Todos os testamentos



_ Harry - falou Petúnia – esses dois senhores são advobruxos, advogados do mundo bruxo. Eles vieram aqui para a leitura de alguns testamentos.
O rapaz olhou imediatamente para a professora e esta, como se entendesse o que lhe ia a mente respondeu:
_ Não, Harry, isso não tem haver com a morte de Alvo. Ele não deixou testamentos, apenas algumas cartas. A sua está aqui comigo e logo lhe entregarei.
_ Podemos começar? Perguntou o homem que parecia o mais velho.
_ Sim, respondeu o garoto sem saber o que estava por vir.
Os dois advobruxos tiraram suas varinhas, encostaram uma na outra como num balé esquisito e pronunciaram algumas palavras que o rapaz achou serem uma língua que ele desconhecia, muito antiga.
Assim que silenciaram, a sala ficou escura. Eles começaram a distanciar uma varinha da outra e um longo fio dourado apareceu entre as duas. O fio se desenrolou como um pergaminho e várias palavras apareceram no ar. Mas antes que Harry pudesse ler, uma voz desconhecida começou a falar. Era uma voz de um homem já de idade bem avançada, que fez Harry se lembrar da voz de Dumbledore. Apesar da emoção, o rapaz prestou toda a atenção que pode. E o que a voz dizia era exatamente o que estava escrito.

Eu, Theodore Mungus Wichan

Em pleno controle de minhas faculdades mentais e meus poderes bruxos deixo estabelecidas neste documento mágico, de valor irrevogável, as minhas vontades em relação ao meu patrimônio.
Deixo, pois, tudo o que possuo em nome de minhas duas amadas filhas: Petúnia e Lílian. Abaixo segue a relação dos bens. No entanto, caso alguma delas desista de sua parte, esta irá ser imediatamente transferida ao nome da irmã ou do primeiro descendente direto.
Apenas um imóvel eu deixo em propriedade do Ministério para que o transforme em um Hospital que atenda doenças mágicas, e esse hospital deve levar o nome de meu digníssimo tataravô, Mungus Edward Wichan.

Relação dos bens de Theodore Mungus Wichan
• Dois imóveis comerciais no Beco Diagonal, que atualmente estão alugados para os proprietários das lojas Olivaras e Floreios e Borrões.
• 4 casas no povoado de Hogsmead.
• Uma conta no banco Gringotes com um valor considerável.
• Um imóvel trouxa, na cidade de Londres.
• Um livro contando toda a história de nossa linhagem.
• E, finalmente, a chave de outro cofre no Gringotes, onde se encontram os bens de família, incluindo a Jóia de Andriax.

Por fim, meu último desejo é que meu nome, assim como descendência bruxa seja apagada da história do mundo bruxo, e meus descendentes possam ter uma vida longe dos olhares maldosos daqueles que acreditam que uma pessoa só possui talento se tiver um ótimo sobrenome.

Assim sendo, encerro aqui meu testamento, certo de que minha vontade será devidamente cumprida.

A claridade voltou e de todos os presentes, só Harry parecia surpreso com o que ouvira. Ao que tudo indicara ele não era mestiço. Vinha de uma linhagem pura, antiga. Não que isso fizesse diferença para ele, ali, naquele momento. Mas o pouco que sabia de sua família era que seus pais haviam sido assassinados por um bruxo poderoso, seu padrinho caíra num túnel da morte e sua tia era uma completa trouxa, sem habilidades mágicas.
Agora tudo mudou, sua tia também era bruxa, ele era um puro-sangue e era mais rico do que sonhara imaginar. No entanto ninguém parecia surpreso. Ele olhou para sua tia e perguntou:
_ Você realmente não quis nada disso?
_ Não, Harry, achei que seria muita hipocrisia se aceitasse alguma coisa dos meus pais depois de abandoná-los durante tantos anos.
Ao ouvir a resposta, pela primeira vez, Harry sentiu que aquela mulher fazia parte de sua família de verdade! Ele se virou para a professora e disse:
_ Você ouviu, professora? Ouviu tudo isso?
_ Não, Harry, não ouvi. Os testamentos mágicos só podem ser ouvidos pelos seus legítimos donos. Isso garante que ninguém de fora da família interfira na decisão do bruxo.
Os dois advobruxos resmungaram alguma coisa e pediram para continuar. Ainda havia um testamento a ser lido. Eles repetiram o ritual, mas desta vez o fio era esverdeado e o pergaminho que se desenrolou trazia uma caligrafia feminina. Além da voz, que Harry sabia ser de sua mãe, ele ouvia uma música suave e o cheiro de um perfume, o perfume dela. Diferente do outro testamento, muito formal, este falava diretamente a ele.

