Descobertas e decisões
Todos ficaram muito comovidos com o gesto do rapaz e pediram que ele explicasse o porquê de tudo aquilo. Harry disse que tinha recebido uma herança e que poderia fazer o que quisesse com ela. Então ele decidiu que usaria seu dinheiro para dar felicidade as pessoas que amava.
Harry mal tivera tempo de conversar com Gina. A garota sempre arrumava um serviço para fazer e até seus pais notaram o quanto ela estava mais prestativa. Havia momentos em que ela sumia por horas. Depois reaparecia toda suja, suada e cansada demais para falar com alguém. Tomava um banho, comia alguma coisa e ia para o quarto dormir.
No dia seguinte, Hermione chegou eufórica. Cumprimentou a todos, entregou seu presente à Fleur e Gui (um jogo de cama com fotos dos dois, desde pequeninos – “Ah, eu escrevi para sua mãe, Fleur, e Gina me ajudou com as suas fotos Gui”) e pediu licença. Para decepção de Rony, ela não foi falar com eles e sim com Gina.
As duas garotas ficaram um bom tempo trancadas no quarto e só saíram perto da hora do almoço. A srª Weasley havia preparado cordeiro com batatas e molho de cogumelos, e de sobremesa pudim de arroz com calda de framboesa. Eles almoçaram e o Sr° Weasley sugeriu que todos tirassem o dia de folga para estarem descansados para a cerimônia da manhã seguinte.
Nesse momento Hermione se aproximou dos amigos, querendo saber das novidades: _ Já soube do seu presente, Harry. Muito legal! Mas o que aconteceu? Que herança é essa que você recebeu?
_ Se você não tivesse perdido tempo com o “Vitinho” já estaria sabendo – respondeu Ron antes que Harry conseguisse abrir a boca.
Hermione, no entanto, não respondeu como de costume. Fingiu que não escutou nada que Ron disse e ficou olhando Harry esperando uma resposta. Este não pode deixar de reparar o quanto a amiga amadurecera nessas férias. Então, em poucas palavras lhe contou tudo o que aconteceu.
_ Nossa, são muitas informações. Preciso organizar tudo isso na minha mente. Mas há qual família de bruxos famosos será que você pertence? Nenhum dos nomes que mencionou é citado nos livros sobre História da Magia.
_ Será que você não ouviu sobre o feitiço do avô dele? Os nomes foram apagados, sua esperta! – disse o ruivo ainda mau-humorado.
_ Acontece, Rony, que apagar um nome da história é muito difícil. É preciso ser um grande conhecedor das magias antigas para conseguir isso – retrucou ela. – E outra coisa, essas experiências que Voldemort anda fazendo. Isso não me agrada nem um pouco.
_ Pelo que o Sr° Weasley disse, esses seres até agora se mostraram pouco eficazes. Não demonstraram muita inteligência e tudo está do mesmo jeito que antes. Poucas mortes, poucos desaparecimentos.
_ Mas, Harry, é exatamente isso que me assusta. Está tudo quieto demais. A hora que Voldemort resolver atacar, bem, pode ser, fatal. Além disso, quanto mais burra for a criatura, mas fácil de dominar!
Os dois rapazes se entreolharam. A garota, mais uma vez, tinha razão. Como eles não pensaram nisso antes?
Ainda havia outra coisa a discutir com a menina e Harry logo tocou no assunto:
_ Olha, Mione, eu queria que você visse uma coisa. Na verdade, duas coisas que eu ganhei no meu aniversário. Não sei o que são, nem pra que servem. Estão lá no quarto, pode subir com a gente?
_ Claro, vamos até lá. Só esperem eu buscar meus livros.
_ Livros? – perguntou Rony incrédulo – A gente já combinou de não voltar a escola.
_ É, mas você consegue imaginar seu rosto sem esse cabelo vermelho, ou o Harry sem a cicatriz? Pois é, isso sou eu sem os meus livros – respondeu a garota enquanto corria até o quarto de Gina e voltava em seguida com uma mochila cheia de livros.
Eles foram ao quarto de Rony e Harry logo abriu seu malão. O amigo viu o chocalho de vassourinha e começou a “zoar” com Harry. Mas Hermione tirou o brinquedo das mãos do rapaz resmungando algo como “não é hora pra isso”.
Harry mostrou primeiro o colar. Já estava no pescoço do garoto, só que ele queria privacidade para mostrar aos colegas. Rony, de imediato, não notou nada diferente na pedrinha roxa. Harry explicou que aquilo era uma Claraluzia, mas não sabia mais nada a respeito. Disse que sua mãe usava uma. E que ia perguntar a Srª Figg no dia em que ela morreu.
_ Já ouvi esse nome antes, mas não tem em nenhum dos meus livros – disse a moça decepcionada.
