No Trem



Estou de férias. Tirei Ótimo em todos os meus N.O. Ms, o que não chega a ser assim tão surpreendente. As gêmeas fofoqueiras – como apelidei Cíntia e Brenda – não contaram nada ao papai sobre Sam, acho que ainda estão com medo de que eu fale algo sobre o beijo de Cíntia e Tom.
A família delas é muito mais antiga que a minha em questão de casamentos, e um beijo significaria que logo Tom teria que ir falar com os pais dela para acertar o casamento, e, por mais que eu me divertisse imaginando essa cena, eu ainda me sentia incomodada com aqueles dois juntos... Mas ao menos tinha tido minha vingança.
Naquele dia ouvi meus pais conversando sobre Morfino Gaunt. Pelo que se sabe, ele é o último descendente vivo de Salazar Slytherin, e dizem que agora está absolutamente louco. Seu pai morreu de desgosto poucos anos atrás, quando a outra filha, Mérope, fugiu de casa e se casou com um trouxa. Mas pelo que se sabe ela morreu e então o marido teve que voltar para a casa dos pais. Ele mora em uma enorme mansão do outro lado da vila, mas nunca fui até lá. Papai e mamãe não admitem que eu me misture com “aquele tipo de gente”.
Em todo o caso, papai acha que a moça desonrou a família deles, quando casou com o trouxa. Eu acho que ela fez o certo, e foi atrás do que acreditava. Já estou cheia dessa história de sangue puro!

Já no Expresso Hogwarts, eu fui em busca de Willow, Matt – o namorado dela –, Rúbeo e Sam. Não agüentei ficar muito tempo na cabine das gêmeas, principalmente com Cíntia lá. Tinha acabado de sair quando vi, para minha total infelicidade, Tom Riddle.
Ele olhou para mim com uma expressão próxima a satisfação, mas com o costumeiro ar de superioridade.
- Estava imaginando por que ainda não tínhamos nos encontrado. Preciso falar com você – ele abriu a porta de uma cabine vazia – Entre.
Eu o ignorei e passei diretamente por ele, sem lhe dirigir um olhar. Mas ele, como sempre, segurou meu braço com força demais para que eu conseguisse me soltar e praticamente me jogou dentro da cabine.
- O que pensa que está fazendo? – gritei quando ele trancou magicamente a porta.
- Sente-se! – ordenou com a voz firme.
Eu obedeci. Havia alguma coisa no tom de voz dele que assustava. Mas cruzei os braços e olhei para a janela, sem lhe prestar a menor atenção, enquanto ele sentava em frente a mim.
- Agora, eu quero saber tudo...!
- Ah, qual é a novidade? – cortei mal-educada – Você sempre quer saber de tudo, Tom, sempre o Sr. Perfeito, sempre o sabe-tudo. Nada é mais óbvio que isso.
Eu não queria mais saber dele ou do efeito que ele surtia sobre mim. Bom, ao menos estava tentando esquece-lo, mas era realmente difícil, quando uma grande parte de mim esperava ansiosa encontra-lo a cada minuto sempre que virava em um corredor. Gostava do Sam, ele era gentil e gostava mesmo de mim, mas... ainda faltava alguma coisa. Os dias sem Tom ficavam monótonos, e eu odiava dias monótonos.
- Deixe as ofensas para mais tarde. Isso é importante – disse ele me olhando com um ar sério e decidido.
- Nada que você tenha para me dizer tem qualquer importância – falei olhando para ele com ar de desdém. Peguei minha varinha pronta para destrancar a cabine, mas a varinha voou de minha mão. Olhei para ele, entre incrédula e furiosa, e ele apontou educadamente para o assento a sua frente, para que eu me sentasse. De má vontade, eu voltei para o meu lugar.
- Quero que me conte tudo o que sabe sobre a família Gaunt.
- E se eu não quiser?
- Achei que você não ia querer passar a viagem toda trancada aqui comigo – disse, um sorriso vitorioso nos lábios.
Com um suspiro, eu contei a ele tudo o que sabia sobre os Gaunt. Ele quis saber quem era o trouxa com quem Mérope tinha se casado, mas eu não sabia o nome dele. então perguntou onde moravam, e então se o outro filho, Morfino, ainda estava vivo. E me perguntou umas dez vezes se eu tinha certeza de que eles eram mesmo os últimos herdeiros de Slytherin de que se tinha conhecimento.
Ficamos lá por horas! Mas eu não estava com pressa de sair. Primeiro por que era bom saber mais do que Riddle sobre alguma coisa e depois por que estar ali com ele me causava uma sensação boa, embora pontuada por um leve sentimento de raiva quando ele se mostrava superior.
Depois que eu acabei ficamos em silêncio por um tempo. Então ele olhou fundo nos meus olhos, e eu sustentei o olhar.
- Você está mesmo namorando o Caudwell?
Mesmo contra minha vontade, senti um sorriso se abrir. Um sorriso de vitória. Era inacreditável, ele estava com ciúmes de Sam! De eu estar namorando Sam. Era simplesmente incrível!
- É claro que estou. Algum problema? – perguntei ao ver a cara de desgosto que ele fez. É, ele estava realmente com ciúmes, e eu com uma incontrolável vontade de rir. Como eu sou má!
- Eu só acho que... por que lhe responder? Você afinal não acha minha opinião importante, já deixou isso muito claro. – ele sorriu, um sorriso capaz de derreter o Alasca... ai, Merlim, ele não presta, coloque isso na cabeça!
- Bem, talvez eu ache.
- Isso é uma confissão? – perguntou com um sorriso maroto. Por que ele tinha que sorrir tanto?
- Pense como quiser – disse ríspida, voltando a olhar pela janela – Eu só quero sair daqui, tenho que me encontrar com meu namorado – disse frisando o final da frase – Ele está me esperando, e meus amigos também.
- Como quiser.
Eu ouvi um “clique” e a porta estava aberta. Ele já estava no corredor, mas vi que deixara minha varinha ao meu lado. Apanhei-a e saí. Em menos de um minuto encontrei Willow e os rapazes em uma cabine, e entrei.
- Oi, finalmente, Clear... O que aconteceu? – perguntou Willow – Está com uma cara horrível!
- Nada.
- Esse nada significa Tom Riddle – disse ela solenemente – O que ele fez dessa vez?
- Não foi o santo – disse sacudindo a cabeça. Eu tinha apelidado Tom assim no final do 5º ano, por que todos os professores pensavam que ele era um santo, que nunca fazia nada errado – Mas, mas... Eu tive que ficar até agora com Cíntia e Brenda e um bando de Sonserinos, por que nenhum dos meus amigos veio me procurar! – disse com raiva. Não quis dizer ao Sam que me encontrara realmente com Tom. Ele foi até mim e me abraçou.
- Ora, desculpe, não fique assim. Pelo menos você nos encontrou agora – ele era tão gentil!
- Ok – disse sem emoção enquanto ele me levava até o assento ao seu lado e eu sentava ali, com a cabeça encostada em seu ombro. Mas eu não estava pensando nele. Estava pensando em Tom. Acho que eu finalmente tinha me acostumado com ele em minha vida. E agora não queria perdê-lo.

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