Meu querido Harry,

Assim que seu pai e eu soubemos da profecia, achamos melhor tomar todas as providências quanto ao seu futuro. Assim sendo, você foi devidamente matriculado em Hogwarts e abrimos uma conta em seu nome no Gringotes.
Sabe, meu amor, assim que você nasceu todos perceberam o quanto era especial. Você fazia mamadeiras voarem e seus brinquedos preferidos sempre apareciam quando você queria. Tudo era felicidade e nós três, você, seu pai e eu, vivíamos sorrindo.
A função de um testamento, meu filho, é certificar de que tudo o que pertence a uma família continue na mesma. Mas este é um pouco diferente. Aqui eu lhe passo todos os bens que meus pais me deixaram, mas também lhe passo todo o meu amor. Isso também é seu de direito.
Desejei que você só recebesse esse documento no dia de seus 17 anos porque sei que agora é um adulto e tem responsabilidade suficiente para guardar alguns segredos. De tudo que meus pais me deixaram, a única coisa que realmente quis foi uma casa para morar com você e Thiago e o livro da família, que hoje deve estar com a professora Minerva. Ela deve lhe entregar para você saber de onde vem e porquê tem tanta importância no mundo bruxo.
A partir de agora você é o único herdeiro de Theodore Mungus Wichan. Tudo o que consta no testamento dele é seu e você pode fazer o que quiser.
Infelizmente, não tenho nada de meu para deixar a você.
Agora seu pai também quer lhe falar.

A cor do testamento mudou para um azul suave e a voz de James se fez ouvir.

É isso aí meu rapaz. Sua mãe já lhe disse tudo o que havia de importante para dizer. Infelizmente, meus pais, apesar de serem puros-sangues, nunca tiveram muita grana. Então, deixo a você de herança todo o meu charme e meu talento para quadribol.
Brincadeiras a parte, sei que você vai herdar uma característica dos Potter, a coragem. Porque se você está recebendo este documento agora é porque já demonstrou todo o seu valor.
Vá em frente, meu filho! Lembre-se sempre de que quem a gente ama fica guardado no nosso coração e viaja junto com a gente para qualquer lugar. Nós estamos com você.

Enquanto a sala voltava a claridade normal, ninguém teve coragem de falar. Harry estava ali, sentado no sofá, as lágrimas escorrendo. Mas ele não soluçava, nem parecia desesperado. Era um choro bom, mais uma vez ele podia lavar sua alma. E a voz de sua mãe o chamando de “meu filho, meu amor” ficou na sua cabeça.
Os advobruxos entregaram a Harry dois pergaminhos, com a versão escrita do testamento (que também só podia ser lida pelo seu dono) e, imediatamente, uma chave velha e pesada, com o símbolo do banco dos bruxos, apareceu no colo de Harry.
Por fim, a professora se levantou e se dirigiu ao rapaz:
_ Harry, não sei o que você viu. Nem quero saber. O livro está nas suas coisas, eu o enviei hoje de manhã. E só você conseguirá lê-lo. E apenas uma vez. Depois a história se apagará e só restará a sua memória. A não ser que você tenha um filho, então ele também poderá ler o que consta ali.
O menino parecia não ouvir, mas fez um aceno com a cabeça como se entendesse o que ela dizia.
Os advobruxos iam se despedindo, quando o garoto saiu do transe e pediu:
_ Será que posso conversar com os senhores um minuto? A sós de preferência.
As duas mulheres saíram da sala, indo preparar um chá na cozinha. E Harry foi direto ao assunto:
_ É o seguinte, quero passar a propriedade trouxa para a minha tia. Eu não pretendo viver entre os trouxas e acho que será desperdício ficar com um imóvel assim.
Os dois advobruxos se entreolharam e logo, da varinha de ambos, surgiu um novo documento. Harry leu, viu que estava tudo dentro do combinado e foi pegar uma pena para assinar. Mas o mais velho o chamou e disse:
_ Não meu rapaz, um documento assim a gente assina com a varinha. Basta tocar a ponta dela no lugar da assinatura.
Harry correu, pegou sua varinha e assinou o documento. Chamou as duas de volta e entregou a cópia escrita a sua tia dizendo:
_ Por favor, aceite. Se não quer nada dos bruxos, fique com algo que seja trouxa. Não se sabe quando pode precisar.
Petúnia não falou nada. Pegou o documento e foi para seu quarto, com lágrimas nos olhos.
_ É muito difícil para ela – comentou a professora Minerva.
_ Eu imagino – assomou Harry.
A professora entregou a carta a Harry, despediu-se e foi embora. O rapaz guardou a carta. Ainda não se sentia pronto para aquilo. Os pais morreram há 16 anos e ele ainda se emocionava com tudo que dizia respeito a eles. Com Dumbledore não seria diferente.

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