_ Para mim, mais parece uma pedra preciosa. Só que é diferente de tudo o que eu já vi. Conheço os rubis da ampulheta da Grifinória e as pedras das outras casas. Mas essa aí, é novidade pra mim... - sentenciou Rony.
Como se as palavras do amigo tivessem tirado uma camada de pó de sua cabeça, Hermione levantou da cama, num gesto típico de quando ela descobria as coisas.
_ Esperem um minuto, eu já volto – disse saindo correndo pela porta.
_ Detesto quando ela faz isso – resmungou Rony.
Mas Harry percebeu que os olhos do amigo acompanharam o corpo da garota com um brilho diferente. Mais tarde ele interrogaria o rapaz. Ainda conseguiria provar que aquelas brigas constantes eram um jeito de disfarçar um sentimento mais interessante.
Foi ainda pensando nisso que Harry ouviu Hermione chegar, com um livro grosso e antigo.
_ Pedi à sua mãe emprestado, Ron. Chama-se Minerais mágicos – um guia para o explorador de pedras preciosas originárias do mundo mágico. Parece que ensina tudo o que se pode fazer com os minerais que são encontrados em todas as terras mágicas, inclusive algumas extintas. Vamos procurar no índice.
Não foi difícil encontrar, haviam seis tipos diferentes de claraluzia.
_ Ainda bem que o livro é ilustrado. Assim podemos comparar a pedra do Harry com as que estão aqui – disse Rony, bastante interessado pelo assunto.
Eles olharam as duas primeiras classificações e, na terceira, Hermione apontou:
_ Acho que é esta aqui. Pelo menos é a única roxa. Aqui diz: A Claraluzia Phinx, ou claraluz roxa, é uma pedra misteriosa, sua origem é desconhecida e poucos bruxos possuem uma. O que se sabe é que ela só mostra seus efeitos em situações de extremo perigo, emitindo uma luz que é capaz de cegar qualquer um e evocando anjos da guarda para salvar seu proprietário. É impossível comprar ou vender uma pedra dessas, pois se isso acontecer, ela perde seus poderes benéficos, e envolve seu novo proprietário numa escuridão sem saída.
_ Uau, será que você ganhou isso de alguém ou as sombras vão te envolver, Harry?
O rapaz ignorou o comentário de Ron e continuou olhando para sua pedra. Por fim, colocou-a no pescoço novamente e colocou a caixa preta sobre a cama.
_ Essa é a outra coisa. É a tal da Andriax. Esse nome também é estranho para você, Mione? – quis saber Harry.
A menina pensou um pouco e depois disse, num sussuro:
_ Já, já li sobre Andriax, na sala de Dumbledore. Mas não era sobre uma Jóia e sim sobre uma Varinha.
Os três permaneceram um tempo em silêncio, sem saber o que dizer. Até que Mione recomeçou a discussão.
_ Temos outras coisas para analisar na Jóia além do nome. Por exemplo, essa fada adormecida.
_ Acho que isso é só um truque, como nas fotos, Hermione – disse Harry.
_ Não acho - ela respondeu – Se levarmos em conta a idade da jóia é bem provável que seja uma fada de verdade. Em História da Magia o professor Binns contou que há muito tempo era comum as jovens bruxas ganharam uma fada de presente. Elas colocavam a fada em um objeto que estimassem demais. A fada não se revoltava, apenas ficava adormecida e cedia um pouco de seus poderes para a dona do objeto.
_ Como assim? A bruxa virava fada? – perguntou Rony sem entender.
_ Não, a fada se tornava uma parte da bruxa, como um talismã da sorte. Mas pelo que eu estudei, apenas as mulheres possuíam uma fada. E agora? Tudo o que eu sei já disse a vocês. O que vamos fazer?
Então Harry se lembrou da carta que a Prof. Minerva lhe entregou no dia de seu aniversário. Sem explicar nada, ele abriu o malão, retirou um pequeno livro e de lá, um pergaminho.
_ É de Dumbledore – explicou aos amigos. Se não se importam, eu queria ler sozinho. Depois mostro para vocês.
Os amigos saíram em silêncio. Harry tinha dessas coisas, gostava da solidão. Ou então, depois de tanto tempo, havia se acostumado a ela. Nos momentos mais difíceis era a ela que ele recorria para desabafar. Eles não se importavam. Eram amigos e entendiam que cada um ali tinha suas manias e “esquisitices”.
No quarto, Harry respirou fundo e, com as mãos tremendo, tirou o lacre do pergaminho e começou a ler.
Harry, Harry Potter,
Muitos o chamam de “o garoto que sobreviveu”. Eu o chamo de um aluno complicado. Intrometido. Abusado. Incomum. E o chamaria assim por toda a eternidade se me fosse possível.
Eu nunca quis fazer um testamento, Harry. Sempre achei triste demais. Além disso, tudo o que possuí, foi dado enquanto eu ainda estava vivo e podia ver o contentamento das pessoas.
