – responde Ron com azedume.
_ Ah, é que aconteceram tantas coisas, seria mais legal contar para os dois juntos.
_ Mas você pode contar pra mim, afinal ela achou mais legal ficar com aquele... aquele... ah, você sabe!
Harry achava engraçado como nenhum dos dois assumia o que sentia. Mas deixou para falar desse assunto mais tarde. Começou a contar a Rony tudo o que tinha acontecido, desde a descoberta das origens de sua família, ainda obscurecidas pelo mistério da jóia e do livro. Também contou dos testamentos e da morte da Srª Figg.
_ Papai comentou sobre a morte dela. Disse que ela foi ferida, né? Mas quem ia querer ferir uma velha abortada?
Harry teve que explicar que a Srª Figg era espiã de Dumbledore e havia descoberto coisas horríveis.
_ Puxa, eu não imaginava... Ainda mais que ela se arriscaria tanto. Papai precisa saber o que ela descobriu. Agora ele faz parte de um departamento mais legal no Ministério. Depois ele te conta o que é, porque eu não sei explicar direito.
O resto do dia passou tranqüilo. Harry ajudou o amigo a cuidar do jardim e os dois pintaram a cerca da frente. Foi preciso cinco tentativas para que a cor certa saísse das varinhas dos garotos. Eles terminaram o dia com tinta até nos cabelos e logo entraram para tomar banho.
Quando Harry desceu, encontrou Fleur e Gui. Os dois estavam mostrando as coisas que haviam comprado e abriam os presentes que chegaram durante o dia. Assim que viram o rapaz, os dois se levantaram. Fleur se adiantou:
_ Que bom que veio, Arry. Nós dois ficam felizes com você aqui.
_ Eu também fico feliz em estar aqui. E você, Gui? Como está?
_ Bem, Harry. Bem melhor se quer saber. A lua Cheia me deixa mais estressado e sensível, mas não tenho vontade de atacar ninguém e isso é uma benção.
_ Que bom!... Olha... É... eu tenho um presente para vocês. Espero que não fiquem chateados comigo. Eu não sabia o que dar, nunca fui a um casamento antes e imaginei que vocês já teriam ganhado muitos presentes – disse o rapaz, meio sem jeito, entregando uma grande caixa aos noivos.
Vendo o que acontecia toda a família se reuniu em volta dos dois para ver que presente poderia chatear alguém.
Fleur desembrulhou o presente com cuidado. Era uma bela caixa de madeira entalhada, havia um brasão na tampa com o desenho de um gamo pisoteando uma cobra. Abaixo, escrito em latim algo que significava mais ou menos “Existem coisas que são para sempre”. Assim que abriram a caixa Fleur precisou se sentar. Até mesmo para uma meio-veela, a beleza do presente era muito grande. Um grande jogo de chá, feito de cristal, com desenhos diferentes em cada xícara, que mudavam de um lugar para o outro, fazendo com que pequenos arco-íris saíssem de cada peça em direção a outra.
Mas havia mais uma coisa. Um pequeno envelope. Dentro havia uma chave, um pedaço de papel com um número e um cartãozinho com os seguintes dizeres:

Fleur e Gui,

Espero que não fiquem ofendidos. Mas sinto que vocês são como minha família e queria dar um presente realmente útil.
Não se preocupem, não gastei muito com isso. E se quiserem saber, depois eu explico tudo.
Esta chave é de uma conta no Gringotes em nome dos dois e os números representam a quantia que já tem na conta. Acho que é suficiente para que vocês possam comprar uma casa.
Por favor, aceitem! Nada me faria mais feliz!

Com carinho
Harry Potter
Gui leu o cartão em voz baixa, passou para Fleur que fez o mesmo. A curiosidade de todos era tão grande que poderia ser tocada. Fleur devolveu o bilhete a Gui e, emocionada, abraçou Harry e disse ao garoto:
_ Aceitamos, Arry, aceitamos! Você também é como nosso irmão.
Gui pôs-se de pé outra vez e também abraçou Harry.
A Srª Weasley parecia que ia explodir e berrou aos três:
_ Por favor, dividam com a gente. Estamos todos curiosos!
Já mais calmo, Gui olhou para os pais e para os irmãos e disse:
_ Harry nos deu uma casa!

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