Mas eu quis deixar algumas coisas para que fossem descobertas depois de eu ir embora. Veja bem Harry, eu nunca vou admitir que morri. Não, isso não aconteceu. Enxergue as coisas desta maneira: eu tirei férias. Isso mesmo! Tirei férias do meu corpo velho e cansado. Vou viajar bastante, rever velhos amigos. E vou ser feliz.
E para que essa minha “história” seja verdade eu preparei tudo para que você acredite. Por isso, vai receber cartões postais meus de tempos em tempos. Você os irá encontrar sobre a minha escrivaninha na sala da direção em Hogwarts. Esses cartões vão lhe explicar muita coisa.
Só você terá acesso a minha ex-sala. A escola tem ordens de mudar a localização da sala do novo diretor e a minha vai continuar ali, com meus objetos pessoais, quadros e livros. Entre e fique a vontade. Leve o Sr° Weasley e a Srtª Granger quando sentir vontade, bebam chá, comam biscoitos. Sejam jovens, isto é o melhor que vocês podem fazer por mim. Virar adulto antes da hora é um castigo muito grande a três jovens brilhantes como vocês.
Você deve se perguntar como eu lhe escrevi essa carta. Será que eu sabia quando iria morrer? Bom, meu rapaz, a resposta é sim. Quando se vive tanto quanto eu vivi, acontece dessas coisas. O corpo não acompanha a mente, e a gente chega ao lugar que deveria chegar, antes de nosso corpo ter sequer levantado da cadeira.
Assim sendo eu vi o que aconteceria mais tarde. E aproveito para lhe pedir uma coisa. Um último desejo de um velho amigo seu. Não julgue, não condene, não odeie. O que faz você ser assim, tão diferente de Tom, mesmo que ele o tenha marcado como igual, é sua capacidade de amar. Já lhe disse isso mais de uma vez.
Mas agora eu lhe digo que a maior mágica não está em amar seus amigos. E sim em perdoar seus inimigos e um dia, amá-los também. O amor é a arma, Harry, é a sua maior arma.
Quanto aquele nosso último segredo, você terá mais informações através dos meus cartões postais. Tenho certeza que irá gostar, você vai poder ver os lugares lindos que eu já visitei.
Com o carinho não de um amigo, mas de um avô
Alvo Dumbledore
Dessa vez Harry não chorou. Saiu do quarto, mas como não encontrou os amigos, guardou a carta no bolso e desceu.
Todos já estavam a mesa, esperando pelo jantar. A srª Weasley foi a primeira que o viu:
_ Descansou, querido? Rony disse que você havia pegado no sono, por isso não lhe chamamos para o jantar. Eu ia preparar uma bandeja e deixar ao lado de sua cama.
Harry olhou o amigo agradecido pela mentirinha e respondeu:
_ Ah, descansei sim. Estou bem melhor.
Todos comeram bolo de carne, risoto de frango e salada colorida. De sobremesa a Srª Weasley serviu sorvete de morango. Estava tudo delicioso, quando Fleur e Gui pediram a Harry, Rony, Gina e Hermione que fossem seus padrinhos. Aquilo era meio em cima da hora, mas eles faziam tanta questão que não teve como nenhum dos quatro recusar. Fleur informou que Gabriele não poderia ser madrinha por causa de um incidente com uma hevorax, uma planta que espirra espinhos venenosos. O veneno causa manchas na pele e Gabriele, muito vaidosa, não quis chamar atenção com o rosto tão manchado.
Harry ficou apreensivo. O casamento ia ser na manhã seguinte e ele não tinha um traje específico para a ocasião. Fleur, como se tivesse lido os pensamentos do rapaz, explicou:
_ As roupas de Ron e Arry estão no carto de Gui. A de Mione e Gina estão comigo. Espero que gostem. Vai ser uma cerrrimônia bem trradicional.
Depois do jantar os três amigos se reuniram na varanda e ficaram conversando. Harry mostrou aos outros a carta de Dumbledore e falou, num misto de contrariedade e alívio:
_ Vou ter que voltar a Hogwarts. Se quiser achar os outros horcruxes, terei que voltar a hogwarts.
Os outros dois também se sentiram divididos. Não que a possibilidade de voltar à escola os deixasse tristes. Mas estava tudo planejado. As compras haviam sido feitas, eles se mudariam para o Largo Grimmauld por uns tempos e depois para uma das casas de Harry.
Os três ficaram ali, sem dizer nada. Apenas olhando o céu. Era uma noite sem lua e as estrelas faziam joguinhos entre si, disputando quem brilhava mais. A srª Weasley chamou os três para dormirem. E como se tivessem ensaiado, Harry, Ron e Mione olharam o céu, e fizeram um pacto: voltariam para Hogwarts. Iam estar sempre juntos, onde quer que fosse. Eles entraram e foram para suas camas. E dormiram um sono de paz.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!